Elida Janaina Barbosa Rodrigues Pimentel; Luana Cavalcante Pinho
ditames do capital, sob pena de perderem seus investimentos caso não se atentem às regras do
metabolismo do capital. Dessa maneira, todas as áreas da atividade humana passam a ser
guiadas por objetivos externos, e que não são necessariamente funcionais à reprodução da vida,
mas que certamente atendem à dinâmica reprodutiva do capital.
Ao fim e ao cabo, a razão de ser do sistema do capital é a máxima extração de trabalho
excedente, justamente porque este “é orientado pela expansão e movido pela acumulação”
(Mészáros, 2011, p. 100). Atender a esta condição coloca o sistema do capital numa posição
dual: de um lado, e enquanto puder cumprir a dinâmica de expansão ascendente, torna-se um
sistema de controle sociometabólico irresistível por conta do salto que proporciona na esfera
produtiva; de outro lado, ao deparar-se com qualquer obstáculo à plena acumulação,
desencadeia crises. Ao longo do desenvolvimento do sistema do capital, a expansão das
operações para novos territórios ajudou a deslocar esta lógica dual e contraditória,
[...] liberando a pressão dos “gargalos” na expansão do capital com a abertura
de novas rotas de suprimento de recursos humanos e materiais, além de criar
as necessidades de consumo determinadas pela continuidade da
autossustentação, em escala cada vez maior, do sistema de reprodução
(Mészáros, 2011, p. 257).
Assim, segundo Mészáros (2011), a globalização tende a deslocar temporariamente as
contradições imanentes ao sistema do capital. Contudo, este subterfúgio não conseguiu ser
usado ad eternum. A partir do fim da década de 1960, e início dos anos 1970, tem-se observado
um processo de decréscimo contínuo das taxas globais de acumulação do capital, o que leva o
nosso autor a constatar que
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[...] além de certo ponto, de nada adianta um aumento maior dessa escala e a
usurpação da totalidade dos recursos renováveis e não renováveis que o
acompanha, mas, ao contrário, ele aprofunda os problemas implícitos e se
torna contraproducente. É o que se deve entender por ativação do limite
absoluto do capital com relação à maneira como são tratadas as condições
elementares de reprodução sociometabólica (Mészáros, 2011, p. 257).
Este é, segundo o autor, um dos traços mais problemáticos da forma como o capital se
reproduz, pois apesar de sua capacidade produtiva ampliada quando comparado aos modos de
produção anteriores e de sua capacidade de a tudo subordinar aos seus interesses, o capital é
incapaz de dar a devida importância às causas, tratando paliativamente apenas os efeitos dos
problemas que gera. Nesse sentido, os avanços do sistema do capital deixam um rastro
destrutivo pelo caminho e, ao serem ativados os seus limites absolutos, apresentam-se
consequências quase proibitivas à reprodução da vida no planeta, justamente porque estes
dizem respeito à estrutura causal do capital, cuja superação consiste em derruir toda a forma de
funcionamento do sistema. Incapaz de superar suas próprias contradições, o sistema do capital
Libertas, Juiz de Fora, v. 24, n. 2, p. 473-496, jul./dez. 2024. ISSN 1980-8518