Silvio Aparecido Redon; Eliane Christine Santos de Campos
Ainda nessa análise sobre o processo de valorização do capital, é importante nos atermos
a certos processos e conceitos marxianos. O valor do produto é resultado das diferentes formas
em que os fatores do processo de trabalho o constituem, como fatores objetivos e fatores
subjetivos. Constitui valor do produto os valores dos meios de produção consumidos que, de
fato, são conservados pela transferência6 e, também, o novo valor que o trabalhador acrescenta
através de determinada quantidade de trabalho7. Mas esses dois resultados são alcançados pelo
trabalhador ao mesmo tempo, pelo mesmo processo de trabalho e não através de processos
isolados, com objetivos próprios; essa dualidade de resultado é explicada pela dualidade de seu
próprio trabalho: “No mesmo instante, o trabalho, em uma condição, tem de gerar valor e em
outra condição deve conservar ou transferir valor” (Marx, 1983, p. 165). O trabalhador agrega
tempo de trabalho e, portanto, valor, sob a forma peculiar de seu trabalho produtivo, pela sua
própria atividade como trabalho em geral, ao passo que também o valor dos meios de produção
se torna elemento constituinte do produto, de um novo valor de uso. Esse trabalho que agrega
valor é trabalho abstrato, trabalho social geral, e agrega certa grandeza de valor não por ser
trabalho particular, útil, mas porque dura um tempo determinado; por sua característica abstrata,
como dispêndio de força de trabalho humano, agrega novo valor. Distinto disso é a transferência
de valor ao produto, que ocorre através do trabalho concreto, útil; apenas um trabalho específico
é capaz de manejar certos meios de produção e, assim, transferir seus valores aos novos
produtos. A força de trabalho, ao ser acionada em um processo de trabalho, cria novo valor e
transfere valor, formando o valor de um novo produto, e de forma simultânea.
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Essa caracterização dos fatores do processo de trabalho nada mais é que as funções dos
diferentes elementos que compõem o capital em seu próprio processo de valorização8: os meios
de produção e a força de trabalho são “as diferentes formas de existência que o valor do capital
originário assumiu ao desfazer-se de sua forma dinheiro e ao transformar-se nos fatores do
processo de trabalho”. Marx (1983) denominou de capital constante a parte do capital
convertida em meios de produção, cuja grandeza de valor não se altera no processo de produção
e, de capital variável, a parte do capital convertida em força de trabalho, cujo valor se altera no
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“Se considerarmos todo o período em que tal meio de trabalho presta serviço, desde o dia de sua entrada na
oficina até o dia de seu banimento ao despejo, veremos que, durante esse período, seu valor de uso foi inteiramente
consumido pelo trabalho e seu valor de troca transferiu-se, por isso, totalmente ao produto” (Marx, 1983, p. 168)
7 “É diferente o que acontece com o fator subjetivo do processo de trabalho, a força de trabalho em ação. Enquanto
o trabalho, por meio de sua forma adequada a um fim, transfere o valor dos meios de produção ao produto e o
conserva, cada momento de seu movimento cria valor adicional, valor novo” (Marx, 1983, p. 170).
8 “As mesmas partes componentes do capital, que do ponto de vista do processo de trabalho se distinguem como
fatores objetivos e fatores subjetivos, como meios de produção e força de trabalho, se distinguem, do ponto de
vista do processo de valorização, como capital constante e capital variável” (Marx, 1983, p. 171).
Libertas, Juiz de Fora, v. 24, n. 2, p. 691-708, jul./dez. 2024. ISSN 1980-8518