Gestão social no Brasil de 1988 a 2021
e outras consideravam o conceito de Gestão Social voltado apenas à prática no terceiro setor
(Tenório; Teixeira, 2021). “Esse contraponto privilegia, de modo consciente ou inconsciente,
práticas gerenciais que contribuem para aumentar a distância entre o Estado e a sociedade,
exercitando uma ‘nova gestão pública’ caracteristicamente pré-burocrática” (Tenório; Teixeira,
2021, p. 12).
Além da problemática levantada em torno do significado e, portanto, do conceito de
Gestão Social, Wanderley (2013) aponta os desafios institucionais na particularidade da Gestão
Social contemporânea, como: a interdisciplinaridade7, pois segundo ela, nas equipes e prevalece
o caráter multiprofissional nos espaços ocupacionais; a intersetorialidade8 em relação à
dificuldade de operacionalização total da ação pública, já que há predominância de
fragmentação da materialização das políticas sociais e não ultrapassam a política setorial. A
intersetorialidade deve ser um objetivo a ser alcançado, considerando que as políticas possuem
caráter interdependente, porém não é atingida apenas pela boa vontade dos sujeitos envolvidos,
mas sim, a partir de uma ação política envolvendo mecanismos estratégicos por parte da gestão.
Inclusive, há uma probabilidade do surgimento de várias formas de resistência devido a disputas
entre os setores e divergência de interesses; e a territorialização9 das políticas sociais exige um
formato de gestão com perspectiva descentralizada e territorializada, tornando necessária, dessa
forma, uma reflexão crítica e qualificada da realidade social que se objetiva intervir.
A autora chama a atenção para os sistemas de informação (bancos de dados nacionais,
estaduais e municipais das políticas locais), como ferramenta primordial para a confecção de
diagnóstico social e territorial, e para a Gestão das políticas públicas em todas as etapas.
Wanderley (2013) sugere que o conhecimento acerca da Gestão Social deve atingir também
outras áreas de conhecimento, e que a articulação e o diálogo devem ser ampliados com o intuito
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7 “[...] a interdisciplinaridade necessita ser pensada a partir de uma totalidade (crítico-histórico-dialética), na qual
são necessárias condições objetivas, sociais, históricas, para sua concretude. Não há como determinar uma forma
do interdisciplinar, visto que ela se desenvolve em particularidades da história social, na materialidade, não é
conhecimento absoluto, mas princípio norteador a uma realidade” (Jantsch; Bianchetti, 1995 apud Jorge; Pontes,
2017, p. 185).
8
“A intersetorialidade na gestão púbica [SIC] significa adotar uma decisão racional no processo de gestão, cuja
aplicação pode ser positiva ou não. [...] Não pode ser considerada antagônica ou substitutiva da setorialidade. A
sabedoria reside em combinar setorialidade com intersetorialidade e não em contrapô-las no processo de gestão.”
(Sposati, 2006 apud Wanderley, 2013, p. 26).
9 “O território tem fragilidades, vulnerabilidades, porém, tem também potencialidades, fortalezas, que devem ser
conhecidas e reconhecidas. [...] O primeiro passo está no reconhecimento dessa realidade, o que implica em
conhecer quem são e como vivem as famílias em seus territórios e onde estes se situam. Esse conhecimento embute
as seguintes questões: Como se relacionam os indivíduos com o território onde vivem? Quais são os atores, os
sujeitos e os serviços presentes nesse espaço? Que vínculos os cidadãos desenvolvem no seio de suas famílias e
dos grupos e redes dos quais participam, em seu território de vivência, em sua cidade? Existem serviços públicos
nesses territórios? Estes são acessíveis? Quais são as dinâmicas de vida nos territórios? Enfim, o que se busca é
uma leitura qualificada da realidade social onde se pretende intervir” (Wanderley, 2013, p. 27-28).