Do chão à tela: dimensões da proteção social de jovens na pandemia de covid-19
Ah, a escola eu acho que, hoje em dia, tem um papel muito importante e a
ETEC supre todas essas necessidades. A gente recebe bastante apoio, tanto
psicológico, quanto de várias coisas. A gente sempre tem uma pessoa que tá
lá pra ajudar a gente, que tá lá pra conversar... A gente tem até uma salinha
que falam que é a "Salinha Zen", que no dia que a gente tá meio nervoso a
gente pode ficar lá e dar uma descansada. Então eu acho que, principalmente,
todos os alunos... A gente sabe que é um lugar de fuga, um lugar que a gente
possa fugir quando começar a dar tudo errado. Então, a gente sabe que mesmo
se der tudo errado vai ter lá alguém pra ajudar a gente, então eu acho que isso
é muito importante e ajuda muito porque a gente vive nesse negócio de curso,
técnico, de ensino médio... Então, a gente tem uma pressão maior (Entrevista
com Mariana, 2020).
Na pandemia, a escola teve um papel muito importante em dar apoio, motivação e
esperança para que os jovens não desistissem de seus sonhos e objetivos. Como afirmam Pereira
e Lopes: “Apesar de todas as dificuldades que vivenciam nesse contexto, [os jovens] veem a
escola como um instrumento importante para tornar realidade seus projetos, fazendo com que
nela permaneçam” (Pereira; Lopes, 2016, p. 211).
Lucca é um jovem homem, que se identifica como branco, tinha 17 anos e estudava no
2º ano do ensino técnico integrado ao médio, na área de desenvolvimento de sistemas, quando
a entrevista aconteceu. Ele morava em Santos, também na região da Orla, com a mãe, o pai e
um irmão mais velho. A família não é natural de Santos e se mudou para a Baixada Santista
antes de Lucca nascer. Como não tem outros familiares na cidade, são muito unidos. Ele destaca
o lugar da família como dimensão da proteção social dos jovens e, dessa forma, o que marca a
passagem para a vida adulta é o fato de não ter mais a família para “contar”:
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Eu acho que de criança para adolescente não tem uma marca de passagem,
mas eu acho que adolescente para adulto tem, que é você começar a pensar
por si mesmo, porque querendo ou não você ainda tem seu pai com você, a
família com você para você contar. Ela vai estar cuidando de você. E quando
você muda de adolescente para adulto você tem que começar a pensar quando
você tem que começar a se agilizar para ter dinheiro, para pagar contas,
faculdade se você precisar, então acho que é para adulto e adolescente que
tem, mas para criança/adolescente não tem tanto (Entrevista com Lucca,
2020).
Para Abramo e colaboradores (2020), há “um senso partilhado de que a obrigação dos
pais é apoiar os estudos de seus filhos até o fim do Ensino Médio. A partir daí, porém, os cursos
profissionalizantes, ou o Ensino Superior, devem ser conquistados (bancados) pelos próprios
jovens, essa etapa tem de ser um projeto deles mesmos” (Abramo et al., 2020, p. 534).
A escola também é sentida pelo jovem como um lugar de refúgio:
[...] agora eu sinto muita saudade porque [a escola] era como um refúgio que
eu tinha tipo “ah deixa pra fora” e eu começava a pensar só nas coisas da
escola e meus amigos tudo mais. Só que antes eu pensava: “Meu Deus, eu
tenho que acordar!” E é o que dizem: "você só dá valor quando perde”. É a
mais pura verdade, porque antes eu ficava de saco cheio de ter que acordar