Entrevista com Maria Carmelita Yazbek
para ver se precisava de iniciativa política de ajuda. Ela tinha um irmão desembargador, uma
coisa assim, e ela ia atrás.
Então ela foi uma grande mulher. E a coisa mais interessante é que os alunos invadiam
a Reitoria e quando os estudantes saíam, era bonito isso, a enchiam de flores, porque não era
algo pessoal com ela. Então, é um fenômeno isso, ter passado do conservadorismo para o
marxismo, mantendo boas relações, relações cordiais. A gente tinha um carinho muito grande
por ela. Porque ela permitiu também. Ela podia se contrapor, ela tinha prestígio e poder, mas
ela concordou, abriu espaço.
Thaisa Closs: As lutas que vocês travaram na profissão são incríveis, é muito
importante recuperar essa memória. Os debates de avaliação do currículo de 1982, registrados
nos cadernos ABESS, como de o de nº 3, também foram fundamentais. Professora Carmelita,
como foi esse processo?
Maria Carmelita Yazbek: Foi muito rico esse processo, porque essa unidade
indissociável, teoria e método e história, ela foi sendo, vamos dizer, incorporada, porque não
fomos nós que construímos, o próprio pensamento marxiano coloca assim. Mas é um processo
de apreensão. Porque havia muitos marxistas positivistas, como, por exemplo, mostrou o estudo
de (Consuelo) Quiroga. Mas aos poucos a gente foi avançando. E aí, eu acho que eu tive um
privilégio, eu brinco com a Marilda (Iamamoto), eu fui formada por ela. Todos os equívocos
que eu dizia, ela corrigia, ela foi arrumando as nossas cabeças (risos). E ela traz com força a
tese da unidade teoria, método e história. É que falando assim agora, tanto tempo depois, parece
que não há polêmicas, mas havia polêmicas. Havia uma identificação da metodologia com o
procedimento, do método com o procedimento, quando o método, na verdade, é constitutivo da
própria construção teórica. A gente foi caminhando, o José Paulo (Netto) também ajudava, veio
trabalhar com a gente. Foi um tempo de muita construção.
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E, interessante, as minhas lembranças foram de busca de consenso, nesses debates. A
tensão maior foi em Teresópolis. O Documento de Teresópolis foi muito difícil para nós. Eu me
lembro que eu não quis participar, eu não fui para Teresópolis. E a gente ainda estava lá na Rua
Sabará, onde tinha um porão. Enquanto elas estavam em Teresópolis, a gente estava estudando
no porão, escondidas. A primeira vez que eu li Paulo Freire foi em espanhol. Ele não era
publicado no Brasil. Então a gente tinha um grupo ali de estudos. Elas sabiam. Como a gente
tinha bons vínculos, elas nos protegiam. Mas Teresópolis foi muito doloroso. É muito ruim, não
é? Araxá tem ainda a marca do pensamento de São Tomás, da perfectibilidade do homem, da
natural sociabilidade, tem umas coisas que vêm de Aristóteles, que São Tomás incorporou e que
elas incorporaram, então tem um lado humano, podem até discordar dessa leitura, mas o
Libertas, Juiz de Fora, v. 24, n. 2, p. 734-747, jul./dez. 2024. ISSN 1980-8518