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posição dos oprimidos no contexto das estruturas sociais e econômicas em que
vivem (Bailey; Brake, 1975, p. 9).
Esse movimento foi muito importante. Mas, como já defendemos em outro texto, a
tradição do Serviço Social Radical é mais antiga do que o movimento dos anos 1970 (Lavalette;
Ferguson, 2008). Por exemplo, num discurso proferido em 1910, Jane Adams, na época
Presidente da Associação Nacional de assistentes sociais dos EUA, poderia argumentar:
Um grupo que tradicionalmente foi levado à ação pela 'piedade para com os
pobres', chamamos 'Caridosos'; o outro, maior ou menor em cada geração, mas
sempre movido pelo 'ódio à injustiça', designamos como os Radicais”
(Addams, 1910, p. 68).
Desde o final do século XIX até meados do século XX, houve um número significativo
de “pioneiros radicais” que defendiam um tipo diferente de Serviço Social. Para além de Jane
Addams (nos EUA), a lista inclui, entre outras, pessoas (na sua maioria mulheres) como Bertha
Cappen Reynolds (EUA), Mentona Mosser (Suíça), Irena Sendler (Polónia), Esme Rodgers
(Austrália), Mary Jennison e Bessie Touzel (Canadá) e Mary Hughes e Emmeline Pethick (Grã-
Bretanha).
Num artigo em que se discute a importância das pioneiras canadenses do Serviço Social
Radical, Jennissen e Lund (2018) descrevem os temas do seu artigo de uma forma que é
aplicável a todas as mulheres acima referidas:
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[Elas são] “assistentes sociais radicais”, ou seja, assistentes sociais que
defendiam pontos de vista de esquerda com críticas ao capitalismo embasadas
na classe. As mulheres de nossa amostra, todas formadas em Serviço Social,
eram feministas, socialistas e comunistas convictas ou simpatizantes dessas
causas; suas contribuições para a profissão eram embasadas por idéias
marxistas. Elas eram politicamente ativas e se opunham à desigualdade de
classe, raça e gênero. Compreendiam a importância do trabalho assalariado,
dos sindicatos, dos partidos políticos e de como essas estruturas se relacionam
com os trabalhadores. Eram intelectuais e prolíficas na escrita, apresentações
e participação em conferências; eram internacionalistas comprometidos com
a paz. Por fim, eram extremamente corajosas, recusando-se a se esquivar de
suas convicções políticas, apesar da demissão e perseguição por parte do
Estado e das forças conservadoras da sociedade (2018, p. 46/47).
Além disso, devemos enfatizar que o ativismo e a resistência do Serviço Social nem
sempre se limitam ao mundo da língua inglesa. Um dos exemplos mais importantes de práxis
radical, embora ainda não seja suficientemente conhecido no Ocidente, é o Movimento de
Reconceituação que se desenvolveu na América Latina nos anos 1960 (Critical and Radical
Social Work, 2021). O Movimento de Reconceituação tinha suas raízes no marxismo e foi
influenciado por três perspectivas contemporâneas: as ideias de conscientização de Paulo
Freire, elementos extraídos da teologia da libertação e a influência dos movimentos sociais que
estavam surgindo na América Latina naquela época.
Libertas, Juiz de Fora, v. 24, n. 1, p. 367-386, jan./jun. 2024. ISSN 1980-8518