Fundamentos do Serviço Social e formação  
profissional: Entrevista com Maria Carmelita  
Yazbek*  
Thaisa Closs**  
Thaisa Closs: Querida professora Carmelita, primeiramente gostaria de agradecer a  
entrevista. Tu és uma grande referência na profissão, com tua ampla produção intelectual e  
atuação na formação de muitas gerações de assistentes sociais, docentes e pesquisadores/as.  
Especialmente no âmbito dos Fundamentos do Serviço Social, tens contribuído  
significativamente para a análise da profissão no movimento da história, nos impulsionando na  
realização de estudos que recuperem a memória e a historicidade profissional. Nessa direção,  
gostaria de trabalhar na entrevista aspectos da trajetória da formação profissional, em seu  
processo de renovação crítica, temática relativa à minha pesquisa de pós-doutoramento.  
Considerando sua experiência docente na PUCSP e nas entidades profissionais, como foi o  
processo de construção do currículo de 1982, seus avanços e limites?  
Maria Carmelita Yazbek: Se nossa ótica é situar o Serviço Social na história, em  
primeiro lugar entendo que esse currículo expressa um processo mais amplo de mobilização da  
sociedade brasileira na luta pela democratização do país e no caso do Serviço Social, o  
confronto com a classe burguesa e com o conservadorismo na profissão. Processo cuja  
expressão emblemática foi o Congresso da Virada em 1979, mas não só. Era grande parte do  
país que se posicionava politicamente: a Igreja Católica com sua Teologia da Libertação que,  
naquele momento, estava profundamente vinculada aos interesses da população trabalhadora;  
foi a fundação do Partido dos Trabalhadores, e foram as grandes greves do ABC Paulista, e a  
presença do Movimento Estudantil apoiando essas greves e com suas próprias lutas. Um  
momento de aprofundamento dos interesses do capital monopolista, caracterizado na América  
*Assistente social. Doutora em Serviço Social. Professora e pesquisadora do Programa de Estudos Pós-Graduados  
em Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Pesquisadora CNPq.  
**  
Assistente Social. Doutora em Serviço Social. Professora adjunta do Departamento de Serviço Social da  
Universidade Federal do Grande do Sul (UFRGS). Pesquisadora CNPq.  
DOI: 10.34019/1980-8518.2024.v24.46774  
Esta obra está licenciada sob os termos  
Recebido em: 02/12/2024  
Aprovado em: 04/12/2024  
Fundamentos do Serviço Social e formação profissional  
Latina pela dependência, um momento de expansão do capital dos monopólios, das grandes  
empresas, em que o ABC Paulista era uma vanguarda, bastando lembrar que a classe operária  
do ABC, tinha uma forte liderança política entre os trabalhadores latino-americanos, e esse é o  
contexto onde surgiu o Lula.  
No contexto em que emerge o currículo de 1982 eu fui diretora da Faculdade de Serviço  
Social da PUCSP, onde coordenei um projeto de revisão curricular que, em certo sentido  
inspirou, ao lado de outras importantes experiências, o próprio currículo de 1982. Gostaria de  
assinalar que fez parte do grupo que realizou essa revisão curricular a professora Marilda  
Iamamoto, docente da PUCSP naquele momento, que já traz para o currículo da PUCSP em  
elaboração sua perspectiva de análise da profissão sob a inspiração do pensamento marxiano:  
o Serviço Social como atividade profissional e inserido no processo de reprodução das relações  
sociais.  
E tínhamos um contexto muito rico na PUCSP. Com professores como o (Octavio)  
Ianni, o Paulo Freire, o Florestan (Fernandes). Era uma coisa muito interessante, a minha sala  
era na frente da sala do Paulo Freire, e, era uma alegria vê-lo. Mas aí a gente aproveitou, o que  
nós fizemos no curso de Serviço Social? Fomos fazer os cursos com eles. Eu fiz curso com o  
Ianni, com o Florestan. Aproveitar esses quadros, não é? A gente sabia quem eram eles. E a  
reitora uma assistente social, Nadir Kfouri abriu essas possibilidades. E Dom Paulo Evaristo  
Arns, responsável pela Universidade, era um cardeal como poucos. A Nadir Kfouri foi a  
primeira reitora mulher. E, sob o comando deles abriu-se a universidade, para a periferia. Então,  
era um momento mesmo muito rico. Entendo que a virada do III CBAS foi uma “virada”, mas  
foi um processo. Ela expressou o que vinha acontecendo e não uma coisa assim, de repente. Era  
um momento incrível da sociedade e a gente conseguiu uma mobilização muito forte e  
interessante de vários setores da sociedade.  
735  
No Serviço Social temos que pensar um pouco melhor sobre isso, nós passamos do  
grupo conservador para um grupo comprometido com a visão crítica, marxista, com uma  
tranquilidade muito grande. Na PUCSP, as herdeiras das “pioneiras” eram mulheres incríveis.  
Assim tivemos Helena Junqueira, Maria Lúcia Carvalho, que inclusive foi uma grande  
protagonista de Araxá, em 1967. Elas eram as professoras, a gente trabalhava com elas. E  
naquele momento, tinha Marilda Iamamoto com a gente na PUCSP. Nós tivemos a Marilda  
(Iamamoto) por um longo tempo e ela já deixava suas marcas, ela é incrível. Então foi  
relativamente tranquilo.  
Eu me lembro de que em 1975 teve um congresso da ABESS em Piracicaba, cidade do  
interior de São Paulo e Dona Nadir Kfouri foi, como professora de caso, em Serviço Social de  
Entrevista com Maria Carmelita Yazbek  
Caso. E quando ela voltou, ela disse que havia um clima, vamos dizer, propício à mudança.  
Havia pessoas que estavam levantando questionamentos sobre o serviço social norte-americano  
e que ela achava que as coisas tinham que mudar. Ela não sabia exatamente a direção e nem foi  
ela que deu essa direção, mas ela abriu um pouco o caminho para a gente. E foi bem tranquila  
essa transição. A única coisa de que ela não gostou foi quando o livro da Marilda (Iamamoto)  
saiu, com aquela foto na capa, não é? Ela está naquela foto, e quando ela leu o conteúdo, ela  
me chamou, chamou a Raquel (Raichelis), para conversar com a gente. Ela não tinha gostado  
porque estava sendo identificada com um projeto da burguesia.  
O projeto das pioneiras era um projeto político e um projeto que buscava, na verdade,  
formar quadros, vamos dizer assim, para enfrentar o comunismo. Então a gente teve uma longa  
conversa com ela. Porque essa mulher era uma democrata, sabe? As iniciativas que ela foi  
tomando, ela concordava com o Dom Paulo, colocou o Serviço Social na periferia. Nós  
tínhamos vários projetos juntos, então era um clima de parceria. Obviamente, o marxismo não  
entra imediatamente, ele vai entrando mais através da concepção de profissão que a Marilda  
(Iamamoto) traz. Aquela revisão curricular, que começou em 1979, nós levamos para a  
Convenção de Natal depois.  
Thaisa Closs: Professora Carmelita, tu poderias detalhar mais sobre a Convenção em  
Natal, de 1979, um ano importante, considerando também a realização do III CBAS?  
Maria Carmelita Yazbek: Foi nessa convenção que se fechou, sob o comando da  
ABESS, o currículo, que depois vai ser aprovado, em 1982, pelo Conselho Federal de  
Educação. Entendo que nessa Convenção foram apresentadas algumas propostas, que eu  
considero como avançadas naquele contexto, como a ruptura com o Caso, Grupo e a  
Comunidade, e a decisão de criar as disciplinas de Teoria do Serviço Social, História do Serviço  
Social, ainda em uma perspectiva evolucionista, e a de Metodologia do Serviço Social, com  
uma perspectiva de estratégias de ação profissional. Sobre essas disciplinas cabem algumas  
considerações e sugiro a leitura do texto do professor José Paulo Netto, sobre a disciplina  
Metodologia, da Revista Serviço Social e Sociedade nº 14.  
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As proposições traziam a marca do ecletismo teórico-metodológico e eram  
desconectadas e justapostas, mas se propunham a um avanço às influências do Serviço Social  
norte americano, até então hegemônicas na formação. Lembrando que essa influência era de  
base funcionalista e buscava-se a superação dessa perspectiva. Quanto à disciplina na área da  
Teoria do Serviço Social que hoje é abordada no âmbito dos Fundamentos do Serviço Social, a  
proposta apontava um tratamento “cientifico” da profissão, a definição de seu objeto e objetivos  
e de suas bases epistemológicas. Eram proposições que, apesar das insuficiências lançavam as  
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Fundamentos do Serviço Social e formação profissional  
sementes de uma profunda renovação da formação profissional.  
Então, na Convenção, havia um clima na profissão dessa renovação, dessa mudança. Eu  
me lembro que a discussão foi de altíssimo nível. Aí eu descobri a força e competência dos  
Grupos do Nordeste, o Grupo do Maranhão. Eu já tinha alguns contatos, mas só há uma  
aproximação de fato num encontro desses, que permitiu uma maior sintonia. E havia muitos  
consensos. Alguns até equivocados, mas o consenso era que precisava mudar, de que caso,  
grupo ou comunidade, esse modelo não respondia à realidade da América Latina, muito menos  
a do Brasil. Então, Natal foi um momento significativo. E o Nordeste foi uma grata surpresa.  
Eu conheci a Ana (Elizabete Mota) nesse contexto. Ela era uma liderança. Não era a  
única. O grupo do Maranhão, a Franci Cardoso, a Marina Maciel, e o grupo do Rio de Janeiro,  
como a Maria Inês (Bravo). Era um grupo no qual havia consensos de que o Serviço Social  
deveria mudar. Era um grupo muito eclético na convenção, mas a ideia de mudança já estava  
ali consolidada, vinha vindo de outras Convenções. O Maranhão teve um protagonismo  
importante. Eu me lembro dessas pessoas, da Marina (Abreu), da Franci (Cardoso), da Josefa  
(Lopes). A professora (Maria) Ozanira (da Silva e Silva) eu conheci depois e ela estava mais  
envolvida com a pós-graduação, uma pesquisadora incrível.  
Então, do que eu me lembro, foi uma convenção de altíssimo nível. Os debates, vamos  
dizer assim, havia muitos pontos convergentes. O grupo conservador não teve presença.  
Interessante que no evento de Teresópolis, uma década antes, esse grupo estava muito articulado  
entre si, defendendo um serviço social absolutamente funcionalista, conservador. Mas em 1975,  
veja, a Nadir Kfouri reconhece que era o momento de fazer algumas adaptações. Por quê? Por  
que ela reconhecia isso? O Movimento de Reconceituação foi um movimento complexo, vamos  
dizer assim. Por exemplo, porque uma das pessoas que fizeram as palestras em Porto Alegre,  
no I Seminário, que marcou a Reconceituação foi a Maria Lucia Carvalho. E a Maria Lucia  
Carvalho não era uma autora marxista. Embora ela fosse uma autora crítica, ela não era  
marxista, mas ela era considerada do grupo da renovação, e que participava, mas numa outra  
direção. E eu acho que, do ponto de vista do conhecimento de Marx e do pensamento marxista,  
o Maranhão tinha uma base forte. A Marina (Abreu) já era uma gramsciana. Sempre conheci a  
Marina (Abreu) como alguém ligada ao pensamento gramsciano.  
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A gente da PUCSP estava muito bem respaldada, porque a gente tinha a Marilda  
(Iamamoto) por trás. E tinha uma outra professora, a Maria Berenice Delgado, mineira, hoje ela  
é um quadro da OIT, trabalha na OIT. Ela era da CUT. Nós tínhamos a Bia, a BeatrizAbramides,  
de um lado, a Luísa Erundina, que estavam na organização política. E outro grupo que estava  
no debate teórico, meio assim, vamos dizer, como que dividido nessas frentes. E a Bia  
Entrevista com Maria Carmelita Yazbek  
(Abramides) tem um protagonismo histórico no III Congresso. A Luísa Erundina também era  
uma das professoras da casa, da PUCSP. Era um grupo muito interessante. Quando a gente  
chega em 1979, em Natal, a gente chega com propostas. A gente estava construindo as  
propostas. E eu acho que a gente teve, vamos dizer, não foi exclusivo, mais teve um papel  
importante ali. Tanto é que na PUCSP, nós fizemos mais de uma pesquisa para acompanhar esse  
processo, de renovação mesmo, não é? No caso da nossa universidade. E logo em seguida eu  
assumi a ABESS.  
Thaisa Closs: Em que período foi, professora, sua presidência na ABESS, em 1983 a  
1985? Como foi sua gestão na entidade?  
Maria Carmelita Yazbek: Sim, na sequência, como Presidente da ABESS pude  
participar do aprofundamento do processo de construção da passagem dos conteúdos  
tradicionais para os desafiantes conteúdos da nova proposta. Nesse processo separavam-se  
História, Teoria e Método. Em minha avaliação essa foi a grande lacuna inicial em relação à  
uma efetiva ruptura. No entanto, aos poucos vai sendo melhor explicitada essa relação, sob a  
perspectiva da Teoria Social de Marx.  
Cabe lembrar que tenho uma concepção de teoria que busca essa articulação: a teoria  
social constitui conjunto explicativo totalizante, ontológico, e, portanto, organicamente  
vinculado ao pensamento filosófico, acerca do ser social na sociedade burguesa, e a seu  
processo de constituição e de reprodução. A teoria reproduz historicamente e conceitualmente  
o real, é, portanto, construção intelectual que proporciona explicações aproximadas da realidade  
e, assim sendo, supõe uma forma de autoconstituição, um padrão de elaboração: o método.  
Neste sentido, cada teoria social é um método de abordar o real. O método é, pois, a trajetória  
teórica, o movimento teórico e histórico que se observa na explicação sobre o ser social.  
Desse modo, a análise do Serviço Social a partir de matrizes fundamentais de  
conhecimento do social na sociedade burguesa nos coloca face aos Fundamentos, que são  
constituídos por múltiplas dimensões: históricas, teórico-metodológicas, ético-políticas,  
culturais e técnico-operativas que, nas atuais Diretrizes Curriculares, se expressam na  
abordagem histórico-crítica fundada na Teoria Social Marxiana. Assim sendo, é a partir dessa  
perspectiva que venho privilegiando a abordagem da dimensão teórico-metodológica dos  
Fundamentos, entendendo que essa forma de apreensão incorpora o movimento de história. O  
que venho tentando aprofundar em minhas análises mais recentes na ótica dos Fundamentos é  
a sua dimensão ontológica, sua natureza, aquilo que “permanece na mudança” conforme destaca  
Lukács.  
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Retomando, eram os primeiros anos do novo currículo. Lembro que na minha gestão da  
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ABESS, eu fiz uma coisa que eu acho maravilhosa. Eu trouxe o José Paulo Netto para o Brasil.  
Aliás, eu o trouxe como diretora da faculdade de Serviço Social, na PUCSP. A tensão das lutas  
contra a ditadura estava menos dura, muitos exilados estavam voltando e a gente convidou ele  
para dar aula. Ele veio para a PUCSP, aí ele faz o doutorado com a Myriam Veras (Baptista).  
Ele teve esse protagonismo daquele momento, que não eram as Diretrizes ainda, era a revisão  
curricular de 1982. E para a nossa proposta da PUCSP, a Marilda (Iamamoto) foi fundamental.  
Ela foi a figura-chave, ela traz o marxismo. Lembro-me que ela fazia um curso na USP, com o  
José de Souza Martins, que era um núcleo de estudos marxistas. E eles liam o Capital.  
E a ela fazia o quê? Chegava lá na PUCSP e formava a gente. Ela formava a gente. Aí  
sim, superando os equívocos. Nesse momento, ela tinha um vínculo forte com o CELATS. Ela  
nos colocou na equipe de pesquisadores do CELATS. Era um grupo grande que colaborava.  
Então, ela foi uma figura central para a nossa revisão curricular de 1982, que por sua vez,  
interferiu na própria formulação do que seria o currículo de Serviço Social no país. E eu me  
lembro que o nosso currículo tinha tantas ciências sociais, que o parecer da universidade  
questionou isso: é um curso de Serviço Social ou de ciências sociais? Nós estávamos  
empolgadíssimos. E a primeira concepção que a Marilda (Iamamoto) traz sobre a profissão, ela  
foi o esteio da nossa reforma curricular. Eu me lembro que em outra convenção também surgiu  
uma proposta, porque aí tem a história do CEDEPSS também. Surgiu uma proposta de que nós  
criássemos, conforme existe na educação, a ANPED, a ANPCS na Ciência Social, que a gente  
criasse um grupo de debates, de estudos e pesquisas semelhantes às demais disciplinas da área  
social.  
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Já, embrionariamente, eu fiz o primeiro encontro de pesquisa. Eu não acho o registro,  
porque também na PUCSP houve uma enchente, perdendo registros da ABESS.  
E se perdeu o material do primeiro encontro de pesquisadores que nós fizemos, que eu me  
lembro que fizemos na PUCSP e foi uma explosão de gente. Porque havia uma demanda  
reprimida, as pessoas queriam discutir as suas pesquisas, os seus estudos, seus mestrados,  
doutorados. Então, foi uma quantidade muito grande de gente. E, ao mesmo tempo em que a  
gente avançava para criar o CEDEPSS, outro grupo de pessoas da própria PUCSP, como a  
Úrsula Karsch, criou uma associação. Eles chegaram a fazer duas publicações, e me lembro que  
a segunda era sobre fenomenologia. Depois eles desistiram, porque nessa convenção de 1985,  
quando eu deixo o mandato, a gente opta por criar um centro de pesquisa ligado à ABESS.  
Thaisa Closs: Professora, então ocorreu uma disputa no campo da pesquisa, em termos  
da organização política da categoria?  
Maria Carmelita Yazbek: Sim, teve uma disputa, esse caderno que eu mencionei é um  
Entrevista com Maria Carmelita Yazbek  
caderno interessante. Ele é só sobre fenomenologia. Não se esqueça de que nós tínhamos Ana  
Augusta (Almeida) atuando nesse contexto também. Eu não me lembro de Ana Augusta  
(Almeida) na convenção. Quer dizer, eu não me lembro dos fenomenólogos na convenção, essa  
de 1979 em Natal. Eu não sei se elas foram, eu não me lembro. Quer dizer, protagonismo grande  
elas não tiveram. Eu me lembro muito da Ana Elizabete (Mota), de outras pessoas, do Nordeste,  
principalmente, pessoas de Natal. Era um grupo forte, criticamente posicionado, mas eu não me  
lembro de uma iniciativa dos grupos fenomenólogos nesse momento. Mas sei que tiveram uma  
influência grande em alguns currículos.  
Thaisa Closs: Nós no Rio Grande do Sul, na PUCRS especialmente, a influência no  
currículo foi fortíssima, durante esse período.  
Maria Carmelita Yazbek: E na PUC do Rio também. Ela era o coração, vamos dizer  
assim, desse debate, porque a Ana Augusta (Almeida) era professora de lá. Mas eu não me  
lembro dessa disputa lá na convenção de Natal. Havia mais consensos do que disputas. Pode  
ser até que estivesse presente, mas não me recordo. Quando José Paulo (Netto) escreveu o  
Ditadura e Serviço Social, que aponta as tendências profissionais, ele é muito fiel ao que estava  
acontecendo. Ele percebe isso nas convenções, ele sempre era convidado para uma palestra, ele  
não deixou de ser protagonista nesse processo. E depois a gente tem aquela crítica registrada na  
revista Serviço Social e Sociedade, número 14, uma crítica muito correta, porque havia um  
grupo que defendia o Serviço Social como ciência. E aí ele entra no debate e ele põe, vamos  
dizer assim, as coisas no lugar. Não, o Serviço Social não é ciência, é uma disciplina  
profissional, que se refere a uma teoria social.  
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Como é que isso rebate nos fundamentos profissionais? A discussão de qual é o objeto  
da profissão, quais são os seus objetivos. Então, era uma discussão da profissionalidade, vamos  
dizer assim. E o que é Serviço Social? O Serviço Social é arte, ciência? Essa discussão  
permanecia o tempo todo, até que a gente assume a perspectiva de uma profissão, da  
centralidade do trabalho, mas a gente não explicitou isso naquele momento. Mas a concepção  
de profissão de Marilda (Iamamoto) já está presente naquele currículo nosso, da PUCSP, ou  
seja, do Serviço Social na divisão social e técnica do trabalho.  
Thaisa Closs: Sim. A revista Serviço Social e Sociedade nº 14 já registra esses  
elementos, a partir do currículo da PUCSP, vocês já identificavam algumas lacunas e limites na  
proposta formativa de 1982. Um aspecto muito rico de recuperarmos, considerando tua gestão  
na ABESS, como presidente, e também como diretora na PUCSP. Como foi esse processo?  
Maria Carmelita Yazbek: Uma coisa interessante era que nós fizemos foram duas  
grandes pesquisas. Uma pesquisa que era no âmbito do curso, do curso de Serviço Social da  
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Fundamentos do Serviço Social e formação profissional  
PUCSP, uma pesquisa que acompanhava o processo, e outra, na ABESS. Outra ainda, na  
ABESS, depois, que avaliou a discussão da metodologia, tem um caderno ABESS só sobre isso.  
Resultado de pesquisas. Nós tínhamos uma professora que já faleceu, Dilséa Bonetti, ela  
conduziu pesquisas da nossa faculdade e essa da ABESS também.  
Foi uma grande pesquisa, com muitos seminários. E a gente ouviu o José Paulo (Netto),  
a Nobuco Kameyama, a gente ouviu a Marilda (Iamamoto). Então, a gente tentava dar um  
“tratamento científico”, vamos dizer entre aspas, e aí o José Paulo vem e lança essa história da  
ciência, da ciência positivista. Não existe a ciência marxista, mas a ciência positivista. Mas a  
gente tinha uma preocupação de dar um tratamento científico, ou melhor, acadêmico. A  
investigação era uma novidade também. Foi ali que ela veio e ganhou corpo, a ideia de que o  
Serviço Social desenvolve ações investigativas desde o seu cotidiano até a universidade. Então,  
aquele momento, ele foi rico. Porque isso era do nosso lado, do lado dos que estavam tentando  
adequar a formação à realidade.  
Do outro lado, São Paulo ferveu naquele momento. Então, quando a gente fala da  
Virada, ela vinha vindo, a virada estava na Igreja Católica, na Ação Católica, a virada estava no  
ABC Paulista, com as greves do ABC. Em 1979, ocorreu a fundação do Partido dos  
Trabalhadores. E eu me lembro que com aquele cardeal que a gente tinha, com aquela reitora  
da PUCSP, a gente estava no ABC. A universidade sustentava ou ajudava a sustentar os  
trabalhadores que estavam em greve quando o salário era cortado. Então foi um momento  
importante, a gente tinha todo o clima desse contexto das lutas dentro da universidade. “Não  
fiquem aqui, vão para fora dos muros da universidade”. E aí nós fomos. Nós fomos trabalhar  
com os loteamentos clandestinos, com os movimentos sociais, nas periferias. Eu fui para o  
município de Embu-Guaçu trabalhar com creches. A (Maria) Lúcia Barroco foi trabalhar na  
área da saúde. Bom, a gente criou muito. Era uma universidade muito interessante. Uma  
universidade que mais de uma vez foi invadida. Seu teatro, o TUCA foi incendiado duas vezes.  
Agora vai ter um metrô que vai servir a PUCSP, sabe? Tem um movimento para chamar  
a estação Nadir Kfouri. Imagina! Realmente, ela foi uma mulher ímpar, inclusive, a postura  
dela. A biblioteca da universidade chama-se já Nadir Kfouri. Ela foi muito reconhecida. A coisa  
que eu acho mais interessante, ela nunca se colocou no campo marxista. Ela era uma grande  
especialista em caso, porque também a gente nem tem ideia do que é o caso, um caso bem feito,  
um caso como aprendemos nos EUA, não é? Embora ela tivesse essa postura teórica, ela era  
uma mulher que ia para a rua brigar com a gente. Quando a gente ia para passeatas, todos  
professores muito jovens, alguns alunos. Fazíamos essas coisas. Ela ficava lá... Primeiro a  
faculdade era numa casa na Rua Sabará, era uma casa enorme. E ela ficava até a última voltar,  
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Entrevista com Maria Carmelita Yazbek  
para ver se precisava de iniciativa política de ajuda. Ela tinha um irmão desembargador, uma  
coisa assim, e ela ia atrás.  
Então ela foi uma grande mulher. E a coisa mais interessante é que os alunos invadiam  
a Reitoria e quando os estudantes saíam, era bonito isso, a enchiam de flores, porque não era  
algo pessoal com ela. Então, é um fenômeno isso, ter passado do conservadorismo para o  
marxismo, mantendo boas relações, relações cordiais. A gente tinha um carinho muito grande  
por ela. Porque ela permitiu também. Ela podia se contrapor, ela tinha prestígio e poder, mas  
ela concordou, abriu espaço.  
Thaisa Closs: As lutas que vocês travaram na profissão são incríveis, é muito  
importante recuperar essa memória. Os debates de avaliação do currículo de 1982, registrados  
nos cadernos ABESS, como de o de nº 3, também foram fundamentais. Professora Carmelita,  
como foi esse processo?  
Maria Carmelita Yazbek: Foi muito rico esse processo, porque essa unidade  
indissociável, teoria e método e história, ela foi sendo, vamos dizer, incorporada, porque não  
fomos nós que construímos, o próprio pensamento marxiano coloca assim. Mas é um processo  
de apreensão. Porque havia muitos marxistas positivistas, como, por exemplo, mostrou o estudo  
de (Consuelo) Quiroga. Mas aos poucos a gente foi avançando. E aí, eu acho que eu tive um  
privilégio, eu brinco com a Marilda (Iamamoto), eu fui formada por ela. Todos os equívocos  
que eu dizia, ela corrigia, ela foi arrumando as nossas cabeças (risos). E ela traz com força a  
tese da unidade teoria, método e história. É que falando assim agora, tanto tempo depois, parece  
que não há polêmicas, mas havia polêmicas. Havia uma identificação da metodologia com o  
procedimento, do método com o procedimento, quando o método, na verdade, é constitutivo da  
própria construção teórica. A gente foi caminhando, o José Paulo (Netto) também ajudava, veio  
trabalhar com a gente. Foi um tempo de muita construção.  
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E, interessante, as minhas lembranças foram de busca de consenso, nesses debates. A  
tensão maior foi em Teresópolis. O Documento de Teresópolis foi muito difícil para nós. Eu me  
lembro que eu não quis participar, eu não fui para Teresópolis. E a gente ainda estava lá na Rua  
Sabará, onde tinha um porão. Enquanto elas estavam em Teresópolis, a gente estava estudando  
no porão, escondidas. A primeira vez que eu li Paulo Freire foi em espanhol. Ele não era  
publicado no Brasil. Então a gente tinha um grupo ali de estudos. Elas sabiam. Como a gente  
tinha bons vínculos, elas nos protegiam. Mas Teresópolis foi muito doloroso. É muito ruim, não  
é? Araxá tem ainda a marca do pensamento de São Tomás, da perfectibilidade do homem, da  
natural sociabilidade, tem umas coisas que vêm de Aristóteles, que São Tomás incorporou e que  
elas incorporaram, então tem um lado humano, podem até discordar dessa leitura, mas o  
Libertas, Juiz de Fora, v. 24, n. 2, p. 734-747, jul./dez. 2024. ISSN 1980-8518  
Fundamentos do Serviço Social e formação profissional  
documento tem uma defesa do humano, da sociabilidade humana.  
Teresópolis foi muito ruim, Teresópolis foi tenso, claro. Não quis participar. Marilda  
(Iamamoto), nessa época, ela ainda estava em Minas Gerais, eu acho. Depois é que ela vem  
para a PUCSP, que nem a Rosângela (Batistoni). BH foi uma experiência belíssima, mas que  
terminou tragicamente reprimida. Foi um processo muito rico, essa experiência de vida entre  
1975 e 1979, vamos dizer assim. E até o final dos anos 1980, um período, de muita  
efervescência. A organização política era incrível. E quando eu vejo hoje a (Luisa) Erundina é  
uma coisa... Que grande mulher que ela foi e é.  
Ela vai fazer 90 anos, eu tenho muito carinho por ela. Ela foi uma professora de luta, da  
política. Os anos 1980 lançaram as grandes bases da profissão, para a atualidade mesmo. É  
importante a gente recuperar esses processos, inclusive, a raiz das Diretrizes Curriculares  
também está nesses debates, nesses avanços que também estavam articulados com a  
organização política, não era só um projeto de formação, era um projeto de profissão, de  
sociedade, em conjunto. É aí que está o nascedouro do que a gente chama de projeto ético-  
político. E depois, em 1993, tem o Código de Ética, a Lei de Regulamentação, isso vem tudo  
na mesma esteira, de um acúmulo. Foi um momento privilegiado da profissão. Foi um momento  
da virada de todos os lados.  
Thaisa Closs: E caminhando por esse percurso histórico, no início dos anos 1990, como  
foi sua inserção nas entidades profissionais nesse período?  
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Maria Carmelita Yazbek: Eu estive no CFESS. Quando eu estive no Conselho  
Nacional de Assistência, primeiro conselho, na construção da LOAS, eu participei de uma  
equipe representando o CFESS. E antes, em 1986, a PUCSP firmou um convênio com Portugal  
para implantar mestrado, doutorado, nós saímos do Brasil também. Não sei como dava tempo  
de fazer tanta coisa. Foi um trabalho muito interessante. Nós estávamos discutindo a  
internacionalização, só em Portugal a gente formou 41 mestres, que saíram com o diploma da  
PUCSP, mais 13 doutores, e depois nós vamos para a Argentina também. Então a gente estava  
numa linha de avançar mesmo. Dentro do país, fora, claro que era um grupo muito interessante.  
A Aldaíza (Sposati) estava envolvida com Portugal. Estava fora. Bom, eu não sei como coube  
no tempo tanta coisa. Eu sei que os anos 1990 consolidaram o que a gente vinha fazendo, através  
desses documentos, acúmulos.  
Em 1996 eu estava no CEDEPSS com a Marieta (Koike). A Marieta é incrível, nós  
vivemos aventuras, sabe? A gente saiu para a América Latina, fomos para a Guatemala. E ela  
consolidou, consolidou a proposta de formação. Ela é uma figura emblemática do Nordeste,  
representava o Nordeste. Eu aqui do outro lado, em outra região, representando um pouco a  
Entrevista com Maria Carmelita Yazbek  
história das pessoas que começaram o Serviço Social no Brasil. Nós fizemos um trabalho muito  
curioso, muito interessante. Entendo que os maiores avanços das atuais DCN da ABEPSS no  
tocante aos Fundamentos do Serviço Social referem-se à abordagem na perspectiva da  
indissociabilidade dos três núcleos de fundamentação das Diretrizes Curriculares de 1996:  
Núcleo de Fundamentos teórico metodológicos da Vida Social, Núcleo de Fundamentos da  
formação sócio-histórica da sociedade brasileira e, Núcleo de fundamentos do trabalho  
profissional. Nessa abordagem há algumas questões centrais cuja abordagem é imprescindível  
no conjunto das Diretrizes e especialmente dos conteúdos, que são os eixos estruturantes da  
questão social e do trabalho.  
As diretrizes curriculares, eu estava relembrando, eu falei, que coisa mais linda! Não  
tem nem o que mexer nelas, atuais, não é? Claro que elas têm que se atualizar, tem que caminhar  
com a história, mas a proposta dos núcleos de fundamentação, eu acho que, por enquanto, é  
imbatível, se indissociável. Nesse sentido há algumas questões a serem aprofundadas: as  
determinações da formação colonial, escravista, sexista nas condições de vida das classes  
subalternas; o debate étnico-racial como constitutivo das relações sociais capitalistas no Brasil,  
afirmando a pauta antirracista; a temática da diversidade sexual; as profundas transformações  
do mundo do trabalho face à reestruturação vasta e dramática do capitalismo global,  
impulsionada pelo capital financeiro e pela reestruturação produtiva e particularmente por sua  
incorporação das tecnologias de informação e comunicação nas relações de trabalho; a nova  
morfologia do trabalho dos assistentes sociais nesse contexto; o novo perfil das Políticas Sociais  
no capitalismo financeiro e plataformizado. Entendo que esses necessários avanços no tocante  
a esses temas não devem significar deixar de lado os pensadores que construíram as matrizes,  
as bases do pensamento social contemporâneo. É preciso conhecer o pensamento marxiano, a  
tradição marxista, as vertentes atuais derivadas do positivismo, o estruturalismo e o pensamento  
pós-moderno, como uma necessária interlocução.  
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Thaisa Closs: Sobre os debates das Diretrizes, a formulação de seus elementos centrais,  
da indissociabilidade dos Núcleos de Fundamentação, ocorreram muitas oficinas. Houve o  
suporte de assessores, durante a gestão da professora Marieta Koike, não é?  
Maria Carmelita Yazbek: A Marieta, ela se cercava de pessoas para contribuir na  
construção, ela era uma mulher muito aberta. Creio que quando entrei no debate a proposta dos  
Núcleos já estava construída. Claro que havia discussões parciais, não é? Sobre a concepção de  
profissão, a dimensão política. Eu estava mais com a discussão da pesquisa. Eu acho desafiante  
a questão da indissociabilidade. Não era uma coisa fácil. E não tem sido fácil, até hoje, discutir,  
por exemplo, a relação teoria/metódo/história. Os cursos ainda hoje confundem método e  
Libertas, Juiz de Fora, v. 24, n. 2, p. 734-747, jul./dez. 2024. ISSN 1980-8518  
Fundamentos do Serviço Social e formação profissional  
metodologia, na questão de como fazer a parte de instrumentalização, das técnicas. Depois a  
gente tem a Yolanda (Guerra) que avança nisso, ela faz o doutorado com a gente também, ela  
dá um belo salto nessa questão. O que aconteceu com a graduação da PUCSP? Estou muito  
longe da graduação agora, naquele momento eu não estava. Naquele momento, lá atrás, a gente  
discutia, discutia, conversava, conversava. E nós tínhamos algumas pessoas incríveis. A gente  
tinha (Maria Lúcia) Barroco. Além da Marilda (Iamamoto), tinha Barroco, nesse campo da  
ética. Além de ser assistente social ela depois foi para fazer filosofia, porque não dá para discutir  
ética somente com os conhecimentos que a gente tem. Então ela avançou muito nisso.  
Um grande grupo participava. E a Marieta (Koike) foi uma grande articuladora, ela  
soube conduzir isso, sabe? Quando chega a convenção que aprova as diretrizes, foi tranquila.  
Mas uma das polêmicas era sobre a política social. Porque depois a gente acabou ficando com  
os eixos da questão social e do trabalho. E a política social foi uma questão, porque tinha um  
grupo que defendia a política como um dos eixos, com o mesmo peso da questão social e da  
concepção de serviço social como trabalho. Naquele momento, a gente não aceitava. Hoje, eu  
acho que talvez, quando você vê o mercado de trabalho, quando você vê que o grande  
empregador de assistentes sociais é o Estado, são as políticas sociais. Talvez a gente não tivesse  
sido tão rigorosa com o eixo da política social. Não que ela não tenha importância, mas ela  
cresceu na importância. Porque, por exemplo, se a gente questiona uma ação focalizada,  
seletiva, em relação, por exemplo, à pobreza, é isso que a gente faz, a gente faz pela via da  
política. Mas a política social como eixo perdeu. Esse domínio que a gente alcançou em relação  
à política social, o trabalho da Elaine (Behring), por exemplo, avançou com a questão do fundo  
público. Acho que política social tem um peso maior do que o que a gente deu naquele  
momento. Ela ganhou esse peso também.  
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Os grupos temáticos de pesquisa (GTP’s) daABEPSS abriram um caminho interessante,  
como o movimento mais recente das lutas antirracistas, por exemplo. E os temas que os GTPS  
trazem são todos muito importantes. Olha que interessante, naquele momento de criação deles  
eu entrei no GTP de política social. Eu estava muito envolvida com a assistência social. Depois  
eu percebi que eu tinha que passar para o GTP de fundamentos do serviço social, porque que  
eu ensinava fundamentos. Aí eu passei para o de fundamentos. Vamos dizer assim, é difícil  
separar a política social do campo da intervenção, porque ela está ali, ela nos condiciona,  
determina o que você pode e o que não pode. Aí eu desisti da assistência social, em termos da  
pesquisa, pela ênfase em um tema. Em termos de pesquisa, ou é uma coisa ou é outra, priorizar.  
Thaisa Closs: São temáticas que marcam tua produção e trajetória docente.  
Maria Carmelita Yazbek: Sim, e a conquista da assistência social na Constituição  
Entrevista com Maria Carmelita Yazbek  
Federal é uma conquista histórica também. Porque é no mesmo contexto, da história, a tentativa  
de quebrar com a prática clientelista, do favor, da ajuda, que está aí até hoje. A luta pela  
constitucionalidade foi uma luta importante, tinha um grupo bem bom e as entidades também.  
Foi um momento muito rico da vida.  
Thaisa Closs: Professora, um desafio importante no tocante aos fundamentos do  
Serviço Social reside nos processos de ensino, no sentido do rigoroso trato histórico e teórico-  
metodológico da profissão, na garantia da lógica e fundamentos das DCN da ABEPSS. Poderias  
compartilhar um pouco sobre sua experiência docente na área de fundamentos?  
Maria Carmelita Yazbek: A minha experiência atualmente no ensino é na pós-  
graduação. Então, ela tem outras características. Eu trabalho em dois momentos, duas  
disciplinas de fundamentos, a I e a II. Na primeira eu coloco em discussão as bases das  
Diretrizes. Eu discuto profissão, o que é o serviço social, a ênfase para o trabalho e a questão  
social. E eu estou fazendo profundas mudanças na discussão. Porque em relação à questão  
social, por exemplo, a abordagem é sempre histórica. Por exemplo, eu começo discutindo a  
questão social, como emerge essa expressão? Quem usou essa expressão pela primeira vez? A  
questão social ou a questão inglesa. Ela surge como expressão histórica que tem a ver com o  
capitalismo, a classe... Mas, em 2001, teve o debate da revista Temporalis nº3 onde, analisando  
o ensino das diretrizes, o tema foi a questão social. E aí tem o José Paulo Netto, tem a Marilda  
Iamamoto, a Potyara Amazoneida Pereira e eu estava lá. Bom, e a partir dali eu fui ver um  
pouco o que diziam. José Paulo e Marilda, que foram mais fiéis tendo como referência a  
sociedade industrial e a lei geral da acumulação.  
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Mas eles já diziam que a questão social assume expressões concretas em diferentes  
realidades, em diferentes nações, em diferentes tempos históricos. Eu, naquele momento, estava  
com a subalternidade, discutia a pobreza, e ela nada mais é que um resultado dessa forma de  
organização da sociedade. Mas, o movimento teórico na categoria foi: Qual é a realidade  
concreta da classe trabalhadora, da classe que vive do trabalho, por exemplo, em termos da  
questão social? Quem é ela? E aí, nós fomos avançando nas lutas antirracistas, nos GTP’s a  
gente tinha uma discussão sobre as múltiplas opressões, vamos dizer assim. Então, hoje, nesse  
momento, eu trabalho desde o sentido clássico, que eu acho que temos que trabalhar, até essas  
expressões. A gente trabalha na ótica da questão social a questão racial, a questão social e as  
perspectivas feministas, as perspectivas de gênero, LGBTQIA+, a gente hoje discute questão  
social de um outro modo. Depois é a discussão do trabalho. Na PUCSP é muito forte a discussão  
do trabalho, conduzida pela Raquel (Raichelis), ela avançou muito, a gente tem convidado  
muito o (Ricardo) Antunes, ele dá atividades programadas. Então, vamos discutir também: O  
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que é o trabalho hoje? Você lembra as polêmicas que ocorreram na produção da área, como se  
o trabalho se restringisse ao trabalhador de chão de fábrica. Então a gente debate com o  
(Ricardo) Antunes, a nova morfologia, a financeirização do capitalismo. Eu também trabalho  
na disciplina com unidades sobre o serviço social e a inserção na política social.  
Primeiro semestre é isso. Segundo semestre eu discuto as tendências teóricas, então é  
mais árido o debate, sabe? Porque, na verdade, a gente começa do pensamento doutrinário, da  
Igreja, chega no positivismo. E o positivismo de hoje não é aquele positivismo de antes, ele tem  
impressões culturalistas, funcionalistas. A gente aprofunda o culturalismo, e aí eu entro em  
alguns autores como o (Pierre) Bourdieu, o (Michel) Foucault, o Foucault é difícil, mas temos  
muitos alunos que querem estudá-lo. Depois eu debato isso que a gente chama de pensamento  
pós-moderno, a gente trabalha com o (Jean-François) Lyotard, com o Boaventura Sousa de  
Santos. Eu trabalho os pensamentos, as tendências do pensamento social. No campo da tradição  
marxista, é Marx a ênfase, eu trabalho um pouquinho com Gramsci também. Eu gosto de  
Gramsci. Às vezes, eu discuto com outros autores, como (Edward Palmer) Thompson e com  
(Georg) Lukács. Sem abrir mão da opção da tradição marxista, o marxismo dialoga com essas  
correntes. O pessoal gosta muito desse curso, é o debate do pensamento social contemporâneo.  
Com quem nós dialogamos? O que se coloca hoje no debate social? Então vão surgindo autores,  
surgindo teses, a gente vai discutir com alguns autores que estão no debate hoje.  
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Thaisa Closs: Para finalizarmos a entrevista, que desafios você apontaria para a  
produção de conhecimento na área de fundamentos do Serviço Social?  
Maria Carmelita Yazbek: Mais uma vez afirmo que o fundamento da profissão é sua  
inserção na história. Essa inserção exige o desvelamento contínuo da realidade e a produção de  
conhecimentos sobre essa realidade e sobre o trabalho profissional nela inserido. Assim, a  
pesquisa e o processo de produção de conhecimentos são de grande relevância no âmbito da  
profissão. Profissão que tem na pós-graduação um importante suporte, e que alcançou um nível  
de maturação consistente, pela produção de conhecimentos, que ao lado da organização política  
da categoria tem sustentado seu Projeto Profissional. Sobre a pesquisa, gostaria de assinalar a  
importância da inovação em seu âmbito, com novas tecnologias e metodologias, como a  
pesquisa militante e outras estratégias.  
Thaisa Closs: Professora Carmelita muito obrigada pela entrevista!