As implicações da organização do trabalho para  
a interprofissionalidade na saúde mental  
Changes in work organization and their contributions to interprofessional  
work in healthcare  
Karina Faustino de Carvalho Tetéo*  
Edla Hoffmann**  
Resumo: Este artigo objetiva analisar como as  
transformações do mundo do trabalho  
influenciam na materialização do trabalho  
interprofissional na área da saúde, visto que, em  
seu processo de desenvolvimento, essa área é  
marcada pela forte influência do modo de  
produção capitalista. Apresenta resultados  
parciais de uma pesquisa de mestrado  
fundamentada no método dialético-crítico.  
Trata-se de um estudo de enfoque misto,  
contemplando uma abordagem quanti-  
qualitativa, desenvolvida a partir de uma ampla  
revisão bibliográfica e de pesquisa de campo  
através de entrevistas semiestruturadas. Os  
resultados apontam que grande parte dos  
dispositivos de saúde mental pesquisados se  
encontra pautada no trabalho multiprofissional,  
sem o exercício da interprofissionalidade, pois  
permanecem centrados em ações individuais,  
sem trocas e ações integradas entre os(as)  
profissionais. Tal conjuntura aponta para um  
Abstract: The aim of this article is to analyze  
how transformations in the world of work  
influence  
the  
materialization  
of  
interprofessional work in the healthcare sector,  
given that, in its development process, this area  
is marked by the strong influence of capitalist  
modes of production. It presents the partial  
results of a master's research based on the  
dialectical-critical method. It is a study with a  
mixed approach, including a quantitative and  
qualitative approach, developed from a wide-  
ranging literature review and field research  
using semi-structured interviews. The results  
show that a large part of the mental health  
facilities surveyed are based on multi-  
professional work, without the exercise of  
interprofessionality, as they remain centered on  
individual actions, without exchanges and  
integrated actions between professionals. This  
conjuncture points to  
a
complex and  
challenging scenario for the materialization of  
work, considering the absence of an organized,  
effective and resolutive health network, which  
guarantees continuous and articulated actions  
and services.  
cenário complexo  
e
desafiador para  
a
materialização do trabalho, considerando a  
ausência de uma rede de saúde organizada,  
efetiva e resolutiva, que garanta ações e serviços  
contínuos e articulados.  
Palavras-chaves:  
Interprofissionalidade;  
Keywords:  
Interprofessionality;  
Trabalho interprofissional; Saúde mental.  
Interprofessional work; Mental health.  
* Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail: karinafct@hotmail.com  
** Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail: edla.hoffmann@ufrn.br  
DOI: 10.34019/1980-8518.2025.v25.45835  
Esta obra está licenciada sob os termos  
Recebido em: 31/08/2024  
Aprovado em: 13/02/2025  
Karina Faustino de Carvalho Tetéo; Edla Hoffmann  
Introdução  
As particularidades da área da saúde reafirmam a necessária discussão sobre o trabalho  
interprofissional, considerando o intenso processo de especialização entre as categorias  
profissionais e abordagens no cuidado em saúde. Trata-se de uma área com intensos embates  
antagônicos, marcada por um modelo médico-assistencial focado na doença com relações  
centralizadas e verticalizadas e inserida em uma lógica neoliberal, que demarca o árduo  
processo da saúde como direito constitucional.  
Discutir o trabalho interprofissional e sua efetivação na área da saúde requer pensar a  
respeito do seu processo de desenvolvimento, pois essa área é fortemente marcada pelo modo  
de produção capitalista, expresso na divisão do saber, na intensa subdivisão das profissões, na  
tecnificação, na fragmentação das relações de trabalho e na perda da dimensão coletiva do  
trabalho, aspectos que mercantilizam a saúde e a tornam refém dos interesses do mercado. Esse  
cenário é produto das intensas transformações das condições e relações de trabalho, resultantes  
da implementação de um amplo processo de reestruturação do capital, que institui um novo  
regime de acumulação como resposta à crise do capital.  
Portanto, as transformações no modo de produção capitalista irão impulsionar os  
estudos sobre a interprofissionalidade, uma vez que a intensa especialização leva à  
concentração de aspectos restritos e dificulta a percepção de totalidade do indivíduo e do  
trabalho coletivo. Assim, a divisão social e técnica do trabalho, juntamente com a fragmentação  
da produção, levará também à fragmentação do conhecimento, o que evidencia a apropriação  
do capitalismo nos processos de trabalho, ao transformá-lo funcional às suas necessidades  
(Matos, 2013). Desse modo, a interprofissionalidade sozinha não é capaz de superar a  
fragmentação do saber, considerando o processo histórico das relações sociais da ordem  
burguesa, funcional à reprodução ampliada do capital e da produção de riqueza (Tonet, 2013).  
Este artigo objetiva analisar como as transformações do mundo do trabalho  
influenciam na materialização do trabalho interprofissional na área da saúde, tendo como foco  
a saúde mental. Para tanto, apresenta resultados parciais da pesquisa de mestrado intitulada O  
trabalho interprofissional na saúde mental: particularidade do município de Parnamirim/RN1,  
do Programa de Pós-graduação em Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do  
Norte (UFRN), que analisou o trabalho desenvolvido nos serviços de saúde mental em um  
município2 do Rio Grande do Norte.  
414  
1 Esta pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética e Pesquisa da UFRN/HUOL, sendo aprovada por meio do parecer  
consubstanciado n. 5.685.106.  
2
O município em questão compõe a região metropolitana de Natal/RN, com uma estimativa populacional de  
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As implicações da organização do trabalho para a interprofissionalidade na saúde mental  
A investigação teve seus fundamentos no método dialético-crítico, utilizando-se de uma  
abordagem de enfoque misto, contemplando uma pesquisa quanti-qualitativa (Prates, 2012).  
Foi desenvolvida por uma ampla revisão bibliográfica e pesquisa de campo, por meio de  
entrevistas semiestruturadas, seguindo um formulário contendo questões abertas e fechadas,  
pautado em conteúdos favoráveis à apreensão do objeto.  
O estudo contemplou uma amostra do tipo não probabilística intencional, composta por  
18 (dezoito) profissionais de categorias distintas3 (sendo três de cada serviço), que integram as  
equipes dos serviços de saúde mental da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) do município  
em questão, em todos os níveis de complexidade, sendo eles: CAPS AD III, CAPS II, CAPS  
infanto-juvenil, Consultório na Rua, Unidade de Pronto Atendimento e Equipe  
Multiprofissional de Atenção Especializada em Saúde Mental. A aproximação com os(as)  
participantes da pesquisa se deu através de contato prévio, primeiro com a direção de cada  
serviço, de modo a identificar os(as) profissionais de acordo com os critérios de inclusão e  
exclusão4. As entrevistas foram agendadas com os(as) participantes e realizadas de acordo com  
a disponibilidade deles(as), em seus locais de trabalho, em observância a um espaço que  
garantisse o sigilo e a privacidade e que proporcionasse maior interação entre a entrevistadora  
e os(as) entrevistados(as).  
Os dados derivados das entrevistas foram submetidos à técnica de Análise de Conteúdo,  
seguindo o processo organizativo que sugere as etapas de pré-análise, exploração do material,  
tratamento dos resultados obtidos e interpretação, conforme Bardin (2004). As falas foram  
categorizadas a partir da análise temática e frequencial.  
415  
Diante do exposto, este artigo está estruturado em quatro seções, sendo a primeira esta  
introdução; a segunda seção traz o debate sobre a categoria trabalho, com ênfase na divisão  
social e técnica do trabalho e suas incidências nos processos de trabalho na saúde; a terceira  
seção problematiza as particularidades da interprofissionalidade e os elementos importantes  
para a sua compreensão; a quarta trata das expressões do trabalho interprofissional na área da  
252.176 habitantes, sendo assim a 3ª cidade mais populosa do estado do Rio Grande do Norte, de acordo com o  
último censo do IBGE (2022).  
3 Dentre os quais: 01 gestora, 04 assistentes sociais, 02 educadoras físicas, 02 enfermeiros(as), 03 psicólogas, 02  
pedagogas, 01 médica psiquiatra, 01 médico generalista e 01 terapeuta ocupacional.  
4
Foram utilizados como critérios de inclusão profissionais de nível superior, de categorias distintas, com no  
mínimo seis meses de trabalho no dispositivo da RAPS ou que sejam bem integrados à equipe. Nos casos em que  
mais de três profissionais se enquadravam nesses critérios, foram escolhidos(as) das categorias que não tinham  
sido contempladas, com maior tempo de experiência no dispositivo e maior tempo de formação profissional. Os  
critérios de exclusão englobam profissionais que não estavam em efetivo exercício de sua profissão (afastamento,  
licença ou atestado médico) e/ou profissionais inseridos(as) em outras linhas de cuidado não relacionadas a de  
saúde mental.  
Karina Faustino de Carvalho Tetéo; Edla Hoffmann  
saúde, especificamente na área de saúde mental; por último, as considerações finais compõem  
o fechamento e as proposições do presente estudo.  
A divisão social e técnica do trabalho na perspectiva marxiana e suas incidências  
na área da saúde  
Na perspectiva do referencial teórico-crítico, o trabalho apresenta uma dupla  
dimensão: como agente transformador da realidade humana e como responsável pela  
valorização do capital, o qual vem, ao longo do tempo, intensificando suas formas de extração  
de mais-valia para assegurar a sua reprodução e hegemonia mediante a sua capacidade de  
alienar, subordinar e escravizar o ser humano.  
Parte-se do pressuposto de que o trabalho é elemento fundante do ser social, porque é  
através dele que o ser humano produz meios de subsistência para satisfazer suas necessidades.  
Marx (2011) afirma que o trabalhador nada pode criar sem a natureza, uma vez que é nela que  
o trabalho se realiza. A partir do movimento de modificar a natureza e satisfazer as suas  
necessidades materiais, o ser humano também modifica a si mesmo, posto que ambos sofrem  
alterações.  
Por esse motivo, o processo de trabalho é, “em primeiro lugar, a atividade orientada a  
um fim, ou o trabalho propriamente dito; em segundo lugar, seu objeto e, em terceiro, seus  
meios” (Marx, 2011, p. 189). Em outras palavras, o processo de trabalho é o modo como se  
realiza determinada atividade para se chegar a uma determinada finalidade, que visa atender as  
necessidades e expectativas humanas. Nesse caso, desenvolve-se uma das características  
próprias do trabalho humano: a capacidade teleológica5, através da qual o trabalhador consegue  
projetar, consciente e racionalmente, o resultado a ser alcançado pelo seu trabalho (Marx,  
2011).  
416  
Nessa perspectiva, ao pensar as condições e relações de trabalho e as profundas  
transformações e reestruturações que elas vêm sofrendo ao longo dos tempos, observa-se que  
as influências desse processo, além de estarem presentes nos aspectos de vida social, política e  
intelectual do ser humano (Marx, 2008), também afetam de forma significativa a sua relação  
com os meios e os instrumentos de produção e, principalmente, com o produto do seu trabalho.  
Esses aspectos são profundamente acentuados pela acumulação capitalista, que rouba a  
5 A capacidade teleológica do ser social diz respeito à sua capacidade de projetar o propósito das suas ações e, por  
meio delas, modificar a si próprio e a natureza. Marx (2011) explica que o trabalho consiste na interação entre o  
ser humano e a natureza, na qual o homem, através de suas ações, interage, regula e controla seu metabolismo com  
a natureza, o que só é possível porque o homem, ao contrário dos animais irracionais, projeta e idealiza as suas  
ações, tornando-se, assim, o único ser capaz de executar trabalho (Tetéo, 2015).  
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As implicações da organização do trabalho para a interprofissionalidade na saúde mental  
capacidade teleológica do ser humano, deixando-o alheio ao resultado do seu trabalho (Tetéo,  
2015). Assim, em um determinado momento, as forças produtivas materiais e as relações de  
produção existentes se contradizem e desse conflito surgem entraves que dão espaço para  
mudanças nas bases estruturais da sociedade. As transformações pelas quais passam as forças  
produtivas afetam as relações de produção, ou o contrário, precisamente por ambas estarem  
interligadas, de modo que a primeira refere-se às relações do ser humano com a natureza,  
enquanto a segunda expressa a relação do ser humano com o processo produtivo (Tetéo, 2015).  
Nesse contexto, na análise marxiana será a produção manufatureira a responsável por  
introduzir a divisão do trabalho no processo de produção e trazer para esse cenário a ideia de  
cooperação e da figura do trabalhador parcial e do trabalho coletivo. Esse último, por agregar a  
soma de vários trabalhadores parciais, representa o aumento da força produtiva e a redução do  
tempo de produção, já que produz mais em menos tempo. Apesar disso, esse processo torna-se  
fragilizado, na medida em que o fracionamento do processo produtivo provoca o isolamento  
das fases da produção e dificulta a aplicação de meios coletivos de trabalho (Marx, 2011).  
Batista (2014) acrescenta que, ao agregar a soma de trabalhos parciais, o trabalho  
coletivo passa a ser a soma de habilidades, destreza e força, por isso o todo somente pode ser  
compreendido por aqueles que conseguem pensar o processo. Contudo, essa compreensão não  
atinge a dimensão ontológica, pois desconsidera os aspectos que constituem cada parte em si,  
visto que, mesmo que tenha a visão da totalidade, o trabalhador está reduzido à sua  
especialidade. Sendo assim, o autor afirma que “a totalidade não é compreendida enquanto  
unidade que se constrói na diferença” (Batista, 2014, p. 222).  
417  
Marx (2011) explica que um produto para chegar ao seu estado final percorre  
diferentes processos parciais que ocorrem separadamente. Porém, se o processo produtivo for  
analisado em sua totalidade, é possível identificar que o produto se encontra em todas as fases  
de produção, ao mesmo tempo. Essa simultaneidade ocorre devido à “forma cooperativa geral  
do processo total” (Marx, 2011, p. 289), uma vez que as partes do processo são desenvolvidas  
por um trabalhador ou grupo de trabalhadores que realizam etapas de trabalhos diferentes,  
porém complementares e articuladas.  
Por essa razão, assevera-se que, assim como nos modos de produção que lhe são  
posteriores, a divisão manufatureira apresentada por Marx (2011) também estabeleceu uma  
relação capital/trabalho que pressupõe condições desiguais nas relações de poder e na  
correlação de forças existentes. Todavia, conforme as análises de Batista (2014), esse era apenas  
o início dessas problemáticas, tendo em vista que as fases da maquinaria e da indústria moderna,  
sucessoras da manufatura, intensificaram ainda mais o cenário de exploração e alienação dos  
Karina Faustino de Carvalho Tetéo; Edla Hoffmann  
trabalhadores ao incorporarem alguns aspectos organizacionais e técnicos do modelo  
manufatureiro (Batista, 2014). Essa nova fase do modo de produção capitalista Revolução  
Industrial traz inovações para as relações de produção, porém, na perspectiva do autor, irá  
superar a manufatura, mas não a eliminará em sua totalidade, principalmente pela manutenção  
dos processos de trabalhos parciais, a exemplo dos modelos de produção taylorista6 e fordista7  
que se espalharam pelo mundo e influenciaram significativamente as áreas de produção.  
A crise de acumulação do padrão taylorismo-fordismo, provocada pela redução das  
taxas de lucro, foi um dos fatores que contribuíram para a intensa crise econômica do capital  
durante as décadas de 1960 e 1970, a qual, diferentemente do caráter cíclico8 das crises  
vivenciadas no passado (período de 1929 a 1933), torna-se fundamentalmente estrutural, com  
caráter universal, de alcance global e com escala de tempo extensa e contínua, expressando o  
encontro do capital com seus próprios limites e contradições (Mészáros, 2011).  
As manifestações dessa crise se apresentam na implementação de um amplo processo  
de reestruturação do capital que afetam fortemente o mundo do trabalho, tendo em vista que a  
sobrevivência do capitalismo passou a exigir a instauração de um novo regime de acumulação  
e novas formas de controle da classe trabalhadora. Assim, a produção baseada nos padrões  
taylorista-fordista é substituída por uma produção flexível (acumulação flexível) em que os  
modos de trabalho e de vida são pautados na flexibilização, fragmentação e precarização do  
trabalho (Antunes, 2018).  
418  
Esse processo de reestruturação produtiva incorpora as tecnologias resultantes dos  
avanços técnico-científicos, bem como o aumento das forças produtivas e a redução da demanda  
de trabalho vivo. Há fortemente nesse cenário a substituição da força de trabalho humana por  
máquinas, o que vai consolidar a automação e intensificar as contradições do mundo do  
trabalho. Destacam-se nesse momento modelos de produção alternativos aos anteriores, cujo  
exemplo mais significativo se expressa no toyotismo9.  
O capitalismo redefine sua configuração e abre espaço para novas modalidades de  
trabalho, porém com velhos padrões de existência, pois suas relações sociais permanecem  
assentadas sobre o trabalho assalariado, com compra e venda da força de trabalho a ser  
6
Caracteriza-se como um processo de produção em série, padronizada, com vistas à alta produtividade e para o  
favorecimento dos processos de acumulação, através da fragmentação e da hierarquização do trabalho.  
7
“Esse modelo trouxe grandes impactos para a produção em massa da indústria automobilística, ao apresentar,  
dentre os seus princípios, a padronização da produção em larga escala, que exigia a aceleração da produção e,  
consequentemente, acarretava a aceleração do ritmo de trabalho do operário” (Tetéo, 2015, p. 55).  
8
Considerava-se crise cíclica, pois “alternava fases de desenvolvimento produtivo com momentos de  
‘tempestade’” (Mészáros, 2011, p. 18).  
9 O toyotismo baseia-se em uma produção direcionada a partir da demanda e, assim, os produtos passam a ser  
produzidos em menor escala, maior variedade e em menor tempo (princípio do just-in-time) (Antunes, 2018).  
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As implicações da organização do trabalho para a interprofissionalidade na saúde mental  
realizada, conforme suas necessidades (Druck, 2011). Da mesma forma, mantém o trabalho  
sobre os níveis da informalidade e de aspectos precários e flexibilizados, que apenas assumem  
novas dimensões e se acentuam após a crise de 2008, momento em que o capital atinge a fase  
da financeirização e da mundialização em escala global (Antunes, 2018).  
Esse período pós-crise de 2008 é marcado também pela presença de novas formas de  
trabalho que trazem para o cenário internacional as expressões de uma nova reestruturação  
produtiva (ou reestruturação produtiva pós-crise) e será protagonizado pelo novo proletariado  
da era digital, o qual encontra nas novas tecnologias de informação e comunicação (TICS) a  
centralidade para sua materialização que, no que lhe concerne, irá compor o conjunto de  
características responsáveis por impulsionar as transformações das novas formas de  
acumulação flexível capitalista, junto ao aumento significativo da imigração, da uberização do  
trabalho e da Indústria 4.010 (Tonelo, 2020). Essa última, também denominada de Quarta  
Revolução Industrial ou “era da comunicabilidade e da interconectividade” (Tonelo, 2020),  
estabelece uma hegemonia informacional-digital no mundo produtivo e promove a ampliação  
do trabalho morto e a consequente redução do trabalho vivo, com processos produtivos ainda  
mais automatizados e robotizados, de modo que a logística de produção seja controlada  
digitalmente por máquinas e robôs (Antunes, 2018).  
Não há como recusar que o nível de dependência das novas tecnologias chegou a  
patamares sem precedentes, nunca vistos na história da humanidade, de forma que na área da  
saúde não seria diferente. É perceptível a expansão técnico-científico-digital do capital com a  
ampliação e a intensificação do trabalho morto nos espaços de saúde, por meio de  
equipamentos, sistemas organizacionais e de informações; produção de insumos, medicamentos  
e vacinas; realização de exames e diagnósticos; procedimentos técnicos, tratamento,  
laboratórios, ensino e pesquisa, como também na reorganização do trabalho coletivo, gestão e  
oferta de serviços de saúde. Em suma, os avanços tecnológicos podem ser observados em todas  
as dimensões da área, particularmente no âmbito da saúde mental. Essa expansão ocorre por  
meio do uso exacerbado de medicação, tecnificação do cuidado, relações verticalizadas,  
supremacia do saber “psiquiátrico”, bem como fortalecimento da lógica manicomial e das  
práticas isoladas, fatores que vão repercutir na fragilização do cuidado com liberdade e  
acolhimento e na reciprocidade e trocas de experiências, dados que podem ser vistos na seção  
três.  
419  
10  
“Proposta que nasceu na Alemanha, em 2011, concebida para gerar um novo e profundo salto tecnológico no  
mundo produtivo (em sentido amplo), estruturado a partir das novas tecnologias da informação e comunicação  
(TIC), que se desenvolvem de modo cérebro” (Antunes, 2020, p. 13).  
Karina Faustino de Carvalho Tetéo; Edla Hoffmann  
Além disso, cabe ressaltar que o modo de produção da sociedade capitalista é construído  
com base em uma divisão social e técnica do trabalho que fragmenta as relações, impulsiona o  
processo de alienação do(a) trabalhador(a) e, assim, contribui para que ele(a) não se perceba  
como parte do trabalho coletivo. As consequências desse processo na área da saúde se  
expressam na intensa presença das especialidades que, ao serem legitimadas pela sociedade no  
processo de compartimentalização do conhecimento, refletem na dificuldade de integração  
dos(as) profissionais nas ações e atividades coletivas realizadas em seus espaços sócio-  
ocupacionais (Costa, 2019). Com isso,  
O usuário – e suas necessidades – assume papel de mero objeto de intervenção,  
e o trabalho em equipe passa a não ter sentido numa lógica em que cada  
profissional faz o que lhe compete, sem a preocupação de (re)significar as  
relações estabelecidas na produção dos serviços de saúde. A colaboração, o  
agir comunicativo, a interação, passam a não fazer parte da dinâmica do  
processo de trabalho em saúde, com forte agravante para todo o Sistema de  
Saúde (Costa; Borges, 2015, p. 754).  
Essa fragmentação do trabalho entre os(as) profissionais é definida pela literatura  
como silos profissionais ou tribalismo das profissões, os quais se caracterizam pelos processos  
de formação das profissões ao se concretizarem de forma isolada (Costa, 2019). Expressam  
também uma “forte tendência de formar profissionais de saúde em suas habilidades e  
competências específicas” (Costa; Borges, 2015, p. 754), que caracterizam suas identidades  
profissionais e, ao longo do processo formativo, apontam disparidades na relevância social das  
profissões, bem como a elitização entre os(as) profissionais médicos(as) e a hierarquização das  
relações profissionais com as demais categorias.  
420  
Tais aspectos implicam modificações nas formas de organização do trabalho e na sua  
própria natureza e promovem reordenamento estrutural no modo de produzir saúde (Souza,  
2009). No Brasil, a discussão sobre as mudanças nas práticas sociais e no modo de gerir saúde  
ganha intensidade com o Movimento da Reforma Sanitária, que reconhece o referencial da  
determinação social da saúde11, enfatiza a necessidade do caráter multiprofissional das ações e,  
consequentemente, favorece a abertura para a intervenção de outros profissionais (Peduzzi,  
1998).  
Não se esgotam aqui as possibilidades de discussão sobre esses novos modos de gerir  
o trabalho e não restam dúvidas de que essas transformações irão incidir diretamente nas  
11 “Entende-se que os fatores econômicos como a renda, emprego e organização da produção interferem na saúde  
de grupos populacionais. [...] Nesse sentido, a determinação social da saúde é um referencial teórico que discute a  
abrangência da coletividade e do caráter histórico-social do processo saúde-doença, não colocando em foco  
discussões de dados epidemiológicos individuais. Propicia explicitar a relação entre o biológico e o social [...]”  
(Wiese, 2020, p. 149).  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 1, p. 413-438, jan./jun. 2025. ISSN 1980-8518  
As implicações da organização do trabalho para a interprofissionalidade na saúde mental  
relações e condições de trabalho em todas as esferas da sociedade. No entanto, interessa para  
essa discussão apreender as influências desse processo na área da saúde, assim como na gestão  
e oferta dos serviços, tendo em vista ser um fator primordial para compreender a fragmentação  
do saber e os esforços para romper com essa lógica através do trabalho interprofissional diante  
dessa nova dinâmica produtivista.  
A interprofissionalidade e sua interface com a fragmentação dos saber  
O debate acerca do trabalho interprofissional no Brasil ainda é marcado por muitas  
confusões e limitações. Observa-se na literatura uma discussão importante sobre o trabalho em  
equipe, mas o debate sobre o trabalho interprofissional traz novos elementos para essa discussão  
ao apresentá-la como resposta para visão/ação compartimentada, fragmentária e individual  
presente na assistência à saúde e, ainda, como forma de diminuir “a alienação do trabalhador”  
(Furtado, 2009, p. 2), considerando a divisão social do trabalho proposta nos modos de  
produção capitalista.  
Nesse sentido, o termo interprofissionalidade ganha espaço junto às discussões sobre  
trabalho em saúde, tendo em vista a necessidade de repensar a organização dos processos de  
trabalho e a formação em saúde, como modo de superar os desafios que se apresentam na  
realidade dos serviços. Seu conceito e história, ainda pouco explorados na literatura brasileira,  
421  
se apresentam em meio  
a
confusões  
e
relações equivocadas aos termos  
“multiprofissionalidade”, “multidisciplinaridade” e “interdisciplinaridade”, atribuídos muitas  
vezes como sinônimos (Cecim, 2018).  
Para este estudo, cabe apreender a diferenciação entre interdisciplinaridade e  
interprofissionalidade, com a compreensão de que essa discussão não se limita a diferenciações  
semânticas, mas se faz necessária para que seja possível identificar suas expressões na realidade  
concreta da área da saúde. Parte-se do ponto inicial que define as palavras pela utilização dos  
termos “disciplinar” e “profissional”. Na perspectiva de Cecim (2018, p. 1740),  
Se disciplina é recorte ou domínio de informação técnica ou científica,  
profissão é recorte de ofício, de poder de exercício formal de uma ocupação.  
Disciplina é domínio de conhecimento, profissão é habilitação de exercício  
ocupacional, [...] onde se faz tão necessária a reversão em potências de  
integração, interseção e desfragmentação, uma vez que se almeja trabalhar em  
equipe, ainda que por uma obrigatoriedade.  
Ellery (2018) também corrobora a discussão ao analisar aspectos que diferenciam os  
termos interprofissionalidade e interdisciplinaridade e afirma:  
Enquanto a interdisciplinaridade busca ser uma resposta ao conhecimento  
fragmentado de numerosas disciplinas, que resultou em uma divisão artificial  
do conhecimento, a interprofissionalidade visa reduzir a fragmentação das  
Karina Faustino de Carvalho Tetéo; Edla Hoffmann  
práticas profissionais, objetivando, no campo da saúde, ao alcance de  
melhores resultados dos cuidados aos usuários/pacientes (Ellery, 2018, p.  
146).  
É certo que o conceito de interdisciplinaridade vem sendo histórica e socialmente  
apresentado a partir de diversas concepções, posto que seu sentido polissêmico/dicotômico  
compõe umas das grandes discussões no campo dessa temática. Ivani Fazenda, uma das  
pioneiras no estudo do tema, afirma que “é impossível a construção de uma única, absoluta e  
geral teoria da interdisciplinaridade” (Fazenda, 1994, p. 13). No entanto, observa-se que é  
comum encontrar na literatura a interdisciplinaridade e as demais modalidades do trabalho  
coletivo  
(transdisciplinaridade, multidisciplinaridade, pluridisciplinaridade) sendo  
apresentadas como formas de superação da fragmentação do saber e da intensa especialização  
na área profissional, que levam a aspectos isolados e ofuscam a percepção de totalidade de uma  
determinada realidade, objeto ou indivíduo. Por essa razão, a escolha pela interdisciplinaridade  
parece um pouco óbvia, uma vez que, entre a fragmentação e a unificação do objeto, enxergá-  
lo através de suas diversas dimensões possibilita um conhecimento mais amplo sobre os  
aspectos que o constituem.  
Em última análise, Ivo Tonet aponta críticas a respeito da interdisciplinaridade como  
sendo “uma solução equivocada para um problema mal equacionado” (Tonet, 2013, p. 726). A  
crítica do autor não é para a interdisciplinaridade em si, mas para o contexto social que produz  
a necessidade dessa prática, uma vez que,  
422  
Para entender como se chegou até esta situação faz-se necessário apreender a  
trajetória do ser social a partir dos seus fundamentos originais, tanto em  
termos históricos como em termos ontológicos. Em termos históricos, porque  
a própria modernidade já é o resultado de uma longa trajetória. E em termos  
ontológicos, porque é preciso buscar, na natureza do ser social, os  
fundamentos que deram origem ao processo de fragmentação (Tonet, 2013, p.  
730).  
Dessa forma, sendo o trabalho considerado pelo marxismo como o ato fundante do ser  
social, é a partir da análise da relação entre ambos que se pode “compreender que o ser social  
é uma totalidade, isto é, um conjunto de partes articuladas, em constante processo” (Tonet,  
2013, p. 730). Trata-se de entender, através do trabalho, como ocorreu ao longo da história o  
processo que levou à complexificação do ser social, sua fragmentação e especialização, tanto  
na realidade material como no campo de conhecimento (Tonet, 2013).  
Análise semelhante é realizada por Guerra (2023), ao afirmar que “a  
interdisciplinaridade se apoia em uma premissa equivocada”, por acreditar que é possível a  
integração entre saberes e práticas, em uma sociedade que se alimenta da “fragmentação,  
divisão, hierarquização, autonomização, abstração e formalismo das especializações e do  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 1, p. 413-438, jan./jun. 2025. ISSN 1980-8518  
As implicações da organização do trabalho para a interprofissionalidade na saúde mental  
conhecimento, como determinação necessária à manutenção do status quo” (Guerra, 2023, p.  
171). Desse modo, a relação entre a divisão social do trabalho no capitalismo e a divisão social  
das Ciências Sociais torna-se ainda mais evidente e contribuiu para desmistificar a ideia de que  
as especializações podem ser superadas através do esforço individual de cada profissional, sem  
a compreensão de que a divisão social do trabalho encontra seu modo de ser no capitalismo  
(Guerra, 2023). Por esse motivo, pouco adianta a interdisciplinaridade tentar agregar os  
conhecimentos e ações fragmentados com a divisão do trabalho, sem antes superar as  
contradições entre “os que pensam e os que executam” (Guerra, 2023, p. 173).  
Em resumo, considera-se que a interdisciplinaridade sozinha não é capaz de superar a  
fragmentação do saber, se levar em consideração o processo histórico das relações sociais  
baseadas em princípios capitalistas que envolvem a sua formação, tornando funcional a  
reprodução do processo capitalista de produção de riqueza (Tonet, 2013). Portanto, transpor a  
interdisciplinaridade e concretizá-la no cotidiano dos serviços de saúde, através do trabalho  
interprofissional, requer o enfrentamento das forças antagônicas presentes nesses espaços, as  
quais se configuram por uma lógica profissional que expressa a delimitação do território de  
cada profissão e o grau de “dominação” de uma categoria sobre a outra.  
A proposta da interprofissionalidade ocorre de forma a proporcionar o  
desenvolvimento de práticas integradas, compartilhadas e de colaboração entre os(as)  
profissionais de saúde que trabalham juntos(as), a fim de superar a fragmentação das práticas  
em saúde e dar respostas mais resolutivas as necessidades de saúde dos(as) usuários(as) (Ellery,  
2018). Em razão disso, a discussão sobre o trabalho interprofissional torna-se fundamental na  
elaboração de novas formas de produção do cuidado em saúde, dada a necessidade de superação  
do modelo assistencial de saúde centralizado na doença e na hegemonia do modelo tradicional  
de prática e formação dos(as) profissionais de saúde, ainda realizada de maneira  
compartimentada e tecnificada.  
423  
Nas discussões realizadas por Cecim (2017), a concepção de interprofissionalidade  
aparece associada a tudo aquilo que pode ser desenvolvido como “núcleo comum”, tudo que  
pertence ao campo e tudo aquilo que se realiza mediante apoio. Nesse contexto, o “núcleo  
comum” é responsável pela junção de várias categorias profissionais em grupos de  
compartilhamento voltados para as práticas colaborativas12, que se desenvolvem em situações  
12  
Como práticas colaborativas na atenção à saúde, a Organização Mundial de Saúde (OMS) entende que elas  
ocorrem quando “profissionais de saúde de diferentes áreas prestam serviços com base na integralidade da saúde”  
(OMS, 2010, p. 13), o que inclui envolvimento não apenas dos sujeitos, mas também suas famílias e comunidades,  
para que assim a atenção à saúde possa alcançar todos(as) da rede de serviços (OMS, 2010).  
Karina Faustino de Carvalho Tetéo; Edla Hoffmann  
específicas e lugares concretos, a partir de processos de construção, trocas, apoio e  
compromisso, em busca de maior resolutividade (Cecim, 2017).  
A essa discussão, acrescentam-se as noções de campo e núcleo de conhecimentos e  
práticas, elaboradas por Campos (1998), ao discutir a institucionalização dos saberes e sua  
organização em práticas, através da formação de núcleos e de campos como dimensões para  
efetivação do trabalho colaborativo. Por núcleo, o autor denomina “o conjunto de saberes e de  
responsabilidades específicos à cada profissão ou especialidade” (Campos, 1998, p. 248) e que  
demarcam as suas diferenças, a sua identidade e seu trabalho. Enquanto o campo refere-se aos  
“saberes e responsabilidades comuns ou confluentes a várias profissões ou especialidades”  
(Campos, 1998, p. 248), ou ainda, às demandas que extrapolam as atribuições específicas e  
exigem o apoio de outras profissões para concretizar a sua teoria e prática.  
De modo geral, a discussão sobre campo e núcleo ressalta a importância da integração  
entre disciplinas e profissões (saberes e práticas) e, consequentemente, contribui para a  
efetivação da integralidade do cuidado, pois amplia o olhar sobre o sujeito e seu contexto de  
vida, por meio do estímulo ao trabalho coletivo, multiprofissional ou interprofissional. Com  
isso, evidencia-se a importância do trabalho interprofissional nos serviços de saúde, como  
condição necessária para a efetivação da integralidade, uma vez que, através dela, é possível  
apreender as necessidades de saúde dos(as) usuários(as) de forma mais ampla (Furtado, 2009).  
424  
A interprofissionalidade como elemento estruturante do cuidado em saúde: análise  
de uma experiência na saúde mental  
A partir do movimento da Reforma Psiquiátrica, a assistência em saúde mental passa  
a exigir um debate sobre a interprofissionalidade, tendo em vista a necessidade de romper com  
os aspectos asilares instituídos pelos hospitais psiquiátricos. Desse modo, as intervenções que  
antes possuíam um viés predominantemente psiquiátrico começam a ser substituídas por ações  
que contribuem com a construção da autonomia dos(as) usuários(as) diante das suas condições  
de saúde. Nessa perspectiva, a discussão sobre o trabalho em equipes multidisciplinares e  
interprofissionais na saúde mental representa um significativo avanço para superação da lógica  
manicomial e suas práticas isoladas.  
Vasconcelos (2010, p. 42) destaca que, com a Reforma Psiquiátrica, “o campo da  
saúde mental é chamado a refazer-se por inteiro, a ampliar o foco de abordagem e a romper  
com as delimitações dos saberes tradicionais na área”, em busca de uma reposição de  
conhecimentos sustentados sobre um conjunto de rupturas e novas premissas, o qual não seja,  
portanto, apenas um novo somatório ou rearranjo simples dos antigos saberes parcializados.  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 1, p. 413-438, jan./jun. 2025. ISSN 1980-8518  
As implicações da organização do trabalho para a interprofissionalidade na saúde mental  
Nesse sentido, o autor aponta a necessidade da formação e fortalecimento de equipes  
interprofissionais, nas quais profissionais de diferentes áreas devem atuar com vistas ao  
fortalecimento da reciprocidade, ou seja, a troca de experiência profissional a favor do  
tratamento de usuários(as), favorecendo também o enriquecimento mútuo das equipes de  
trabalho (Vasconcelos, 2010).  
Como elemento novo no debate atual em Saúde Mental, a proposta da  
interdisciplinaridade e da interprofissionalidade não visa intervir na totalidade da vida social,  
mas como ação potencializadora da autonomia profissional quando possibilita ações com  
outros(as) profissionais a partir da quebra de paradigmas, como a centralidade do saber médico  
e a segregação de saberes, da qualidade de serviços e do reconhecimento dos direitos da pessoa  
com adoecimento e sofrimento psicossocial, o que leva à potencialização de sua cidadania  
(Vasconcelos, 2010).  
No entanto, a consolidação desses modelos de trabalho esbarra em uma conjuntura  
permeada por dificuldades que ultrapassam a Política Nacional de Saúde Mental (PNSM), uma  
vez que abrangem a efetivação das políticas sociais, a regressão dos direitos sociais, a retenção  
de gastos com políticas públicas e o estreitamento da sua relação com o mercado. Tais fatores  
revelam o conjunto de medidas neoliberais que se baseiam no trinômio da “austeridade,  
privatização e desregulamentação” e se acentuam através das estratégias utilizadas pelo capital  
para enfrentar sua crise econômica, atingindo diretamente a oferta de ações e serviços de saúde  
mental (Rosa; Guimarães, 2019).  
425  
Desse modo, a materialização e a efetivação Reforma Psiquiátrica e de suas  
reinvindicações se defrontam com os limites oriundos das estratégias e respostas do capital para  
enfrentamento da crise estrutural em curso desde a década de 1970, dentre os quais: a  
reestruturação produtiva, a mundialização e financeirização do capital, o neoconservadorismo  
e as contrarreformas do Estado, cujo objetivo é a reprodução do capital (Soares, 2013). Essas  
estratégias tendem a precarizar as políticas sociais e restringir a oferta de serviços e assistência  
à população e, dessa forma, representam um conjunto de tensionamentos que recaem sobre a  
concretização das conquistas da reforma psiquiátrica e da luta antimanicomial, tendo em vista  
os retrocessos que insistem numa lógica manicomial e retomada do modelo de segregação e de  
desassistência dos indivíduos em adoecimento psíquico (Costa et al., 2020).  
Os impactos dessa conjuntura na realidade da RAPS do município analisado13 se  
manifestam na precarização estrutural e funcional dos equipamentos de saúde mental, com  
13 O desenho da RAPS do município estudado segue o modelo de diretrizes preconizadas na Portaria n. 3.088/11,  
sendo composta pelos seguintes serviços: 29 Unidades Básicas de Saúde, 01 Equipe Consultório na Rua, 03  
Karina Faustino de Carvalho Tetéo; Edla Hoffmann  
implicações significativas nas relações de trabalho e na qualidade das ações e serviços  
ofertados, os quais acabam sendo conduzidos sem a devida atenção às necessidades de saúde  
da população e do trabalho profissional. Isso ocorre porque os dispositivos da RAPS nem  
sempre obtêm contrapartidas municipais necessárias para a sua implementação e amplo  
desenvolvimento, dado que questões fundamentais não são asseguradas (Concentino; Tetéo;  
Freire, 2024).  
Tal cenário evidencia a ausência de uma rede de saúde organizada, efetiva e resolutiva,  
que assegure ações e serviços contínuos e articulados e, da mesma forma, garanta a  
integralidade da atenção à saúde e favoreça o compartilhamento de competências e  
responsabilidades no cuidado em saúde mental. Essa realidade chama a atenção para a  
intensificação do processo de sucateamento e desmonte dos equipamentos da rede, que  
agregam, dentre outras limitações, a escassez de profissionais, a falta de recursos materiais, a  
ausência de capacitações para os(as) profissionais, além da existência de estruturas físicas que  
violam as normativas legais14 e externam os desafios que fazem parte da atual conjuntura do  
município (Concentino; Tetéo; Freire, 2024).  
Dadas essas considerações, torna-se relevante compreender que a materialização da  
interprofissionalidade nos serviços de saúde mental do município, frente às múltiplas  
representações dos(as) profissionais em relação às situações do cotidiano, aparece de forma  
associada às práticas colaborativas e ao trabalho em equipe, sendo caracterizada por momentos  
de: acolhimento dos(as) usuários(as), reuniões de equipe, discussões/estudos de caso, realização  
de oficinas e resoluções de demandas. No entanto, com frequência, também aparece associada  
a algo que ocorre de forma mais pontual, que depende da demanda e, por isso, não possui um  
planejamento prévio, ou ainda como algo que depende da equipe que está “trabalhando no dia”,  
pois alguns(as) profissionais não apresentam predisposição para o trabalho coletivo.  
Torna-se relevante pontuar que o conhecimento em torno das expressões teóricas que  
envolvem o termo interprofissionalidade pode contribuir para que as suas formas de  
manifestações sejam identificadas no cotidiano dos serviços de saúde. Contudo, os resultados  
do estudo revelaram que as falas dos(as) profissionais entrevistados(as) retratam uma  
compreensão confusa e equivocada sobre interprofissionalidade que, uma vez ou outra, se  
confunde com interdisciplinaridade ou multiprofissionalidade. Chama a atenção o fato de esses  
termos serem ocasionalmente vinculados à interação de vários conhecimentos, ligados a um  
426  
Centros de Atenção Psicossocial (CAPS AD III, CAPS II, CAPSi), 02 Unidades de Pronto Atendimento - UPA e  
01 Hospital Geral Estadual.  
14 Ver Portaria n. 336, de 19 de fevereiro de 2002.  
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As implicações da organização do trabalho para a interprofissionalidade na saúde mental  
objetivo em comum. Nota-se que a concepção de interdisciplinaridade, por vezes, é confundida  
com o que caracteriza a interprofissionalidade, na medida em que é associada ao trabalho em  
si, com menções ao “trabalho em conjunto”, “trabalho junto em equipe”, “prática que é  
conjunta”, “ações e intervenções”. Por sua vez, a fragilidade da compreensão do termo  
interprofissionalidade também é expressa quando ele é utilizado como sinônimo de  
multiprofissionalidade, ou seja, uma ação que envolve profissionais de categorias distintas, com  
ações isoladas, mas com o mesmo objetivo.  
Esse distanciamento do conceito e dos fundamentos do trabalho interprofissional é  
reforçado pela compreensão de alguns profissionais acerca do desenvolvimento desse modo de  
trabalhar a partir do exercício de atividades isoladas, diante do que compete a cada profissional,  
e não especificamente no desenvolver de um trabalho integrativo e colaborativo. Alguns  
profissionais, mesmo sendo a minoria, apresentam definições que se aproximam mais do que é  
o trabalho interprofissional, ao abordarem a necessidade do trabalho pautado em ações  
conjuntas, colaborativas e com a interação entre os conhecimentos, como apresentado na  
seguinte fala:  
Eu acho que o trabalho interprofissional é a gente entender que aquele  
usuário tem múltiplas necessidades. É se juntar enquanto equipe para pensar  
a terapêutica daquele paciente, para pensar a saúde, os cuidados em saúde  
daquele paciente. É um trabalho que é conjunto. É eu entender que eu tenho  
uma equipe que pode pensar junto comigo o que é melhor para aquele  
paciente (Profissional 12).  
427  
Mesmo que a proposta dos serviços substitutivos seja de ampliar as possibilidades do  
modelo de atenção à saúde mental, essa diversidade na forma de trabalhar, principalmente para  
os(as) profissionais que preferem exercer suas atividades de forma isolada, pode representar  
riscos para os princípios da Reforma Psiquiátrica, uma vez que resgata características  
assistenciais do modelo manicomial, dentre as quais está a retomada do modelo biomédico, sem  
atenção aos aspectos biopsicossociais.  
Costa-Rosa (2013), ao analisar a inserção da interprofissionalidade no campo  
psicossocial, aborda dois elementos importantes para essa discussão: a divisão do trabalho na  
saúde mental e sua relação com a divisão do trabalho na ciência, que, por sua vez, é fruto da  
divisão social e técnica do trabalho do modo de produção capitalista. A partir disso, o autor  
agrupa a variabilidade da divisão do trabalho em dois grupos, os quais ele denomina de “modo  
taylorista” e “integração em profundidade” (Costa-Rosa, 2013).  
O primeiro grupo caracteriza-se pela predominância da psiquiatria, visto que o projeto  
terapêutico é decidido pelo(a) psiquiatra, enquanto os(as) demais profissionais são  
Karina Faustino de Carvalho Tetéo; Edla Hoffmann  
colocados(as) como “auxiliares”. Sua semelhança com o modo de produção taylorista, cujas  
relações verticalizadas estimulam a hierarquia de poder, contribuiu para que o autor  
denominasse esse primeiro grupo de “modo taylorista” (Costa-Rosa, 2013). No segundo grupo,  
ao contrário do primeiro, a integração entre as categorias profissionais é mais evidente e os(as)  
profissionais são distribuídos(as) de acordo com a necessidade de cada caso. A ação coletiva  
está presente nas decisões desde o planejamento até execução. Esse modelo se assemelha mais  
aos pressupostos da Reforma Psiquiátrica que o primeiro grupo, pois amplia o olhar sobre o  
indivíduo a partir dos aspectos psíquicos, sociais e culturais presentes em sua realidade, por  
isso, Costa-Rosa (2013) o denomina de “integração em profundidade”.  
Mediante esse aspecto, observa-se que em alguns dos serviços a integração com o  
psiquiatra ainda é um desafio para a assistência integral à saúde mental. É certo que o lugar  
histórico que a psiquiatria ocupa na atenção à saúde mental, somado às exigências de um novo  
perfil profissional após a Reforma Psiquiátrica, realça críticas direcionadas às práticas dessa  
profissão, porém isso não exclui a necessidade de mudanças que são necessárias nos demais  
núcleos profissionais (Costa-Rosa, 2013), visto que nos serviços de saúde a categoria médica,  
ao longo dos anos, vem sendo dissociada das demais da equipe, cuja denominação aponta para  
“equipe médica” e “equipe multiprofissional ou técnica”, como duas equipes distintas. No  
entanto, não seria o(a) médico(a) também parte da equipe multiprofissional? Ao que parece,  
nos serviços de saúde mental, essa distinção é notória, pois, no cotidiano, essa diferença não  
está apenas na nomenclatura, mas também se apresenta nos espaços de trabalho. Esse fato é  
justificado nas narrativas dos(as) profissionais que trazem relatos de poucas ou nenhuma  
interação entre as duas equipes “Sempre foi um tabu, ainda é um tabu na sociedade integrar  
o médico à equipe” (Profissional 11).  
428  
O desafio de integrar a categoria médica aos(às) demais profissionais, por vezes, aparece  
associado à organização dos processos de trabalho, seja através da forma como é realizada a  
distribuição de horários desses(as) profissionais, sem tempo para planejamento e atividades  
coletivas, seja pela falta de abertura para o trabalho em equipe e/ou pela alta demanda para  
psiquiatria, aspectos que acabam reduzindo o trabalho médico à prática clínica das consultas,  
como expressa a seguinte fala:  
Bom, eu acho que tem duas situações aí: primeiro, que geralmente os  
profissionais, eles têm um horário muito restrito. Segundo, eu percebo que  
essa abertura vai muito realmente do profissional. A gente já trabalhou com  
psiquiatra que tinha essa abertura, que eu achava fundamental, mas não eram  
todos os profissionais que estavam disponíveis pra isso, às vezes por questão  
de tempo, até porque a demanda da psiquiatria é muito expressiva.  
(Profissional 2).  
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As implicações da organização do trabalho para a interprofissionalidade na saúde mental  
A característica que envolve a falta de abertura ou disponibilidade para o trabalho  
interprofissional não aparece como específica da categoria médica, dado que outros(as)  
profissionais também acabam por não desenvolver atividades em equipes, alegam falta de  
tempo ou simplesmente não se identificam com essa proposta de trabalho. A resistência de  
alguns(as) profissionais em trabalhar de forma integrada a outros no exercício da  
interprofissionalidade tende a configurar nos serviços de saúde mental um trabalho fragmentado  
que dificulta a relação e o diálogo entre os(as) profissionais(as). Nesse sentido, concorda-se  
com Costa (2019, p. 49), ao discutir:  
Na realidade do trabalho em saúde, é possível encontrar profissionais aptos e  
implicados com a lógica do trabalho em equipe, da integração das práticas  
profissionais e da colaboração [...] Por outro lado, também é possível perceber  
profissionais de saúde pouco afeitos ao trabalho em equipe, que compreendem  
que a lógica do trabalho em saúde é exatamente essa: cada um fazer o que lhe  
cabe, como forma de defesa das identidades profissionais.  
No esforço de buscar compreender em que situações os(as) profissionais sentem a  
necessidade de colaboração dos(as) outros(as) profissionais, verificam-se situações como:  
momentos de crise ou surto dos(as) usuários(as); casos mais complexos (que trazem risco para  
o indivíduo); que envolvem vulnerabilidade econômica ou outras demandas sociais; que tratam  
da violação de direitos; na realização das atividades em grupos; na conclusão do diagnóstico;  
demandas das linhas de cuidado (no caso, violência contra mulheres e crianças); ou ainda,  
quando ocorrem dúvidas quanto às intervenções clínicas; quando se identificam demandas para  
outros(as) profissionais e/ou quando são necessárias mais informações sobre a realidade do(a)  
usuário(a). Nesse contexto, a Psicologia e o Serviço Social recebem destaque como as  
profissões que conseguem ter uma maior inclinação para o desenvolvimento do trabalho  
interprofissional e que acabam sendo procuradas com maior frequência pelas demais profissões,  
o que não elimina a importância do conjunto das profissões para a realização do trabalho  
interprofissional.  
429  
Tais condições apresentam-se como fatores que podem fragilizar o desenvolvimento  
do trabalho interprofissional mediante os interesses subjetivos de cada profissional, que nem  
sempre coincidem com os interesses coletivos. Desse modo, ao considerar a lógica da  
interprofissionalidade a partir de conceitos como cooperação, práticas colaborativas e trabalho  
em equipe, infere-se que, apesar de ainda pouco presente nas ações dos serviços pesquisados  
que compõem a RAPS, o trabalho interprofissional se apresenta em construção no cotidiano  
desses serviços.  
Karina Faustino de Carvalho Tetéo; Edla Hoffmann  
Esses aspectos contribuem para o fato de que grande parte dos dispositivos encontra-  
se pautada no trabalho multiprofissional, sem necessariamente exercer a interprofissionalidade,  
comprovados nas ações individuais, em que vários profissionais atendem um(a) usuário(a),  
porém sem trocas e ações integradas entre eles(as) e, ainda, através dos desafios para a  
materialização do trabalho interprofissional, que se constituem como importantes limites para  
manutenção dos serviços da RAPS e consolidação das propostas da Reforma Psiquiátrica.  
Nas narrativas apresentadas, um dos desafios colocados para a efetivação da  
interprofissionalidade nos dispositivos de saúde mental do município pesquisado encontra-se  
na ausência de tempo para planejamento e desenvolvimento das atividades, principalmente pela  
dificuldade de os(as) profissionais estarem todos(as) ao mesmo tempo presentes no serviço, o  
que ocorre com aqueles(as) em que a distribuição da carga horária é de 20h, 30h ou 40h  
semanais, mas, principalmente, com aqueles(as) em que os(as) profissionais desenvolvem suas  
atividades em escala de plantões de 12h ou 24h (CAPS AD III e a UPA) e, assim, constituem  
equipes instáveis que nem sempre conseguem articular atividades coletivas, tendo em vista as  
inconstâncias apresentadas, como destacado na fala seguinte: “o principal desafio é conseguir  
aglutinar hoje os profissionais no dia e no horário planejado para as atividades, seja ela de  
estudo de caso, de reunião ou de planejamento das atividades” (Profissional 2).  
Consequentemente, ocorre também que, “Dependendo da situação de cada usuário, a equipe  
percebe que não dá para ficar com intervenções fragmentadas e senta para conversar. Porém,  
fica fragmentado porque só é o grupo que está no dia. E os encaminhamentos, às vezes, não  
tem o reflexo de uma decisão da equipe” (Profissional 2).  
430  
Essa configuração, além de não favorecer o trabalho interprofissional, contribui para  
a descontinuidade da assistência e para o rompimento dos vínculos que, por ora, devem ser  
construídos entre equipe-usuários(as)-instituição. Cabe destacar que uma das principais  
estratégias de trabalho na saúde mental é a proposta de vinculação entre serviço-profissional-  
usuário(a), o que não ocorre nos dispositivos que funcionam com escalas de plantões, tendo em  
vista a inconsistência dos dias e horários de trabalho. Com isso, os espaços de articulações, de  
trocas e de diálogos profissionais, para a realização de estudos de caso, construção de projetos  
terapêuticos e demais ações que favoreçam a ampliação do cuidado em saúde mental, acabam  
sendo limitados pela falta de organização dos processos de trabalho e gestão adequada do  
tempo.  
Soma-se a esse contexto a precarização das condições de trabalho que se apresentam,  
dentre outras formas, através da: sobrecarga de trabalho, precarização das estruturas físicas e  
escassez de recursos materiais para o desenvolvimento das atividades. O primeiro, ocasionado  
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As implicações da organização do trabalho para a interprofissionalidade na saúde mental  
pelo número reduzido de profissionais, acarreta o aumento significativo das demandas  
reprimidas, expressas nas extensas listas de espera de pessoas aguardando atendimento em  
serviços com atendimentos regulados (no caso dos ambulatórios), além das demandas  
reprimidas dos serviços de porta aberta. Esse contexto resulta no adoecimento dos(as)  
profissionais e/ou em limites para execução de atividades que ultrapassem o modelo  
ambulatorial e individual, o que acaba limitando os atendimentos e a qualidade da assistência  
ofertada. Apenas um dos serviços apresentou melhoria nas condições de trabalho nos últimos  
tempos, no entanto, os recursos conquistados somente foram possíveis através da intervenção  
dos profissionais e, principalmente, do Ministério Público, como demonstra a fala da  
profissional: Então tem muitas coisas que conseguimos com esforços próprios ou de pessoas  
que conhecem o serviço e que ajudam. Nunca através da Prefeitura. Através da Prefeitura, só  
se com decisão judicial” (Profissional 13).  
Esses aspectos chamam a atenção para o fato de que a insuficiência de recursos  
materiais e de profissionais para realização das atividades acarreta a ausência delas. A esse  
respeito, um dos profissionais destaca:  
Desde que nós começamos, já enviamos várias listas com relação aos  
materiais que são fundamentais, os básicos, e não tivemos acesso. Então,  
trabalhamos trazendo praticamente o que vamos precisar. Qualquer tipo de  
instrumento que fomos precisar para as nossas intervenções, se não tivermos  
em casa e não trouxermos, nos limitamos muito ao básico do básico  
(Profissional 12).  
431  
Por consequência, o cuidado com a saúde mental acaba centralizado no processo de  
medicalização e retoma o modelo biomédico da psiquiatria, com critérios de diagnósticos  
formulados apenas através dos sintomas físicos, sem compreensão dos aspectos que levam ao  
agravo do adoecimento, como expõe o trecho a seguir: “Eu vejo que as pessoas que  
participavam do grupo, que já estavam mais estabilizadas, às vezes aparecem aqui e surtam.  
Porque elas não estão tendo de fato um acompanhamento, não estão fazendo outras atividades.  
Só estão tomando remédio” (Profissional 7).  
Perante o exposto, a centralidade no uso de medicamentos para atender as demandas  
do adoecimento psicossocial acaba por se tornar agente principal nas ações, o que leva os  
demais profissionais a exercerem papéis secundários na execução das atividades coletivas. Esse  
cenário contradiz as formulações da Reforma Psiquiátrica e da Luta Antimanicomial ao  
concentrar o cuidado nos aspectos patológicos e biológicos, que tendem à medicalização da  
vida social, sem atenção aos fatores biopsicossociais. Logo, essas questões representam um  
grande retrocesso, que vai ao encontro dos interesses representados pelos empresários dos  
Karina Faustino de Carvalho Tetéo; Edla Hoffmann  
hospitais psiquiátricos e da indústria farmacêutica, cujas intenções tendem a limitar o(a)  
usuário(a) ao diagnóstico e à prescrição de medicamentos (Rosa; Guimarães, 2019).  
Além disso, a precarização das condições de trabalho também contribui para a alta  
rotatividade de trabalhadores(as) dos serviços que compõem a rede, o que ocorre por pedidos  
de exonerações, por adoecimento, por afastamento e/ou por remanejamento. Vale destacar que  
muitos desses remanejamentos são realizados pela gestão municipal como forma de suprir a  
necessidade de alguns dispositivos, o que acaba acontecendo em detrimento da composição da  
equipe dos demais serviços.  
Do ponto de vista da gestão, a rotatividade de profissionais configura-se meramente  
como um dimensionamento dos recursos humanos e pode ser vista apenas sob a ótica  
burocrática e administrativa. Porém, no campo assistencial, essas ações, além de deixar equipes  
incompletas, fragilizam a organização dos processos de trabalho e resultam na fragilidade da  
constituição dos vínculos entre trabalhadores(as), usuários(as) e seus familiares, colocando em  
risco a continuidade do cuidado em saúde mental. Consequentemente, também fragilizam a  
construção de autonomia dos(as) usuários(as) diante das suas singularidades e subjetividades.  
Esse cenário expressa as consequências da conjuntura neoliberal com a adoção de um  
projeto de saúde que compromete a qualidade e a continuidade dos serviços prestados no campo  
da saúde mental. Com isso, os desafios apresentados revelam uma série de elementos que  
limitam a efetivação dos princípios da Reforma Psiquiátrica e afirmam o processo de desmonte  
da Política de Saúde Mental no município em questão. A ausência de uma assistência em saúde  
mental mais efetiva, a falta de investimentos em recursos materiais e humanos, a sobrecarga  
profissional diante das altas demandas e equipe reduzidas e a forma como são organizados os  
dispositivos existentes evidenciam um cenário complexo e desafiador para a materialização do  
trabalho interprofissional.  
432  
Em face dessa conjuntura, a discussão sobre educação interprofissional em saúde  
também é parte determinante para o processo de enfrentamento dessa realidade. Bellini e Arena  
(2021) argumentam que reconhecer as contradições que permeiam a atual conjuntura a partir  
de uma formação profissional em saúde que “privilegie o coletivo, o real, o contexto, diminui  
o risco de interpretações caolhas da realidade, de análises despolitizadas ou situadas em um  
mundo que se encerra no aparente e no imediato” (Bellini; Arena, 2021, p. 258). Contudo, a  
pesquisa revela a ausência de momentos de qualificação e educação permanente em saúde,  
somando-se ao fato de os(as) profissionais apresentarem pouca ou nenhuma experiência  
anterior de trabalho na área de saúde mental. A análise da insuficiência desse processo de  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 1, p. 413-438, jan./jun. 2025. ISSN 1980-8518  
As implicações da organização do trabalho para a interprofissionalidade na saúde mental  
formação de profissionais na área de saúde mental pode ser feita com base na seguinte  
declaração:  
Falta capacitação no município com os profissionais que estão aqui no  
serviço. Quem vem para cá tem uma fala quase unânime, que é: ‘a gente  
nunca escolheu vir pra cá, escolheram por nós’, porque não é o que a gente  
quer. Eu não sou capacitada, não fui treinada para isso, eu não tenho  
experiência (Profissional 3).  
Observa-se que a falta de capacitação dos profissionais na área de saúde mental é um  
problema que vem desde a formação acadêmica. Dito isso, no que se refere ao processo de  
formação dos(as) profissionais entrevistados(as), foram considerados para análise dos dados  
aspectos como: as vivências da educação interprofissional nas experiências das graduações,  
pós-graduações, estágios, disciplinas, projetos e programas acadêmicos. Nessa perspectiva,  
apesar de reconhecerem a relevância da interprofissionalidade para o desenvolvimento do seu  
trabalho, apontam as falhas que tiveram no seu processo formativo, tendo em vista a ausência  
de atividades que estimulassem essa metodologia de trabalho e o formato ainda fragmentado e  
individualizado da educação superior na área da saúde. No relato de sua experiência, uma das  
profissionais afirma: “A formação da gente é fragmentada. O meu processo de formação na  
faculdade foi fragmentado. Ninguém falou de contexto integrado, multidisciplinado. Ninguém  
falou!” (Profissional 10). Essa realidade torna-se ainda mais complexa diante dos desafios  
postos tanto pela falta de uma educação interprofissional quanto pela ausência da educação  
permanente em saúde ou pelas próprias limitações dos serviços (estruturais e funcionais).  
Sem dúvidas, a realidade dos dispositivos estudados não se limita aos desafios aqui  
apresentados, pois se compreende que muitos deles estão além do que a realidade aparente  
possa expressar nos achados da pesquisa. Considera-se também que a conjuntura que se inicia  
com a crise do capital, na década de 1970, e que se perpetua até os dias atuais, com a forte  
presença das ideias neoliberais e a significativa banalização dos direitos sociais, traz para a  
saúde mental desafios com proporções maiores do que é possível analisar nesses dados.  
Diante disso, a análise realizada possibilita afirmar que o trabalho interprofissional  
tem potencialidades que aprimoram o trabalho na saúde mental. No entanto, é inegável que ele  
enfrenta diversos obstáculos, uma vez que está inserido em um cenário de mudanças que  
impactam diretamente a sua materialização e limitam a sua efetivação. Esse contexto também  
destaca a necessidade de estratégias que superem a focalização, a fragmentação e a precarização  
que afetam as políticas sociais, incluindo a política de saúde mental.  
433  
Karina Faustino de Carvalho Tetéo; Edla Hoffmann  
Considerações finais  
Observa-se que os modelos de produção capitalista, dentre os quais o fordista-  
taylorista, a acumulação flexível e a recente Era digital (com a presença das TICs), carregam  
em suas características relações de trabalho cada vez mais precarizadas, fragmentadas, baseadas  
na divisão do conhecimento e na subdivisão das profissões, com expressões no intenso processo  
de especialização entre as categorias profissionais e no trabalho individualizado. Essas  
características também impactam na gestão e oferta dos serviços de saúde e na organização dos  
processos de trabalho, cujas relações tendem a ser hierarquizadas e verticalizadas.  
Por essa razão, os aspectos que envolvem o trabalho multiprofissional, e de forma mais  
expressiva os desafios de torná-lo interprofissional, implicam a transformação de estruturas  
institucionais, de valores e hábitos já construídos pelas profissões envolvidas, assim como o  
enfrentamento da precarização e o sucateamento da Política de Saúde, que afetam diretamente  
a sua concretização e efetivação.  
A pesquisa mostrou que, mesmo sendo indispensável nos serviços de saúde mental, o  
trabalho interprofissional esbarra em uma série de desafios e tensionamentos que intensificam  
a compartimentalização do trabalho e, ainda, que muitos profissionais exercem uma atuação  
isolada, sem interação com outros saberes e, consequentemente, sem proximidade com a  
totalidade social que envolve o(a) usuário(a), o que põe em risco a integralidade do  
atendimento.  
434  
Na realidade da RAPS do município estudado, os retrocessos são vivenciados  
diariamente através de iniciativas retrógradas e arbitrárias da gestão municipal, que tendem à  
precarização e ao sucateamento dos serviços de saúde mental. Tais iniciativas são  
manifestações da hegemonia neoliberal que tentam reduzir a importância e a qualidade dos  
serviços públicos, ao mesmo tempo que ampliam a atuação do setor privado. Esses fatores  
abrem espaço para a mercantilização da saúde, submetendo-a às necessidades do mercado,  
mediante a redução de recursos orçamentários para as políticas sociais, o que,  
consequentemente, impacta sobre a não concretização das necessidades em(de) saúde e da não  
efetivação do direito à saúde (Carnut; Ferraz, 2021).  
Acrescentam-se ainda os inúmeros desafios que contrariam as normativas legais e  
constituem-se como fatores limitantes para o trabalho interprofissional nos serviços de saúde  
mental do município. Dessa forma, foi possível constatar que esses serviços, apesar de serem  
compostos por equipes multiprofissionais, nem sempre vão desenvolver um trabalho  
interprofissional, pois os desafios tendem a favorecer práticas isoladas, com pouca ou nenhuma  
interação entre os(as) profissionais.  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 1, p. 413-438, jan./jun. 2025. ISSN 1980-8518  
As implicações da organização do trabalho para a interprofissionalidade na saúde mental  
Este estudo mostra ainda que, apesar de reconhecer a importância do trabalho  
interprofissional para assistência à saúde das pessoas em sofrimento psicossocial, alguns(as)  
profissionais apresentam uma concepção equivocada e confusa sobre interprofissionalidade ou  
trabalho interprofissional que, por vezes, se confunde com interdisciplinaridade ou  
multiprofissionalidade. Esse aspecto pode ser visto como consequência do forte processo de  
fragmentação herdado da divisão social e técnica do trabalho, que resultou em uma formação  
profissional baseada em ações individualizadas e com ausências de projetos educacionais que  
incentivem a interprofissionalidade.  
Muitos desafios podem ser vivenciados no percurso que contempla o trabalho  
interprofissional nos serviços de saúde, uma vez que não basta propor iniciativas para o  
fortalecimento dessas práticas nos serviços existentes e reconhecê-la como uma das formas de  
superar as ações fragmentadas e reducionistas na esfera da saúde. Torna-se necessário, também,  
pensar em estratégias que assegurem o desenvolvimento da interprofissionalidade no contexto  
de enfrentamento à ordem societária que amplia e mantém a fragmentação e divisão do  
conhecimento e do trabalho em saúde.  
Diante desse cenário, os(as) profissionais(as) envolvidos(as) necessitam, para além da  
compreensão da totalidade que abarca o(a) usuário(a), compreender os fenômenos que  
envolvem a atual conjuntura da sociedade brasileira, ainda engrenada por ideais neoliberais que  
tendem à precarização das políticas sociais e à opressão dos direitos humanos. Nesse sentido, a  
compreensão acerca da interprofissionalidade exige a apreensão dos aspectos que influenciam  
historicamente as relações de trabalho, considerando que o modelo de produção capitalista  
incide diretamente no tipo de relação que o ser humano vem estabelecendo com os seus meios  
e instrumentos de produção e, principalmente, com o produto do seu trabalho.  
435  
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