Reforma agrária e alternativas à fome:  
o Plantio Solidário na Zona da Mata Mineira  
Agrarian reform and alternatives to hunger: Plantio Solidário in Zona da  
Mata of Minas Gerais  
Mônica Aparecida Grossi*  
Michelle Neves Capuchinho**  
Paula Rocha de Souza***  
Vitória Nacarate Machado****  
Maria Eduarda Dias*****  
Resumo: O artigo objetiva discutir a reforma  
agrária popular do MST e a construção de  
alternativas à fome no Brasil, destacando a  
análise da experiência realizada pelo MST na  
zona da mata mineira, intitulada “Plantio  
Abstract: The article aims to discuss the  
popular agrarian reform of the MST and the  
construction of alternatives to hunger in Brazil,  
highlighting the analysis of the experience  
carried out by the MST in the forest zone of  
Minas Gerais, entitled "Plantio Solidário". The  
results indicate the strengthening of class  
solidarity, agroecology practices, popular and  
political organization, causing a significant  
social impact.  
Solidário”. Os resultados indicam  
o
fortalecimento da solidariedade de classe, da  
agroecologia, da organização popular e política,  
causando um impacto social significativo.  
Palavras-chaves: Reforma agrária popular;  
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem  
Terra (MST); Alternativas à fome; Projeto  
Plantio Solidário; Região da Zona da Mata de  
Minas Gerais.  
Keywords: Popular Agrarian Reform; Landless  
Workers' Movement (MST); Alternatives to  
Hunger; Plantio Solidário Project; Zona da  
Mata Region of Minas Gerais.  
*
Professora Titular da Faculdade de Serviço Social da UFJF. Doutora pela ESS/UFRJ. Pós doutora pela  
Universidade de Córdoba, Espanha. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2150-0173  
**  
Professora substituta da Faculdade de Serviço Social da UFJF, doutoranda em Serviço Social pela UFJF e  
dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra de Minas Gerais. ORCID: https://orcid.org/0009-  
*** Mestranda em Serviço Social pela UFJF e militante do Coletivo Pretxs em Movimento.  
**** Assistente Social pela Faculdade de Serviço Social da UFJF.  
***** Graduanda e bolsista de extensão da Faculdade de Serviço Social da UFJF.  
DOI: 10.34019/1980-8518.2024.v24.46491  
Esta obra está licenciada sob os termos  
Recebido em: 07/11/2024  
Aprovado em: 23/12/2024  
Reforma agrária e alternativas à fome: o Plantio Solidário na Zona da Mata Mineira  
Introdução  
Este artigo é resultado de reflexões realizadas em processos de ensino, pesquisa e  
extensão relacionados à luta do MST, envolvendo professores, estudantes de graduação  
(bolsista de extensão e orientanda de TCC) e de pós graduação (mestranda e bolsista voluntária  
de extensão, e doutoranda), que situam seus estudos e atividades de extensão, noâmbito e na  
interseção, entre as questões agrária, urbana e ambiental. E a temática principaldeste artigo, a  
reforma agrária popular, como apresentaremos, traz nesta interseção, elementos para as lutas  
sociais, como a agroecologia e a soberania alimentar, e desafios, aossujeitos coletivos da classe  
trabalhadora, que estão no campo e na cidade.  
Neste momento de crise estrutural do capital e de seu atual processo de acumulação, os  
bens da natureza, com destaque para as terras, águas e sementes, e também os camponeses,  
vêm sofrendo grandes ofensivas, demonstrando que estamos vivendo um processo mais amplo  
de crise civilizatória, que se expressa na negação/retirada dos direitos à alimentação, ao  
trabalho, à terra e à vida.  
Na atual fase do capitalismo financeiro internacional, sob a hegemonia do agronegócio,  
vêm sendo desenvolvidos mecanismos de controle da agricultura e do comérciode alimentos,  
agravando a concentração da propriedade das terras, dos meios de produção e de toda cadeia  
agroalimentar, trazendo como consequências o aumento da fome e da insegurança alimentar,  
e de ameaças à existência dos camponeses e povos das terras, das águas e das florestas.  
A atual crise alimentar, a fome e a insegurança alimentar se relacionam com questões  
estruturais, que se expressam, dentre outras coisas, nas condições ambientais cada vez mais  
adversas, em que se desenvolve o atual regime alimentar, hegemonizado pelas corporações  
transnacionais do agronegócio. Neste sentido, a construção de alternativas à fome torna-se  
uma necessidade urgente para a classe trabalhadora, e os movimentos sociais, como o MST,  
vêm trazendo contribuições no desenvolvimento de ações concretas para o enfrentamento à  
fome.  
445  
O objetivo deste artigo é discutir a reforma agrária popular do MST e a construção de  
alternativas à fome no Brasil, destacando especificamente, a análise de uma experiência  
realizada pelo MST na zona da mata mineira, em parceria com a Universidade Federal de Juiz  
de Fora (UFJF) e outras organizações da sociedade civil, intitulada “Plantio Solidário”. Apartir  
da crítica ao agronegócio, buscamos discutir a luta do MST, as potencialidades em tornoda sua  
proposta de Reforma Agrária Popular, baseada na agroecologia e na soberania alimentar, para  
analisarmos a experiência do Plantio solidário, como parte deste processo deluta.  
Monica Grossi; Michelle Capuchinho; Paula Rocha de Souza; Vitória Machado; Maria Eduarda Dias  
A hegemonia do agronegócio: destruição ambiental, desigualdade e fome.  
O desenvolvimento do capitalismo no campo brasileiro, suas tendencias e  
contradições, que se apresentam na atualidade são resultado histórico das transformações da  
nossa agricultura. No Brasil, com o golpe militar de 1964, a proposta de desenvolvimento  
capitalista assumida para o país em relação à agricultura foi a modernização conservadora em  
contraposição à reforma agrária, que reúne elementos modernos e arcaicos. O elemento  
modernizante diz respeito a adoção do pacote tecnológico da revolução verde e o elemento  
arcaico que permanece é a nossa histórica concentração fundiária, aliada a produção  
monocultora para exportação.  
Sob o comando do mercado mundial, a produção da agricultura capitalista brasileira  
vem se concentrando na produção de commodities, como soja, milho e cana, além da pecuária  
extensiva voltados aos interesses do mercado externo. A monocultura de eucalipto para  
exportação voltado a produção de celulose, altamente degradadora do solo e, principalmente  
das águas, vem configurando um cenário de devastação, cuja expressão eloquente cunhada  
pelos movimentos sociais é de “deserto verde”. A concentração da produção agrícola pode ser  
materializada no seguinte dado: “No Brasil, cerca de 10% de todos os estabelecimentos  
agrícolas controlam 80% do valor da produção (Stédile, 2013, p. 25)”. Isto vem gerando a  
imposição de uma padronização dos alimentos e a perda da soberania dos povos e dos países  
sobre os alimentos, de modo que muitos países hoje não conseguemproduzir seus próprios  
alimentos.  
446  
Este tipo de produção vem ampliando o processo de degradação, desmatamento, perda  
de fertilidade da terra e contaminação do solo e das águas, a partir da tecnologia de produção  
da revolução verde baseada no uso intensivo de mecanização e agrotóxicos. Os efeitos  
perversos deste modelo do agronegócio, também deixam suas marcas no campo e nacidade,  
através da crescente desigualdade social, que se expressa na pobreza extrema; no  
analfabetismo, na falta de acesso à educação por parte da juventude rural; no trabalho precário  
e em condições análogas à escravidão; na violência e expulsão de famílias do campo;associando  
à monocultura, o aumento do uso de agrotóxicos e a introdução de cultivos transgênicos.  
O modelo de agricultura capitalista do agronegócio afirma-se, então, como o principal  
responsável pela crise alimentar mundial pois, ao tratar a terra, as sementes e os alimentos  
produzidos como mercadorias vem comprometendo a segurança alimentar, que, além de nãoter  
sido alcançada com a revolução verde, tem sido ameaçada. Podemos dizer que uma dasmaiores  
contradições da revolução verde foi a criação de uma anticomida, produzida pelo agronegócio,  
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que operou a transformação da agricultura num ramo de negócios, no qual a produção de  
alimentos se torna uma mera mercadoria a ser negociada para obtenção delucros.  
A mercadorização dos alimentos é analisada pelo sociólogo Jean Ziegler (2013), em  
entrevista ao jornalista Márcio Zonta para a Revista Brasil de Fato, como um negócio  
altamente lucrativo. Para ele, o problema da fome está relacionado à questão da especulação  
financeira, ao dumping (concorrência desleal de mercado) agrícola e à destinação das terrasà  
produção de bicombustíveis. Afirma que é a primeira vez na história da humanidade que o  
problema da fome está relacionado não à escassez de alimentos, mas ao excesso. Nesse sentido,  
é fundamental destacarmos as contribuições de Josué de Castro, pioneiro no debate da fome,  
já que “[...] os interesses e preconceitos de ordem moral e de ordem política e econômica de  
nossa chamada civilização ocidental tornaram a fome um tema proibido, ou pelo menos pouco  
aconselhável de ser abordado” (Castro, 1992, p. 29). Em sua mais reconhecida obra “Geografia  
da Fome”, ele desmente a falsa ideia, amplamente aceita em seu tempo, de que fome era  
resultante do aumento do contingente populacional ou da escassez. Josué caracteriza o  
problema da fome como expressão das relações sociais e econômicas historicamente impostas  
e reproduzidas, além da incapacidade (ou desinteresse) do Estado burguês de buscar  
alternativas para enfrentar a questão, já que não vai de encontro aos interesses da classe  
dominante.  
447  
A fome no Brasil (...) é consequência, antes de tudo, de seu passado histórico,  
com os seus grupos humanos, sempre em luta e quase nunca em harmonia com  
os quadros naturais. Luta, em certos casos, provocada e por culpa, portanto,  
da agressividade do meio, que iniciou abertamente hostilidades, mas, quase  
sempre, por inabilidade do elemento colonizador, indiferente a tudo que não  
significasse vantagem direta e imediata para os seus planos de aventura  
mercantil. Aventura desdobrada, em ciclos sucessivos de economia destrutiva  
ou, pelo menos, desequilibrante da saúde econômica da nação: o do pau-brasil,  
o da cana-de-açúcar, o da caça ao índio, o da mineração, o da “lavoura  
nômade”, o do café, o da extração da borracha e, finalmente o de certo tipo de  
industrialização artificial, baseada no ficcionismo das barreiras alfandegárias  
e no regime de inflação. É sempre o mesmo espírito aventureiro se insinuando,  
impulsionando, mas logo a seguir corrompendo os processos de criação de  
riqueza no país (...). É a impaciência nacional do lucro turvando a consciência  
dos empreendedores e elevando-os a matar sempre todas as suas “galinhas de  
ovos de ouro”. Todas as possibilidades de riqueza que a terra trazia em seu  
bojo. Em última análise, esta situação de desajustamento econômico e social  
foi consequência da inaptidão do Estado Político para servir de poder  
equilibrante entre os interesses privados e o interesse coletivo (Castro, 1992,  
p. 280-281).  
Dessa forma, o autor caracteriza o subdesenvolvimento e a insegurança alimentar como  
um produto inevitável do próprio desenvolvimento (nos moldes capitalistas), pautado na  
exploração colonial e neocolonial está colocada em diferentes regiões do globo. A fome dá-se  
Monica Grossi; Michelle Capuchinho; Paula Rocha de Souza; Vitória Machado; Maria Eduarda Dias  
como expressão dessa. Portanto, o aumentoda fome não se relaciona a problemas de ordem  
natural, de baixa produtividade e nem mesmoem razão de guerras, pois está diretamente  
vinculado à forma de sociedade erguida sob o imperativo do capital, que nega a alimentação a  
um imenso número de pessoas. Esse quadro de dominação mundial exercido por grandes  
grupos econômicos é apresentado por Ziegler:  
Hoje temos dez transnacionais que potencializam a fome no mundo. Esse  
grupo econômico controla 85% de todos os alimentos negociados no planeta.  
Fixam preços,controlam a distribuição e assim decidem todos os dias quem  
poderá comer, quem vai passar fome e quem vai morrer sem alimentação  
(Ziegler, 2013, p. 13).  
Ademais, Stédile e Carvalho (2010) reiteram essas contradições presentes, uma vez  
que poucas empresas e grandes complexos agroindustriais controlam vastas áreas de terra, mas  
sua produção não satisfaz as necessidades do país. Enquanto isso, a maior parte da população  
em situação de insegurança alimentar reside em áreas rurais e poderia cultivar seus próprios  
alimentos para sua reprodução social. Os autores enfatizam que essa lógica de acumulação  
privada é prejudicial, pois ameaça a soberania dos Estados, a garantia de uma alimentação  
saudável, variada e livre de produtos químicos, além de causar a degradação ambiental,  
frequentemente de maneira irreversível, colocando em risco a sobrevivência humana,  
controlando e padronizando efetivamente os alimentos que são produzidos e comercializados.  
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Tudo leva a crer que em nome da competitividade na produção agropecuária  
e florestal nos mercados mundiais, as grandes empresas transnacionais e não  
os governos nacionais é que deverão definir e implementar as macropolíticas  
estratégicas de abastecimento alimentar em todo o mundo. Não apenas  
controlando as cadeias alimentares mais importantes, seja do ponto de vista  
dos volumes negociados, como também dos produtos de interesse da  
agroindustrialização e da padronização dos alimentos em todo mundo, como  
controlando internamente em dezenas de países os principais produtos tanto  
no comércio por atacado como no varejo, através das cadeias multinacionais  
de supermercados (Stédile; Carvalho, 2010, p. 4).  
Assim, fica evidente como o atual modelo hegemônico de agricultura torna-se a  
expressão máxima da destrutividade do capital em relação aos seres humanos e à natureza. Esta  
é a chamada fase da agricultura científica, de precisão ou biotecnológica, que amplia o domínio  
das indústrias multinacionais, em que os agricultores são excluídos, conformando-se uma  
agricultura sem agricultores.  
Segundo Helen Borborema, em reportagem publicada no espaço Articulação Nacional  
de Agroecologia (ANA), intitulado “Agronegócio comemora enquanto fome se agrava”,  
destaca que o agronegócio brasileiro comemora a produção histórica de grãos e crescimento  
de 5,7% do volume produzido nesta safra (2020/21), se comparado à anterior (Borborema,  
2021), de acordo com os dados da expansão do agronegócio, divulgados pela Companhia  
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Reforma agrária e alternativas à fome: o Plantio Solidário na Zona da Mata Mineira  
Nacional de Abastecimento (Conab). A autora traz ainda, o relato de Sílvio Porto, professor da  
Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB) e ex-diretor da Companhia Nacional de  
Abastecimento (Conab), onde o pesquisador aponta que o aumentoda fome e da miséria no  
Brasil, ao mesmo tempo em que o país bate recorde na produção agrícola, é um contrassenso  
e uma aberração (Borborema, 2021).  
O Relatório das Nações Unidas sobre o Estado da Insegurança Alimentar Mundial  
(SOFI, 2024) apresentou uma redução significativa na insegurança alimentar severa de 85%  
no Brasil. Em números absolutos 14,7 milhões de pessoas deixam de passar fome no país, que  
atingia 8% da população, e agora caiu para 1,2%, conforme divulgado pela Secretaria de  
Comunicação Social (Brasil, 2024). No primeiro momento, aos nos depararmos com essa  
notícia, pensamos que ela aparenta apontar um otimista cenário ao enfrentamento da fome.  
Contudo, esse cenário não se expressa plenamente ao analisarmos a totalidade, já queo Brasil  
ainda permanece no Mapa da Fome.  
Adensando a discussão, no que tange à realidade brasileira, é necessário pensar que  
apesar da melhoria em relação aos anos anteriores não é garantida sua estabilidade. Jáque a  
fome já aparentava ter sido superada em 2014, quando o Brasil saiu do Mapa da Fome,porém,  
frente a situação de extrema vulnerabilidade agravada na pandemia de COVID-19, o país  
retorna ao indicativo. Esse cenário é um reflexo do sucateamento das políticas sociais públicas  
de combate à miséria e o desmonte geral das políticas de seguridade, adensada pelos  
governos ultraneoliberais.  
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O cenário mundial também não é favorável, o relatório aponta um retrocesso de 15  
anos, com aumento geral da desnutrição, insegurança alimentar, atraso no crescimento infantil,  
dentre outros. Essa estagnação é extremamente preocupante e escancara a desigualdade, já que  
os países de baixa renda, principalmente na África, são os mais atingidos, em que maior parte  
da população não consegue pagar por uma dieta saudável e garantir sua nutrição. Esses  
dados coexistem e contrastam com o aumento acentuado dos níveis de obesidade, desse modo,  
apontando que o debate sobre alimentação é muito mais denso e complexo, exigindo  
intervenções que compreendam a realidade social da população e do território.  
Assim, é essencial destacar que o déficit alimentarapresentado é resultante do modelode  
produção capitalista, que visa a obtenção de valor, sem considerar uma produção que  
contemple uma nutrição adequada aos indivíduos. A inflação dos preços, mudanças  
climáticas, desigualdades sócio-territoriais são intrínsecas e naturalizadas nessa sociabilidade,  
e só podem ser superadas junto dessa. Portanto, apesar das conferências, relatórios e esforços  
Monica Grossi; Michelle Capuchinho; Paula Rocha de Souza; Vitória Machado; Maria Eduarda Dias  
da comunidade e órgãos internacionais, a questão da fome e das mudanças climáticas  
permanecem sem um resultado claro e efetivo.  
A fome, assim como o desemprego, são expressões da Questão Social mantidas pelas  
relações de desigualdade por intermédio da exploração que o modo de produção capitalista  
reproduz na sociedade. É nessa concepção, permeada por contradições, que se organiza a  
política agrícola que produz, tanto para o mercado interno, quanto para exportação. No  
entanto, há um paradoxo na relação do Brasil com a agroexportação. O “agro”, que aponta  
recorde de produção de alimentos, contrasta com o gigantesco crescimento da população que  
passa fome, em consequência da falta de terra e emprego que garanta sua subsistência. Essa  
grande massa de famintos e desempregados é marcada pela cor, gênero e, seu endereço está  
localizado nas periferias das cidades Brasil afora.  
Dessa forma, a classe dominante busca distorcer a importância política dos  
movimentos sociais e da luta pela terra, além de criminalizar, reprimir e matar as lideranças  
dos movimentos, as ocupações e manifestações. Nesse contexto de grande desigualdade  
social sendo o Brasil, um dos países que mais concentra terra no mundo, esta concentraçãoé  
um reflexo do desenvolvimento capitalista, que gera muitas contradições e diversas  
organizações, que lutaram e lutam por terra. Como expressão desse processo temos no Brasil,  
o movimento dos trabalhadores Sem-terra, um dos maiores movimentos sociais do mundo,  
sendo o maior da América Latina. Destacamos a luta do MST pela Reforma Agrária Popular,  
onde a agroecologia e a soberania alimentar têm centralidade.  
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A reforma agrária popular do MST: afirmação da agroecologia, dasoberania  
alimentar e da solidariedade de classe.  
O MST, criado a 40 anos, está presente em 23 estados brasileiros, com assentamentos  
e acampamentos em mais de 500 cidades, tem como projeto para o Brasil a reforma agrária  
popular. Busca o desenvolvimento para o campo brasileiro, com bases na agroecologia, para  
a produção de alimentos saudáveis, que atenda às necessidades da população brasileira,  
garantindo a preservação dos bens naturais, assim como o cultivo de relações sociais  
antirracistas, antimachistas, enfrentando os valores colocados pela sociedade capitalista.  
Os assentamentos se organizam de várias formas, através de cooperativas, associações,  
grupos e comunidades camponesas. Além da organização, o MST se destaca pelo  
desenvolvimento da formação política, em conformidade com a pedagogia Freiriana, com  
enfoque na educação popular. Freire salienta que a comunhão com o povo é o momento  
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Reforma agrária e alternativas à fome: o Plantio Solidário na Zona da Mata Mineira  
decisivo para a transformação. “A consciência é histórica, pois implica que os homens  
assumam o papel de sujeitos que fazem e refazem o mundo” (Freire, 1981, p. 26).  
A crítica do MST e de outros sujeitos coletivos do campo ao capitalismo, expresso pelo  
modelo produtivo do agronegócio, visceralmente dependente do petróleo, se soma a sua  
proposição em torno da agroecologia.  
Vivemos um momento sem precedentes na história da humanidade, com a  
emergência conjugada de três crises: a crise energética, a crise alimentar e a  
crise climática. Estamos no limiar de esgotar a era dos combustíveis fósseis  
(baseados nocarvão mineral e no petróleo) que representou o sustentáculo  
energético do modelo de sociedade capitalista-consumista existente nos  
últimos 200 anos. [...] O modelo produtivo agroecológico, diversificado e  
poupador de insumos, se coloca claramente em oposição a esse modelo  
dominante, controlado pelo agronegócio e que se utiliza fortemente de  
energias fósseis. A agroecologia se baseia no aprendizado com a natureza, de  
forma a debater as relações presentes na tecnologia utilizada, a fim de  
potencializar os efeitos naturais de fertilidade, complexidade e produtividade  
ecossistêmica (MST 2010, p. 12-13).  
A Reforma Agrária Popular (MST, 2013) é uma proposta em construção apresentadaà  
sociedade brasileira e ao conjunto das organizações populares. É antagônico ao sistema de  
exploração e opressão históricas, e visa superar o atual modelo de produção presente na  
agricultura brasileira, contribuir ativamente com as mudanças estruturais necessárias, na  
superação das relações de exploração e opressão do trabalho, da compreensão do alimento  
como mercadoria e não um bem humano. As mudanças estruturais na forma de uso dos bensda  
natureza, que pertencem a toda sociedade, direciona-se para a organização das relaçõesde  
produção e das relações sociais, em que busca contribuir de forma permanente na construção  
de uma sociedade justa, igualitária e solidária.  
451  
Esta proposta defende a vida e a construção de relações verdadeiramente humanas.  
Busca dialogar com as necessidades, sobretudo, de quem vive nos grandes centros, para  
construir ações que influenciem e atuem nos centros urbanos, locais onde a grande maioria da  
classe trabalhadora reside, alimenta-se e trabalha. Logo, para ser cada vez mais popular é  
preciso ter muita gente convencida e defendendo seu papel e a efetiva participação populardo  
conjunto da sociedade. Também se insere na luta da classe trabalhadora pela construçãode  
relações sociais de produção que eliminem a exploração, a concentração da propriedade  
privada, a injustiça e as desigualdades, fundamentando valores de uma nova sociedade.  
Stédile (2014) esclarece que a nova concepção de reforma agrária defendida pelo MST  
ultrapassa a perspectiva de distribuição de terras, definindo os novos rumos do movimento e  
da luta pela terra, na qual a questão ambiental, alicerçada na adoção de outro modelo produtivo  
baseado na agroecologia, passa a ser uma bandeira fundamental do movimento.  
Monica Grossi; Michelle Capuchinho; Paula Rocha de Souza; Vitória Machado; Maria Eduarda Dias  
Os elementos fortalecedores do caráter popular da reforma agrária de novo tipo do  
MST, para serem concretizados, demandam a construção coletiva do conjunto da classe  
trabalhadora do campo e da cidade, iniciando-se com o fortalecimento e ampliação de um arco  
de alianças, indispensável para a luta anticapitalista, nesse momento histórico de crise  
civilizatória em que, sob domínio do capital, todos os bens da natureza e da cultura popular  
são transformados em mercadoria.  
Os parâmetros das mudanças propostas pela reforma agrária popular  
significam reorganizar os bens da natureza e a produção agrícola para, em  
primeiro lugar, produzir alimentos sadios para todo o povo. Produzir com base  
na matriz da agroecologia, em equilíbrio com a natureza e sem o uso de  
venenos agrícolas. Implementar agroindústrias na forma de cooperativas, para  
beneficiar os alimentos e aumentar a renda dos trabalhadores do campo (MST,  
2013, p. 2).  
Na visão do Movimento, a reforma agrária ganha uma perspectiva mais ampla ao  
contemplar as relações entre o ser humano e a natureza, envolvendo diferentes processos que  
representam a reapropriação social da natureza, em contraposição à apropriação privadada  
natureza realizada pelo capitalismo.  
Implica em um novo modelo de produção e desenvolvimento tecnológico que  
se fundamente numa relação de co-produção homem e natureza, na  
diversificação produtiva capaz de revigorar e promover a biodiversidade e em  
uma nova compreensão política do convívio e do aproveitamento social da  
natureza. Os camponeses, trabalhadores/as do campo e povos tradicionais  
(indígenas, extrativistas, quilombolas) têm sido protagonistas de práticas de  
um modo de fazer agricultura que representa um contraponto à agricultura  
capitalista e se constituem naresistência e nas lutas de enfrentamento direto ao  
capital (MST, 2013, p. 46-47).  
452  
A preocupação do MST com a efetivação da luta pela reforma agrária popular com  
base na agroecológica, direciona-se ao necessário preparo técnico, para as experiências  
produtivas, e também ao preparo político para enfrentamentos ao agronegócio, que se  
inscrevem na direção da construção da soberania alimentar e de novas relações  
sociedade/natureza (MST, 2013). Os camponeses, trabalhadores/as do campo e povos  
tradicionais (indígenas, extrativistas, quilombolas) têm sido protagonistas de práticas de um  
modo de fazer agricultura que representa um contraponto à agricultura capitalista e se  
constituem na resistência e nas lutas de enfrentamento direto ao capital (MST, 2013, p. 46-  
47).  
A solidariedade para o MST é um princípio que norteia a ação junto à organização da  
classe trabalhadora, sendo uma questão central para a construção de uma nova sociedade que  
supere o capitalismo. Desde a pandemia, esse valor vem se tornando cada vez mais central,  
assim como o debate a respeito da produção de alimentos e o combate à fome, que alicerçam  
Libertas, Juiz de Fora, v. 24, n. 2, p. 444-459, jul./dez. 2024. ISSN 1980-8518  
Reforma agrária e alternativas à fome: o Plantio Solidário na Zona da Mata Mineira  
o projeto de sociedade que perpassa a Reforma Agrária Popular, assim como a questão da  
disputa pela terra e o modelo de produção desenvolvido. São vários os temas como os bens da  
natureza, meio ambiente, as relações humanas, que são frentes de debateque a questão dos  
alimentos nos traz.  
Diante desses elementos, ainda na pandemia, o Brasil sentiu de forma mais profunda  
a volta da fome, e as organizações populares como sindicatos, movimentos sociais iniciaram  
várias experiências de trabalho nos espaços urbanos. Primeiro o MST colocou sua base em  
movimento através da organização de processos de produção e distribuição de alimentos, a  
partir da doação de comida, com o projeto Periferia Viva. Além da organização de várias outras  
ações como as cozinhas solidárias, as hortas urbanas, agentes populares de saúde, que  
também foram desenvolvidas pelo MST e por diversos movimentos sociais.  
Desde o início da pandemia do coronavírus até 2023, o MST doou mais de 8 mil  
toneladas de alimentos e mais de 2 milhões e meio de marmitas para as famílias através de  
várias ações de solidariedade (Brasil de fato, 2023). Apesar de saber, que a doação decestas  
básicas não irá resolver os grandes problemas estruturais da sociedade capitalista, tem a clareza  
que, quem tem fome tem pressa.  
Outro elemento a ser destacado como fruto do amadurecimento da reforma agrária  
popular foi a criação, em 2000, do plano nacional do MST, “Plantar árvores, produzir alimentos  
saudáveis”, que tem como objetivo plantar 100 milhões de árvores em 10 anos nas escolas do  
campo, cooperativas, centro de formação e nas cidades, fortalecendo a produção de alimentos  
saudáveis em áreas do MST, e denunciando o modelo destrutivo do agronegócio. Os números  
atuais, disponíveis no site do MST, mostram que já foram plantadas 25 milhões de árvores,  
construídos 300 viveiros de mudas e 15 mil hectares já foram recuperados. Comoparte deste  
plano nacional é que situamos a experiência construída pelo MST, na zona da mata de Minas  
Gerais, que analisamos a seguir.  
453  
A experiência do Plantio Solidário na Zona da Mata de Minas Gerais: força  
popular na construção da solidariedade de classe, da agroecologia e da soberania  
alimentar  
Desenvolvido durante a pandemia do COVID-19, a experiência do “Plantio Solidário”  
realizado através de ação coletiva e voluntária no Assentamento Denis Gonçalves, no  
município de Goianá - Zona da Mata Mineira, produziu sobre bases agroecológicas, mais de  
meia tonelada de alimentos para doação às famílias em situação de Insegurança Alimentar.  
Mesmo sendo uma experiência recente, o Plantio Solidário reforça a potência das  
atividades coletivas, ainda que estas tenham sido desenvolvidas em um momento extremo de  
Monica Grossi; Michelle Capuchinho; Paula Rocha de Souza; Vitória Machado; Maria Eduarda Dias  
crise sanitária global. Inserido no programa “Plantar árvores e produzir alimentos saudáveis”,  
o projeto surge na contramão da lógica preponderada pelos interesses empresariais do capital.  
Retomando o contexto de seu surgimento, à medida em que o governo Bolsonaro avançava  
pelo desprezo sobre as camadas populares e suas condições de sobrevivência durante a  
pandemia, o Plantio Solidário se mobilizava para compreender, organizar e receberparte das  
necessidades manifestadas por estas; promovendo estratégias de ação para atender famílias  
atingidas pela insegurança alimentar.  
O assentamento Denis Gonçalves é um dos maiores de Minas Gerais e possui uma área  
de quase 4,6 mil hectares, com 155 famílias assentadas, estando localizada próxima a um  
dos maiores centros urbanos de Minas Gerais, a 40 km de Juiz de Fora. O Plantio Solidário  
vem funcionando desde abril/2022 tendo como objetivo geral organizar uma rede de  
voluntários, que possam nas áreas do assentamento Dênis Gonçalves, desenvolver o plantiode  
alimentos para doação às famílias em situação de insegurança alimentar do meio urbano.A  
proposta do Plantio Solidário é plantar e colher coletivamente, através de mutirões voluntários,  
buscando superar o viés caritativo e imediatista das ações assistencialistas,através de um  
projeto, a longo prazo, de soberania alimentar, formação política eagroecológica. Os  
mutirões são realizados com as famílias em situação de insegurançaalimentar das periferias  
da cidade, através da mediação dos Projetos, Coletivos, Associaçõespresentes nos territórios,  
assim como pelo CRAS (Centro de Referência de Assistência Social).  
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Este projeto se inicia em meio à flexibilização dos protocolos de segurança próprios da  
pandemia do COVID 19, aos avanços dos retrocessos do governo Bolsonaro e à acentuaçãodas  
contradições e opressões próprias do Capital. Desenvolve-se na região em um momento muito  
propício para fomentar o reencontro presencial e a organização de uma ampla militância,  
ativistas, ambientalistas, estudantes, professores e indivíduos, que têm vontade decontribuir  
com o MST e com as famílias da periferia urbana, em situação de vulnerabilidade social e  
alimentar.  
O projeto vem unindo coletivos e movimentos urbanos em diálogo e junto ao MST, para  
construir uma proposta de trabalho de base e de solidariedade muito potente, unindo campo e  
cidade, para acumular forças e solidificar a luta tão urgente desses tempos. Podemos afirmar  
que o Plantio Solidário é uma ferramenta de articulação da classe trabalhadora, que para além  
de enfrentar a questão da fome tem o objetivo comum que é a construção de forçasocial  
organizada.  
O primeiro passo proposto, e que talvez seja o grande diferencial na construção do  
presente projeto, é justamente convidar outros coletivos militantes urbanos, para somarem-seà  
Libertas, Juiz de Fora, v. 24, n. 2, p. 444-459, jul./dez. 2024. ISSN 1980-8518  
Reforma agrária e alternativas à fome: o Plantio Solidário na Zona da Mata Mineira  
ideia e de forma coletiva desenvolvê-la, cujo propósito principal está assentado na  
solidariedade de classe. Foram organizadas reuniões semanais online em um primeiro  
momento, para pensar os desdobramentos do projeto e mobilizar a militância para tal. As  
reuniões foram fundamentais como método organizativo, e ao longo de quase 2 meses elas  
ocorreram de forma regular, sempre na busca de ampliar o coletivo construtor. As reuniões  
foram tomando seu próprio formato e forjando um coletivo permanente, e só posteriormente,  
iniciou-se uma discussão com a coordenação do assentamento, assim como com a escola, que  
apontou que o projeto deveria ser desenvolvido nas áreas coletivas do assentamento.  
As áreas indicadas para o Plantio Solidário são espaços de forças vivas do  
assentamento, por onde circulam muitas pessoas, são próximas da escola, tendo o papel de ser  
também uma inspiração e referência para os assentados e assentadas. O fato destas áreas  
comuns seremao lado das escolas do assentamento é estratégico, pois é proposto que a equipe  
que trabalha nas escolas, juntamente com os educandos, faça os cuidados diários com irrigação  
dos cultivos, e outros tratos culturais, sendo um espaço pedagógico. Podemos observar uma  
potencialidade nessa relação entre escola do campo do MST e o projeto Plantio Solidário.  
O projeto se propôs a ter como meta envolver 100 famílias da região, que vivem  
em situação de vulnerabilidade social e insegurança alimentar, no processo de produzir 5,5  
toneladas de alimentos. Uma das metas, e talvez a principal delas, é fortalecer a organização  
popular através do trabalho de base. Para isso, se torna central a elevação da consciência com  
processos de formação política. O potencial de fomento à formação da consciência de classe  
é percebido desde a organização horizontal e colaborativa, perpassando toda vivêncianos  
mutirões, que despertam um olhar crítico sobre a realidade social.  
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Cabe destacar também a questão de gênero presente no projeto, pois as mulheres sãoa  
grande maioria, participando e assumindo tarefas de coordenação dos processos. Pensando no  
campo organizativo do projeto, e quando olhamos para as famílias que vem dos territórios,  
também temos uma grande maioria de mulheres negras se somando às atividadesrealizadas.  
Ao longo do desenvolvimento do projeto as organizações construtoras apontam o papel  
formativo que o Plantio Solidário vem tendo junto aos voluntários e às famílias dos bairros  
mobilizados. Orientados pela educação Ambiental crítica o Plantio promove entre os sujeitos  
ações que permeiam o campo, atividades permitem que sejam expostas e dialogadas visões  
de mundo, perspectivas e aprendizados mútuos. Alicerçados sobre os princípios  
anticapitalistas e da Agroecologia, a formação política não ocorre apenas nos momentos  
direcionados para tal, mas também nas experiências correntes, como nos próprios momentos  
Monica Grossi; Michelle Capuchinho; Paula Rocha de Souza; Vitória Machado; Maria Eduarda Dias  
com a terra e nas místicas, onde os valores, a luta e a resistência dos trabalhadores são  
expressas através de variadas expressões artísticas, musicais e culturais.  
Dentro do projeto Plantio Solidário, as místicas são pensadas por um grupo  
que se alterna a cada semana, e permeadas pela discussão acerca da fome, da  
agroecologia, da luta por justiça social e pela reforma agrária popular. Este é  
um momento formativo bastante importante, e também ao final dos mutirões,  
após o trabalho coletivo, também fazemos uma reflexão e avaliação entre o  
grupo, bem como trazemos alguma atividade ou dinâmica intencionalizada  
que aprofunda as questões na mística inicialmente trazidas (Gomes, 2023, p.  
51).  
Por meio de ações direcionadas (como em conteúdos previamente preparados para  
exposição), ou por dinâmicas espontâneas, a formação e construção de base, assim como os  
alimentos, são semeados e contam com a participação dos indivíduos que dele participam.  
Aqueles que tiveram a oportunidade de estar presentes em uma das atividades, levará consigo  
e para sociedade os frutos semeados ali; sejam eles frutos da materialização da natureza física,  
ou não.  
O Plantio alcança lugares que extrapolam os limites do assentamento. Há movimentos  
de exterioridade de suas atividades, que mobilizada a outras organizações/movimentos sociais  
desenvolvendo trabalhos em importantes espaços da sociedade civil. Seja em escolas,  
palestras e organizações, o Plantio se faz presente em debates, rodas de conversa, festividades  
e atividades em que a luta coletiva é protagonista.  
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O caráter de formação expressa uma de suas faces políticas, tendo em seu cerne a  
organicidade da construção coletiva popular. Em cada ação semeada, os valores de uma  
sociedade mais justa, livre de opressões, exploração da fome são cultivados. Nota-se que a  
expressão política da agroecologia no Plantio Solidário - MST não se manifesta em ações  
setorizadas ou em apenas determinados aspectos desenvolvidos isoladamente, o grande  
esforço é compreender que a agroecologia é uma matriz produtiva que busca retomar a  
relação dos seres com a natureza que se realiza em um trabalho que nos realize enquanto seres  
sociais.  
Uma das perspectivas de desenvolvimento do projeto perpassa a ampliação do projeto  
junto às escolas estaduais e municipais, e junto à universidade. Temos uma parceria histórica,  
estabelecida há mais de 2 décadas, entre o MST e a UFJF, que tem atuado na formação de  
quadros, e em atividades de ensino, pesquisa e extensão.  
Expresso nas ações, declarações, obras, entre outras construções, o Movimento Sem  
Terra tem suas bases fundamentadas no compromisso político com a população brasileira. O  
campo da luta é permeado por valores e responsabilidades, que se estendem para além dos  
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assentamentos e se direcionam às necessidades societárias, sejam elas perpassadas no campo  
material ou imaterial. Neste contexto, a luta pela produção de alimentos e cuidados com a  
natureza tem arraigada sobre suas bases a agroecologia, que por meio de seus valorescoletivos  
impulsiona e evidencia as expressões políticas inerentes às suas ações.  
Todo processo organizativo enfrenta diversos desafios, e um dos principais apontados  
pelo coletivo organizativo vem sendo a ampliação de coletivos permanentes de voluntários e  
do aperfeiçoamento de estratégias organizativas e de mobilização. Outro ponto fundamental é  
a ampliação da participação da UFJF junto ao projeto “Plantio Solidário”, através da  
institucionalização de projetos de extensão, tendo professores e bolsistas com tempo de  
trabalho e de formação assegurados para uma participação mais contínua, qualificada e  
comprometida.  
O Plantio Solidário reforça o projeto agroecológico de amplitude política para além da  
produção de alimentos saudáveis. A formação pedagógica das ações, os lugares de escuta, de  
aprendizagem, na construção de uma realidade de coletividade entre os sujeitos, demarcam o  
movimento da busca por uma nova sociabilidade.  
Gaia e Alves (2021) desenvolvem que a transição agroecológica não se trata de uma  
conversão para a agriculturaorgânica, mas em uma dinâmica de produção que, para além dos  
processos de produção, secompromete com a postura dos sujeitos, da concepção de trabalho e  
da produção, e da relação entre ser humano e natureza. O Plantio Solidário avança sobre este  
panorama, construindo estratégias coletivas de liberdade e emancipação humana.  
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Considerações finais  
Os vínculos entre reforma agrária popular, agroecologia e soberania alimentar através  
das lutas e resistências, no campo e na cidade, podem possibilitar a construção de uma contra  
hegemonia ao domínio global do capital sobre o sistema agroalimentar, para enfrentamentos  
contra a pobreza, os baixos salários, a fome, a migração rural urbana e a degradação ambiental  
e principalmente contra o modelo predatório do agronegócio. A soberania alimentar é  
indissociável da luta por democracia, e os sujeitos coletivos, através de sua organização  
política e de construção de lutas, vêm materializando estes processos democráticos, na direção  
política de reconstrução de sistemas alimentares desde suas bases, em que as relações de  
trabalho sejam cooperadas e repensadas em uma lógica de enfrentamento a exploração e  
opressão do modo de produção capitalista.  
A agroecologia se constitui num instrumento de reforço aos movimentos sociais, e  
também é potencializada pelas práticas e experiências democráticas dos movimentos e  
Monica Grossi; Michelle Capuchinho; Paula Rocha de Souza; Vitória Machado; Maria Eduarda Dias  
organizações sociais, que lutam por soberania alimentar. Portanto, é também uma luta política  
por democracia na construção de outro modelo produtivo e político, que garanta a soberania  
alimentar. Neste sentido, a experiência do Plantio Solidário vem se afirmando através de ações,  
que desenvolvem o que estamos denominando de solidariedade ativa, em que os voluntários e  
voluntárias passam por um processo de formação, para serem multiplicadores e  
multiplicadoras da agroecologia, da soberania alimentar e na construção de estratégias de  
enfrentamento ao modelo agroexportador, que destrói o meio ambiente e as relações humanas.  
Além disto, fortalece a organização popular, fomenta a conscientização política e impulsiona  
processos que contribuem para a produção de novas sociabilidades.  
Através da participação da sociedade civil, busca-se construir bases para um sistema  
alimentar mais justo, saudável e sustentável e fortalecer a luta do MST em torno da  
agroecologia, da soberania alimentar e da reforma agrária popular. Desta forma, o projeto  
Plantio Solidário vem estabelecendo uma relação estreita com a sociedade e causando um  
impacto social significativo.  
A expressão política da Agroecologia pode ser apreendida sobre o movimento em que o  
todo se manifesta, sendo este presente desde as intencionalidades, até a posterioridade da  
colheita dos alimentos. A agroecologia a partir de sua potencialidade pode ser qualificada como  
estratégia de transição e superação da ordem de produção criminosa, trazendo em sua  
fundamentação, além da dimensão política, valores de solidariedade, democracia e liberdade.  
O Plantio Solidário - MST é um projeto agroecológico que através da centralidade dos  
alimentos constrói mediações que permeiam a mesa e a consciência dos sujeitos, tendo em seu  
núcleo um caráter essencialmente político, sendo ele no campo e na cidade.  
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