Visões seminais do capitalismo contemporâneo:  
aproximações e distanciamentos  
Seminal views of contemporary capitalism: similarities and differences  
Renato de Brito Gomes*  
Resumo: O artigo expõe algumas das visões  
seminais do funcionamento do capitalismo  
Abstract: The article presents some seminal  
views on the functioning of contemporary  
capitalism. The aim is to highlight the  
similarities and differences among the major  
works of authors within the scope of Marxist  
political economy: Ernest Mandel, István  
Mészáros, David Harvey, and François  
Chesnais. It concludes that similarities and  
differences can be identified regarding the use  
of categories from the “regulation school,” in  
relation to the notions of equilibrium/imbalance  
and stability/instability, in characterizing the  
crisis of contemporary capitalism and whether  
it has encountered insurmountable barriers to  
the development of productive forces and,  
ultimately, to the power of finance. Considering  
these themes, the article seeks to present each  
author’s perspective and frame them within  
specific parameters where convergences and  
divergences are explored, as well as the  
elements supporting them.  
contemporâneo.  
A
intenção  
é
notar  
aproximações e distanciamentos entre as  
principais obras de autores no âmbito da  
economia política marxista: Ernest Mandel,  
István Mészáros, David Harvey e François  
Chesnais. Conclui-se que as similitudes e  
diferenças podem ser apontadas no que diz  
respeito ao uso das categorias da “escola da  
regulação”, em relação  
equilíbrio/desequilíbrio  
à
noção de  
e
estabilidade/instabilidade, na caracterização da  
crise do capitalismo contemporâneo e sobre o  
fato dele ter encontrado ou não barreiras  
intransponíveis ao desenvolvimento das forças  
produtivas e, por fim, ao poder das finanças.  
Considerando estas temáticas, procura-se expor  
a leitura de cada autor e enquadrá-las dentro de  
determinados parâmetros em que são buscadas  
convergências e divergências, bem como  
apontados os elementos que as embasam.  
Palavras-chaves:  
Contemporâneo; Ernest Mandel; István  
Mészáros; David Harvey; François Chesnais.  
Capitalismo  
Keywords: Contemporary capitalism; Ernest  
Mandel; István Mészáros; David Harvey;  
François Chesnais.  
*
Economista. Mestre em Serviço Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Doutorando em  
Serviço Social pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). ORCID: https://orcid.org/0009-0000-3978-  
8999. O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível  
Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001.  
DOI: 10.34019/1980-8518.2024.v24.45429  
Esta obra está licenciada sob os termos  
Recebido em: 30/07/2024  
Aprovado em:21/11/2024  
Renato de Brito Gomes  
Introdução  
Neste artigo expõe-se algumas das visões seminais do funcionamento do capitalismo  
contemporâneo. A intenção será notar aproximações e distanciamentos entre leituras de autores  
no âmbito da economia política marxista: Ernest Mandel, István Mészáros, David Harvey e  
François Chesnais.  
Ressalta-se que não serão analisadas a integralidade das obras e sim as produções de  
maior fôlego e que, simultaneamente, inspiraram e ainda inspiram maior número de estudos e  
debates no Serviço Social. Em relação a E. Mandel debruça-se sobre O Capitalismo Tardio  
(1982) e A crise do capital (1990); no caso de I. Mészáros é incontornável a análise de Para  
além do capital (2011a); já em D. Harvey aborda-se de forma central Condição pós-moderna  
(1992); e, por fim, detêm-se em A mundialização do capital (1996) e outros textos de F.  
Chesnais que vão na direção de mostrar a ampliação do poder das finanças.  
Afirma-se de antemão que a intenção não é congregar as quatro análises em uma  
tentativa de construção de uma síntese fechada que descreveria com perfeição o capitalismo  
contemporâneo. Tal tarefa parece ser em verdade impossível. Isto, contudo, não pode levar a  
pensar que tais análises, embora marcadas por alguns distanciamentos que serão apresentados,  
também não possuam importantes aproximações que podem levar a considerações mais ou  
menos seguras sobre a dinâmica atual do capital.  
388  
Desta forma, ao fim do artigo busca-se comparar as posições dos autores sobre  
problemáticas presentes nas discussões da economia política contemporânea. Uma diz respeito  
ao valor heurístico da noção de equilíbrio e de desequilíbrio, outra fala sobre quais são de fato  
as dimensões da crise contemporânea do capital e se, por outro lado, ele já haveria encontrado  
limites intransponíveis ao seu desenvolvimento. Por fim, aponta-se também como a percepção  
dos fenômenos ligados as finanças vão paulatinamente ganhando maior peso nas leituras.  
A onda longa com tonalidade regressiva: a leitura de Mandel  
Ernest Mandel realiza uma apurada apreensão da dinâmica capitalista do século XX.  
Demonstra-se como foi um pioneiro na percepção do fim dos “anos gloriosos” do pós-segunda  
guerra em que a economia passaria a um período longo de crise.  
A chave heurística de sua análise é a noção de desequilíbrio, sendo que alertava que os  
esquemas de reprodução do Livro 2 d’O capital (2014) têm como função demonstrar que o  
capitalismo pode existir de forma sustentável por longo prazo. Deles não deriva uma noção de  
que a economia tem sua dinâmica a partir de sucessivos equilíbrios. O movimento do capital  
leva à existência de “desequilíbrios constantes” (Mandel, 1982, p. 17).  
Libertas, Juiz de Fora, v. 24, n. 2, p. 387-403, jul./dez. 2024. ISSN 1980-8518  
Visões seminais do capitalismo contemporâneo: aproximações e distanciamentos  
O desenvolvimento do capitalismo depende de algumas variáveis parcialmente  
independentes (Mandel, 1982, p. 25-7) e os superlucros são um elemento particularmente  
importante. No capitalismo tardio estão associados as inovações técnicas – que “permite[m] a  
redução do uso da força de trabalho relativamente ao capital e promove a elevação da  
produtividade do trabalho” (Silva; Araújo; Duarte, 2022, p. 60) – e podem ser auferidos de  
forma prolongada, daí a existência de duas taxas de lucro. As “rendas tecnológicas” são obtidas  
por inovações da terceira revolução industrial, em que ocorre uma “fusão da ciência, tecnologia  
e produção” (Mandel, 1982, p. 151).  
Aspecto conhecido em Mandel é a incorporação crítica da teoria das ondas longas,  
conhecidas pelas formulações de N. Kondratiev (Araujo, 2001). O capitalismo passaria por  
movimentos cíclicos menores (entre 7 e 10 anos) e outros de aproximados 50 anos, estes mais  
importantes para a sua periodização. Houve a onda inicial que compreende a revolução  
industrial, o momento posterior marcado pela crise de 1847 até 1890 (primeira revolução  
tecnológica), o período que segue até a Segunda Guerra Mundial, influenciado pela segunda  
revolução tecnológica, seguido pelos anos após a segunda guerra até o fim da década de 1960,  
marcados pela terceira revolução tecnológica para, por fim, chegarmos a atual onda regressiva  
(Mandel, 1982, p. 83-4/92-3).  
Sem a compreensão do capitalismo tardio perdem-se determinações que elucidam o  
período posterior. Inicialmente aponta-se a redução de custos associada ao planejamento como  
uma tônica, que ocorreu em termos empresariais, mas, também, através de medida  
macroeconômicas, em que havia tentativas de “controle” da demanda e da oferta com o Estado  
sendo ente central. Adicionalmente, tem-se uma centralização do capital onde “a empresa  
multinacional tornou-se a forma organizativa determinante” (Mandel, 1982, p. 223).  
A supercapitalização é abordada para entender a penetração do capital na esfera da  
circulação, da reprodução e dos serviços, em que é associada à existência de capitais excedentes  
que não encontram investimentos rentáveis à taxa média de lucros (Mandel, 1982, p. 272). Isto  
é, o “capital industrial que não encontrava valorização na própria indústria foi o pré-requisito  
essencial para a expansão dos serviços” (Silva; Araújo; Duarte, 2022, p. 62).  
389  
A dinâmica dos ciclos e das crises são fornecidas por mecanismos causais parcialmente  
independentes. No entanto, em conjunto têm “sua expressão mais clara no movimento cíclico  
da taxa média de lucro”, reflexo das contradições de “todos os momentos do processo de  
produção e reprodução” (Mandel, 1982, p. 309). Não há monocausalidade, trata-se apenas de  
um indicador que pelos seus determinantes representa um momento de síntese.  
Renato de Brito Gomes  
A onda do pós-guerra é reflexo de um aumento da taxa média de lucro. Contudo, não  
poderia ser explicada sem uma menção a relação de forças, tanto o fascismo como a guerra  
possibilitaram um incremento na taxa de exploração. Assim, o “que determina os pontos de  
viragem de expansão e estagnação é a condição geral da luta de classes” (Behring, 2015, p. 41).  
Em relação à inflação tem-se que sua função no período foi gerar estabilidade pelo  
mecanismo da expansão de crédito, que visava intervir sobre o problema da realização do valor  
através da expansão dos meios de pagamentos. Existia uma autonomia relativa entre o “ciclo  
industrial” e o “ciclo do crédito”. Quando havia dificuldade na venda de mercadorias ocorria  
uma “relativamente autônoma” ampliação do crédito (Mandel, 1982, p. 309-32).  
Enfim, a economia dava sinais de estagnação, isto era sintetizado pela queda da taxa  
média de lucro no fim dos anos 1960, expressando novas determinações do capitalismo  
(Mandel, 1982, p. 48-50). Ocorria “[...] a transição de uma ‘onda longa com tonalidade  
basicamente expansionistaa uma ‘onda longa com tonalidade basicamente de estagnação’, por  
volta dos anos 1966/67” (Mandel, 1982, p. 126). Assim, “uma solução temporária para o  
problema da centralização internacional do capital só pode ser conseguida às expensas da classe  
operária” (Mandel, 1982, p. 240). O que o leva a concluir que “nos próximos anos um aumento  
(...) [da taxa de lucro] só pode ser assegurado pela elevação da taxa de mais-valia, ou seja, por  
uma exploração intensificada da classe operária” (Mandel, 1982, p. 240).  
390  
A transição de uma “onda longa com tonalidade expansionista” para uma  
“onda longa com tonalidade de estagnação” está hoje intensificando a luta de  
classes internacional. O principal objetivo da política econômica burguesa não  
é mais anular os antagonismos sociais, mas sim descarregar sobre os  
assalariados os custos do reforçamento de cada indústria capitalista nacional  
na luta concorrencial. O mito do pleno emprego permanente está se  
desvanecendo. (…) A luta pela taxa de mais-valia desloca-se para o centro  
dinâmico da economia e da sociedade (Mandel, 1982, p. 332).  
A economia experimenta um período de estagnação e crises. As crises “não são nem o  
resultado do acaso nem o produto de elementos exógenos”, derivam da “lógica imanente do  
sistema – embora fatores exógenos ou acidentais desempenhem evidentemente um papel nas  
particularidades de cada ciclo” (Mandel, 1990, p. 7). Eventos singulares não podem ser os  
elementos explicativos, “para que o detonador cumpra seu papel de catalisador, é preciso que  
toda uma série de pré-condições componentes de uma situação de crise estejam presentes”  
(Araujo, 2014, p. 111).  
Ainflação aumentou nos anos 1970 e os principais países capitalistas aplicaram políticas  
de austeridade. Engendram aquilo que Mandel (1990, p. 13) denominou como “sincronização  
internacional do ciclo industrial” em um momento depressivo. Passavam a existir “dificuldades  
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Visões seminais do capitalismo contemporâneo: aproximações e distanciamentos  
crescentes para o capital em compensar a elevação da composição orgânica do capital por uma  
alta contínua da taxa de mais-valia”, em que decorre uma redução da taxa média de lucro que  
“termina por determinar a inversão da ‘onda longa’” (Mandel, 1990, p. 27). Torna-se límpida a  
explicação da crise através do movimento do capital e sua lógica de valorização.  
Havia um elemento gerador de desordem que contribuía para a estagnação: “os grandes  
movimentos internacionais especulativos de capitais flutuantes” (Mandel, 1990, p. 86). Atentou  
para tais fenômenos e suas consequências para o ciclo econômico, em que o movimento é  
gerado principalmente pela atuação das multinacionais no mercado financeiro. Alertava que  
“em períodos de crise, o poderio do capital financeiro, exercido frequentemente de maneira  
direta pelos bancos, cresce desmesuradamente” (Mandel, 1990, p. 187).  
São levantados argumentos sobre se haveria alguma indicação de quando este ciclo de  
estagnação se esgotaria ou mesmo se o capitalismo poderia experimentar novamente um ciclo  
expansivo. A resposta parece ser negativa para ambas (Mandel, 1990, p. 77 e 73), contudo, não  
existe “um calendário de ascensão e crise do capital” (Behring, 2015, p. 41).  
A crise estrutural do capital: a interpretação de Mészáros  
Nesta seção expõe-se as contradições que levam István Mészáros a afirmar que a partir  
da década de 1970 o sociometabolismo do capital passa a esbarrar em limites estruturais,  
advindo daí sua caracterização de crise estrutural. Para Mészáros (2011a, p. 606) o elemento  
diferencial do sistema do capital foi “[...] a completa subordinação das necessidades humanas  
à reprodução do valor de troca – no interesse da autorrealização ampliada do capital”. O autor  
afirma que o capitalismo consegue “separar o valor de uso do valor de troca, sob a supremacia  
do último”, e assim ocorre que “as limitações das necessidades dadas não tolhiam seu  
desenvolvimento” (Mészáros, 2011a, p. 606). Além disso, há uma “disjunção entre produção  
para as necessidades sociais e a autorreprodução do capital” (Maranhão, 2010, p. 629).  
A “taxa de utilização descrente no capitalismo” é ponto central, estaria já “diretamente  
implícita nos avanços realizados pela própria produtividade” (Mészáros, 2011a, p. 639) e tem  
expressão nas formas de consumo. A necessidade de reprodução faz com exista uma premência  
ao descarte prematuro “muito antes de esgotada sua vida útil” (Mészáros, 2011a, p. 640). Isto  
é, “o que é verdadeiramente vantajoso para a expansão do capital não é um incremento na taxa  
(ou no grau) com que uma mercadoria (…) é utilizada e sim, pelo contrário, o decréscimo de  
suas horas de uso diário” (Mészáros, 2011a, p. 661).  
391  
Manifesta-se na produção atrelada a uma “subutilização crônica” do maquinário que  
tem seu período de amortização diminuído. As inovações tecnológicas são um elemento  
Renato de Brito Gomes  
relevante e aponta um encurtamento no ciclo de substituição do capital fixo. Influencia no uso  
da força de trabalho socialmente disponível através do fenômeno do desemprego. Enfim, “[...]  
a taxa de utilização decrescente é uma das leis tendenciais mais importantes e abrangentes do  
desenvolvimento capitalista” (Mészáros, 2011a, p. 675).  
A explicação do sociometabolismo do capital já foi realizada através da categoria de  
“persona do capital”, destacando seus “elementos objetivos e sistêmicos (…) [que] não mudam  
com o mudar de nome das personas e precisam estar presentes para a perpetuação do sistema  
do capital e a sustentação da lei do valor” (Polese, 2016, p. 48), os capitalistas seriam  
“personificações do capital” (Lambertucci; Ersina, 2022, p. 11). Levado às últimas  
consequências, tal argumento indica que “o sistema do capital é singular na história também no  
sentido em que é, na verdade, um sistema de controle sem sujeito. As determinações e os  
imperativos objetivos do capital sempre devem prevalecer contra os desejos subjetivos”  
(Mészáros, 2011a, p. 125).  
Alerta sobre a incontrolabilidade do capital e embora chegue a mencionar o equilíbrio  
como uma contratendência do desequilíbrio (Mészáros, 2011a, p. 653), não há espaço para um  
capitalismo harmonioso (Mészáros, 2011a, p. 662). Tem-se um “metabolismo social anárquico  
e incontrolável” em que “o capital global não se subordina a qualquer noção de equilíbrio”  
(Arbia, 2015, p. 140).  
392  
A linha de menor resistência coloca “em movimento não apenas grandes potenciais  
produtivos, mas também, simultaneamente, forças maciças tanto diversificadas como  
destrutivas” (Mészáros, 2011a, p. 676). A adoção das “práticas capitalistas viáveis” leva a  
desperdícios e a destruição, em suma “transforma as potencialidades das forças produtivas em  
realidades destrutivas” (Rabelo; Segundo, 2004, p. 45). A produção passa a ser “genuinamente  
orientada para o consumo destrutivo” (Mészáros, 2011a, p. 678), em que impera uma  
“irracionalidade no intercâmbio homem/natureza” que converte “as potencialidades da  
emancipação genérica em relação ao ser natural em exploração predatória” (Arbia, 2015, p.  
150). Os elementos destrutivos não abrem espaço para a superação das crises. A tendência  
destrutiva “se torna então modelo de normalidade para a vida cotidiana de todo o sistema”  
(Mészáros, 2011a, p. 693).  
A existência de crises no capitalismo não é algo estranho, nesses momentos ocorre uma  
reorganização de forma a recompor o quadro da acumulação. Em contraste, a atual crise  
estrutural seria determinada por quatro pontos: i) sua amplitude é universal, não se restringe a  
esfera financeira, comercial ou produtiva; ii) estende-se a todo o globo; iii) sua duração no  
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Visões seminais do capitalismo contemporâneo: aproximações e distanciamentos  
tempo é prolongada, contínua e não cíclica; iv) não teria caráter cataclísmico ou ou colapsante,  
seria marcada por um “modo rastejante” (Mészáros, 2011a, p. 795-6).  
Ocorre um “esgotamento do modo de intercâmbio e controle humano sobre as forças da  
natureza desenvolvido sob a égide do capital” (Maranhão, 2010, p. 629), este inconveniente  
“não é (...) tecnológico, mas social” (Rabelo; Segundo, 2004, p. 44). Em uma crise convencional  
o capital busca o manejo das contradições, encontra saídas que amenizam os impasses para a  
acumulação a curto prazo, portanto “o deslocamento das contradições só é possível enquanto a  
crise for parcial, relativa”. O raciocínio leva à conclusão que “uma crise estrutural não está  
relacionada aos limites imediatos mas aos limites últimos de uma estrutura global” (Mészáros,  
2011, p. 797).  
Antes havia “limitações imediatas” que são restrições a alguma dimensão do capital,  
não a sua integralidade, portanto “não pode haver qualquer crise estrutural enquanto este  
mecanismo vital de autoexpansão (…) continuar funcionando” (Mészáros, 2011a, p. 798). No  
novo cenário, “as perturbações e ‘disfunções’ antagônicas, ao invés de serem (...) desarmadas,  
tendem a se tornar cumulativas e (…) estruturais, trazendo com elas um perigoso bloqueio (...)  
de deslocamento das contradições.” Assim, “aquilo com o que nos confrontamos não é mais  
simplesmente ‘disfuncional’, mas potencialmente muito explosivo” (Mészáros, 2011a, p. 800).  
Desdobra sua leitura para a política indicando que a ruína do Estado de bem-estar já  
seria um reconhecimento da crise, haveria uma “crise estrutural de todas as instituições  
políticas”. Afirma que “a crise estrutural do capital se revela como uma verdadeira crise de  
dominação em geral” (Mészáros, 2011a, p. 800). Ressalta ainda “o fato acautelador de que  
qualquer intervenção no campo político – mesmo quando visa a derrubada radical do Estado  
capitalista – terá influência muito limitada na realização do projeto socialista” (Mészáros,  
2011a, p. 125). Existem leituras que afirmam que “a ‘autonomia’ do Estado frente as  
necessidades objetivas da reprodução sociometabólica do capital torna-se um sonho belo”  
(Lambertucci; Ersina, 2022, p. 17), não haveria espaço para uma atuação política não  
integralmente determinada pela imanência do capital.  
393  
Avaliando a crise de 2007/8 Mészáros afirmou que ela se tornaria “muito mais profunda,  
no sentido de invadir não apenas o mundo das finanças globais (…), mas também todos os  
domínios da nossa vida social, econômica e cultural” (Mészáros, 2011b, p. 17). Relacionando  
a sua leitura alertava que o ano de 2007 era “um prenúncio do que eu tinha em mente. Mas  
apenas um prenúncio, porque a crise estrutural do sistema do capital como um todo (…) está  
destinada a piorar consideravelmente” (Mészáros, 2011b, p. 17).  
Renato de Brito Gomes  
A acumulação flexível: o edifício teórico de Harvey  
Nosso interesse central na obra de David Harvey consiste naquilo que denominou por  
período de acumulação flexível, através de categorias da escola da regulação utiliza as  
terminologias de “regime de acumulação” e “modo de regulamentação” (Harvey, 1992, p. 118).  
Estas influências o fazem focar em aspectos de relativa estabilidade. No entanto, a leitura ampla  
de sua obra torna perceptível que para o autor crises são fenômenos recorrentes e “inerentes  
desse modo de produção” (Silva, 2012, p. 193). Há “uma teoria da possibilidade da crise – e  
não uma teoria da necessidade da crise” (Andrade; Palludeto, 2013, p. 573) já que considera  
“relações que permitem estabilizar, harmonizar e dar coerência, ainda que temporária, à forma  
disruptiva da reprodução capitalista” (Couto, 2014, p. 199).  
O “regime de acumulação flexível” está relacionado e em oposição ao “regime de  
acumulação fordista-keynesiano”. Os “anos de ouro” são caracterizados pelo fato de que “[...]  
o fordismo se aliou firmemente ao keynesianismo, e o capitalismo se dedicou a um surto de  
expansões internacionalistas de alcance mundial” (Harvey, 1992, p. 125). Foi possível devido  
a reposicionamentos de atores da economia capitalista: o Estado, os trabalhadores organizados  
e o grande capital corporativo. O que distinguia o fordismo foi  
[...] seu reconhecimento explícito de que produção de massa significava  
consumo de massa, um novo sistema de reprodução da força de trabalho, uma  
nova política de controle e gerência do trabalho, uma nova estética e uma nova  
psicologia, em suma, um novo tipo de sociedade democrática (Harvey, 1992,  
p. 121).  
394  
Percebe sinais da crise no final dos anos 1960, em que ressalta que “a queda da  
produtividade e da lucratividade corporativas depois de 1966 marcou o problema fiscal nos  
Estados Unidos que só seria sanado às custas de uma aceleração da inflação”. No período entre  
1965 e 1973 começava a ficar explícita “a incapacidade do fordismo e do keynesianismo de  
conter as contradições inerentes do capitalismo” (Harvey, 1992, p. 135). Reconhece a queda da  
produtividade e da taxa média de lucro, no entanto não seriam estes os detonadores da mudança.  
O período da crise significava que “[...] na superfície, essas dificuldades podem ser  
melhor apreendidas por uma palavra: rigidez” (Harvey, 1992, p. 135). Isto ocorre em relação  
aos sistemas produtivos, aos mercados, nos gastos do Estado etc. O único elemento “flexível”  
era a política monetária, advindo daí sua explicação do fenômeno inflacionário que  
incrementava o processo de ruína do fordismo. A determinação central estaria relacionada “[...]  
a profunda recessão de 1973 (…) [que] pôs em movimento um conjunto de processos que  
solaparam o compromisso fordista” (Harvey, 1992, p. 140). A crise de 1973 é o detonador que  
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Visões seminais do capitalismo contemporâneo: aproximações e distanciamentos  
encerra o fordismo e dá início a um novo “regime de acumulação”, ao qual denomina de  
acumulação flexível.  
A acumulação flexível (…) é marcada por um confronto direto com a rigidez  
do fordismo. Ela se apoia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos  
mercados de trabalho, dos produtos e padrões de consumo. Caracteriza-se pelo  
surgimento de setor da produção inteiramente novos, novas maneiras de  
serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente  
intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional (Harvey,  
1992, p. 140).  
O novo regime de acumulação “parece implicar níveis relativamente altos de  
desemprego ‘estrutural’” (Harvey, 1992, p. 141). Ocorre também o “crescente uso do trabalho  
em tempo parcial, temporário ou subcontratado” (Harvey, 1992, p. 143), a tendência seria a de  
“reduzir o número de trabalhadores ‘centrais’ e empregar cada vez mais força de trabalho que  
entre facilmente e é demitida sem custos quando as coisas ficam ruins” (Harvey, 1992, p. 144).  
A acumulação flexível impõe uma produção por demanda e restitui a possibilidade de  
“pequenas fábricas” e de formas de produção “pré-capitalistas”, agora na ponta do processo de  
valorização. A nova flexibilidade permite ao capitalismo acomodar-se a tempos de crise  
intensificando o volume de inovações e explorando novos nichos de mercado. Um dos  
mecanismos para amenizar os efeitos da crise foi a diminuição do tempo de giro do capital,  
associado aos novos métodos de produção que também leva a uma espécie de “intensificação  
do consumo”. Estes processos “parecem estar na base de um notável aumento proporcional do  
emprego no setor de serviços a partir do início dos anos 70” (Harvey, 1992, p. 148).  
Ocorre uma reconfiguração do sistema financeiro global existindo uma sólida  
capacidade de coordenação advinda dos poderes da classe que opera tal processo. A  
flexibilidade começa a entrar no mundo das finanças na década de 1970 e ganha fôlego nos  
anos de 1980, passando a ser condição para a inserção dos países no fluxo internacional de  
capitais.  
395  
Os novos sistemas financeiros implementados a partir de 1972 mudaram o  
equilíbrio de forças em ação no capitalismo global, dando muito mais  
autonomia ao sistema bancário e financeiro em comparação com o  
financiamento corporativo, estatal e pessoal. A acumulação flexível  
evidentemente procura o capital financeiro como poder coordenador mais do  
que o fordismo o fazia. Isso significa que a potencialidade de formação de  
crises financeiras e monetárias autônomas e independentes é muito maior do  
que antes (Harvey, 1992, p. 155).  
Sobre a teorização da passagem entre os “regimes de acumulação”, Harvey (1992, p.  
164) admite que a escola de regulação empreende “pouco ou nenhum esforço”, já o autor faz a  
dinâmica das crises depender de um processo de superacumulação (Harvey, 1992, p. 170-1).  
Em obra anterior constrói uma tentativa de explicação das crises investigadas através do que  
Renato de Brito Gomes  
denominou como “três recortes” (Harvey, 2013). O primeiro associado às contradições entre o  
desenvolvimento das forças produtivas e as relações sociais de produção; o segundo envolve a  
relação entre os ciclos econômicos e a lógica do capital fictício; o último diz respeito à tentativa  
de integração entre geografia e o desenvolvimento desigual. Não se tratam de demarcações que  
ocorrem linearmente no tempo, o “capital enfrenta as crises de superacumulação, financeiras e  
geográficas conjugadamente”, uma melhor aproximação seria a de que existem “camadas’  
reveladas na estrutura do capitalismo” (Botelho, 2014, p. 100).  
A dinâmica econômica seria marcada por cinco momentos: a estagnação, a recuperação,  
a expansão baseada no crédito, a febre especulativa e o crash (Harvey, 2013, p. 448-53). Existe  
um esforço de teorizar sobre os elementos que levam a concretização de uma crise. O que não  
há é a construção de como esses mecanismos mais gerais se aplicariam no caso singular da  
transição da acumulação fordista para a acumulação flexível.  
Por fim, ainda que faça da taxa de lucro um dos elementos da explicação da dinâmica  
da acumulação, não incorpora a análise da queda da taxa de lucro no longo prazo. No caso dessa  
lei geral, Marx teria apresentado contratendências em uma “lista (…) tão longa que torna a  
explicação de ‘leisólida de queda de lucros uma resposta mecânica à inovação para economizar  
trabalho, que permanece uma proposta insuficiente” (Harvey, 2011, p. 82). Da mesma forma  
não considera haver uma “contradição entre as forças produtivas e as relações sociais sob o  
capitalismo” (Couto, 2014, p. 202). Posições possivelmente relacionadas ao fato de que “[...]  
ao se perguntar se o capitalismo se recuperará desta crise, Harvey responde com um sonoro,  
‘sim’” (Silva, 2012, p. 195), pois haveria um “impulso à acumulação [que] (...) tende a superar  
as suas próprias barreiras” (Couto, 2014, p. 208).  
396  
Da mundialização a hegemonia do capital portador de juros: a interpretação de  
Chesnais  
Igualmente influenciado pela “escola da regulação”, François Chesnais aos poucos vai  
tendo no marxismo o instrumental central de seus esforços de análise (Chesnais, 2018, p. 30).  
Procura-se expor o processo que denomina como “mundialização do capital”, ao mesmo tempo  
traz-se sua interpretação mais recente onde o capital portador de juros ganha relevância.  
Inicialmente “os traços característicos da mundialização estão, não tanto no nível do  
comércio internacional, quanto ao nível das empresas, portanto do capital” (Chesnais, 1996, p.  
26). Embora o crescimento do comércio exterior tenha ocorrido, a mundialização seria  
“dominada mais pelo investimento internacional do que pelo comércio exterior” (Chesnais,  
1996, p. 26).  
Libertas, Juiz de Fora, v. 24, n. 2, p. 387-403, jul./dez. 2024. ISSN 1980-8518  
Visões seminais do capitalismo contemporâneo: aproximações e distanciamentos  
O crescimento do investimento externo na década de 1980 estava mais associado a  
fusões/aquisições do que a uma expansão produtiva. Haveria um componente central na  
movimentação destes investimentos: “caráter essencialmente ‘intratriádico1’ (…), ao longo da  
década de 1980, se concentrou, em mais de 80%, dentro da área da OCDE” (Chesnais, 1996, p.  
63). A empresa funcional ao processo são as multinacionais ou “empresas-rede” que passaram  
a ter sua atuação influenciadas pela lógica financeira, já que “o rendimento financeiro dos ativos  
é vigiado pelos detentores de carteiras de ações” (Chesnais, 1996, p. 77). Os fluxos do  
Investimento Externo Direto (IED) tem primazia em relação ao comércio externo no setor de  
serviços. Os últimos, contudo, crescem a partir de meados dos anos 1980 relacionados aos  
processos de flexibilização e desregulamentação, sendo a privatização de serviços públicos uma  
“nova fronteira” da acumulação (Chesnais, 1996, p. 186).  
É dada atenção especial à relação entre a mundialização e as finanças, sendo que a  
“esfera financeira” simbolizaria “o posto avançado do movimento de mundialização do capital”  
(Chesnais, 1996, p. 239). O capital monetário consegue uma valorização de tal forma  
“autônoma” que não haveria precedente no capitalismo. Entretanto, apressa-se em anotar que  
“[...] a autonomia do setor financeiro nunca pode ser senão uma autonomia relativa. Os capitais  
que se valorizam na esfera financeira nasceram – e continuam nascendo – no setor produtivo”  
(Chesnais, 1996, p. 241).  
397  
São lembradas a criação de inúmeros mercados e “inovações financeiras”. Bancos e  
instituições financeiras ficam insatisfeitos com seu papel de intermediadores e trilham um  
caminho em que “vão necessariamente abrir a transformação da esfera financeira em campo de  
valorização específico para operações de novo tipo, suscetíveis de proporcionar mais-valia e  
lucros financeiros” (Chesnais, 1996, p. 247). Assim, “as instituições dominantes não são mais  
os bancos, e sim os mercados financeiros e as organizações financeiras que neles atuam”  
(Chesnais, 1996, p. 258) e “constata-se a promoção dos ‘mercadosa instância controladora das  
políticas econômicas nacionais” (Chesnais, 1995, p. 21).  
Os processos associados à mundialização têm efeito geral de “encadeamento depressivo  
profundo”. Aponta a década de 1990 como uma longa depressão, de tendências  
estagnacionistas, e que eventuais retomadas ainda se dariam em um quadro mais geral de baixa  
acumulação. Considerando a forma com que se deu a mundialização dos grupos industriais, das  
formas de comércio e do capital monetário eles “exercem, de modo estrutural, um efeito  
1 A tríade refere-se a Europa, Estados Unidos e Japão.  
Renato de Brito Gomes  
depressivo sobre a acumulação” (Chesnais, 1996, p. 304). Reconhecia-se um modo de  
funcionamento do capitalismo como uma “longa crise rastejante” (Chesnais, 1995, p. 2).  
A mundialização caracteriza-se por determinações que envolvem o capital industrial,  
comercial e monetário, seria “uma fase específica de um processo muito mais longo de  
constituição do mercado mundial em primeiro lugar e, depois, de internacionalização do capital,  
primeiro sob sua forma financeira e, em seguida, sob sua forma de produção no exterior”  
(Chesnais, 1995, p. 6). No início do livro é encontrado uma leitura de Marx que tende a  
estruturar a valorização hegemonizada pelo capital industrial que aos poucos vai reconhecendo  
o lugar central dos “mercados financeiros”. Embora as três formas fenomênicas sejam  
importantes para a precisão da mundialização, em grande medida apresenta-se “como mais uma  
etapa no processo de internacionalização do capital produtivo” (Nakatani, Marques, 2009, p.  
3).  
A incorporação de elementos da economia política marxista parece ter levado o  
economista a um novo lugar sobre o reconhecimento do papel das finanças, passando a falar de  
um “regime de acumulação com dominação financeira” (Chesnais, 1997). O central era  
perceber que “o movimento da acumulação e seu conteúdo econômico e social concreto seriam  
moldados pelas posições econômicas e sociais, concedidas a (…) aquela designada por Marx  
no livro III de O capital sob a expressão “capital portador de juros” (Chesnais, 2002, p. 4).  
398  
O mundo contemporâneo apresenta uma configuração específica de  
capitalismo, no qual o capital portador de juros está localizado no centro das  
relações econômicas e sociais. As formas de organização capitalista mais  
facilmente identificáveis permanecem sendo os grupos industriais  
transnacionais (…), os quais têm por encargo organizar a produção de bens e  
serviços, captar o valor e organizar de maneira direta a dominação política e  
social do capital em face dos assalariados. Mas a seu lado, menos visíveis e  
menos atentamente analisadas, estão as instituições financeiras bancárias, mas  
sobretudo as não bancárias, que são constitutivas de um capital com traços  
particulares. Esse capital busca “fazer dinheiro” sem sair da esfera financeira,  
sob a forma de juros de empréstimo, de dividendos e outros pagamentos  
recebidos a título de posse de ações e, enfim, lucros nascidos da especulação  
bem-sucedida (Chesnais, 2005, p. 35).  
Para chegar-se a tal situação foi preciso um decorrer histórico que contou com a ajuda  
de Estados (liberalização dos fluxos de capital) como um enorme processo de centralização de  
“fundos líquidos não reinvestidos das empresas e das poupanças das famílias” (Chesnais, 2005,  
p. 35-6). Ocorreu uma “acumulação financeira” (relacionada aos lucros do período fordista)  
que acabou por levar ao atual estágio.  
A soberania das finanças levou a uma intensificação da centralização do capital que é  
assessorada pelos grandes investidores financeiros e seus representantes. O capital consegue  
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Visões seminais do capitalismo contemporâneo: aproximações e distanciamentos  
conquistar uma “exterioridade da produção”, ou seja, “os grandes grupos industriais e  
comerciais são movidos pela lógica de curto prazo do capital financeiro, sendo regulados pela  
cotação das ações de suas empresas” (Nakatani, Marques, 2009, p. 8). Assim, “[...] os grupos  
são dirigidos por pessoas para as quais a tendência da Bolsa é mais importante que qualquer  
outra coisa” (Chesnais, 2005, p. 54). O êxito em termos de desenvolvimento econômico desta  
fase pode ser contestado tendo em vista as modestas taxas de crescimento das principais  
economias capitalistas. No entanto, no que tange a sua capacidade de intervir na distribuição  
do excedente entre as classes seu sucesso é notável.  
Mesmo considerando certos elementos de estabilidade, enxerga nas crises financeiras  
uma das principais manifestações das contradições do capitalismo dominado pelas finanças.  
Escreve que “é inevitável que crises graves estourem sob a forma de ‘crises financeiras’ que se  
podem atribuir unicamente à especulação ou a uma ‘instabilidade sistêmica’ congênita”  
(Chesnais, 2005, p. 62-3). Sobre a crise financeira de 2007, afirma que “é mundial, é crescente  
e inclui uma dimensão de irreversibilidade” (Chesnais, 2018, p. 30). Seria necessário  
reconhecer que “o capitalismo atingiu limites, não mais relativos e temporários, mas absolutos  
e definitivos” (Chesnais, 2018, p. 31) e ainda que “não há saída para a crise global à vista”  
(Chesnais, 2018, p. 36).  
399  
Apontamentos finais  
Um nível de recorte que se pode fazer em relação aos autores diz respeito às categorias  
da “escola da regulação”. Mandel e Mészáros podem ser caracterizados como pensadores que  
valem-se exclusivamente do método e categorias de análise legados por Marx e seus seguidores,  
partem do pressuposto que o materialismo histórico enquanto método de apreensão das  
contradições do movimento do real basta a si próprio. Em sentido diverso, tanto Harvey como  
Chesnais incorporam em suas leituras categorias como “regime de acumulação” de forma  
central, ainda que se avalie os elementos marxistas como preponderantes.  
Uma diferença teórica que advém destas distintas influências e incorporações diz  
respeito à noção de equilíbrio. Mandel e Mészáros descrevem uma dinâmica marcada pelo  
desequilíbrio e incontrolabilidade, Harvey e Chesnais, ao caracterizarem um “regime de  
acumulação”, necessariamente estão dando um certo enfoque privilegiado a elementos estáveis  
do modo de funcionamento do capitalismo. No entanto, ambos os “regimes de acumulação”  
são marcados por crises intensas e mais ou menos permanentes.  
Cabe ainda avaliar a relação que suas teorias constroem em relação à crise do  
capitalismo contemporâneo. Como procura-se demonstrar, em Mandel e Mészáros a crise  
Renato de Brito Gomes  
constitui-se como parte estruturante das reflexões, seja através da onda longa com tonalidade  
regressiva ou através da crise estrutural do capital. O central, de ambas, foi mostrar os entraves  
incontornáveis à acumulação de capital contemporânea.  
Por outro lado, e novamente suspeita-se que por influência dos elementos da escola da  
regulação, embora Harvey e Chesnais apontem as dificuldades de crescimento do capitalismo  
atual, estes não caracterizam seu funcionamento como uma “crise permanente”, ao contrário,  
os “novos regimes de acumulação” seriam justamente a solução para a recomposição da  
acumulação e para o curso do prosseguimento do capitalismo, mesmo consideradas as crises e  
a instabilidade como momentos importantes. Nos parece que nos primeiros a crise apresenta-  
se mais como necessidade da dinâmica contemporânea do capital, ao passo que nos últimos ela  
reside apenas como possibilidade, mesmo que prevista, teorizada e de ocorrência frequente.  
Já foi apontado que talvez as expressões “capitalismo maduro” ou, ainda, “tardo  
capitalismo”, possam ser mais fiéis ao conteúdo do que pretende transmitir Mandel. Através  
destas terminologias ficaria mais evidente o conteúdo interpretativo que imprime no  
capitalismo contemporâneo, sendo central a leitura de que se trata de um estágio de  
desenvolvimento das forças produtivas em que passam a existir barreiras intransponíveis ao  
prosseguimento normal da acumulação. É forçoso reconhecer a semelhança, mesmo  
consideradas as diversas tradições do marxismo ao qual os autores filiam-se, com a  
caracterização de crise estrutural de Mészáros.  
400  
Assim, além de ambos reconhecerem o capitalismo contemporâneo como uma longa  
crise, o fazem justamente porque são os mesmos autores que vislumbram que o modo de  
produção passava a confrontar-se com barreiras intransponíveis. Não seria mais possível o  
manejo das contradições de forma a no longo prazo garantir-se a ampliação do valor, os limites  
estruturais são caracterizados desta forma justamente por não permitirem mais tal mecanismo.  
Talvez por ter defrontado-se por maior tempo com o capitalismo contemporâneo  
Mészáros, em certo sentido, vai além de Mandel. Isto porque embora Mandel já tenha apontado  
limites intransponíveis para o prosseguimento normal do desenvolvimento das forças  
produtivas e tenha visto uma crise prolongada, somente Mészáros sublinha a existência  
majoritária de forças destrutivas durante o novo período da crise estrutural do  
sociometabolismo do capital. Ou seja, além de existirem barreiras insuperáveis para a  
acumulação, na verdade, no capitalismo contemporâneo as “potencialidades das forças  
produtivas” evidenciam cada vez mais apenas a destrutividade social do capital.  
Cabe ainda avaliar as posições de Harvey e Chesnais sobre a existência ou não de limites  
estruturais. Em Harvey não se encontra o reconhecimento de qualquer limite intransponível, ao  
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Visões seminais do capitalismo contemporâneo: aproximações e distanciamentos  
contrário, o autor reafirma a capacidade do capitalismo contemporâneo de continuar dando  
solução às suas crises e, em paralelo, reconhece existir uma espécie de “impulso à acumulação”  
que sempre é capaz de superar a longo prazo as barreiras anteriormente impostas pelo próprio  
capital.  
Neste caso há uma sutileza importante em relação a Chesnais. Ainda em meados da  
década de 1990 o autor já falava de uma “longa crise rastejante” ao mesmo tempo em que  
reconhecia os efeitos depressivos dos processos de mundialização, embora a acumulação  
pudesse continuar. Se a leitura da hegemonia do capital portador de juros através da  
caracterização do “regime de acumulação financeirizado” o leva a impor uma certa estabilidade  
ao capitalismo contemporâneo, tem-se também o reconhecimento de que a crise atual possui  
“uma dimensão de irreversibilidade” e não haveria vislumbre sobre a saída de tal cenário.  
Portanto, considerando os autores aqui analisados, Harvey é o único que não reconhece que o  
capitalismo contemporâneo deparou-se com limites intransponíveis.  
Outro fio que vale acompanhar nas reflexões é o debate da financeirização, presente em  
todas as obras, ainda que com pesos diferentes. Já Mandel alertava para os movimentos  
internacionais do capital especulativo e como em períodos de crise tenderia a crescer o poder  
do capital financeiro. Mészáros, por outro lado, reconhece na crise financeira iniciada em 2007  
uma manifestação da crise estrutural que, mesmo iniciada por esta esfera, estaria destinada a  
invadir todos os espaços da existência humana.  
401  
Harvey afirma que no momento de transição em relação ao “regime de acumulação  
flexível” ocorre todo um processo de reconfiguração dos sistemas financeiros globais em que a  
própria flexibilização das finanças foi um elemento fundante, assim o novo regime “procura o  
capital financeiro como poder coordenador” (Harvey, 1992, p. 155). Por fim, Chesnais é  
certamente o que dá maior relevância a tal problematização, em sua leitura o processo da  
ampliação do valor passaria a ser determinado pela lógica de valorização do capital portador de  
juros.  
Avalia-se que o crescimento no tempo de tal preocupação nas leituras está relacionado  
às próprias determinações que foram tornando-se mais latentes, visíveis e fundantes no  
capitalismo contemporâneo. Ou seja, como concretamente deu-se de forma cada vez mais  
intensa o processo de financeirização, passava a ser paulatinamente incorporado com maior  
fôlego nas análises seminais do período.  
Por fim, ressalta-se uma outra vez que o objetivo do artigo não foi apresentar uma síntese  
de leituras tão complexas sobre um fenômeno ainda contemporâneo. Por outro lado, enfatiza-  
se que a exposição de visões seminais (suas aproximações e distanciamentos) no âmbito da  
Renato de Brito Gomes  
economia política marxista oferece pistas que não podem ser desconsideradas por aqueles que  
desejam realizar um estudo sério do capitalismo contemporâneo e suas problemáticas.  
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