Editorial  
Crise civilizatória, alternativas em construção e  
Serviço Social  
Finalizamos o ano de 2024. Ano conturbado no plano geopolítico, pelas disputas e  
guerras em andamento na Europa e no Oriente Médio, ameaças que tangenciam  
inequivocamente à possibilidade real de uma autodestruição humana.  
Os votos de um novo ano acompanhado de paz soariam bem destoantes nesta realidade,  
não fossem as práticas dos sujeitos que continuam agindo, construindo e disputando as  
alternativas sociais existentes visando a um projeto societário voltado para a coletividade,  
assentado em uma materialidade que democratize o acesso à riqueza socialmente produzida,  
fundamento real da emancipação humana e política.  
Conforme escrevemos na chamada para este número da Libertas, a crise estrutural do  
capital vem se apresentando através de seus múltiplos aspectos – as chamadas crises ambiental  
e climática, crise urbana, energética, etc. – evidenciando a destrutividade do capital sobre todas  
as dimensões da vida. Diante disso, torna-se urgente e indispensável dar visibilidade às  
alternativas em construção através das mais diversas iniciativas – sejam elas desenvolvidas no  
campo ou na cidade, em qualquer área do conhecimento – que apontem para novos horizontes  
civilizatórios.  
Neste sentido, o dossiê impulsionou o debate e a análise acerca do crítico momento  
histórico em que vivemos, visibilizando algumas alternativas que estão sendo construídas e as  
contribuições do Serviço Social nesse processo.  
Neste número 2, do Volume 24 da Libertas, apresentamos as “Visões seminais do  
capitalismo contemporâneo: aproximações e distanciamentos”, artigo escrito por Renato  
Gomes, que coteja concepções de Ernest Mandel, István Mészáros, David Harvey e François  
Chesnais, contribuindo para o debate “em relação à noção de equilíbrio/desequilíbrio e  
estabilidade/instabilidade, na caracterização da crise do capitalismo contemporâneo e sobre o  
fato de ele ter encontrado ou não barreiras intransponíveis ao desenvolvimento das forças  
produtivas”.  
DOI: 10.34019/1980-8518.2024.v24.47003  
Esta obra está licenciada sob os termos  
Recebido em: 23/12/2024  
Aprovado em: 23/12/2024  
Editorial  
Avançamos para temas que dialogam com a realidade latino-americana e europeia,  
textos que analisam o acesso aos recursos hídricos e energéticos; o direito à moradia; a  
exploração da natureza no capitalismo; e artigos que tratam da questão da fome e da soberania  
alimentar, na perspectiva das disputas e lutas sociais e populares.  
Assim, apresentamos o artigo sobre as “Políticas hídricas para o Nordeste: tendências e  
desafios atuais”, de Gabriela Alves do Nascimento Silva, Maria das Graças e Silva e Sandra  
Maria Batista Silveira, que analisa as propensões de implementação de políticas públicas  
voltadas para a questão hídrica na região Nordeste no período de 2016 à 2024, levando em conta  
o contexto atual que perpassa a questão ambiental, como a crise climática, e as diferentes  
estratégias adotadas pelo Estado em relação às políticas sociais. Na sequência, temos a  
importante colaboração de duas trabajadoras sociales colombianas, Laura Isabel Serna  
Agudelo e Erika Barón Rodríguez, que expõem a “crise ecológica, ambiental e energética  
como expressões concretas da relação natureza-humanidade (...) e os esforços de alguns atores  
para construir uma sociedade que transite para um modelo de justiça socioecológica”. Em seu  
artigo, intitulado “Mas alla de la crisis: la energia como disputa y como lucha”, elas apresentam  
e analisam o “Movimiento Nacional Constituyente por la Democracia Energética”, experiência  
pioneira de organização coletiva em prol da disputa pela democracia energética, na Colômbia.  
O artigo “Reforma agrária e alternativas à fome: o plantio solidário na zona da mata  
mineira”, escrito por Mônica Grossi, Michelle Capuchinho, Paula Rocha de Souza, Vitória  
Nacarate Machado e Maria Eduarda Dias, objetiva “discutir a reforma agrária popular do  
MST e a construção de alternativas à fome no Brasil, destacando a análise da experiência  
realizada pelo MST na zona da mata mineira, intitulada Plantio Solidário”, compartilhando os  
esforços do Movimento em prol de práticas produtivas agroecológicas. Neste campo temático,  
o artigo “El ecologismo popular y campesino como marco para el movimiento por la soberania  
alimentaria: El caso ‘Nos plantamos’”, de David Gallar Hernández, Isabel Vara Sánchez e  
Andrés Muñoz Rico, apresenta o movimento “Nos Plantamos”, da Espanha, como uma  
iniciativa de organizações populares que visa defender um modelo alternativo de produção  
agrícola baseado na agroecologia e na soberania alimentar frente ao modelo de produção  
representado pelos grandes grupos capitalistas.  
XI  
Já o artigo “Uma análise do caso Braskem e a exploração da natureza à luz do  
pensamento de Mészáros”, de Elida Janaina Barbosa Rodrigues Pimentel e Luana  
Cavalcante Pinho, faz uma análise fundamental sobre um dos casos que caracterizam a crise  
ambiental no Brasil atualmente, o processo de exploração de sal-gema no município de Maceió-  
AL, que evidencia o padrão depredador do modelo extrativo mineral, evidenciando a forma  
Crise civilizatória, alternativas em construção e Serviço Social  
com que o capital se apropria da natureza.  
Por sua vez, Geisa Bordenave apresenta-nos “A perspectiva autogestionária do Minha  
Casa Minha Vida Entidades e a participação popular”, trazendo elementos para a reflexão sobre  
“as possibilidades de participação popular a partir desta vertente do programa federal (...)”  
Considerando a crise do capital e os compromissos ético-políticos do Serviço Social, esse texto  
também realiza uma análise sobre “os limites e possibilidades de contribuições para a  
construção de cidades mais justas e democráticas”.  
Por fim, apresentamos o artigo de Raíssa Cristina Arantes e Daniela Borges Ribeiro  
sobre “O familismo na assistência social como resposta do capital à crise estrutural”, com  
enfoque nos cuidadores de usuários do Benefício de Prestação Continuada (BPC), na Política  
Nacional de Assistência Social. Segundo as autoras, “os dados apontam a intensificação da  
responsabilização familiar frente à crise estrutural do capital, escamoteada pela retórica do  
fracasso familiar”.  
Na sessão “Tema livre” apresentamos um conjunto de artigos que dialogam diretamente  
com a área de Serviço Social. O artigo “Os efeitos da violência interparental nas crianças: o  
olhar de uma comissão de proteção de crianças e jovens em Portugal”, escrito por Ana Sofia  
Carvalho Pinto, Eva Raquel Xavier de Melo Gil Chaves, Cristiana Dias de Almeida e  
Mônica Alexandra Vidal Teixeira, destaca elementos do trabalho profissional com crianças e  
jovens, e acerca da sociabilidade que atravessa as famílias além-mar. Aqui, no Brasil, ratifica-  
se a premência de análises no âmbito da relação raça/etnia, gênero e classe social, conforme  
destacado nos artigos “Racismo estrutural e encarceramento em massa no Brasil” (sob a autoria  
de Ingrid Medeiros Lustosa Diniz Ribeiro e Rosilene Marques Sobrinho de França) e  
“Determinação social da saúde e sífilis gestacional em Campos, RJ: particularidades de classe,  
raça, gênero e território”, escrito por Nilene dos Santos Souza e Carlos Antonio de Souza  
Moraes. Por sua vez, as autoras Marcela Gonçalves deAraújo e Marina Monteiro de Castro  
e Castro tratam da inserção do Serviço Social na área da saúde no artigo “Assistência  
multiprofissional em saúde e prontuário hospitalar”, discorrendo sobre a “categoria da  
linguagem e a questão do sigilo profissional, além de fazer apontamentos sobre a sociabilidade  
capitalista e o impacto da pandemia de covid-19 na digitalização dos prontuários”.  
Ainda na área de Serviço Social apresentamos três artigos cujos debates contribuem  
para o entendimento de questões atuais que atravessam a profissão no Brasil, são eles: “A  
pesquisa sobre o método marxista no Serviço Social brasileiro” (sob a autoria de Michael  
Gonçalves Cordeiro), “Conservadorismo enquanto ideologia-política e peleja histórica do  
Serviço Social” (escrito por Francisco Flavio Eufrazio) e “O fenômeno do  
XII  
Libertas, Juiz de Fora, v. 24, n. 2, p. X-XIII, jul./dez. 2024. ISSN 1980-8518  
Editorial  
empreendedorismo no Serviço Social brasileiro” (sob a autoria de Carina de Santana Alves e  
Vinicius Pinheiro de Magalhães).  
Fechamos este número com quatro artigos que nos remetem à produção no âmbito da  
teoria social histórico-crítica, “Desigualdade e reconhecimento no atual contexto da economia  
política” (escrito por Antônio Dimas Cardoso e Máximo Alessandro Mendes Ottoni), “A  
nova ofensiva contra o trabalho na contemporaneidade e a validade histórico-analítica da teoria  
marxiana da crise” (sob a autoria de Fabiana Alcântara Lima), “Exploração e jornada de  
trabalho em Marx: mais-valor como noção de mais tempo” (escrito por Sílvio Aparecido  
Redon e Eliane Christine Santos de Campos) e “Para uma crítica à sociedade de consumo e  
ao fim da transcendência da alienação em Jean Baudrillard” (sob a autoria de Dariane Cordeiro  
de Araújo e Marlon Garcia da Silva).  
Registramos uma rica entrevista realizada por Thaísa Closs que evidencia a trajetória e  
o contributo indispensável da professora Maria Carmelita Yazbek ao Serviço Social  
brasileiro, com ênfase no debate sobre os fundamentos históricos e teórico-metodológicos, mas  
não só, considerando o escopo de sua produção e intercâmbio internacional que formou e  
impulsionou assistentes sociais e docentes, neste e em outros países.  
A imagem que compõe a capa deste número – registrada por Luciano Cardoso de  
Souza no Assentamento Denis Gonçalves, do MST – nos lembra que a maior e mais importante  
de todas as lutas é pela preservação da vida e do gênero humano oriundos da Terra, “nossa  
Mãe”, na disposição de agirmos em prol da dissolução de todos os hábitos, conflitos e  
ideologias que levam à exploração e destruição de nosso planeta e, consequentemente, de nós  
mesmos.  
XIII  
Desejamos que os artigos que se seguem possam contribuir para reflexão acerca do atual  
estágio de crise civilizatória pelo qual passamos e, ao mesmo tempo, que sejam canais de  
socialização das diferentes experiências de resistência, de publicização das lutas e denúncias  
frente a este cenário em diferentes regiões do mundo, práticas relevantes e mais condizentes à  
expectativa de fraternidade entre os povos e de convivência pacífica. Boa leitura!  
Juiz de Fora, 30 de dezembro de 2024.  
Alexandra Eiras, Bruno Bruziguessi, Isaura Aquino e Luciano Souza.