Burguesia dependente e crise de hegemonia no  
Brasil1  
Dependent bourgeoisie and crisis of hegemony in Brazil  
Isabela Ramos Ribeiro*  
Resumo: O artigo em tela trata do papel da  
burguesia dependente na composição do bloco  
no poder e na crise de hegemonia estabelecida  
em 2013 no Brasil, bem como as características  
dessa crise que perpassa diversos governos.  
Para isso, foi realizado levantamento  
bibliográfico em artigos, teses, dissertações e  
livros que tratam do tema. São apresentados  
pressupostos acerca da dependência e da  
hegemonia no contexto brasileiro, para  
posteriormente compreender a crise econômica  
a partir de 2011, a crise de hegemonia  
estabelecida em 2013, durante o governo Dilma,  
e os embates posteriores entre as frações  
burguesas que permitem afirmar que a crise  
ainda está em curso, mesmo após os ajustes  
internos no bloco no poder.  
Abstract: This article deals with the role of the  
dependent bourgeoisie in the composition of the  
power bloc and in the crisis of hegemony  
established in 2013 in Brazil, as well as the  
characteristics of this crisis that has affected  
several governments. To this end,  
a
bibliographical survey was carried out in  
articles, theses, dissertations and books that deal  
with the subject. Assumptions about  
dependence and hegemony in the Brazilian  
context are presented, in order to subsequently  
understand the economic crisis since 2011, the  
crisis of hegemony established in 2013, during  
the Dilma government, and the subsequent  
clashes between the bourgeois fractions that  
allow us to affirm that the crisis is still ongoing,  
even after the internal adjustments in the power  
bloc.  
Palavras-chaves: Dependência; Bloco no  
poder; Crise de hegemonia; Frações burguesas;  
Estado.  
Keywords: Dependence; Power bloc; Crisis of  
hegemony; Bourgeois fractions; State.  
Introdução  
Este artigo trata da organização da burguesia dependente brasileira na conformação da  
hegemonia no período recente, e compõe um esforço de compreensão da realidade a partir do  
“prisma latino-americano”2, o qual permite não apenas acoplar uma nova teoria aos  
1
O artigo revisita e atualiza as discussões provenientes da tese de doutorado “Burguesia dependente, bloco no  
poder e a conformação da hegemonia no Brasil entre 2003 e 2018” (Ribeiro, 2020).  
* Universidade de Brasília. E-mail: ramosribeiro.isabela@gmail.com  
2
Nos termos de Paiva, Rocha e Carraro (2010, p. 168), “o prisma latino-americano [...] reporta à tentativa de  
contribuir para o desenvolvimento de uma perspectiva autônoma e crítica do modo de perceber o mundo, ou seja,  
DOI: 10.34019/1980-8518.2025.v25.46230  
Esta obra está licenciada sob os termos  
Recebido em: 10/10/2024  
Aprovado em: 20/01/2025  
Isabela Ramos Ribeiro  
conhecimentos produzidos, mas subverter o ponto de partida. As categorias de hegemonia e  
bloco no poder, pautadas no estudo de Gramsci e Poulantzas, devem ser consideradas como  
aportes teórico-metodológicos na medida em que auxiliam na compreensão de nossa realidade  
concreta. Da mesma forma, aquelas contribuições fundamentais deixadas pelo conjunto de  
autores vinculados à Teoria Marxista da Dependência (TMD) só passam a ter sentido quando  
postas em movimento, no exercício constante de análise e transformação do existente.  
Com os pés neste solo político e teórico se pretende avançar para apreender como a  
burguesia dependente exerce o poder no Brasil, a partir da construção da hegemonia – entendida  
como a organização da dominação burguesa que varia de acordo com cada formação social e  
conjuntura. No caso do desenvolvimento capitalista no Brasil, a burguesia nasce atrelada a  
interesses externos, e com a necessidade de se articular ao capital internacional no processo de  
industrialização (Marini, 2012a; Bambirra, 2012). Nesse sentido, conforma-se a questão sobre  
a natureza histórica da burguesia brasileira e o papel que cumpre na articulação da hegemonia,  
considerando suas diversas frações e a contínua transferência de valor da periferia para o centro.  
Tem especial importância o papel do Estado, que condensa as relações entre as classes  
(Poulantzas, 2015; Osorio, 2014), inclusive as de subordinação da burguesia local frente ao  
imperialismo. Sob tal determinação, o aparelho estatal desenvolve inúmeros mecanismos que  
garantem a transferência de valor e a superexploração da força de trabalho, favorecendo e  
priorizando determinadas frações da burguesia, as quais explicitam suas necessidades ao  
Estado.  
34  
Nesse sentido, o objetivo traçado é evidenciar o papel da burguesia dependente na crise  
de hegemonia estabelecida em 2013 no Brasil, bem como as características dessa crise. A  
pesquisa se pautou em aproximações sucessivas para elucidar a estrutura e dinâmica do objeto,  
(Netto, 2011), nesse caso, a relação da burguesia brasileira dependente com a crise, indo além  
de sua aparência. Para isso, foi realizado levantamento bibliográfico em artigos, teses,  
dissertações e livros que tratam do tema, com foco nas discussões sobre bloco no poder, crise  
de hegemonia, crise econômica, frações burguesas, dependência, governos Lula, Dilma, Temer  
e Bolsonaro.  
Em síntese, o texto se organiza da seguinte forma: na primeira seção são retomadas as  
análises da TMD para caracterizar a burguesia dependente. Posteriormente, são apresentados  
especialmente partindo da concreticidade de um espaço/tempo que nos pertence, que encerra determinadas  
contradições por ter uma peculiaridade histórica que deve ser resgatada, defendida e analisada, buscando-se  
apreender as veias mais entranháveis do continente, o cerne que nos faz a todos - povos de distintas nações - latino-  
americanos”.  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 1, p. 33-57, jan./jun. 2025. ISSN 1980-8518  
Burguesia dependente e crise de hegemonia no Brasil  
alguns pressupostos com relação ao debate sobre hegemonia e bloco no poder para então  
discutir a crise econômica a partir de 2011, a crise de hegemonia estabelecida em 2013, durante  
o governo Dilma, e os embates posteriores que permitem afirmar que a crise ainda está em  
curso.  
Por que a burguesia brasileira é dependente?  
Gunder Frank (1978), em seu texto “Lumpenburguesía: lumpendesarollo”, trabalha as  
classes sociais na relação entre imperialismo e dependência. Para o autor, a dependência não é  
só externa; é também condição interna que determina e satisfaz a burguesia dependente, a qual  
cria políticas de desenvolvimento do subdesenvolvimento, sendo caracterizada como  
lumpenburguesia. Assim, a lumpenburguesia para Frank (1978) é a própria burguesia  
dependente, que em sua concepção e estrutura precisa manter o subdesenvolvimento para  
sobreviver enquanto classe dominante.  
De acordo com Frank (1978), a relação colonial condicionou as estruturas de classes  
nos países latino-americanos, e quanto maior a riqueza disponível para ser explorada, mais  
pobre e subdesenvolvida se tornava a região. Portanto, o desenvolvimento só foi possível onde  
não havia condições – geológicas, climáticas e de população indígena como força de trabalho  
– para instaurar a estrutura do subdesenvolvimento. Nesse sentido, dada a dinâmica do mercado  
mundial e seu interesse no açúcar como mercadoria ao longo do século XVII, as regiões com  
potencial para produção açucareira requeriam amplas extensões de terra e uma grande oferta de  
força de trabalho. A partir dessa demanda, as colônias que antes se organizavam em pequenas  
propriedades passam a dispor de latifúndios, determinando a organização do território – esse  
era o caso do Brasil. As classes dominantes que se conformavam eram dirigidas por  
latifundiários e exportadores, sem qualquer interesse no desenvolvimento interno.  
As independências políticas inseriram as nações latino-americanas na divisão  
internacional do trabalho, configurando a dependência, “entendida como uma relação de  
subordinação entre nações formalmente independentes, em cujo marco as relações de produção  
das nações subordinadas são modificadas ou recriadas para assegurar a reprodução ampliada da  
dependência” (Marini, 2011, p. 134). Com a revolução industrial, as economias das nações  
latino-americanas passam a gravitar em torno da Inglaterra, por meio da exportação de bens  
primários, e o imperialismo exigiu mudanças internas que uma vez mais condicionaram a  
estrutura econômica e de classes. Nesse projeto imperialista, a lumpenburguesia é a sócia menor  
do capital estrangeiro, que para atender ao seu senhor cria políticas, por meio do Estado, que  
sustentam as economias no lugar do subdesenvolvimento (Frank, 1978). Isso é condição de  
35  
Isabela Ramos Ribeiro  
existência para a burguesia dependente, incluída aí a burguesia brasileira.  
Nesse sentido, a caracterização do Brasil enquanto país dependente no sistema  
capitalista mundial se deve ao processo histórico específico que constituiu o povo e a nação  
brasileiros, que desde sua conformação estiveram subordinados aos interesses estrangeiros, e  
cuja dependência continua a se reproduzir sob novas formas. Em acordo com Darcy Ribeiro  
(2012, p. 61), “uma característica singular da América Latina é sua condição de um conjunto  
de povos intencionalmente constituídos por atos e vontades alheios a eles mesmos".  
É nesse viés que se constitui a hegemonia comprometida mencionada por Vânia  
Bambirra (2012). O desenvolvimento industrial de parte da América Latina, embora voltado  
aos interesses dos países imperialistas e dos setores oligárquicos minerador, latifundiário e  
comercial exportador, contava com uma estrutura interna com dinâmica relativa própria. As  
condições internacionais como as grandes guerras e a crise econômica mundial de 1929  
estimulam o processo de substituição de importações nos países dependentes, que puderam  
aproveitar essas oportunidades quando tinham um mercado nacional já estruturado, bem como  
um processo produtivo baseado majoritariamente em relações capitalistas. Para a autora, “é no  
seio desse sistema de dominação oligárquico – como parte do contexto do capitalismo mundial  
– que surgirá e se desenvolverá uma burguesia vinculada à indústria” (Bambirra, 2012, p. 76).  
A indústria surge impulsionada pelas necessidades do setor exportador, mas desenvolve sua  
própria dinâmica e uma independência relativa deste setor, pois precisa dele para sua  
sobrevivência e expansão. Nesse sentido, as duas frações da classe dominante coexistem3, sem  
que haja um processo revolucionário com transformação radical das relações de produção, tal  
qual realizado por parte da burguesia europeia. Por isso, não se pode dizer que este processo  
seja uma revolução burguesa no sentido tradicional do termo, mas certamente expressa o  
compromisso entre as frações de classe no bloco no poder, com hegemonia da fração industrial.  
Bambirra (2012, p. 92) afirma que “é esta hegemonia burguesa comprometida que  
define o caráter e o modo de funcionamento do capitalismo dependente nesses países da  
América Latina, e define também suas possibilidades e limites”. Tais limites referem-se, por  
exemplo, à ausência de reforma agrária, o que ampliaria o mercado interno e, portanto,  
beneficiaria a indústria nacional. Além disso, a autora destaca a intervenção do Estado em  
especial nos períodos de crise do setor exportador, por meio de uma série de medidas em favor  
das oligarquias, ainda que isso tenha ocorrido para proteger os interesses do sistema em seu  
36  
3 “Tal interpendência se reflete de forma muito nítida na medida em que os capitais gerados no setor exportador  
são transferidos ao setor industrial (direta ou indiretamente, como, por exemplo, através do sistema bancário ou  
mediante subsídios estatais) e possibilitam sua expansão” (Bambirra, 2012, p. 79).  
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Burguesia dependente e crise de hegemonia no Brasil  
conjunto, posto que a indústria só se desenvolve a partir dessa base.  
No período pós Segunda Guerra, os Estados Unidos conseguiram tirar proveito da  
situação mundial em razão de sua participação vitoriosa na guerra, do bloqueio do campo  
socialista e do Plano Marshall de reconstrução da Europa, afirmando-se como centro  
hegemônico imperialista. Esse elemento muda as relações com os países latino-americanos, em  
especial com aqueles que já tinham consolidado uma base de industrialização, pois tornam-se  
terreno para a expansão das grandes empresas multinacionais. No caso do Brasil, “tratava-se de  
impossibilitar o acesso da burguesia brasileira a recursos que lhe permitissem superar com  
relativa autonomia os pontos de estrangulamento surgidos no processo de industrialização e  
forçá-la a aceitar a participação direta dos capitais privados estadunidenses” (Marini, 2012a, p.  
145). Assim, de acordo com Bambirra (2012, p. 98-99) a desnacionalização dos meios de  
produção trouxe consigo a desnacionalização da própria burguesia, e “a nova expansão do  
imperialismo conseguiu frustrar de modo definitivo essa hegemonia historicamente efêmera”.  
Nesta fase de integração monopólica, Bambirra (2012) explicita os novos mecanismos  
de subordinação das burguesias latino-americanas ao capital estrangeiro, posto que este conduz  
a industrialização e orienta o mercado de consumo com a mediação dos Estados nacionais.  
Deste modo, “o imperialismo era um elemento constitutivo interno do sistema de dominação”  
(Bambirra, 1977, p. 8) e sua contraface, a dependência4, condiciona as estruturas internas dos  
países dependentes, possibilitando a perpetuação das condições de domínio e subordinação.  
A expansão capitalista apoiada cada vez mais no capital internacional agrava as  
contradições deste período até que, diante das limitações impostas pela dependência, a classe  
dominante lança mão do autoritarismo para reconfigurar o bloco no poder, desfazendo a  
institucionalidade anterior e criando o “Estado de Contrainsurgência” (Marini, 2018). O bloco  
no poder conforma-se, então, com a subordinação das demais frações burguesas à burguesia  
monopolista, “mediante os investimentos diretos de capital estrangeiro, a subordinação  
tecnológica e a penetração financeira” (Marini, 2018, p. 4). De acordo com Osorio (2014), este  
novo arranjo de classes lança as bases para o neoliberalismo na América Latina5.  
37  
4 Para Bambirra (1977, p. 18), “a teoria do imperialismo de Lenin deve ser ampliada com novos elementos, a partir  
da associação com a teoria da dependência, resultando em uma unidade teórica, fruto da unidade histórica  
concreta”.  
5
Destaca-se que, de acordo com Marini (2012b), embora a concentração e centralização de capitais seja uma  
característica geral do capitalismo na era dos monopólios, o ciclo do capital na economia dependente, em razão  
do elevado número de empresas estrangeiras operando em seu interior com maior grau de tecnologia implicada no  
processo de produção e menor custo de produção, tende a acumular mais-valia extraordinária em maior proporção  
que as empresas nacionais. Dessa maneira, as empresas menores, sem condições de competir da mesma forma na  
segunda fase da circulação – realização das mercadorias –, são destruídas ou incorporadas às multinacionais ou  
demais empreendimentos com aporte de investimento estrangeiro. Por isso, a tendência à monopolização é ainda  
maior nos países dependentes.  
Isabela Ramos Ribeiro  
A particularidade do ciclo do capital nas economias dependentes tem seu ponto de  
partida essencialmente na transferência de valor aos países centrais. Isso decorre do que Marini  
(2011) caracteriza como troca desigual. Em decorrência das diferenças entre as capacidades  
produtivas dos países dependentes e imperialistas – que se expressa em compra e venda de  
produtos com preços maiores ou menores no mercado mundial –, há uma transferência de valor  
contínua da periferia para o centro. Por isso, embora apareça como um problema na circulação,  
pois suas principais formas se concretizam pela remessa de lucros, pagamento de juros e serviço  
da dívida, a transferência de valor decorre das condições de produção. Nos termos de Marini  
(2012a, p. 52), “uma parte variável da mais-valia que aqui se produz é drenada para as  
economias centrais, pela estrutura de preços vigente no mercado mundial, pelas práticas  
financeiras impostas por essas economias, ou pela ação direta dos investidores estrangeiros no  
campo da produção”.  
Tal mecanismo gera, por sua vez, a ruptura entre produção e necessidade de consumo  
das massas, fazendo com que o mercado interno não seja diretamente vinculado ao  
desenvolvimento da economia nacional (Marini, 2011). A burguesia local, então, se utiliza da  
superexploração da força de trabalho como mecanismo de compensação das perdas decorrentes  
da transferência de valor, caracterizando-se como o princípio fundamental da economia  
subdesenvolvida pautada pela troca desigual (Marini, 2011, 2012b). Isto significa que, para a  
garantia da acumulação de capital em escala mundial e para a manutenção da taxa de lucro das  
burguesias locais, desenvolve-se uma forma peculiar de extração da mais-valia, a qual remunera  
a força de trabalho abaixo de seu valor, violando estruturalmente o valor da força de trabalho.  
Nas palavras de Marini (2012a, p. 62), “o desenvolvimento capitalista integrado reforça  
o divórcio entre a burguesia e as massas populares, intensificando a superexploração a que estas  
estão submetidas e negando-lhes sua reivindicação mais elementar: o direito ao trabalho”. Isso  
desencadeia o crescimento do que Marini (2012a, p. 68) denomina populações marginais  
urbanas ou subproletariado, parcela da população “sem uma posição definida no sistema de  
produção e vivendo de trabalhos ocasionais”, fortemente atingida pela violência estatal – não  
somente em períodos de exceção, mas como elemento constitutivo do controle político-  
econômico sobre a população e a pobreza. No mesmo sentido, mas por outro lado, este  
capitalismo subordinado conforma também uma burguesia sui generis a qual precisa articular  
mecanismos, em conjunto com o Estado, para manter a superexploração e suas justificativas. O  
pagamento de juros, encargos e amortização da dívida pública, as metas de superávit primário,  
a não limitação de remessa de lucros, a transferência de recursos para empresas estrangeiras, a  
apropriação dos conhecimentos tradicionais, as isenções e desonerações tributárias e a abertura  
38  
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Burguesia dependente e crise de hegemonia no Brasil  
comercial cada vez mais adequada aos interesses do imperialismo são formas de participação  
do Estado na manutenção da dependência, e por consequência de sustentação da  
lumpenburguesia. Em especial nos momentos de crise aguda do capitalismo, a burguesia avança  
sobre padrões civilizatórios e direitos sociais considerados básicos em outras latitudes,  
dificultando as condições para sustentação da hegemonia, como é possível observar no período  
mais recente.  
Hegemonia e bloco no poder no Brasil  
Considerando as particularidades explicitadas anteriormente, a burguesia brasileira  
dependente se constitui e sobrevive graças a uma configuração específica de subordinação ao  
imperialismo, acarretando a superexploração como fundamento da economia dependente. Tais  
aspectos colocam mediações diferenciadas daquelas dos países centrais para a configuração da  
sociedade civil, do Estado e para a construção da hegemonia. Nesse escopo, sociedade civil  
corresponde à “hegemonia política e cultural de um grupo social sobre toda a sociedade, como  
conteúdo ético do Estado” (Gramsci, 2019, p. 228), que se materializa no conjunto das  
organizações assim chamadas privadas. Já a sociedade política está relacionada ao aparato  
governamental e aparato coercitivo. A hegemonia se agrega ao aparato coercitivo, alargando o  
Estado, o qual “tem e pede o consenso, mas também ‘educa’ este consenso através [...] dos  
organismos privados” (Gramsci, 2019, p. 121).As organizações privadas da burguesia brasileira  
componentes da sociedade civil, embora supostamente autônomas, são altamente influenciadas  
por interesses externos, demandando do Estado condições de manutenção do  
subdesenvolvimento e da superexploração, como anunciado por Frank (1978).  
39  
Ainda nos termos de Gramsci (2019, p. 335), “o Estado é todo o complexo de atividades  
práticas e teóricas com as quais a classe dirigente não só justifica e mantém seu domínio, mas  
consegue obter o consenso ativo dos governados”. Dessa forma, o domínio é garantido com  
coerção, aspecto sobressaltado no capitalismo dependente, mas sem prescindir da capacidade  
de direção, assegurada com a permanente construção de hegemonia. Não se pode esquecer sua  
organicidade, posto que as relações econômicas são perpassadas pela regulação de caráter  
estatal e a economia capitalista não está excluída da sociedade civil. Segundo o autor, “todo o  
grupo social, nascendo no terreno originário de uma função essencial no mundo da produção  
econômica, cria para si, organicamente uma ou mais camadas de intelectuais que lhe dão  
homogeneidade [...] não apenas no campo econômico, mas também social e político” (Gramsci,  
2000, p. 15). Daí surge o conceito de Estado integral, no sentido de sua ampliação, no qual os  
intelectuais orgânicos da burguesia atuam ativamente para o convencimento do conjunto da  
Isabela Ramos Ribeiro  
população sobre os “benefícios” gerados a partir da implementação de suas demandas. Isso é  
perceptível quando as confederações e organizações patronais – tais quais federações e  
confederações da agricultura, indústria, comércio e bancos – colocam suas demandas para o  
desenvolvimento do país exaltando interesses particulares de reprodução de seus capitais, sob  
hegemonia do imperialismo.  
Dessa forma, as diversas frações e setores da burguesia6 têm seus interesses acomodados  
no Estado e por ele unificados, e podem alternar-se na ocupação de determinados espaços de  
decisão e definição das políticas econômicas e sociais, conforme a correlação de forças internas  
à própria burguesia, no que Poulantzas (1971) caracteriza como bloco no poder. Para o autor, a  
separação formal entre o econômico e o político no capitalismo é ponto de partida para a  
autonomia relativa do Estado em relação às classes sociais, uma vez que é possível a satisfação  
de alguns interesses econômicos das classes dominadas contanto que o poder político e o  
aparelho de Estado permaneçam intactos7. Na mesma direção, Mascaro (2013, p. 24) afirma  
que “a forma política estatal é fundamental à reprodução da sociabilidade do capitalismo, mas,  
ao se assentar como forma de um poder separado dos próprios agentes econômicos, ela pode  
até mesmo, eventualmente, ser disfuncional e contrária aos interesses de valorização do valor”.  
Em síntese, o Estado capitalista expressa a hegemonia da classe burguesa, e é a  
sociedade civil o espaço privilegiado de construção de hegemonia, conforme o nível de  
organização das classes e frações de classes. Embora seja possível afirmar que tais relações se  
condensam no Estado, isso não ocorre em uma projeção espelhada ou copiada para o aparelho  
estatal. A passagem de um momento a outro abre brechas e permite alterações que desembocam  
em novas relações e, portanto, as flutuações da política não são expressões imediatas da  
estrutura econômica (Gramsci, 2013). Conforme Liguori e Voza (2017, p. 263), “os processos  
não são unívocos, o Estado constitui também o terreno do conflito de classe, é, ao mesmo  
tempo, instrumento (de uma classe), mas também lugar (de luta hegemônica) e processo (de  
unificação das classes dirigentes)”.  
40  
O grau, extensão e formas da autonomia relativa só pode ser examinado em referência  
6
Quando associadas às entidades representativas que congregam determinado ramo de atividade da burguesia e  
suas práticas políticas, podemos falar em frações (industrial, agrária, comercial e bancário-financeira). Em geral,  
quando se trata de um ramo de atividade do capital como forma de existência, não necessariamente organizado  
como fração de classe, referimo-nos ao setor, tratando-se apenas dessa forma de existência do capital setorizado e  
sem prática política comum.  
7
De acordo com Mascaro (2013, p. 44), “tomado a partir da forma política, o Estado revela-se relativamente  
autônomo em relação à totalidade social [...]. Mas tal autonomia se exerce justamente numa cadeia de relações  
específicas, capitalista”. Assim, a autonomia do Estado é relativa pois ao mesmo tempo em que há uma  
diferenciação entre agentes do Estado e agentes econômicos, essa autonomia depende da forma política capitalista  
de reprodução social para se perpetuar.  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 1, p. 33-57, jan./jun. 2025. ISSN 1980-8518  
Burguesia dependente e crise de hegemonia no Brasil  
a um dado Estado concreto e à conjuntura da luta de classes (Poulantzas, 2008), o que justifica  
a frequente tentativa de apreender tais condições na conjuntura brasileira atual. Por considerar  
que “a classe burguesa apresenta-se, no modo de produção capitalista, constitutivamente  
dividida em frações de classe” (Poulantzas, 1971, p. 61), é crucial compreender as formas com  
que exercem sua prática política e como buscam a hegemonia. As frações de classe são  
determinadas pelas formas de existência do capital que representam – lugar na produção – mas  
também pelas práticas políticas que desenvolvem nas relações sociais, englobando o conjunto  
das instâncias política, econômica e ideológica. Assim, o bloco no poder indica “a unidade  
contraditória de classes e frações politicamente dominantes sob a égide da fração hegemônica”  
(Poulantzas, 1971, p. 68).  
Ademais, a diferenciação de Poulantzas (1971) entre a função de hegemonia no bloco  
no poder e a função de hegemonia em relação às classes dominadas gerou algumas elaborações  
que procuram nomear tais processos. Nessa linha, Teixeira e Pinto (2012, p. 919) estabelecem  
uma diferenciação entre hegemonia restrita e hegemonia ampla. A primeira refere-se à  
capacidade de uma das frações da burguesia direcionar conforme seus interesses as demais  
frações que compõem o bloco no poder; em outras palavras, é a hegemonia dentro do próprio  
bloco no poder. Já quando a hegemonia alcança e obtém consenso do conjunto da sociedade, é  
considerada pelos autores como ampla. Entretanto, os autores referendam a afirmação de  
Poulantzas de que, em geral, “a fração ou classe dominante a exercer a hegemonia restrita ao  
bloco no poder também é aquela que assume a hegemonia ampla” (Teixeira; Pinto, 2012, p,  
919). Osorio (2014) caminha no mesmo sentido, nomeando estes processos como hegemonia  
política e hegemonia social, respectivamente.  
41  
Essa diferenciação é ressaltada aqui pois importa sobremaneira na análise da realidade  
brasileira a partir dos anos 2000. Desde a instituição do Plano Real, vinculado aos pressupostos  
do projeto neoliberal, os interesses foram acomodados em torno da hegemonia da fração  
bancário-financeira da burguesia. Ainda que a década de 2000 tenha apresentado rearranjos no  
bloco no poder e ajustes no discurso, com a disseminação de ideias como o social-liberalismo  
ou o neodesenvolvimentismo, a hegemonia social em sentido amplo não foi abalada. Na  
transição do governo FHC para o governo Lula, desenharam-se fissuras no bloco no poder8,  
8
Durante o segundo mandato de FHC (1998-2002), as perdas decorrentes dos abalos na economia trouxeram  
protestos dos empresários, posto que “as possibilidades de distribuição no interior das diferentes frações do capital  
dos ganhos financeiros diminuíram” (Bianchi, 2001, p. 163). Nesse contexto, segundo estudo de Bianchi (2001),  
os industriais passaram a elevar o tom nas disputas por políticas que os beneficiassem, resultando em abalos na  
hegemonia no interior do bloco no poder, ainda que esta não tenha gerado uma crise de hegemonia visto a reeleição  
de FHC.  
Isabela Ramos Ribeiro  
com a insatisfação de algumas frações que conseguiram ampliar seu espaço após a vitória  
eleitoral do PT. Todavia, o pacto de classes do Plano Real (Ouriques, 2014; Rocha, 2019;  
Barcellos, 2021) não foi alterado. Tem especial relevância a definição desenvolvida por Rocha  
(2019, p. 445), para quem “o pacto de classes de 1937 a que se refere Marini [...] foi renovado  
com o Plano Real em 1994”, momento em que a burguesia financeira é estabilizada no poder.  
Isso não quer dizer que as disputas intraburguesas ou delas com o restante da sociedade foram  
encerradas, posto que permanecem em constante reconfiguração.  
Nessa esteira, Ouriques (2014, p. 169) reitera que “a partir de 1994 a política econômica  
em curso no Brasil expressa um pacto de classes que a mantém substancialmente inalterada até  
os dias de hoje”. Com a estratégia de controle inflacionário todas as frações da burguesia  
tiveram assegurados “lucros fantásticos”, e o Plano Real se consolida sob a ideologia da  
estabilidade burguesa. Desde então, as sucessivas disputas eleitorais apenas legitimam o pacto  
e reproduzem a estratégia de dominação.  
Conclui-se, pois, que nos anos 2000 a burguesia soube reconfigurar-se de forma a obter  
novamente o consenso do bloco no poder, por meio da mediação do Partido dos Trabalhadores  
(PT), o qual serviu como uma espécie de muro de contenção da hegemonia. Dessa forma, o  
pacto de classes do Plano Real foi incrementado com alguns elementos até então ausentes, por  
meio da implementação de uma série de medidas que favoreceram frações da burguesia  
parcialmente insatisfeitas com os governos anteriores, ao passo em que foram criados  
programas sociais focalizados que contemplaram também as classes subalternas. Tudo isso foi  
realizado em consonância com os pressupostos econômicos que deram vida ao Plano Real, com  
a respectiva manutenção e aprofundamento da dependência especialmente pelo mecanismo da  
dívida pública (Ouriques, 2014).  
42  
Boito Jr. (2018) acerta ao afirmar que a grande burguesia interna9 brasileira ganha força  
nesse período, com apoio das políticas econômicas e sociais estatais, ainda que não haja  
concordância com a tese do autor de que essa fração passa a ser hegemônica no bloco. Isso não  
quer dizer que o capital financeiro fica em segundo plano, pois a conciliação de classes  
orientada pelos governos petistas se deu também no interior do bloco no poder. A ampla  
concessão a tais frações pôde ocorrer em razão de uma escolha política condicionada pelo  
cenário econômico efemeramente favorável, sendo inegável a participação ativa do Estado  
9 Na síntese de Farias (2009, p. 88), “a burguesia interna se define pelo comportamento ambíguo diante do capital  
estrangeiro: ora se opõe a ele, ora o apoia. Isso se dá em razão das formas de dependência – financeira ou  
tecnológica – do capital nativo em relação ao capital externo”, diferente da burguesia nacional anti-imperialista ou  
da burguesia associada totalmente integrada ao capital estrangeiro.  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 1, p. 33-57, jan./jun. 2025. ISSN 1980-8518  
Burguesia dependente e crise de hegemonia no Brasil  
brasileiro no processo de valorização financeira, mesmo quando atua no fortalecimento da  
burguesia interna. Esta, por sua vez, esteve composta por setores da economia como parte da  
indústria, mineração, construção pesada, construção naval, parte do agronegócio e bancos  
nacionais, os quais reivindicavam proteção do Estado para tornarem-se competitivos no  
mercado internacional e interno. Não se trata de burguesia nacional, pois como já ressaltado  
por Bambirra (2012) na seção anterior, a integração subordinada ao imperialismo frustrou a  
hegemonia da burguesia industrial e qualquer projeto nacional-burguês. Importante ressaltar  
que a grande burguesia interna não corresponde a toda a burguesia brasileira. É uma parte dela.  
A fração associada é outra parte da burguesia brasileira. E há também uma gama de outras  
pequenas e médias empresas cujos proprietários e administradores também são parcela da  
burguesia brasileira, mas que não possuem forças econômico-social, organizativa e  
programática próprias e, por essa razão, não entram na disputa pela hegemonia (Boito Jr., 2018).  
Portanto, não há contradição entre as duas categorias (burguesia interna e burguesia brasileira),  
visto que representam grandezas e características distintas. O que nos importa aqui é que  
aqueles setores vinculados a burguesia interna foram favorecidos por meio de variadas políticas  
econômicas no período petista, como expressão do projeto de conciliação viabilizado pelo  
momento macroeconômico peculiar.  
Até 2013, tal projeto parecia caminhar sem maiores entraves. Discursos de exaltação de  
Lula, da nova classe média, de acesso ao ensino superior, dentre outros aspectos, caminhavam  
lado a lado com elogios por parte das entidades representativas da burguesia. Todavia, as  
fissuras no bloco no poder num momento de crise internacional e do encerramento do ciclo  
econômico expansivo de exportação, associadas à insatisfação popular por distintas razões  
culminaram nas manifestações de junho de 2013, fenômeno determinante para a compreensão  
do período de crise de hegemonia10.  
43  
Crise econômica, crise de hegemonia e o eterno retorno  
Primeiramente, para compreender a relação entre a crise econômica e a crise de  
hegemonia, cabe uma referência a Barcellos (2021), que explicita a definição mais ampla de  
crise não somente como condensação de contradições, chamando atenção para a diferença entre  
a contradição como possibilidade – o que está posto a todo momento no capitalismo, tendo em  
10 Nos termos de Gramsci (2019, p. 60, grifo nosso), “em um certo ponto de sua vida histórica, os grupos sociais  
se separam de seus partidos tradicionais, isto é, os partidos tradicionais naquela dada forma organizativa, com  
aqueles determinados homens que os constituem, representam e dirigem, não são mais reconhecidos como sua  
expressão por sua classe ou fração de classe”. No caso do não reconhecimento como direção por outras frações  
da classe burguesa no interior do bloco no poder, configura-se a crise de hegemonia restrita/política.  
Isabela Ramos Ribeiro  
vista a dinâmica de dominação e exploração entre as classes – e sua existência como realidade.  
De acordo com o autor, a crise capitalista remete à impossibilidade de “produzir e realizar o  
mais-valor em escala crescente. O momento específico em que as contradições se manifestam  
como crise, portanto, é aquele em que todos os fatores concretos se concentram na determinação  
de uma massa de mais-valor reduzida” (Barcellos, 2021, p. 124).  
Barcellos (2021) relaciona, ainda, a crise econômica com a crise política e o papel do  
Estado na manutenção das condições normais para a produção e reprodução do capital. Para o  
autor,  
Se a crise pode ser delimitada em gênero como a incapacidade de reprodução,  
a crise política como espécie se refere à incapacidade de reprodução da  
dominação de classes. [...] O conceito de Estado, portanto, está intimamente  
ligado com o conceito de crise. É o Estado que permite que as contradições  
entre as classes sociais possam se reproduzir e a crise seja mera possibilidade,  
não realidade (Barcellos, 2021, p. 124-125).  
Tais considerações são relevantes na medida em que permitem observar a centralidade  
do Estado e do bloco no poder nos momentos de desenvolvimento e superação das crises por  
parte das classes dominantes, para que a totalidade capitalista se mantenha. Nesse sentido, são  
necessárias reorganizações e recomposições de forças no âmbito do bloco no poder, para  
garantir a retomada da reprodução do capital11.  
A crise de 2008 teve impactos expressivos para a economia mundial. Embora, num  
primeiro momento, o Brasil tenha segurado as taxas de lucro e o crescimento, isso não se  
mantém ao longo do primeiro mandato de Dilma, quando a piora nas condições do comércio  
internacional12 passa a pautar alterações na linha para a política econômica. O próprio peso  
acentuado das commodities na economia brasileira evidencia sua condição dependente.  
Internamente, as condições desencadeadas pela crise internacional reconfiguram  
dialeticamente a dinâmica da economia brasileira. Conforme elucidado por Aruto (2019), no  
decorrer do primeiro governo Dilma há uma diminuição do nível de produção em razão da  
redução relativa dos gastos do governo, associada ao conflito distributivo gerado pela redução  
da taxa de desemprego e aumento do salário real. De acordo com Serrano e Summa (2015, p.  
2), “após crescer à uma taxa média de 8% entre 2004 e 2010, com pico de 18% em 2010, a  
formação bruta de capital fixo [investimentos] cresceu apenas 1,8% em média no período 2011-  
44  
11  
“No campo econômico há desvalorização dos capitais, desemprego dos trabalhadores, etc, para que se  
estabeleçam novas condições de acumulação. No campo político isso exige a dissolução de blocos políticos e a  
formação/recomposição de novos blocos capazes de dar nova estabilidade à relação entre as classes ou a alteração  
dos meios pelos quais se realiza a dominação” (Barcellos, 2021, p. 125).  
12  
O minério de ferro, por exemplo, era vendido por 180 dólares por metro cúbico no primeiro mês do governo  
Dilma e passa a valer cerca de 100 dólares em setembro de 2012, chegando a 40 dólares em dezembro de 2015  
(Index Mundi, 2020).  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 1, p. 33-57, jan./jun. 2025. ISSN 1980-8518  
Burguesia dependente e crise de hegemonia no Brasil  
2014”. Dessa forma, os autores sustentam que a forte redução do crescimento do investimento  
explica a desaceleração do crescimento da produção industrial desde 2011.  
As preocupações acerca da desindustrialização explicitadas pela fração industrial da  
burguesia foram apresentadas ao governo e a partir de 2012, propagou-se o que se convencionou  
chamar “nova matriz econômica”. As decisões de desvalorização do real e redução dos juros  
por meio dos bancos públicos pressionaram os bancos privados a reduzirem suas taxas, gerando  
uma série de manifestações públicas das entidades representativas dos bancos. As medidas  
tomadas por Dilma13 causaram tensionamentos internos no bloco no poder, no entanto, nota-se  
um consenso em torno do fracasso da “nova matriz econômica”, que revelou novas medidas  
sem se desprender do velho aperto fiscal neoliberal (Serrano; Summa, 2015; Aruto, 2019). Além  
disso, Aruto (2019, p. 95) destaca que “os empresários utilizaram as políticas de desonerações  
e diminuição de alíquotas para recompor a margem de lucro”. Paralelamente, a queda dos  
investimentos públicos diminuiu a margem para continuar as políticas de incentivo ao crédito  
e ao consumo, tão louvadas pelo petismo até então. Como já tratado anteriormente, não há  
pretensão reformista na burguesia brasileira dependente, posto que ela se sustenta na  
superexploração da força de trabalho para compensar a transferência internacional de valor, e,  
portanto, para se sustentar enquanto classe.  
Nesse contexto de certa instabilidade já denotada no interior do bloco no poder, Singer  
(2018) destaca que Dilma ainda contava com alta popularidade frente a população em geral  
(65%, Datafolha) até o primeiro semestre de 2013. Entretanto, as manifestações de junho de  
2013 invertem a tendência, no pontapé inicial do “levante da classe média”, que depois associa-  
se à Lava Jato em 2014 (Singer, 2018, p. 28). Boito Jr. (2018) se aproxima da análise de Singer  
nesse aspecto, ao considerar que as manifestações surgem quando o ataque das frações  
burguesas já havia se iniciado. Os protestos começam com a pauta da redução da tarifa de  
ônibus em São Paulo, com protagonismo do Movimento Passe Livre (MPL), mas isso muda  
drasticamente, quando os setores médios – camada mais qualificada e melhor assalariada da  
classe trabalhadora – aderem e mudam o caráter dos atos, com apropriação e forte influência da  
grande mídia orientando os atos para o discurso genérico contra a corrupção. O que de fato se  
45  
13 De acordo com a síntese de Singer (2018, p. 26), destacaram-se as seguintes ações: 1. Redução dos juros; 2. Uso  
intensivo do BNDES; 3. Política industrial, por meio do Plano Brasil Maior; 4. Desonerações; 5. Plano para  
infraestrutura, com lançamento do Programa de Investimentos em Logística (PIL) em 2012 para estimular as  
concessões; 6. Reforma do setor elétrico, cujas alterações nas regras para as concessionárias de energia gerou  
perdas a investidores; 7. Desvalorização do real; 8. Controle de capitais, em especial com a alteração das alíquotas  
do IOF para investimentos estrangeiros em carteira e empréstimos intercompanhias; 9. Proteção ao produto  
nacional, principalmente por meio do Programa de Compras Governamentais, que visava estimular compras  
públicas dos produtos nacionais.  
Isabela Ramos Ribeiro  
altera com as gigantes manifestações é a hegemonia no sentido amplo, incluindo as classes  
subalternas e espraiando a insatisfação da burguesia para o conjunto da sociedade. Aí tem início  
a crise de hegemonia (social), quando parece predominar o “ziguezague da política” (Farias,  
2009; Singer, 2018).  
Em acordo com Iasi (2017), a burguesia precisa de estabilidade institucional, e o  
governo petista se tornara incômodo ao capital, especialmente por não ser mais capaz de  
garantir a estabilidade. Mesmo desorientado, o governo mantinha a direção de atender as  
frações burguesas, a exemplo das alterações das regras para o acesso ao seguro-desemprego,  
pensão por morte e abono salarial14 (Salvador, 2015), dentre outras medidas (Pinto et al., 2019).  
Houve um ponto, contudo, que Dilma não conseguiu aprovar: a contrarreforma  
trabalhista, com destaque para a terceirização irrestrita e a flexibilização da CLT15. Em especial  
para o capital interno, seja nos serviços e comércio, indústrias ou nos bancos, a contrarreforma  
trabalhista é fundamental para a recuperação das taxas de lucro, via maior exploração dos  
trabalhadores. Dilma, por sua resistência em aceitar essa pauta, parece ter perdido  
definitivamente o apoio da burguesia, em especial da grande burguesia interna. A reforma da  
previdência, por outro lado, embora seja uma demanda de todas as frações e setores da  
burguesia, certamente interessa ainda mais ao capital financeiro e ao capital internacional,  
justamente aqueles que não têm necessidade de remunerar diretamente a força de trabalho.  
Essas frações desejam se apropriar do fundo público por meio do volumoso montante de  
recursos disponibilizados pela previdência social pública, bem como com a conformação de  
conglomerados e fundos de pensão privados. A essa pauta, o governo Dilma sinalizava  
positivamente16. Fica evidente, então, que do ponto de vista dos interesses da burguesia a  
contrarreforma da previdência seria aprovada em qualquer circunstância, com ou sem o golpe  
parlamentar a que Dilma foi submetida no processo de impeachment em 2016.  
46  
Assim, para os setores que acumulam internamente, a contrarreforma trabalhista era  
absolutamente necessária para a retomada das taxas de lucro. Isso expressa um limite e uma  
fissura da grande burguesia interna com o governo Dilma, fenômeno que não corresponde à  
tese de Boito Jr. (2018) de que o principal sujeito do golpe teria sido o capital internacional.  
14 “Tal ajuste proposto é também resultado das escolhas econômicas feitas no mandato anterior da presidenta, que  
acarretaram perda de arrecadação de recursos sem os resultados esperados no crescimento econômico, em que  
pese o expressivo aumento dos gastos tributários, o que causou perdas de recursos para as políticas sociais”  
(Salvador, 2015, p. 38).  
15 Lei nº 13.429, de 31 de março de 2017 e Lei nº 13.467, de 13 de julho de 2017, respectivamente.  
16  
O ministro Nelson Barbosa anunciava que seria enviada proposta de reforma da previdência no primeiro  
semestre de 2016. Também indicava a necessidade de criação de um teto para as despesas públicas (Máximo,  
2015).  
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Burguesia dependente e crise de hegemonia no Brasil  
Post-festum, contudo, todas as frações e em especial o capital financeiro e o capital  
internacional17 se beneficiaram com a queda de Dilma e o avanço do capital sobre o fundo  
público. Ahegemonia do capital financeiro, afinal, se revela/impõe com mais força no momento  
de resolução da crise econômica.  
A crise de hegemonia estava em processo desde 2013, e o PT não mais apresentava  
capacidade de representar nenhuma das classes fundamentais e suas frações. Se os rearranjos  
realizados no bloco no poder da década de 1990 para a década de 2000 não abalaram a  
hegemonia social, em sentido amplo, o mesmo não se pode dizer das reconfigurações ocorridas  
no final do governo Dilma. A queda do petismo, que anos antes parecia surfar na realidade sem  
grandes problemas, evidenciou que o muro de contenção construído e sustentado pelo PT não  
foi capaz de conter a crise econômica e política e dar estabilidade à acumulação. Temer, por sua  
vez, não foi cambaleante ou desorientado, mas seguiu certeiro na direção das contrarreformas,  
permitindo uma retomada do crescimento da massa de mais-valia18 no Brasil (Aruto, 2019),  
ainda que a crise econômica não tenha sido resolvida19, dado que não houve recuperação do  
investimento público e a taxa de desemprego se manteve alta (Pinto et al., 2019). Foi um  
período de lutas intensas, repressão policial mais violenta sobre as manifestações políticas,  
censura nos meios acadêmicos e artísticos e ataques reiterados aos direitos e políticas sociais.  
Diversos autores tratam do período pós-golpe fazendo menção ao aprofundamento do  
neoliberalismo. Aqui optamos por utilizar neoliberalismo ortodoxo (Simionatto, 2018),  
considerando que o período anterior, dos governos petistas, pode ser sintetizado como  
neoliberalismo com mescla de ortodoxia e heterodoxia econômica. Dessa forma, o que parece  
diferir daquele formato é um projeto neoliberal sem as políticas econômicas heterodoxas  
presentes no segundo mandato de Lula e primeiro de Dilma. Portanto, um neoliberalismo  
ortodoxo, inclusive defendido por todas as frações burguesas no momento que antecedeu o  
47  
17  
Um exemplo disso é o fim da obrigatoriedade da participação da Petrobras na exploração do pré-sal, o que é  
referendado por Boito Jr. (2018, p. 257) ao comentar que Temer abre espaço para um “alinhamento passivo com  
os Estados Unidos”. Entretanto, outros movimentos anteriores já denotavam a relação da Petrobras com o capital  
estrangeiro, por meio da abertura de capital da empresa, que em 2010 ampliou ações e atraiu investidores  
estrangeiros. Com base em dados divulgados pela própria empresa sobre o relacionamento com investidores, é  
possível observar que 13,6% das ações preferenciais da Petrobrás eram detidas por estrangeiros em 2002. Em  
2012, os estrangeiros esse percentual sobe para 16,4%, e chega a 31,12% em abril de 2018.  
18 Com base nos dados levantados por Aruto (2019), de 2014 para 2015 houve uma queda em termos reais de 9%  
na variação da massa de mais-valia, que desde 2011 já vinha crescendo menos que nos anos anteriores (2003-  
2010). Este movimento de queda é revertido em 2017, durante o governo Temer.  
19  
Barcellos (2021, p. 141) evidencia que o golpe não garantiu a retomada do superávit primário, tampouco do  
crescimento econômico: “ano a ano o déficit público aumenta: eram R$ 32 bilhões em 2014 e atingem R$ 95  
bilhões em 2019 (STN, 2021). [...] o PIB teima em crescer menos de 2% a cada ano e o PIB per capita de 2018 era  
inferior ao PIB per capita de 2014 (IBGE, 2021). Neste sentido parece que ainda não foi possível resolver a crise  
que foi colocada em 2015”.  
Isabela Ramos Ribeiro  
golpe. Essa distinção, entretanto, remete mais à conjuntura do que aos projetos de  
desenvolvimento nacional implementados, posto que a ideologia neoliberal se perpetuou,  
deixando vigente o pacto de classes do Plano Real.  
Nas eleições de 2018, Temer não foi o candidato da burguesia. Inclusive, um aspecto  
relevante foi a quantidade de candidaturas que representavam a direita brasileira: Jair Bolsonaro  
(PSL), Geraldo Alckmin (PSDB), João Amoedo (Novo), Henrique Meirelles (PMDB) e Álvaro  
Dias (Podemos). Nas eleições anteriores, desde 2002, houve maior unidade da burguesia em  
torno dos candidatos do PSDB – José Serra, GeraldoAlckmin eAécio Neves. Essa pulverização  
em 2018 expressa a falta de capacidade da classe dominante em apresentar-se como dirigente.  
Para Bianchi (2001, p. 21, grifo nosso),  
a crise de hegemonia é uma crise do Estado e das formas de organização  
política, ideológica e cultural da classe dirigente. Seus aspectos mais visíveis  
são a dificuldade de formar uma maioria parlamentar duradoura; a perda de  
capacidade dirigente dos partidos tradicionais; e a consequente crise dos  
partidos e multiplicação destes, tentativas desordenadas de superação da  
crise [...]. A crise não se limita, entretanto, aos partidos e ao governo. Ela é  
uma crise do Estado em seu conjunto, ou seja, processa-se, também, no nível  
da sociedade civil, onde as classes dirigentes tradicionais passam a manifestar  
sua crescente incapacidade de dirigir toda a nação.  
As questões apontadas por Bianchi (2001) parecem corresponder ao período pós 2016,  
como tentativas desordenadas de superação da crise de hegemonia social, em sentido amplo. A  
pulverização de candidatos demonstra que não havia um vazio de representação, mas uma  
multiplicidade delas. Não é simples para a burguesia encontrar soluções, e em períodos de crise  
“partidos alinham-se e realinham-se, blocos são formados e dissolvidos. Líderes são criados e  
depostos. A velocidade desse processo pode surpreender, o ritmo é rápido e fulminante se  
comparado com os tempos normais” (Bianchi, 2001, p. 23).  
48  
Com base nos elementos elucidados, é possível afirmar que a hegemonia restrita ao  
bloco no poder foi resolvida com o golpe e o governo Temer, restaurando a acumulação para  
todas as frações da burguesia. Todavia, nas eleições de 2018, Bolsonaro foi capaz de ocupar o  
vácuo deixado pela incapacidade das classes dirigentes em apresentar um projeto que abarcasse  
benefícios também para as classes subalternas. O discurso contra o sistema ou “contra tudo que  
está aí” ter tido adesão da população expressa a insatisfação popular com as condições de vida  
no momento de crise. Isso é importante para que a análise não se paute apenas em questões  
morais, mas sim materiais. Nessa direção, Barcellos (2021, p. 141) afirma que Bolsonaro  
“conseguiu construir uma imagem – independente de ser ou não – de único candidato de fora  
do sistema político e que estaria disposto a lutar contra o sistema político. Neste sentido, ele é  
uma expressão da crise e da exigência que fazem os grupos sociais por uma alternativa”.  
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Burguesia dependente e crise de hegemonia no Brasil  
O governo Bolsonaro (2019-2022) representou um retrocesso em diversas políticas  
econômicas, sociais e ambientais, inclusive com certa desorganização institucional das  
possibilidades de participação no aparelho do Estado. Embora tenha apresentado novidades  
aparentes no discurso e na forma de governar, Bolsonaro é fruto do movimento de tentativa de  
resolução de uma crise de hegemonia que já vinha se construindo desde 2011, e que não chegou  
a ser resolvida com seu governo. Pelo contrário, a instabilidade se estende por todo o período,  
ainda que as frações burguesas tenham permanecido unificadas em torno das reformas  
almejadas e das privatizações20 (Valle; Passo, 2021).  
Pinto et al. (2019) afirma que a instabilidade econômica e a desconfiança generalizada  
nas instituições e nos partidos tradicionais criada pela Operação Lava Jato permitem a eleição  
de Bolsonaro, com amplo apoio de parte das Forças Armadas, dos setores médios e até mesmo  
das classes subalternas afetadas pela crise e pela queda no emprego e aumento da pobreza.  
Entretanto, isso ocorre de forma desorganizada, como um efeito colateral da crise, no que os  
autores denominam “consenso da insensatez”, que agrega os interesses imediatos das frações  
burguesas sem necessariamente indicar um projeto coerente e dialogado (Pinto et al., 2019). De  
acordo com Pinto et al. (2019, p. 144), a estratégia do Governo Bolsonaro envolvia “manter e  
ampliar a instabilidade para se manter no poder”.  
Conforme Boito Jr (2021), em resgate da obra de Togliatti, o fascismo é um movimento  
reacionário das massas, em geral direcionado pela pequena burguesia e classes médias. Para o  
caso brasileiro, esse autor apresenta o conceito de neofascismo, em que a alta classe média  
lidera um movimento reacionário que culmina na eleição de Bolsonaro em 2018, sem, contudo,  
alterar o regime político. De acordo com Valle e Passo (2021), o “núcleo duro” da base social  
de Bolsonaro, com destaque para parte das forças armadas, proprietários rurais, pequena  
burguesia comercial e a já citada alta classe média, se mantém vinculada ao governo mesmo  
durante a crise sanitária causada pela pandemia da COVID-19. Já os aliados que passaram a  
compor sua base social logo antes da eleição, pois não visualizaram alternativas eleitorais  
viáveis na direita tradicional, foram se afastando do apoio e tensionaram o governo durante a  
pandemia, ainda que sem legitimar qualquer processo de impeachment em decorrência dos  
ganhos que obtiveram com as reformas e privatizações (Valle; Passo, 2021).  
49  
20 Sobre as privatizações, destaca-se o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), que “foi criado, no âmbito  
da Presidência da República, pela Lei nº 13.334, de 2016 com a finalidade de ampliar e fortalecer a interação entre  
o Estado e a iniciativa privada por meio da celebração de contratos de parceria e de outras medidas de  
desestatização” (Brasil, 2016, grifo nosso). O Programa se manteve durante o governo Bolsonaro – o qual foi  
responsável por importantes privatizações como da Eletrobrás e da BR Distribuidora – e segue vigente no terceiro  
governo de Lula.  
Isabela Ramos Ribeiro  
Nos termos de Valle e Passo (2021, p. 22), “houve uma relação de unidade e de conflito  
entre as frações burguesas e o governo21: unidade em torno de aspectos da política econômica  
e conflito em torno da política sanitária e do movimento golpista insuflado diretamente pelo  
presidente”. A relação de unidade e conflito sugerida pelos autores significa que as políticas  
econômicas implementadas no período podem não ter atendido de maneira igual todas as  
frações da burguesia, implicando possíveis disputas e hierarquias no bloco no poder. Para os  
autores, as desregulamentações trabalhistas e as privatizações agradaram o conjunto da  
burguesia, mas as desregulamentações financeiras e a abertura econômica afetaram de forma  
distinta as frações burguesas, causando insatisfações (Vale; Passo, 2021).  
O cenário que surge com Bolsonaro tem uma base material que se construiu ao longo  
de todo o período anterior, desde o pacto de classes do Plano Real, em que os projetos coletivos  
da classe trabalhadora foram se enfraquecendo, colocando para a burguesia e seus aparelhos  
privados de hegemonia a tarefa de dar respostas aos problemas nacionais, obviamente, à sua  
maneira. O liberalismo como princípio dá respostas voltadas ao fortalecimento do mercado e a  
busca individual por soluções frente à crise. Conforme Barcellos (2021), 30 anos de políticas  
liberais fortaleceram o comércio e o agronegócio, com incentivos de importação associados à  
desindustrialização e direcionamento das exportações para bens primários, com destaque para  
a Lei Kandir22.  
50  
As frações comercial e agrária, não por acaso, são as frações burguesas mais volumosas,  
em número de pessoas/capitais23, já que a indústria e os bancos são mais concentrados nas mãos  
de poucos capitalistas. Soma-se a isso, a vinculação que o agronegócio e o comércio possuem  
com o mercado estrangeiro para exportar bens agropecuários e importar produtos que são  
comercializados internamente, respectivamente, o que implica também uma adesão maior e  
com menos ressalvas ao imperialismo, pois dependem diretamente do capital internacional e  
21 “Os proprietários de terra foram aqueles que se posicionaram mais alinhados ao negacionismo e às manifestações  
golpistas do bolsonarismo, seguidos por frações regionais da burguesia industrial e da burguesia comercial  
varejista. Por outro lado, os principais setores do grande capital, sobretudo os grandes bancos nacionais e o capital  
financeiro associado, mas também as tradings do agronegócio, setores da grande indústria e do grande comércio,  
exerceram papel ativo e dirigente nas iniciativas em defesa das medidas de isolamento social, da compra de vacinas  
e contrárias à escalada golpista” (Vale; Passo, 2021, p. 39).  
22 O autor se refere à Lei Complementar nº 87 de 13 de setembro de 1996, que introduziu mudanças significativas  
no sistema tributário brasileiro. Uma delas “diz respeito à ampliação do rol de mercadorias sobre as quais não  
incide o ICMS [Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços] no caso de exportação. [...] Se antes o Estado  
deveria impulsionar a exportação de produtos industrializados, agora já não o devia mais. Bastava que o produto  
fosse exportado e trouxesse dólares ao país, pouco importando a que classe de mercadorias correspondesse”  
(Barcellos, 2021, p. 44-45).  
23 De acordo com Barcellos (2021, p. 141), “das 3,8 milhões de empresas que responderam ao Relatório Anual de  
Informações Sociais (RAIS) - excetuando as que responderam RAIS negativa - nada menos que 3,2 milhões fazem  
parte destes setores”.  
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Burguesia dependente e crise de hegemonia no Brasil  
das relações exteriores imediatas para se manter.  
Por outra via e no campo das possibilidades, a indústria e os bancos nacionais podem  
apresentar tensionamentos com o capital estrangeiro em determinados momentos conjunturais.  
Por exemplo, as reinvindicações por fortalecimento da indústria nacional em detrimento da  
valorização do real que favorece as importações, ou a limitação da entrada de capital bancário-  
financeiro estrangeiro que afeta a centralização do mercado financeiro brasileiro24. Além disso,  
“os setores de comércio e serviços são setores de baixa composição orgânica do capital e para  
os quais, portanto, os encargos trabalhistas exercem maior peso na estrutura de custos”  
(Barcellos, 2021, p. 141), o que significa uma dependência maior da superexploração da força  
de trabalho para reprodução de seus capitais, ainda que todas as frações se beneficiem com o  
rebaixamento geral do valor da força de trabalho no contexto latino-americano.  
Tais elementos da conjuntura evidenciaram novas fissuras no bloco no poder, ainda que  
não tenham aberto novamente uma crise de hegemonia política, referente às disputas internas  
ao bloco no poder. Se Temer havia avançado na unificação dos interesses das frações burguesas  
nesse âmbito, os constantes tensionamentos após 2020 empurram parte das classes dominantes  
para a busca de reconfigurações que melhor respondam aos seus interesses. De acordo com  
Valle e Passo (2021, p. 35), a crise no governo Bolsonaro foi “uma crise de representatividade  
aguda, já que ela elevou de patamar a crise de representatividade criada pela Operação Lava  
Jato”, estabelecendo tentativas de articulação e negociação para as eleições de 2022, por parte  
das frações burguesas vinculadas à direita tradicional. Assim se conforma a nova candidatura  
de Lula, agora com Geraldo Alckmin – antigo opositor25 – como vice-presidente, em uma chapa  
de ampla coalizão26.  
51  
Botão (2023) trata dos interesses apresentados pelas frações burguesas industrial e  
agrária às candidaturas presidenciais durante o período eleitoral. Lula teve apoio de parte da  
indústria, bancos e do capital internacional, apoio expresso principalmente na mídia, e em  
alguns casos em cartas abertas pela democracia, assinadas por entidades burguesas como a  
Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo  
(Fiesp) (Botão, 2023). Até mesmo uma pequena parcela do agronegócio, majoritariamente base  
social/eleitoral de Bolsonaro, teve parte de seus representantes no apoio à candidatura de Lula,  
24  
Vale e Passo (2021, p. 28-29) comentam a autorização do Banco Central para abertura ao capital estrangeiro  
durante o governo Bolsonaro.  
25  
Tal junção, embora com a aparência de improvável, remete ao “petucanismo”, termo cunhado por Gilberto  
Vasconcelos (2014) acerca dos compromissos similares firmados pelos grandes partidos políticos brasileiros até  
2016.  
26  
Fontes (2022, n.p.) destaca que “o antifascismo mostrava uma força fenomenal, reduzindo os sectarismos e  
permitindo um encontro entre forças diversas”.  
Isabela Ramos Ribeiro  
principalmente por citarem a necessidade de uma boa imagem do Brasil frente ao mercado  
internacional na gestão ambiental, o que é crucial para manter as exportações e um ambiente de  
negócios que garanta a lucratividade para o capital agroindustrial (Botão, 2023).  
Tais apontamentos permitem inferir que a burguesia se reorganizou, ao final do governo  
Bolsonaro, em torno da candidatura de Lula, corroendo o espaço das frações que apoiaram  
Bolsonaro durante todo o seu governo, em especial as frações comercial e agrária. Os bancos  
nacionais e a indústria parecem recuperar forças no interior do bloco no poder, ainda que a  
hegemonia política ou restrita não tenha sido de fato quebrada durante esse período.  
O terceiro governo de Lula iniciado em 2023 foi marcado por uma série de negociações  
relacionadas ao orçamento público e aos interesses extremamente diversos que permearam sua  
vitória eleitoral. Com uma votação apertada, eleito com 50,90% dos votos, Lula iniciou as  
negociações logo após o segundo turno das eleições. A mídia e a grande burguesia o  
pressionavam explicitamente por “responsabilidade fiscal” e outras demandas dessa natureza,  
já velhas conhecidas.  
Salvador (2024) em análise pertinente acerca do Novo Arcabouço Fiscal (NAF)27  
implantado no governo Lula 3, sob condução do ministro da Fazenda, Fernando Haddad –  
afirma que essa lei substituiu a EC 95/2016, a qual estabelecia um teto de gastos com baixas  
possibilidades de execução. Assim, “durante o ano eleitoral de 2022, várias medidas legislativas  
foram aprovadas, flexibilizando a regra constitucional do teto dos gastos” (Salvador, 2024, p.  
10). O NAF surge nesse contexto, para responder às novas demandas colocadas pelo capital28,  
mantendo os mecanismos que limitam a expansão dos gastos sociais no orçamento público, ao  
passo em que continua a priorizar o pagamento de juros e amortização da dívida pública  
(Salvador, 2024).  
52  
O autor explica, ainda, que o Novo Arcabouço Fiscal e seus dispositivos  
obrigam que as despesas primárias do orçamento fiscal e da seguridade social  
da União fiquem abaixo do crescimento das receitas primárias em cada ano.  
Caso ocorra um excedente acima do previsto e após a obtenção da meta de  
resultado primário da União, a sobra poderá ser usada exclusivamente para as  
despesas com investimentos (Salvador, 2024, p. 11).  
As diretrizes apresentadas remetem às limitações de investimentos públicos presentes  
27  
Novo Arcabouço Fiscal (NAF) é o apelido da Lei Complementar 200/2023, a qual "institui regime fiscal  
sustentável para garantir a estabilidade macroeconômica do País e criar as condições adequadas ao crescimento  
socioeconômico" (Brasil, 2023).  
28 De acordo com Salvador (2024, p. 10), “cabe registrar que a proposta não foi, em nenhum momento, discutida  
com a classe trabalhadora e com os movimentos sociais e sindicais. Os interlocutores preferenciais do Ministério  
da Fazenda, para além do Congresso Nacional, foram a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), a Federação  
das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), além dos representantes do mercado financeiro”.  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 1, p. 33-57, jan./jun. 2025. ISSN 1980-8518  
Burguesia dependente e crise de hegemonia no Brasil  
desde 2011, quando a taxa média de formação bruta de capital fixo passou a cair em relação ao  
período anterior, como já tratado anteriormente. Os prejuízos aos investimentos e às políticas  
sociais são justificados pela necessidade de cumprimento das metas de superávit primário, um  
instrumento que garante a segurança e confiança perante o capital financeiro, com relação à  
capacidade da economia nacional de “honrar seus compromissos” com o pagamento da dívida  
e seus juros. Esse aspecto tem especial relevância pois é mais um mecanismo utilizado pelo  
capital imperialista, que mantém as economias dependentes nessa condição.  
Dessa forma, o aumento das receitas, que em geral variam de acordo com o PIB, não  
garante o crescimento do gasto público, e sim do superávit primário, “priorizando a referida  
estabilização da relação dívida pública/PIB” (Salvador, 2024, p. 14). Permanecem também as  
ameaças na hipótese da não obediência a tais orientações. Como destacado por Salvador (2024,  
p. 14), “caso o governo não realize o contingenciamento de gastos necessários para o  
cumprimento da meta de resultado primário e não obedeça às vedações previstas na LC  
200/2023 incorrerá em infração contra a LRF”. Ademais, Bastos (2023, n.p.) evidencia que esse  
conjunto de medidas restritivas pode levar a economia à uma “espiral de baixo crescimento”,  
além de “ampliar o conflito distributivo entre beneficiários de rubricas do orçamento público,  
enfraquecendo a popularidade do presidente Lula”, o que implicaria novos elementos para  
análise da crise de hegemonia em um futuro próximo.  
53  
Toda essa digressão evidencia que a prioridade do governo segue a premissa pactuada  
com o Plano Real, que é assegurar a estabilidade econômica, mas também política e social  
(Ouriques, 2014). Se na análise de Pinto et al. (2019) o governo Bolsonaro apresenta um  
discurso “contra a ordem” e a valorização da instabilidade como atributo político, Lula sempre  
demonstrou apreço e competência na garantia da estabilidade, o que permite sua aprovação por  
parte da grande burguesia, incluída sua fração financeira hegemônica desde 1994.  
Cabe ressaltar que a crise econômica demonstrou sinais de melhora, o que não significa  
que as condições de vida das classes subalternas tenham dado saltos qualitativos, mas que as  
condições para acumulação de capital estão mais favoráveis em relação ao período anterior,  
inclusive por conta dos vários ataques aos direitos e ao trabalho sofridos nos últimos anos. O  
Brasil foi a 6ª economia que mais cresceu até a metade do ano de 2024 (Carrança, 2024).  
Entretanto, a queda da taxa de desemprego29, o crescimento do PIB e outros indicadores não  
29  
“A taxa de desemprego no trimestre encerrado em julho recuou para 6,8%, com 7,4 milhões de desocupados.  
Este é o menor nível de desemprego registrado para o período desde o início da série histórica do instituto [IBGE],  
em 2012” (Carrança, 2024, n.p.). Todavia, devem ser observados os tipos e a qualidade dos empregos gerados, em  
especial após a contrarreforma trabalhista que impacta diretamente as formas de inserção no mercado de trabalho.  
De acordo com o Índice da Condição do Trabalho do DIEESE referente ao segundo trimestre de 2024, houve  
Isabela Ramos Ribeiro  
necessariamente são atribuídos às decisões políticas, mas sim aos ciclos econômicos variantes  
e instáveis, característica estrutural do capitalismo que gera crises constantes para se  
reestruturar. Têm destaque os ajustes necessários para que o ciclo do capital nas economias  
dependentes assegure as taxas de lucro internamente e as transferências de valor ao exterior  
(Marini, 2012b).  
A crise de hegemonia aberta em 2013, em sentido amplo, parece caminhar para um  
momento de novos arranjos sociais e recomposições burguesas, ainda que com as dificuldades  
de perpetuação da hegemonia no contexto de dependência e restrições fiscais que dificultam a  
conciliação de classes nos termos logrados nos anos 2000.  
Considerações finais  
O presente artigo buscou entender o papel da burguesia dependente na crise de  
hegemonia iniciada em 2013 no Brasil. Foram apresentados os pressupostos históricos e  
teóricos sobre dependência, hegemonia e bloco no poder, bem como as principais características  
da crise econômica pós 2008, articulando-a com a crise de legitimidade que abala a hegemonia  
burguesa e se estende até a atualidade.  
A crise de hegemonia política ou restrita, no interior do bloco no poder, foi  
temporariamente resolvida, pois o governo Temer (2016-2018) unificou os interesses da classe  
dominante e os representou no Estado (em sentido restrito). No entanto, o golpe não foi capaz  
de resolver a crise de hegemonia social ou ampla, na medida em que a burguesia se unificou  
em torno dos interesses econômicos imediatos, mas não em torno de uma representação política  
que reestabelecesse uma direção para o conjunto da sociedade.  
54  
Tampouco durante o governo Bolsonaro essa crise de hegemonia é resolvida, pois as  
condições de vida da classe trabalhadora permanecem impactadas pelo alto desemprego,  
diminuição do poder de compra, aumento da pobreza e as dificuldades inéditas referentes à  
sobrevivência durante a pandemia da COVID-19. Destaca-se que as frações agrária e comercial,  
mais imbricadas ao capital imperialista e mais dependentes da superexploração da força de  
trabalho estiveram lado a lado ao governo por todo o período. A péssima gestão de Bolsonaro  
ao longo da crise sanitária abalou novamente o bloco no poder, cuja insatisfação de parte das  
frações burguesas com o governo federal levou a um agrupamento extremamente diverso em  
torno da candidatura de Lula em 2022.  
elevação na Inserção Ocupacional (de 0,42 para 0,46), na Desocupação (de 0,70 para 0,78) e Rendimento (de 0,58  
para 0,65). Contudo, de acordo com o documento, observou-se “piora na distribuição dos rendimentos do trabalho,  
o que prejudica o consumo das famílias, uma das poucas alavancas atuais do dinamismo da economia” (DIEESE,  
2024, p. 2).  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 1, p. 33-57, jan./jun. 2025. ISSN 1980-8518  
Burguesia dependente e crise de hegemonia no Brasil  
Tem destaque a utilização do Estado e seus instrumentos de política econômica, assim  
como as políticas sociais, por parte da burguesia dependente, que para se manter no poder e  
com altas taxas de lucratividade se aproveita de quaisquer oportunidades políticas. Os  
princípios democráticos podem ser flexibilizados de acordo com seus interesses econômicos  
imediatos. O capital imperialista, por sua vez, aponta dedos e faz sugestões, mas sem nunca  
deixar de receber sua parcela neste latifúndio.  
A hegemonia social, em sentido amplo, continua demonstrando sinais de crise, e o  
retorno de Lula ao governo federal em 2023 elucida o pragmatismo e o oportunismo desta  
burguesia dependente, que se expressa em sucessivas recomposições do bloco no poder para  
garantir a manutenção da hegemonia burguesa e a sustentação do pacto de classes do Plano  
Real.  
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