Renato de Brito Gomes
depressivo sobre a acumulação” (Chesnais, 1996, p. 304). Reconhecia-se um modo de
funcionamento do capitalismo como uma “longa crise rastejante” (Chesnais, 1995, p. 2).
A mundialização caracteriza-se por determinações que envolvem o capital industrial,
comercial e monetário, seria “uma fase específica de um processo muito mais longo de
constituição do mercado mundial em primeiro lugar e, depois, de internacionalização do capital,
primeiro sob sua forma financeira e, em seguida, sob sua forma de produção no exterior”
(Chesnais, 1995, p. 6). No início do livro é encontrado uma leitura de Marx que tende a
estruturar a valorização hegemonizada pelo capital industrial que aos poucos vai reconhecendo
o lugar central dos “mercados financeiros”. Embora as três formas fenomênicas sejam
importantes para a precisão da mundialização, em grande medida apresenta-se “como mais uma
etapa no processo de internacionalização do capital produtivo” (Nakatani, Marques, 2009, p.
3).
A incorporação de elementos da economia política marxista parece ter levado o
economista a um novo lugar sobre o reconhecimento do papel das finanças, passando a falar de
um “regime de acumulação com dominação financeira” (Chesnais, 1997). O central era
perceber que “o movimento da acumulação e seu conteúdo econômico e social concreto seriam
moldados pelas posições econômicas e sociais, concedidas a (…) aquela designada por Marx
no livro III de O capital sob a expressão “capital portador de juros” (Chesnais, 2002, p. 4).
398
O mundo contemporâneo apresenta uma configuração específica de
capitalismo, no qual o capital portador de juros está localizado no centro das
relações econômicas e sociais. As formas de organização capitalista mais
facilmente identificáveis permanecem sendo os grupos industriais
transnacionais (…), os quais têm por encargo organizar a produção de bens e
serviços, captar o valor e organizar de maneira direta a dominação política e
social do capital em face dos assalariados. Mas a seu lado, menos visíveis e
menos atentamente analisadas, estão as instituições financeiras bancárias, mas
sobretudo as não bancárias, que são constitutivas de um capital com traços
particulares. Esse capital busca “fazer dinheiro” sem sair da esfera financeira,
sob a forma de juros de empréstimo, de dividendos e outros pagamentos
recebidos a título de posse de ações e, enfim, lucros nascidos da especulação
bem-sucedida (Chesnais, 2005, p. 35).
Para chegar-se a tal situação foi preciso um decorrer histórico que contou com a ajuda
de Estados (liberalização dos fluxos de capital) como um enorme processo de centralização de
“fundos líquidos não reinvestidos das empresas e das poupanças das famílias” (Chesnais, 2005,
p. 35-6). Ocorreu uma “acumulação financeira” (relacionada aos lucros do período fordista)
que acabou por levar ao atual estágio.
A soberania das finanças levou a uma intensificação da centralização do capital que é
assessorada pelos grandes investidores financeiros e seus representantes. O capital consegue
Libertas, Juiz de Fora, v. 24, n. 2, p. 387-403, jul./dez. 2024. ISSN 1980-8518