Neoliberalismo: da direita à esquerda na  
política brasileira  
Neoliberalism: from the right to the left in brazilian politics  
Daniel Carvalho Silva*  
Resumo: Esta pesquisa propõe uma abordagem  
crítica ao debater sobre a política neoliberal  
brasileira, analisando de forma sucinta as  
conjunturas históricas dos governos Collor,  
FHC, Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro. Em um  
contexto de governanças assimiladas ao  
neoliberalismo, o capital amplia seus lucros  
enquanto a classe trabalhadora permanece  
subjugada. O resgate da historicidade e dos  
eventos contemporâneos é essencial para  
aprofundar a compreensão das dinâmicas do  
sistema capitalista e suas implicações. A  
metodologia adotada é de cunho histórico-  
dialético, fundamentada em bibliografias e  
documentos.  
Abstract: This research proposes a critical  
approach to the debate on brazilian neoliberal  
policy, briefly analyzing the historical  
conjunctures of the Collor, FHC, Lula, Dilma,  
Temer and Bolsonaro governments. In a context  
of governance assimilated to neoliberalism,  
capital expands its profits while the working  
class remains subjugated. The rescue of  
historicity and contemporary events is essential  
to deepen the understanding of the dynamics of  
the capitalist system and its implications. The  
methodology adopted is of a historical-  
dialectical nature, based on bibliographies and  
documents.  
Palavras-chaves: Neoliberalismo; Estado;  
Keywords: Neoliberalism; State; Working  
Classe trabalhadora; Capital.  
class; Capital.  
Introdução  
A ideologia neoliberal configura-se como o modelo predominante na política  
contemporânea, sendo amplamente adotada tanto em países centrais quanto periféricos. Mesmo  
diante das diferentes estruturas políticas, culturais e orientações ideológicas — que variam da  
direita à esquerda —, a adesão a essa concepção é notável e de grande abrangência.  
Friedrich Hayek é eminentemente reconhecido como um dos precursores do  
neoliberalismo. Uma de suas obras mais influentes é “O Caminho da Servidão”, publicado em  
1944. Nesse livro, ele argumenta de forma vigorosa contra a intervenção estatal na economia e  
* Universidade do Estado de Minas Gerais. E-mail: daniel.carsilva2001@gmail.com  
DOI: 10.34019/1980-8518.2025.v25.45065  
Esta obra está licenciada sob os termos  
Recebido em: 28/06/2024  
Aprovado em: 22/01/2025  
Neoliberalismo: da direita à esquerda na política brasileira  
o coletivismo. Essa perspectiva foi extensivamente disseminada nas instituições acadêmicas,  
especialmente entre os economistas. O neoliberalismo consolidou-se como ideologia  
proeminente nos países centrais a partir da década de 1970, resultado da crise econômica e do  
colapso dos fundamentos keynesianos1.  
Com a crise do petróleo em 1973, o Welfare State dos países centrais encerrou o ápice  
do aparente “equilíbrio” do capitalismo, conforme argumentado por diversos estudiosos. Os  
chamados “anos dourados” foram interrompidos pela crise estrutural e inevitável do sistema  
hegemônico, abrindo caminho para uma nova fase, a barbárie neoliberal.  
Em 1974, Hayek foi reverenciado com o Prêmio Nobel de Economia, consolidando-  
se como um modelo para a orientação política e ideológica da sociedade capitalista.  
Para os detratores do modelo keynesiano, era o momento de propor uma nova  
ordem para o desenvolvimento do capitalismo, centrada na hegemonia do  
mercado. Em plena Guerra Fria e em um clima de anticomunismo radical,  
aqueles economistas, sociólogos e cientistas políticos que haviam sido  
ridicularizados por defender o mercado como fonte de equilíbrio político e  
social foram alçados a salvadores do capitalismo (Rosenmann, 2016, p. 4).  
Representantes políticos dos países centrais, como a primeira-ministra Margaret  
Thatcher no Reino Unido em 1979 e o presidente Ronald Reagan nos Estados Unidos em 1980,  
entre outros, efetivaram a abordagem neoliberal através do Estado, deixando um rastro de  
privatizações e austeridade fiscal.  
59  
Os trabalhadores desses países, que haviam desfrutado do Estado de bem-estar social  
com base nas políticas keynesianas de investimento em políticas sociais, expansão do crédito,  
regulação do mercado e proteção dos direitos trabalhistas, viram a classe dominante promover  
“[...] a erosão das regulações estatais visando claramente à liquidação de direitos sociais, ao  
assalto ao patrimônio e ao fundo públicos [...] liberando-a da tutela do “Estado protetor” (Netto,  
2012, p. 214).  
A restauração do capital incidiu em altos índices de desemprego, na redução do poder  
aquisitivo das famílias, no surgimento de empregos precários e na flexibilização das proteções  
trabalhistas, resultando no empobrecimento dos trabalhadores e no enriquecimento desenfreado  
das elites. Segundo Netto (2012, p. 214), “a desqualificação do Estado tem sido, como é notório,  
a pedra-de-toque do privatismo da ideologia neoliberal: a defesa do “Estado mínimo” pretende,  
fundamentalmente, o “Estado máximo para o capital”.  
1A teoria de John Maynard Keynes, conhecida como keynesianismo, embora inserida nos moldes do mercado,  
defendia o investimento social por meio do Estado. Essa abordagem incluía medidas como a promoção do pleno  
emprego, a oferta de salários indiretos, o estímulo ao consumo em massa e a implementação de políticas sociais  
abrangentes.  
Daniel Carvalho Silva  
No Brasil, o neoliberalismo emergiu durante a década de 1990, contrastando com os  
direitos sociais conquistados na promulgação da Constituição Federal de 1988 (CF/1988). O  
país não experimentou um Estado de bem-estar social devido à sua condição periférica e à  
submissão a países imperialistas, tendo também atravessado longos períodos de repressão sob  
regimes ditatoriais. A consolidação dos direitos sociais no país ocorreu somente em 1988 com  
a Constituição. No entanto, os governos subsequentes adotaram uma perspectiva neoliberal que  
contrariava as conquistas sociais estabelecidas.  
Este estudo analisa concisamente a política incorporada pelos representantes políticos  
brasileiros, focando no contexto político do país na década de 1990, abordando os governos de  
Fernando Collor de Mello, Fernando Henrique Cardoso (FHC), os 14 anos do Partido dos  
Trabalhadores (PT) sob a liderança de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, e os  
governos de orientação ultraliberal2 de Michel Temer e Jair Messias Bolsonaro. O objetivo  
desta pesquisa é explorar a ideologia neoliberal que permeia tanto a direita quanto a esquerda  
brasileira.  
O neoliberalismo nos governos Collor e FHC  
O Brasil ingressou na década de 1980 imerso em um contexto de lutas pela  
redemocratização e pela garantia de direitos sociais. Em 1985, o país alcançou a tão esperada  
democratização, após duas décadas sob o jugo da ditadura militar burguesa. Esse cenário foi  
marcado por significativas mobilizações dos movimentos sociais, onde as demandas por  
democracia se entrelaçavam com a busca por políticas sociais.  
60  
A promulgação da nova Constituição em 1988 representou a esperança de um Brasil  
que priorizasse a assistência social, educação, saúde, trabalho, habitação, lazer, segurança,  
previdência, proteção à maternidade e a infância. Organizações como a Articulação Nacional  
de Entidades pela Mobilização Popular na Constituinte desempenharam um papel fundamental  
ao introduzir o conceito de seguridade social3, além de estender os benefícios previdenciários  
aos trabalhadores rurais e estabelecer o Benefício de Prestação Continuada (BPC)4. Além disso,  
ocorreram iniciativas de descentralização do Estado Federal, propiciando maior autonomia e  
2
O ultraliberalismo se caracteriza radicalmente pela liberalização da economia, redução do papel do Estado,  
privatizações, abertura ao mercado internacional, governança alinhada ao mercado financeiro e retrocesso nas  
políticas sociais. Trata-se, assim, de uma versão pura do neoliberalismo.  
3
O tripé da seguridade social se concretiza da seguinte forma: previdência de caráter contributivo, assistência  
destinada a quem dela necessitar, saúde para todos.  
4 A previdência destinada aos trabalhadores rurais é viabilizada pelas precariedades do setor rural, enquanto o BPC  
atende pessoas idosas ou com deficiência que estão impedidas de exercer atividade laboral para garantir sua  
sobrevivência.  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 1, p. 58-75, jan./jun. 2025. ISSN 1980-8518  
Neoliberalismo: da direita à esquerda na política brasileira  
participação para os “municípios como entes federativos autônomos, os conselhos paritários de  
políticas e de direitos e a instituição de um ciclo orçamentário que passa a comportar um  
orçamento da seguridade social” (Behring; Boschetti, 2016, p. 144).  
Nessa conjuntura, o Brasil havia conquistado importantes garantias sociais por lei,  
porém frequentemente o que estava estabelecido na legislação não se concretizava na prática.  
O processo de elaboração da Constituição foi marcado por uma complexidade decorrente da  
multiplicidade de ideologias políticas em jogo, combinando progresso com conservadorismo.  
Apesar de terem sido assegurados aspectos como seguridade social e direitos humanos  
e políticos, a persistência da militarização, da dependência econômica e da ausência da  
implementação da reforma agrária apontava para a manutenção da predominância de ideias  
conservadoras na sociedade brasileira.  
Em 15 de março de 1990, Fernando Collor de Mello, identificado com as tendências  
mais à direita do espectro político, assumiu o cargo de 32º presidente do Brasil. Com um  
discurso modernizador, prometia reconstruir um novo Brasil por meio de uma liderança jovem  
e audaciosa. Ele ficou conhecido por sua luta contra os privilégios dos chamados "marajás",  
termo utilizado para se referir aos funcionários públicos. Sua postura de "caçador de marajás"  
conquistou apoio da ala empresarial e da opinião pública.  
Novas medidas de redução dos gastos do estado de Alagoas com os “marajás”  
despertaram a atenção dos órgãos de imprensa das grandes cidades,  
especialmente de São Paulo e do Rio de Janeiro, para o nome de Collor. [...]  
As mesmas pesquisas apuraram que a maioria dos eleitores preferia um  
candidato jovem, com experiência administrativa e que fosse claro opositor  
do presidente José Sarney (Lemos, 2009, p. 7).  
61  
Seguindo as diretrizes do Consenso de Washington, que reuniu em novembro de 1989  
o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial e o Banco Interamericano de  
Desenvolvimento (BID), foram propostas medidas que se concentravam em três pilares:  
a retirada do Estado das atividades econômicas; a liberalização dos mercados  
nacionais para a importação de bens e serviços e a entrada de capitais de risco;  
e a obtenção da estabilidade monetária, por meio do combate intransigente à  
inflação, ainda que à custa de recessão, aumento do desemprego, contenção  
salarial e diminuição dos investimentos públicos na área social (Lemos, 2009  
p. 9).  
Ao assumir a presidência, o governo Collor simbolizou o neoliberalismo na gestão  
pública. Logo de início, junto à ministra da Economia Zélia Cardoso de Mello, o governo  
implementou a polêmica medida de bloquear os saldos em conta corrente e cadernetas de  
poupança por um período de um ano e meio.  
Para muitos, era a motivação para se viver, o meio para se atingir um sonho  
ou a esperança de cura de uma doença grave. Era garantia de uma velhice  
Daniel Carvalho Silva  
digna ou a chance de ajudar um ente querido em dificuldade. E o governo  
tinha ciência disso: as campanhas publicitárias dos bancos inclusive dos  
públicos, naquela época exploravam os desejos e necessidades das pessoas,  
apontando a caderneta de poupança como caminho para a felicidade, que por  
meio dela seria possível a realização de todos os sonhos (Andozia, 2019, p.  
141).  
Assim, o chamado Plano Collor foi lançado com o objetivo de:  
[...] combater a inflação e reduzir o déficit público, criando, segundo seus  
mentores, as condições para o Brasil ingressar no chamado Primeiro Mundo.  
As principais medidas adotadas foram: a extinção de 24 empresas estatais,  
com a demissão dos respectivos funcionários que não estivessem protegidos  
pelas regras da estabilidade; a elevação do Imposto sobre Produtos  
Industrializados (IPI); o aumento da taxação sobre os lucros do setor agrícola  
e o fim dos subsídios à exportação não garantidos no texto constitucional; a  
reintrodução do cruzeiro como moeda nacional, em substituição ao cruzado  
novo, criado no governo anterior; o congelamento de preços e salários, que  
passariam a ser reajustados conforme índices de inflação prefixados; o fim dos  
títulos ao portador e dos cheques ao portador de valores acima de um teto  
determinado; a flutuação do câmbio segundo as tendências do mercado; a  
redução da presença do Estado na economia, por meio da privatização de  
empresas estatais; e a abertura econômica para o exterior, com a redução  
progressiva das alíquotas de importação (Lemos, 2009, p. 10).  
O Brasil rapidamente mergulhou em volatilidade, conduzido pelos Planos Collor I e  
II, a economia estava em declínio, a inflação disparava atingindo 400%, e o Produto Interno  
Bruto (PIB) sofria uma redução de 4,6%. A crise se aprofundava ao longo do governo, deixando  
a classe trabalhadora imersa na pobreza, com o desemprego atingindo níveis recordes de 5,23%  
ao ano (Lemos, 2009, p. 10).  
62  
Fernando Collor de Mello governou por dois anos até sofrer impeachment, em meio a  
uma intensa desaprovação popular e dos setores empresariais. Seu governo ficou marcado pela  
instabilidade, escândalos de corrupção, uma economia desequilibrada com altas taxas de  
inflação, desemprego em massa e um aumento significativo do empobrecimento.  
Após o impeachment, o vice Itamar Franco assumiu a presidência, tornando-se o 33º  
presidente do Brasil. Em meio a uma crise econômica, ele designou Fernando Henrique  
Cardoso (FHC) para os cargos de Ministério das Relações Exteriores e Ministério da Fazenda,  
nos quais ele lançou o Plano Real em 1994. As ações políticas resultantes levaram à redução da  
hiperinflação herdada da ditadura militar e do governo Collor. Esse resultado positivo aumentou  
a popularidade de FHC entre capitalistas e setores populares.  
Fez do “Plano Real”, como instrumento de estabilização monetária, o primeiro  
passo para uma inteira abertura do mercado brasileiro (de bens e serviços) ao  
capital internacional. Essa desregulamentação implicava um outro  
movimento, diretamente referido ao Estado e com dupla face: de uma parte,  
uma forte redução do papel empresarial estatal – donde a selvagem  
dilapidação (privatização) do patrimônio público; de outra, a pretexto da  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 1, p. 58-75, jan./jun. 2025. ISSN 1980-8518  
Neoliberalismo: da direita à esquerda na política brasileira  
redução do déficit público e em nome do “ajuste estrutural”, a redução dos  
fundos públicos para o financiamento das políticas sociais voltadas para a  
massa dos trabalhadores. Mais precisamente, o projeto político do grande  
capital concentrou-se na reforma do Estado (enquadrada, como se vê, numa  
perspectiva neoliberal) – “reforma” que só poderia ser conduzida contra o  
espírito da Constituição de 1988 (Netto, 1999, p. 80 apud Cassin, 2015, p. 80).  
Em 1995, Fernando Henrique Cardoso tornou-se o 34º presidente do Brasil. O governo  
de orientação direitista e neoliberal, liderado pelo Partido da Social Democracia Brasileira  
(PSDB), iniciou sob a gestão do então ministro Bresser Pereira - que estava à frente do  
Ministério da Administração e da Reforma do Estado (MARE) - um processo de reestruturação  
do Estado visando aliviar a crise fiscal. As chamadas "reformas" visavam, principalmente, a  
contenção dos gastos públicos, por meio de privatizações e redução de investimentos sociais,  
com objetivo de alcançar superávit primário e promover a “eficiência do Estado”.  
As medidas de austeridade fiscal, incidiam sobre áreas vitais como educação, saúde e  
direitos trabalhistas, prejudicando significativamente as condições de vida da classe  
trabalhadora. Conforme aponta Castelo (2013, p. 244) [...] as taxas de crescimento econômico  
continuaram estagnadas, o desemprego cresceu, os empregos gerados foram de baixa  
qualificação e, principalmente, os índices de pobreza e desigualdade aumentaram”.  
O prolongado processo de empobrecimento e redução dos direitos sociais levou a  
classe trabalhadora a demonstrar descontentamento em relação ao governo, o que resultou em  
respostas de políticas seletivas. FHC introduziu iniciativas como Bolsa Escola, Bolsa  
Alimentação, Vale Gás e Cartão Alimentação para famílias. Essas políticas foram de natureza  
paliativa e visavam principalmente a sustentação do governo, do capital e da ideologia  
neoliberal.  
63  
Nesse sentido, o FMI e o BIRD propuseram medidas corretivas de promoção  
de reformas estruturais, onde o Estado passaria a ter uma função reguladora,  
operacionalizando, juntamente com o setor privado, políticas sociais  
focalizadas, assistencialistas e emergenciais destinadas ao alívio imediato das  
expressões mais perversas da questão social (Cassin, 2015, p. 56).  
O governo, apesar dos escassos investimentos em políticas sociais, buscou atenuar a  
situação da classe trabalhadora por meio da implementação de programas de transferência de  
renda. No entanto, ao invés de adotar políticas sociais eficazes de alcance universal, optou por  
políticas sociais seletivas e fragmentadas, transformando-as, de fato, em auxílios de curto prazo.  
O social-liberalismo é tido não como uma conscientização humanista e social  
da burguesia, mas como uma ideologia de manutenção da ordem capitalista  
que embasa uma série de intervenções políticas nas expressões da “questão  
social”, como ações do voluntariado, da filantropia empresarial, da  
responsabilidade social, do terceiro setor e de políticas sociais assistencialistas  
e fragmentadas, que não questionam as bases da acumulação capitalista,  
Daniel Carvalho Silva  
produtora de riqueza no topo e de miséria na base da hierarquia social  
(Castelo, 2013, p. 276-77).  
O trinômio neoliberal de privatização, focalização e descentralização, sob a  
perspectiva de Behring e Boschetti (2016), culminou em agravamento das expressões da  
“questão social”. As conquistas previstas na Constituição, que buscavam garantir um sistema  
de saúde de qualidade, educação, assistência social e direitos abrangentes, foram sucateadas  
pela predominância do ideário neoliberal.  
Da direita à esquerda: os 14 anos dos governos do Partido dos Trabalhadores  
Fernando Henrique Cardoso ocupou a presidência do Brasil de 1995 a 2002. Durante  
esse período, o país chegou ao início do século XXI com uma taxa de pobreza de 38,3%. O  
coeficiente de Gini, que mensura o nível de desigualdade social, atingiu 0,59, superior ao  
registrado em 1992, durante o governo de Fernando Collor de Mello (Zimmermann; Silva,  
2012). A disparidade social se acentuava, e a economia, que gerava lucros significativos para o  
empresariado, resultava contraditoriamente em escassez nos recursos materiais dos  
trabalhadores.  
O modelo neoliberal da direita brasileira já não se mostrava viável, e a população  
clamava por direitos sociais eficazes. Em 2002, no pleito eleitoral, um nordestino de origem  
operária e líder sindical dos metalúrgicos, emergiu como a figura da esperança de um novo  
modelo político que melhorasse as condições sociais dos trabalhadores.  
64  
Dessa forma, Luiz Inácio Lula da Silva assumiu a presidência do Brasil como o 35º  
presidente, representando o Partido dos Trabalhadores (PT). Seu mandato, que abrangeu os  
anos de 2003 a 2010, foi um período crucial em que ele se destacou como uma figura  
proeminente no cenário político da esquerda nacional.  
As políticas implementadas pelo seu governo tiveram um impacto significativo no  
progresso social brasileiro. Em 2003, foi criado o Programa Fome Zero. Em 2004, foi  
implementado o Bolsa Família, que unificou programas federais anteriores, como Bolsa Escola,  
Bolsa Alimentação, Vale Gás e Cartão Alimentação. Em 2005, houve o pagamento de 23  
bilhões da dívida externa com o FMI. Em 2007, foi instituído o Programa de Aceleração do  
Crescimento (PAC), voltado de moradia para a população de baixa renda. Em 2009, Programa  
Minha Casa Minha Vida, além de significativos investimentos na política de Assistência Social  
(Cassin, 2015). O percentual de pobreza em 2009 caiu para 24,3% e o índice Gini para 0,54  
(Zimmermann; Silva, 2012).  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 1, p. 58-75, jan./jun. 2025. ISSN 1980-8518  
Neoliberalismo: da direita à esquerda na política brasileira  
Esses programas sociais contribuíram para a melhoria social da classe trabalhadora,  
acompanhados por aumentos salariais acima da inflação e baixos índices de desemprego.  
Segundo Pochmann (2013, p. 154), “[...] a pobreza caiu mais de 30% desde 2003 e o Brasil  
conseguiu voltar a permitir a mobilidade social para milhões de brasileiros, após mais de duas  
décadas de congelamento das oportunidades educacionais, de renda e de ocupação”. Os  
trabalhadores experimentaram um avanço social significativo, com redução na desigualdade de  
renda devido às políticas de transferência, crescimento salarial e uma relativa ascensão social.  
Os avanços alcançados são inegáveis, no entanto, é essencial analisar que tais  
progressos não têm sido direcionados para uma efetiva transformação social, mas sim para  
medidas temporárias. A maneira de abordar o combate à desigualdade social tem se baseado em  
transferências de renda focalizadas e seletivas, em detrimento de políticas sociais universais.  
Lula ampliou os “gastos sociais”5 em comparação ao seu antecessor, mas manteve a lógica  
rentista da ideologia neoliberal.  
Essa, por suas próprias características, mas também pelo caráter do benefício  
com que é agraciada, não tem motivos para contestar o governo Lula.  
Enquanto tais políticas tiverem prosseguimento, a população de baixa renda  
verá em Lula aquele que mudou sua vida para melhor. Para eles, o fato de a  
estrutura social, econômica e política do país reproduzir sem cessar os fatores  
que criam a pobreza onde se encontram não se constitui um problema, desde  
que o fluxo das transferências não seja interrompido. Como visto, embora  
beneficie parcela significativa da população brasileira, a manutenção dos  
programas de transferência de renda não envolve valores tão expressivos. Isso  
significa que sua continuidade e aprofundamento não apresentam maiores  
problemas, não indo contra as demais propostas do governo Lula. Pelo  
contrário, programas desse tipo, de caráter assistencial e por isso  
compensatório, fazem parte de qualquer agenda neoliberal, a começar pela do  
Banco Mundial (Marques; Mendes, 2006, p. 15).  
65  
O neodesenvolvimentismo, frequentemente caracterizado por alguns intelectuais  
como a abordagem governamental adotada pelo PT, configura-se como uma versão atenuada  
da concepção neoliberal.  
O desafio do neodesenvolvimentismo consiste, portanto, em conciliar os  
aspectos “positivos” do neoliberalismo — compromisso incondicional com a  
estabilidade da moeda, austeridade fiscal, busca de competitividade  
internacional, ausência de qualquer tipo de discriminação contra o capital  
internacional — com os aspectos “positivos” do velho desenvolvimentismo  
— comprometimento com o crescimento econômico, industrialização, papel  
regulador do Estado, sensibilidade social (Sampaio Jr., 2012, p. 679).  
5
O texto utiliza a expressão “gastos sociais” como nomenclatura técnica, mas ressalta que, embora comumente  
empregada de forma pejorativa no discurso midiático, é fundamental compreender que esses supostos “gastos”  
são, na verdade, investimentos essenciais para uma sociedade mais justa. Trata-se de aportes direcionados a áreas  
como educação, saúde, assistência social, previdência e direitos trabalhistas, entre outras, que promovem o bem-  
estar coletivo e o desenvolvimento social.  
Daniel Carvalho Silva  
Como aponta Castelo (2013, p. 344), “a economia vulgar derrotou a Economia Política  
desenvolvimentista, que viu alguns de seus intelectuais mais influentes aderirem às teses  
neoliberais na sua versão social-liberal”. Mesmo que o neoliberalismo tenha sido  
implementado de forma moderada, sua abordagem continuava a ser prejudicial, uma vez que  
não considerava a proveniência das expressões da "questão social" e falhava em reduzi-las de  
maneira eficaz. As políticas sociais são limitadas a benefícios de curto prazo refletindo uma  
postura paternalista. Segundo Sampaio Jr. (2012, p. 685):  
Existe, portanto, uma incongruência absoluta entre  
o
que  
o
neodesenvolvimentismo pensa ser — uma alternativa qualitativa de  
desenvolvimento capaz de resolver os problemas renitentes da pobreza e da  
dependência externa — e o que é de fato: apenas uma nova versão da surrada  
teoria do crescimento e da modernização acelerada como solução para os  
problemas do Brasil. Nada mais do que isso. Além de seu papel nas lutas  
intestinas da burocracia que comanda  
a
política econômica,  
o
“neodesenvolvimentismo” cumpre uma dupla função como arma ideológica  
dos grupos políticos entrincheirados nas estruturas do Estado: diferencia o  
governo Lula do governo FHC, lançando sobre este último a pecha de  
“neoliberal” e reforça o mito do crescimento como solução para os problemas  
do país, iludindo as massas.  
A busca pela legitimidade política por parte de Lula vem desde 1989, e apenas foi  
conquistada em 2002, quando ele suavizou seu discurso, buscando a conciliação de classes e se  
aproximando dos interesses do capital. Ao optar por seguir a perspectiva de mercado e dar  
continuidade às políticas econômicas do governo FHC, como o superávit primário, a  
Desvinculação de Receitas da União (DRU), o controle das taxas de juros pela Selic, o constante  
pagamento de juros, encargos e amortizações da dívida pública, e o aumento da arrecadação da  
União, o governo perpetuou a política neoliberal, em busca de “manter o equilibro financeiro  
do Estado"6.  
66  
Acada derrota eleitoral (em 1989, 1994 e 1998), a meta socialista inicialmente  
inscrita nos documentos do partido apresentava-se cada vez mais vazia, o  
programa se tornava mais moderado e a relação com a classe trabalhadora e  
os movimentos sociais, mais distante e formal (Cassin, 2021, p. 173).  
O partido que poderia ter orientado novos rumos para a política nacional acabou por  
se tornar apenas mais um partido burocrático, abandonando a perspectiva expressa no seu  
Congresso Nacional em 1981:  
Nós, do PT, sabemos que o mundo caminha para o socialismo. OS  
trabalhadores que tomaram a iniciativa histórica de propor a criação do PT já  
sabiam disto muito antes de terem sequer a ideia da necessidade de um partido.  
6 É contraditório defender o equilíbrio do Estado enquanto se reduzem os direitos dos trabalhadores e se ampliam  
as concessões ao capital. O Estado, que deveria atender aos interesses públicos da classe trabalhadora, concentra  
seus esforços em beneficiar os setores privados da burguesia, resultando no aumento dos lucros e no agravamento  
da desigualdade social.  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 1, p. 58-75, jan./jun. 2025. ISSN 1980-8518  
Neoliberalismo: da direita à esquerda na política brasileira  
(...) Os trabalhadores são os maiores explorados da sociedade atual. Por isso  
sentimos na própria carne e queremos, com todas as forças, uma sociedade  
que, como diz o nosso programa, terá que ser uma sociedade sem  
exploradores. Que sociedade é esta senão uma sociedade socialista? (Lula,  
1980, p. 66 apud Iasi, 2012, p. 387).  
Ao final do seu segundo mandato, Lula conservava sua popularidade entre amplos  
setores da sociedade, com uma taxa de aprovação de 87%, de acordo com dados do Ibope em  
2010. O apoio tanto das camadas populares quanto da conciliação com segmentos capitalistas  
permitiu a candidatura de sua sucessora, Dilma Rousseff, que se tornou a primeira mulher  
presidente do Brasil.  
A gestão da 36º presidente foi marcada pela expansão do programa Bolsa Família,  
juntamente com a criação de outros programas sociais, como o Brasil Sem Miséria (BSM),  
lançado em junho de 2011. Segundo o relatório de 2015, “[…] as ações do BSM retiraram 22  
milhões de pessoas da situação de extrema pobreza” (Brasil, 2015). Em paralelo, o Brasil  
Carinhoso “[…] consistia na transferência automática de recursos financeiros para custear  
despesas com manutenção e desenvolvimento da educação infantil, contribuir com as ações de  
cuidado integral, segurança alimentar e nutricional” (Brasil, 2015). Outro importante programa  
foi o Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego), que visava  
ampliar o acesso ao ensino técnico e à qualificação profissional, promovendo a inclusão social.  
Segundo Oliveira (2013, p. 324):  
67  
São exemplos a Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional  
consubstanciada no programa Fome Zero; a Política de Promoção da  
Igualdade Racial, coordenada pela Secretaria de Políticas de Promoção da  
Igualdade Racial (Seppir); a Política da Promoção da Igualdade de Gênero,  
impulsionada pela Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM). Essas  
políticas têm sido ampliadas no governo da presidenta Dilma, com destaque  
para o Brasil sem Miséria, Bolsa Família – no qual mais de 70% dos  
beneficiários são mulheres que afirmam ter adquirido autonomia e poder de  
escolha desde o que comprar no supermercado até se continuam com suas  
relações afetivas.  
Dilma implementou medidas como a redução do Imposto sobre Operações  
Financeiras (IOF) no crédito pessoal, a ampliação dos programas sociais e a valorização do  
salário mínimo acima da inflação. De acordo com Corsi (2016, p. 6), "Dilma caminhava no  
sentido de modificar a política macroeconômica neoliberal herdada de FHC, particularmente  
ao reduzir a taxa de juros e flexibilizar a forma de combate à inflação”. Todavia, desagradou os  
interesses do mercado financeiro, que passaram a pressionar por ajustes fiscais.  
A narrativa de instabilidade econômica, construída em torno da necessidade de o  
Estado equilibrar suas contas, foi amplamente disseminada, reforçando a ideia de que os “gastos  
sociais” poderiam comprometer o desempenho econômico, embora o verdadeiro impacto  
Daniel Carvalho Silva  
tivesse sido a redução do papel do Estado em relação à população, com a priorização do  
mercado. Nesse contexto, o mercado financeiro reagia de forma positiva a políticas que  
favorecessem o setor privado e reduzissem o papel do Estado, enquanto demonstrava  
desconfiança diante de investimentos sociais direcionados aos trabalhadores, em sua busca  
incessante pelo aumento da mais-valia.  
Como foi claramente demonstrado por Marx, na incessante procura pelo  
aumento da taxa de mais-valia, quando a jornada de trabalho, produto das lutas  
de classes historicamente desenvolvidas, encontra-se limitada legalmente,  
caminha, o capitalista, para a exploração da mais-valia relativa; isto é, a  
substituição do prolongamento do dia de trabalho (mais-valia absoluta) pela  
contração do tempo de trabalho necessário para a reprodução da força de  
trabalho, aumentando o tempo de trabalho excedente (Montanõ; Duriguetto,  
2010, p. 166).  
Sob pressão do capital, Dilma adotou medidas alinhadas à ideologia neoliberal,  
intensificando-as em comparação ao governo de Lula. Como resultado, segundo Cassin (2021,  
p. 180):  
O abandono das promessas de campanha e a aplicação do programa  
econômico de seu adversário fez com que Dilma Rousseff se isolasse de seus  
eleitores, o que minou as possibilidades de organização de um movimento  
amplo de resistência popular às ofensivas da direita reacionária.  
O partido abandonou sua base ideológica e, na prática, tornou-se um facilitador dos  
interesses dos capitalistas. A gestão dos governos petistas não adotou uma política  
fundamentada na consciência de classe, contribuindo efetivamente para a despolitização dos  
setores populares. A política do Partido dos Trabalhadores culminou no apassivamento da  
classe trabalhadora (Cassin, 2015), o que posteriormente contribuiu para legitimar a direita  
brasileira. Uma das consequências foi o impeachment da presidente Dilma Rousseff,  
considerado por muitos como um golpe institucional.  
68  
Golpe que depôs a presidente Dilma pode ser caracterizado como um golpe  
jurídico-parlamentar, uma vez que foi orquestrado por um arranjo entre  
diferentes setores do poder burguês: o Legislativo, o Judiciário e a Polícia  
Federal, com o suporte ideológico da grande imprensa (Cassin, 2021, p. 183).  
A partir desse momento, o cenário político nacional abriu espaço para o avanço do  
ultraliberalismo e a ascensão da extrema-direita.  
Aprofundamento neoliberal: de Michel Temer a Jair Bolsonaro  
Os governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff levaram o Brasil a alcançar  
os melhores índices sociais de sua história. Contudo, a complexidade de um país periférico,  
subordinado aos países centrais e inserido em um sistema marcado por crises cíclicas, somada  
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Neoliberalismo: da direita à esquerda na política brasileira  
às contradições do próprio partido ao adotar diretrizes neoliberais, resultou em um progresso  
social limitado. Conforme afirmado por Corsi (2016, p. 10):  
O governo perdeu rapidamente a iniciativa política devido a um conjunto de  
fatores, dentre os quais cabe destacar: deterioração da situação econômica,  
persistência da crise internacional, onda de casos de corrupção, campanha  
diuturna da impressa contra o governo e a implosão da base de sustentação  
política no Congresso, reflexo do desmoronamento da instável aliança de  
classes que sustentava os governos do Partido dos Trabalhadores (PT). Nestas  
circunstâncias, Dilma, optou pelo aprofundamento da política recessiva e  
nomeou Joaquim Levy, indicado diretamente pelo capital financeiro, para  
comandar o Ministério da Fazenda. Ao optar por essa estratégia ela queimou  
a possibilidade de tentar um amplo apoio popular contra a austeridade.  
Como supracitado no capítulo anterior, Dilma persistiu com as políticas neoliberais,  
ampliando os ajustes para acalmar o mercado. No entanto, o grande capital já não contava mais  
com o Partido dos Trabalhadores para gerir a política de Estado. De acordo com Demier (2017,  
p. 96 apud Cassin, 2021, p. 181):  
Gradativamente, ao longo de 2015 e 2016, o Partido dos Trabalhadores, aos  
olhos do conjunto das frações da burguesia brasileira, passou a ser visto – não  
obstante todos os seus vis esforços em provar o contrário – como um partido  
incapaz de implementar as contrarreformas e o ajuste fiscal no grau, no ritmo  
e na intensidade exigidos pela crise econômica nos quadros de um capitalismo  
periférico e dependente.  
O impeachment foi o instrumento escolhido para desmobilizar o PT, seu principal  
líder, Lula, e a esquerda. Ainda que a esquerda não seja sinônimo de petismo/lulismo, em um  
país onde a educação política é precária, a associação linear dessas concepções tornou-se uma  
estratégia categórica para marginalizá-los de forma unilateral. A narrativa de corrupção, desvio  
dos princípios familiares, o “iminente” comunismo e outras informações equivocadas  
difundidas pela direita, influenciaram consideravelmente a sociedade civil.  
69  
Enquanto o processo de impeachment era tramitado, Lula se tornou alvo  
prioritário das investigações da Lava Jato, a qual passou a mobilizar todos os  
esforços na busca de qualquer deslize que comprovasse a vinculação do ex-  
presidente a algum esquema de corrupção. [...] Na tentativa de conferir  
imunidade contra as acusações, Dilma Rousseff nomeou Lula como chefe da  
Casa Civil. A nomeação, no entanto, foi suspensa após o juiz Sergio Moro, à  
época responsável pelos julgamentos da Lava Jato, divulgar ilegalmente a  
gravação da conversa telefônica em que Dilma acertava com Lula o termo de  
posse. Tais acontecimentos foram exaustivamente divulgados pela imprensa,  
com a nítida intenção de desgastar ainda mais o PT – atrelando  
ideologicamente sua imagem aos escândalos de corrupção – e acelerar o  
impeachment (Cassin, 2021, p. 183).  
Nessa conjuntura, parte da população, e especialmente aqueles que haviam ascendido  
socialmente por meio das políticas dos governos petistas, abrangendo o programa de acesso às  
universidades, como o Sistema de Seleção Unificada (SISU), Programa Universidade Para  
Daniel Carvalho Silva  
Todos (PROUNI), Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (FIES) e políticas de  
ampliação de crédito e consumo, encontrava-se agora em oposição ao partido.  
Em 2016, no dia 17 de abril, a Câmara dos Deputados Federais votou favoravelmente  
ao processo de impeachment. Vários discursos dos apoiadores fundamentaram-se na defesa da  
família, na valorização do nacionalismo e no anticomunismo, marcando a ascensão da extrema-  
direita na política brasileira. Na ocasião, o deputado Jair Messias Bolsonaro, filiado ao Partido  
Social Cristão (PSC), declarou:  
Perderam em 64, perderam agora em 2016. Pela família e pela inocência das  
crianças em sala de aula, que o PT nunca teve. Contra o comunismo, pela  
nossa liberdade, contra o Foro de São Paulo, pela memória do coronel Carlos  
Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff. Pelo Exército de Caxias,  
pelas nossas Forças Armadas, por um Brasil acima de tudo e por Deus acima  
de todos, o meu voto é sim.  
Após o processo conduzido pelos demais poderes constituídos, em 31 de agosto de  
2016, Dilma Rousseff foi destituída do cargo através do impeachment. Michel Temer, seu vice,  
sucedeu-a, tornando-se o 37º presidente do Brasil, representando o Partido do Movimento  
Democrático Brasileiro (PMDB), de centro-direita. Ao assumir a presidência, implementou  
políticas de austeridade fiscal.  
O governo Temer propôs a redução dos gastos estatais, priorizando a busca pelo  
superávit, que implicava em uma menor intervenção por parte do Estado. Tal medida resultou  
em cortes nas despesas primárias, incluindo áreas como assistência social, educação e saúde,  
que foram congeladas por duas décadas. Paralelamente, para dar seguimento a uma agenda  
neoliberal, implementou-se a reforma trabalhista, reduzindo os direitos dos trabalhadores e  
ampliando a terceirização. Essa política de ajuste, embora elogiada por alguns economistas,  
impactou diretamente os direitos dos trabalhadores.  
70  
Uma das primeiras medidas do governo Temer foi apresentar ao Congresso  
Nacional a PEC 241/2016 (ou 55), conhecida como a PEC do Teto de Gastos,  
que previa a instituição de um Novo Regime Fiscal e o congelamento das  
despesas primárias por 20 anos. De acordo com a proposta, a partir de 2017,  
os gastos sociais com saúde, previdência social, assistência social, educação,  
cultura, saneamento, desenvolvimento agrário, ciência e tecnologia,  
habitação, infraestrutura, dentre outros, deveriam ser limitados às despesas  
executadas em 2016 e corrigidos anualmente apenas pela variação do Índice  
Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) até 2036. Além disso, a  
PEC 241/2016 sugeria uma alteração no cálculo do valor mínimo a ser  
destinado às políticas de saúde e educação o que, na prática, desvincula tais  
despesas das receitas da União e elimina o piso de gastos estabelecido  
constitucionalmente para estas políticas. As despesas com o pagamento de  
juros e amortizações da dívida pública interna e externa – que consomem a  
maior fatia do orçamento geral da União –, contudo, não foram incluídas neste  
teto de gastos (Cassin, 2021, p. 187).  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 1, p. 58-75, jan./jun. 2025. ISSN 1980-8518  
Neoliberalismo: da direita à esquerda na política brasileira  
A narrativa do ajuste fiscal surgiu para justificar os cortes de “gastos sociais” sob a  
idealização de otimizar o Estado para uma gestão “equilibrada”. No entanto, o que de fato  
ocorreu foi que o Estado retrocedeu em investimentos sociais, reduzindo tudo o que havia sido  
positivamente conquistado pela classe trabalhadora. Enquanto isso, as concessões feitas aos  
empresários, assim como os salários e benefícios de políticos, juízes e militares, foram mantidos  
e aumentados.  
A direita permaneceu ganhando espaço, e, em 2018, após o segundo turno contra o  
candidato Fernando Haddad, do PT, Jair Messias Bolsonaro, agora no Partido Social Liberal  
(PSL), tornou-se o 38º presidente do Brasil. A política de seu governo deu continuidade e  
intensificou as políticas iniciadas por Michel Temer.  
Bolsonaro representava a extrema-direita que vinha crescendo globalmente, à  
semelhança de Donald Trump nos EUA. A intensa concepção nacionalista, o fundamentalismo  
religioso, agressões à diversidade, ameaças às instituições democráticas e o incentivo ao  
combate ao "inimigo do povo”, referindo-se à esquerda, correspondiam a uma postura agressiva  
tanto economicamente quanto em relação aos costumes e valores. “Não se trata de uma corrente  
conservadora, no sentido tradicionalista da palavra, nostálgica do passado, mas de um  
autoritarismo violento, moderno, geralmente neoliberal” (Löwy, 2020, p. 13).  
Bolsonaro, em conjunto ao Ministro da Economia, Paulo Guedes, aprofundou as  
políticas neoliberais, o que provocou a drástica redução das políticas sociais, um índice de  
privatizações que alcançou 36% (Konchinski, 2022) e a estagnação dos salários dos  
trabalhadores, que ficaram abaixo da inflação (Verenicz, 2022), restringindo, assim, o acesso  
aos bens produzidos. De igual modo, deu seguimento às contrarreformas dos direitos dos  
trabalhadores, com a reforma da previdência, que aumentava os anos de contribuição e a idade  
mínima, além de reduzir as pensões.  
71  
Aprovada em outubro de 2019, na forma da EC 103/2019, a nova  
contrarreforma da previdência ampliou o tempo mínimo de contribuição para  
40 anos, para receber o benefício correspondente ao valor integral dos salários  
dos trabalhadores ativos; aumentou a idade mínima para aposentadoria para  
62 anos (mulheres) e 65 anos (homens) e elevou o tempo de contribuição para  
15 e 20 anos, respectivamente; aumentou a idade e tempo de contribuição para  
a aposentadoria dos professores (25 anos de contribuição e 57 anos de idade,  
se mulher e 60 anos de idade, se homem) e reduziu o valor das pensões. Além  
disso, foram instituídas novas alíquotas de contribuição e novas regras para o  
cálculo do valor da aposentadoria (Cassin, 2021, p. 197).  
A redução dos gastos públicos promovida no governo Bolsonaro agravou a  
desigualdade social. Com uma política centralizada no mercado, o Brasil chegou a 29 milhões  
de pessoas em insegurança alimentar, como aponta o levamento da Fundação Getúlio Vargas  
Daniel Carvalho Silva  
(FGV), 10 milhões de desempregados e 60 milhões trabalhando em condições desprotegidas e  
instáveis, de acordo com o IBGE (Fome, 2023).  
Mesmo com índices desfavoráveis para o desenvolvimento social brasileiro, a base de  
apoio bolsonarista manteve-se resiliente. A herança ultraconservadora7, ultraliberal e  
reacionária perdurou, mesmo após a derrota de Jair Messias Bolsonaro nas eleições de 2022.  
Em apenas seis anos, a extrema-direita consolidou um trabalho de base que a esquerda petista  
falhou em realizar ao longo de catorze anos no poder.  
Considerações finais  
A análise sintetizada do período de 1990 a 2022, abrangendo os governos eleitos pelo  
voto direto após a redemocratização, visa identificar o que há de comum entre eles, destacando  
o modo operante neoliberal com um traço predominante que serve de base para uma avaliação  
crítica da política nacional. Este estudo evidencia que, tanto em governos de direita quanto de  
esquerda, persiste uma característica estruturante do sistema capitalista: a subjugação da classe  
trabalhadora.  
O neoliberalismo, entendido como uma nova fase da lógica liberal clássica, foi  
implementado por governos de direita e extrema-direita, o que não é uma grande surpresa,  
considerando a definição tradicional de direita e esquerda, originada durante a Revolução  
Francesa e representada pela divisão entre girondinos e jacobinos8. A conservação da ordem  
sempre esteve associada à direita. No entanto, é importante refletir sobre como a esquerda  
brasileira, ao longo de sua trajetória, permaneceu atenuada às mudanças político-ideológicas  
que a levaram a se adaptar ao sistema. Durante os governos do Partido dos Trabalhadores, ainda  
que algumas flexibilizações tenham ocorrido, o modelo neoliberal não foi desafiado de forma  
significativa. Assim, apesar de certas mudanças relevantes, o núcleo político e econômico do  
neoliberalismo permaneceu intocado. Essa continuidade, somada ao distanciamento de pautas  
históricas da esquerda, ao enfraquecimento de suas bases sociais e à priorização de políticas  
focalizadas e temporárias, mostrou-se incapaz de atender às demandas amplas da população,  
resultando no progressivo enfraquecimento do campo progressista.  
72  
7
O ultraconservadorismo é a defesa radical dos costumes, da moral e da estrutura familiar. Esse movimento  
fundamenta-se na ideia de proteção dos cidadãos contra a ameaça aos seus princípios e valores. Nesse sentido,  
busca restaurar a ordem frente à “desestruturação” promovida pelos governos de esquerda.  
8 Os girondinos sentavam-se à direita da Assembleia Legislativa, enquanto os jacobinos ocupavam os assentos à  
esquerda. Dessa disposição espacial originou-se a distinção entre os termos “esquerda” e “direita” no espectro  
político, utilizada amplamente nos debates contemporâneos.  
Libertas, Juiz de Fora, v. 25, n. 1, p. 58-75, jan./jun. 2025. ISSN 1980-8518  
Neoliberalismo: da direita à esquerda na política brasileira  
A conclusão apresentada se distancia de qualquer postura pós-modernista ou apolítica,  
que sugere uma neutralidade inexistente, caracterizando uma posição de “nem direita nem  
esquerda”. A alternativa, portanto, reside na política que se alinha à esquerda, lutando ao lado  
dos trabalhadores, com ênfase no fortalecimento dos movimentos sociais e sindicatos. É  
fundamental compreender que limitar-se ao sistema hegemônico e abandonar suas vertentes  
não contribui para a transformação das condições sociais. A esquerda não se assimila à direita,  
não se conforma, transforma; não se define pelo mercado, mas pela classe trabalhadora.  
O resgate histórico da política brasileira implica entender a velha e famosa frase  
popular: “político é tudo igual, depois que eles ganham as eleições, esquecem do povo”.  
Embora essa expressão reflita um ceticismo quanto à capacidade de transformação por meio da  
política, é inegável que, no funcionamento da política institucional, o povo de fato permanece  
esquecido. O que precisa ser definido não é o pessimismo em relação à política, mas a  
insuficiência do sistema capitalista, que, seja sob a ótica neoliberal ou não, se mostra incapaz  
de responder adequadamente às demandas dos trabalhadores.  
A trajetória histórica do capitalismo, desde um Estado liberal ortodoxo, passando pelo  
movimento do proletariado em busca de direitos no século XIX nos países centrais, a  
consolidação do Welfare State da social-democracia, a expansão dos movimentos sociais na  
luta pela redemocratização e as políticas sociais na América Latina, até a reorientação do Estado  
para o neoliberalismo, ilustra a dinâmica dos movimentos políticos da direita à esquerda. Em  
todas essas etapas, a não transformação hegemônica do capital resultou em derrotas para os  
trabalhadores. Como afirmam Marx e Engels (2021, p. 43):  
73  
[...] Aqui torna-se evidente que a burguesia é inapta para ser a classe  
governante da sociedade e para impor suas condições de existência à  
sociedade como uma lei primordial. É inapta para governar porque é  
incompetente para assegurar uma existência para os seus escravos dentro da  
escravatura; porque não consegue evitar de deixá-los afundar em tal estado,  
pois ela tem de alimentá-los, em vez de ser alimentada por eles. A sociedade  
não pode mais viver sob esta burguesia, em outras palavras, a sua existência  
não é mais compatível com a sociedade.  
Somente uma nova forma política, alicerçada na coletividade e na emancipação da  
classe trabalhadora, pode possibilitar a construção de uma sociedade pautada na justiça social.  
Nesse sentido, torna-se imprescindível a consolidação de um socialismo democrático e  
científico formulado por Karl Marx e Friedrich Engels.  
Daniel Carvalho Silva  
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