Tradução  
“Não está escuro ainda, mas está chegando lá”:  
Crises globais, Serviço Social e resistência*  
Iain Ferguson**  
Michael Lavalette***  
Resumo: Na terceira década do século XXI, enfrentamos uma série de crises interligadas que  
ameaçam a própria base da vida no Planeta Terra. Estas incluem uma crise ambiental; uma  
pandemia de COVID-19 que se estima ter causado mais de 15 milhões de mortes em todo o  
mundo; uma crise econômica contínua; uma crise política, com o crescimento de partidos e  
governos de extrema-direita numa escala não vista desde a década de 1930; e a crescente  
competição interimperialista, com a ameaça de guerra nuclear agora maior do que em qualquer  
momento desde a crise dos mísseis cubanos de 1962. A partir de uma análise marxista,  
argumentamos que as raízes destes fenômenos residem na busca incansável do capitalismo  
global pelo lucro à custa do meio ambiente e da vida na Terra. A parte central do texto explora  
as três principais formas pelas quais a profissão de serviço social tem historicamente respondido  
a desafios semelhantes – conivência, conformidade e resistência – e avalia a contribuição que  
o serviço social hoje pode dar no desafio às forças reacionárias e na promoção de uma agenda  
que coloca em primeiro plano a satisfação das necessidades humanas, os direitos humanos, o  
meio ambiente e o anti-racismo, com especial destaque para as novas redes mais radicais que  
surgiram nos últimos anos.  
*‘It’s not dark yet but it’s getting there’: Global crises, social work and resistance. Texto publicado originalmente  
em: Edited Collection: Kamali, M. (ed.) (2023) Revolutionary Social Work: Promoting Systemic Changes,  
London: Routledge. Reproduzido com a permissão de Taylor & Francis Group para a revista Libertas, concedida  
em junho de 2024. Traduzido por: Giovanna Canêo – Assistente Social, doutoranda em Serviço Social pela  
(PUC/SP; Liverpool Hope University); Jhulia Salviano da Silva – mestre em Saúde Pública (Robert Gordon  
University/Reino Unido); Pedro Gabriel Silva – doutor em Serviço Social (Universidade de Jÿvaskÿla/ISCTE-  
Instituto Universitário de Lisboa) e em Estudos Contemporâneos (Universidade de Santiago de Compostela),  
Professor Auxiliar na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro/Portugal; Shirleny Pereira de Souza Oliveira  
– doutora em Serviço Social (PUC/SP); e revisado por Antoniana Defilippo – doutora em Serviço Social (UFRJ),  
Professora Adjunta da UFF/Rio das Ostras. Tradutores e revisora integram a pesquisa “Serviço Social Radical no  
Reino Unido: Os fundamentos histórico-críticos do Serviço Social britânico na contemporaneidade”, coordenado  
por Antoniana Defilippo, vinculada à Rede Internacional de Pesquisadores e à pesquisa “O Serviço Social na  
história: questão social e movimentos sociais – América Latina e Europa”, financiada pelo CNPQ.  
**  
Iain Ferguson é professor aposentado na University of the West of Scotland, lecionando em Serviço Social e  
Política Social. É editor consultivo da Critical and Radical Social Work: an International Journal, membro do  
Conselho Editorial do International Socialism Journal e autor de Politics of the Mind: Marxism and Mental Distress  
(Bookmarks, 2ª ed., 2023) e Global Social Work in a Political Context: Radical Perspectives, juntamente com  
Michael Lavalette e Vasilios Ioakimidis (Policy Press, 2018).  
***  
Michael Lavalette é professor do Departamento de Serviço Social, Cuidado e Justiça da Liverpool Hope  
University. Publicou amplamente sobre serviço social radical e movimentos sociais contemporâneos e é co-editor  
do periódico Critical and Radical Social Work.  
DOI: 10.34019/1980-8518.2024.v24.44930  
Esta obra está licenciada sob os termos  
Recebido em: 18/06/2024  
Aprovado em: 19/06/2024  
Autor  
Introdução: aprofundamento das crises  
Ambos crescemos no oeste da Escócia nas décadas de 1960 e 1970. A crise dos mísseis  
cubanos de 1962 e a ameaça real de guerra nuclear que representava ainda estavam frescas na  
mente das pessoas – especialmente para aquelas como nós que viviam perto da principal base  
nuclear do Reino Unido, em Faslane. Não era incomum avistar membros de vários grupos  
religiosos com placas ou cartazes com as palavras “O fim do mundo está próximo” e, embora  
formulássemos as nossas preocupações de forma diferente, estas pessoas captavam uma  
sensação de mau presságio em relação ao que o futuro poderia ou não reservar.  
Neste capítulo, não queremos soar como velhos adivinhos marxistas do pessimismo e  
da destruição (embora, como será óbvio, é o marxismo, enquanto tradição viva, que informa  
tanto a nossa análise teórica como a nossa atuação política). Mas, como sugere a letra de Bob  
Dylan no título do capítulo, não é preciso ser um fanático religioso para reconhecer que a  
situação em que nos encontramos - “nós”, neste caso, significando a humanidade como guardiã  
da vida na Terra - dificilmente poderia ser mais grave. O filósofo marxista Walter Benjamin,  
em sua tese “Sobre o Conceito de História” (1940), caracterizou o capitalismo como uma  
locomotiva fora de controle que se precipita sobre os trilhos em direção ao abismo. Nossa visão  
é que isso capta algo de pungente sobre a crise existencial que o capitalismo está criando para  
a humanidade. Aqui, vamos nos referir a apenas a quatro das ameaças prementes.  
368  
Em primeiro lugar, temos a crise ecológica. Acima de tudo, isto significa alterações  
climáticas provocadas pelo homem. As temperaturas globais aumentaram drasticamente desde  
o início da Revolução Industrial, tendo a velocidade da mudança (a “Grande Aceleração”) sido  
particularmente acentuada desde o final da Segunda Guerra Mundial. Os gases de “efeito  
estufa”, metano e dióxido de carbono, foram lançados na atmosfera, provocando o aumento das  
temperaturas, o degelo dos glaciares e a subida do nível dos mares, o que introduziu uma  
instabilidade significativa nos nossos sistemas meteorológicos e climáticos. Durante a maior  
parte do Holoceno (a fase geológica que permitiu o florescimento da civilização humana), a  
quantidade de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera oscilou entre 180 partes por milhão  
(ppm) e 240 (ppm). Dados recentes colocam os níveis de CO2 em 410 ppm - e a 450 ppm,  
sendo irreversíveis, ocorrerão alterações climáticas catastróficas. Se não forem tomadas  
medidas imediatas, de acordo com as tendências atuais, atingiremos este limite nas próximas  
décadas (Angus, 2017; Ferguson et al, 2018).  
Mas o impacto do capitalismo no nosso sistema ecológico não se limita às alterações  
climáticas. O capitalismo trata a natureza e seus recursos como mercadorias que devem ser  
“usadas”, destruídas, compradas e trocadas com fins lucrativos. E isto conduziu à degradação  
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Título  
do mundo natural.  
A degradação da terra pelo capitalismo levou ao que marxistas como John Bellamy  
Foster (Foster et al, 2010) chamaram de “rupturas metabólicas” significativas. Este conceito  
deriva de Marx em O Capital (Volume 3), onde ele escreve sobre a “ruptura irreparável no  
processo interdependente do metabolismo social” (1981, p. 946). Aqui, Marx discutia a ruptura  
na interação metabólica entre a humanidade e o resto da natureza que emana da produção  
agrícola capitalista. Por exemplo, Marx assinala as formas como a agricultura capitalista destrói  
e corrói a camada superior do solo, ao não repor a terra. Mas outras “rupturas metabólicas”  
resultam de fatores como a construção de represas, que alteram o percurso dos rios e interferem  
no abastecimento de água. Ou os poluentes que são injetados nos cursos das águas e nas reservas  
de água, destruindo a vida vegetal e animal e tornando inúteis as reservas vitais de água. Estas  
rupturas metabólicas são mais um exemplo da relação destrutiva do capitalismo com o nosso  
sistema ecológico.  
O capitalismo dos combustíveis fósseis também conduziu à extinção em massa de  
espécies a uma escala nunca vista desde a destruição dos dinossauros há cerca de 66 milhões  
de anos. O que é referido como a “Sexta Extinção em Massa” significa que mais de 500 espécies  
de animais terrestres estão à beira da extinção e é provável que se percam dentro de 20 anos  
(Earth.Org, 2021).  
369  
É evidente. Quatrocentos anos de capitalismo provocaram uma imensa destruição no  
nosso planeta e o tempo está, literalmente, se esgotando. Nosso mundo está em chamas e o  
capitalismo está empurrando a humanidade para uma crise existencial. Como Benjamin  
argumenta, precisamos de uma mudança sistêmica para interromper o “processo de evolução  
histórica que conduz à catástrofe” (Lowy, 2016, p. 9).  
Um outro elemento da crise ecológica é a pandemia de Covid-19. Trata-se de uma  
catástrofe que, em nível mundial, já custou a vida de mais de 4 milhões de pessoas, deixou  
outros milhões com a Covid Longa e com problemas de saúde mental. Mas, como  
demonstraram o biólogo radical Rob Wallace (2016) e o geógrafo radical Mike Davis (2006;  
2020), isto está longe de ser um desastre “natural”. Pelo contrário, é a consequência do desejo  
incessante por lucro do capitalismo neoliberal, que também cria as condições para a zoonose.  
Em particular, o impacto da chamada “revolução da pecuária” criou oportunidades  
significativas para os agentes patogênicos ultrapassarem as fronteiras das espécies. As enormes  
fábricas agrícolas, onde milhares de bovinos e suínos e centenas de milhares de frangos são  
criados de forma intensiva, criaram aquilo a que Wallace chama de “placa de Petri” para o  
desenvolvimento de novos vírus. No entanto, esta situação é acompanhada pela destruição  
Autor  
contínua das florestas e pela expulsão dos agricultores pobres das suas terras, o que, em  
conjunto, força os agricultores a entrarem mais profundamente nas florestas existentes, onde  
entram em contacto com animais selvagens. Em conjunto, tudo isto cria condições para a  
ocorrência de zoonoses.  
Em “O monstro bate à nossa porta: a ameaça global da crise aviária” (2006), Mike Davis  
levantou o espectro de uma doença pandêmica que passasse dos animais para os seres humanos  
e a devastação que isso poderia causar. Na edição revista, The Monster Enters (2020), ele  
observa que, em muitos aspectos, tivemos “sorte” com a Covid-19 e que era possível - e  
continua a ser possível - que uma doença muito mais virulenta pudesse atravessar espécies e  
causar uma destruição muito maior na vida humana do que a Covid-19. A sua conclusão é que,  
enquanto o capitalismo continuar a criar animais da forma como o faz atualmente e enquanto  
as florestas continuarem a serem destruídas no ritmo atual, não devemos ficar surpreendidos  
com a possibilidade de, em dada altura, nas próximas semanas, meses ou anos, ocorrer outra  
pandemia devastadora.  
Uma segunda ameaça que enfrentamos é a crise econômica. A economia global ainda  
não se recuperou totalmente da crise financeira de 2008. E o preço do resgate dos bancos e da  
salvação do capitalismo, desde então, tem sido pago por milhões de pessoas da classe  
trabalhadora em toda a Europa, sob a forma de cortes nas políticas sociais e uma política de  
austeridade que fez cair o nível de vida dos trabalhadores, das pessoas com deficiência e  
aposentados (Cavero; Poinasamy, 2013).  
370  
Agora está evidente que os governos buscam que os custos da “recuperação da  
pandemia” sejam suportados pelas comunidades da classe trabalhadora. Em todo o mundo,  
vários sistemas de proteção ao emprego, postos em prática durante a pandemia, estão chegando  
ao fim, ameaçando um corte massivo de postos de trabalho. As economias estão sofrendo com  
baixas taxas de crescimento e de inflação - “estagflação” - a um nível que não se registrava  
desde a década de 1970. A pandemia também revelou uma crise na logística e nas linhas de  
abastecimento neoliberal. As práticas de trabalho “just-in-time” preferidas da era neoliberal  
global estão resultando na escassez de componentes, matérias-primas e produtos alimentares  
em todo o mundo (Dominic Rushe et al, 2021).  
Um refrão frequentemente ouvido no início da atual pandemia foi “não podemos voltar  
a ser como éramos antes”. Porém, a verdade é que, a menos que haja uma resistência muito  
maior do que a que temos visto até agora, mais uma vez serão as pessoas comuns em todo o  
mundo que pagarão o custo da crise da Covid através do desemprego, do colapso dos padrões  
de vida e do desmoronamento dos serviços de saúde e de assistência social.  
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Em terceiro lugar, há a crise política. A adoção, desde a década de 1990, de políticas  
neoliberais por antigos partidos social-democratas em todo o mundo (e a incapacidade das  
novas formações de esquerda, como o Syriza na Grécia, o Podemos na Espanha e o  
“Corbynismo” no Reino Unido, para resistir às pressões do capitalismo global) levou a um  
colapso do apoio da classe trabalhadora a esses partidos e ao crescimento do apoio à extrema-  
direita e aos partidos neofascistas em todo o mundo, do Brasil à Índia, da França aos EUA.  
Em todo o mundo, os governos de direita têm tentado minar algumas das conquistas que  
resultaram dos movimentos sociais da década de 1960. Houve tentativas de fazer retroceder os  
direitos das mulheres (como, por exemplo, as políticas antiaborto no Texas [Maier et al, 2021],  
ou a descriminalização da violência doméstica na Rússia nos casos em que a vítima não sofre  
ferimentos “graves” [Spring, 2018]). Testemunhamos as formas mais flagrantes de racismo  
institucionalizado (talvez mais claramente nos numerosos exemplos de racismo policial nos  
EUA). A islamofobia institucionalizada foi incorporada na legislação em grande parte da  
Europa (nomeadamente na França e na Suíça [ver, por exemplo, Abdelkader, 2017]) e na Índia,  
após a aprovação da lei discriminatória - Lei da Cidadania (Alteração), em 2020 (Bajoria,  
2021). Enquanto no Brasil o governo avançou ainda mais para atacar os direitos dos povos  
indígenas e as suas campanhas contra os interesses mineiros ilegais (Wallace, 2021). E, é claro,  
isto está em paralelo com a crescente hostilidade do Estado aos refugiados e imigrantes em  
grande parte do mundo (Crawley; Skleparis, 2018).  
371  
Finalmente, todos acima estão se desenvolvendo num contexto de crescente rivalidade  
interestatal e imperialista. Embora a recente retirada ocidental do Afeganistão represente um  
golpe significativo para o prestígio dos EUA e do Reino Unido, não cessou o impulso  
competitivo para a guerra entre Estados. Os EUA e o Reino Unido continuam a apoiar Israel  
em seus conflitos com os palestinos, com grupos na Síria e com o Irã. AArábia Saudita utiliza  
bombas e aviões de fabricação britânica para aterrorizar a população do Iêmen. Durante o verão,  
navios de guerra britânicos “apareceram” em águas controladas pela Rússia ao largo da  
Crimeia. O embargo dos EUA a Cuba prossegue em ritmo acelerado. Mas é a evolução das  
tensões entre os EUA, o Reino Unido, aAustrália e a China que mais preocupa. O acordo militar  
AUKUS aumentou as tensões com a China nos mares do Sul da China, enquanto a corrida  
espacial EUA/China assume tons cada vez mais sombrios com o lançamento dos testes de  
mísseis “hipersônicos” da China. Uma corrida ao armamento entre potências nucleares  
fortemente armadas representa mais uma grave ameaça para o nosso mundo e para a  
humanidade.  
Não há dúvida de que muito está em jogo. E a questão que queremos colocar neste  
Autor  
capítulo é simples: onde está o Serviço Social em tudo isto? Que contribuição pode dar o  
Serviço Social, uma profissão global formalmente empenhada na justiça social e na capacitação  
e libertação das pessoas (como a definição global de Serviço Social deixa claro), para desafiar  
as forças reacionárias e para promover uma agenda que coloque em primeiro plano a satisfação  
das necessidades humanas, os direitos humanos, o meio ambiente e o antirracismo?  
Por razões óbvias, a contribuição que os assistentes sociais podem dar para enfrentar  
estas ameaças globais será provavelmente relativamente limitada. A inserção de muitos  
assistentes sociais em agências estatais (ou em ONGs que dependem do Estado ou de empresas  
privadas para o seu financiamento) limita seriamente a sua capacidade de se envolverem em  
ações políticas no âmbito do seu papel profissional como assistentes sociais. Além disso, a  
erosão bem documentada da prática do Serviço Social pela imposição de práticas e prioridades  
gerenciais e orientadas para o mercado nas últimas décadas, resultou na criação do que  
chamamos de Serviço Social Neoliberal (Ferguson, 2008; Harris, 2014), que tem reduzido ainda  
mais a possibilidade de se envolver numa prática progressista ou criativa, quer sob a forma de  
trabalho comunitário, quer sob a forma de trabalho terapêutico com indivíduos. Assim, para  
enfrentar estas ameaças existentes serão necessárias forças sociais muito mais poderosas do que  
os assistentes sociais, forças à altura dos grandes movimentos sociais e movimentos de classe  
dos anos 1960 e, mais recentemente, durante a primavera Árabe de 2011.  
372  
Dito isto, no passado, os assistentes sociais tinham frequentemente uma visão muito  
mais ambiciosa do seu papel do que muitos parecem ter atualmente. Descrevendo as atividades  
dos assistentes sociais nos EUA no período anterior à Primeira Guerra Mundial, por exemplo,  
Michael Reisch e Janice Andrews escreveram:  
Em retrospectiva, poucos assistentes sociais radicais durante a Era  
Progressista (a década anterior à Primeira Guerra Mundial) tinham objetivos  
conscientemente revolucionários em seu cotidiano de trabalho. Cem anos  
mais tarde, os seus resultados parecem muito mais reformistas do que radicais.  
Ainda assim, a sua ênfase na justiça social, a sua análise das condições  
socioeconômicas em termos estruturais ou sistêmicos, o seu enfoque em  
questões de classe social, as suas ligações a movimentos organizados por  
feministas e afro americanos, e as suas ligações a sindicalistas radicais e  
partidos políticos de esquerda representavam uma ameaça à ordem política  
estabelecida que os contemporâneos não podiam ignorar (Reisch; Andrews,  
2002, p. 35).  
Como devemos, então, encarar o papel do Serviço Social em relação aos desafios que  
enfrentamos atualmente?  
Infelizmente, não há garantias quanto à forma como a profissão responderá a estas  
ameaças e desafios. Como observou o acadêmico britânico Bill Jordan, o Serviço Social tem  
desempenhado vários papéis em sistemas contrastantes de proteção social e tem servido a uma  
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série de interesses políticos:  
A sua grande virtude - o fato de ser infinitamente adaptável às circunstâncias  
- também o torna aberto à exploração para qualquer tipo de finalidades  
políticas (Jordan, 1984).  
Na próxima seção, discutiremos algumas das formas como os assistentes sociais  
responderam a grandes desafios políticos no passado, para ver o que podemos aprender com a  
nossa própria história. Se quisermos navegar pelas crises contemporâneas, faríamos bem em  
aprender com o conhecido aforismo de George Santayana: “Aqueles que não se lembram do  
passado estão condenados a repeti-lo” (1905/2018).  
O passado controverso e disputado do Serviço Social  
Se olharmos para a história do Serviço Social, podemos ver que, em grande medida, a  
profissão tem respondido aos problemas sociais de várias formas, cada uma delas moldada pelas  
perspectivas políticas dominantes no Serviço Social. Internacionalmente, o Serviço Social  
Internacional sempre foi uma profissão controversa e disputada, com diferentes tradições,  
identificadas por Midgley como a tradição corretiva ou de trabalho de caso, a tradição  
desenvolvimentista e a tradição ativista ou radical (Midgley, 2001).  
Neste capítulo, o nosso foco principal será a terceira destas tradições. Isto não se deve  
ao fato de ser a tradição dominante - na realidade, sempre foi uma tradição muito minoritária -  
nem ao fato de não existirem pontos fortes nas outras duas tradições - existem - mas por duas  
razões principais.  
373  
Em primeiro lugar, porque, ao contrário das outras duas tradições, a tradição radical  
encara explicitamente o Serviço Social como uma atividade política, tanto no sentido de ser  
uma criação da política social como no sentido de ter uma obrigação ética de se envolver nas  
questões políticas do momento. Em segundo lugar, do nosso ponto de vista, com base na nossa  
experiência de envolvimento ao longo de quase duas décadas na Social Work Action Network  
no Reino Unido (sobre a qual falaremos mais adiante), estamos atualmente a assistir a um  
renascimento dessa tradição, de que falaremos a seguir.  
Antes disso, porém, é necessário considerar algumas das formas pelas quais a profissão  
respondeu a grandes desafios políticos ou éticos no passado. Sugerimos que estas respostas  
tenham, geralmente, assumido uma das três formas principais - conivência, conformidade ou  
contestação - e daremos exemplos de cada uma delas.  
Em segundo lugar, identificamos alguns dos fatores que deram origem à mais recente  
experiência de contestação (aquilo a que um de nós chamou em outro texto: “o novo radicalismo  
do Serviço Social”). Por fim, argumentamos que, historicamente, o marxismo foi importante na  
Autor  
formação da teoria e da prática do Serviço Social Radical no passado e continua a oferecer uma  
base sólida para uma práxis do Serviço Social no século XXI, incluindo a explicação e a  
oposição a diferentes formas de opressão.  
Conivência  
Aprimeira resposta que iremos considerar é a conivência e a cooperação com as práticas  
opressivas do Estado. Há uma narrativa dominante em grande parte da literatura sobre Serviço  
Social que vê o Serviço Social como uma profissão essencialmente benigna, enraizada na ética  
kantiana e preocupada principalmente em ajudar as pessoas. De fato, pode ser verdade que a  
maioria dos assistentes sociais, na maior parte do tempo, tem “boas intenções”. No entanto, a  
realidade da prática do Serviço Social tem estado frequentemente longe de ser benigna. Como  
defendemos em nosso livro Global Social Work in a Political Context1, o Serviço Social tem  
suas próprias “histórias horríveis”.  
Em primeiro lugar, temos a experiência do Serviço Social na Alemanha nazi,  
provavelmente o ponto mais baixo da história da profissão. Walter Lorenz, Tim Kunstreich e  
outros documentaram a forma como as competências de diagnóstico dos assistentes sociais  
foram utilizadas no âmbito dos programas sociais eugenistas do regime nazi para separar os  
“merecedores” dos “indignos”, aqueles que sofriam de transtornos mentais ou com deficiência  
intelectual, que seriam então considerados elegíveis para a esterilização compulsória ou para o  
extermínio. Como Lorenz observou:  
374  
Mantendo-se fiéis à sua tarefa profissional com um ar de neutralidade de  
valores e distanciamento científico (especialmente depois de os assistentes  
sociais “não conformes” e “politicamente ativos” terem sido despedidos ou  
presos), eles não se sentiram responsáveis pelas consequências das suas  
avaliações e podem mesmo não ter tido consciência de todas as implicações  
que o seu trabalho tinha no contexto nacional (Lorenz, 2006).  
Estima-se que cerca de 70.000 pessoas com transtornos mentais ou com deficiência  
intelectual foram sistematicamente exterminadas na Alemanha entre 1939 e 1941, um número  
que aumentou para cerca de 250.000 no final da Segunda Guerra Mundial (Holocaust  
Encyclopedia).  
Um segundo exemplo vem da Grécia. Uma pesquisa realizada por Vasilios Ioakimidis  
revelou o papel desempenhado sob liderança do Serviço Social grego durante décadas de tensão  
política e de supressão dos direitos civis que culminaram numa Junta Militar de sete anos (1967-  
74). Tal como Ioakimidis demonstrou, grande parte da resistência contra a ditadura veio dos  
1 Sem tradução no Brasil.  
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jovens, sobretudo alunos de escolas e estudantes universitários. Quando os militares tiveram  
dificuldade em controlar os “jovens indisciplinados” e muitos professores pareciam estar  
demasiado politizados para lidar com a questão, a "Greek Association of Social Workers"  
(GASW) contatou a ditadura, oferecendo todo o apoio dos assistentes sociais no controle destes  
jovens indisciplinados.  
Em resposta, o Ministro do Bem-estar Social da ditadura fez circular um memorando  
intitulado “Disposições relativas aos assistentes sociais e à sua utilização profissional”,  
sugerindo que:  
O Governo grego, durante a reforma geral do trabalho em curso, se ocupará  
de todas as exigências restantes do Serviço Social… Por outro lado,  
apreciamos muito a contribuição dos assistentes sociais na implementação  
construtiva dos nossos programas sociais. O Ministério dos Serviços Sociais  
tomará todas as medidas adequadas para uma organização vantajosa e  
coerente dos assistentes sociais em comissão (Ioakimidis, 2011, p. 515).  
O GASW celebrou essa colaboração, assegurando ao Coronel Papadopoulos, chefe da  
junta militar, que os assistentes sociais gregos estavam bem preparados para lidar com questões  
de ajustamento social, e sublinhando que os assistentes sociais: “estão cientificamente melhor  
preparados do que os professores para prevenir as tribulações sociais [nas escolas]” (Ioakimidis  
2011).  
Trata-se, lembrem-se, de uma ditadura cruel, ativamente empenhada em utilizar todos  
os meios, incluindo a tortura, para reprimir os ativistas pró-democracia.  
375  
Um terceiro exemplo vem do Reino Unido e diz respeito ao UK Child Migrants Scheme.  
Entre o final do século XIX e o início da década de 1970, cerca de 150.000 crianças que se  
encontravam em instituições de acolhimento e que provinham de meios pobres foram enviadas  
da Grã-Bretanha para a Austrália, o Canadá e outras colônias britânicas. Num esquema que foi  
apoiado por algumas das principais instituições de caridade para crianças do Serviço Social do  
Reino Unido, estas crianças foram enviadas para repor a força de trabalho nestes países e, no  
caso da África do Sul, isto incluiu a garantia de que as crianças eram selecionadas com base na  
sua 'boa raça branca' (Bean e Melville 1989). Muitas das crianças passaram a trabalhar como  
mão de obra barata nas fazendas, enquanto outras foram abusadas - física, emocional e  
sexualmente - em lares de acolhimento, orfanatos estatais e instituições religiosas. As crianças  
eram frequentemente informadas - falsamente - de que os seus pais tinham morrido, enquanto  
os pais recebiam poucas informações sobre o destino de seus filhos. Os sobreviventes  
afirmaram que foram separados dos irmãos e irmãs e sujeitos a abusos físicos e sexuais brutais  
por parte daqueles que deveriam estar promovendo seus cuidados.  
Em 2010, os primeiros-ministros da Grã-Bretanha e da Austrália pediram desculpas  
Autor  
publicamente aos sobreviventes pelos abusos de que foram vítimas. No entanto, este continua  
a ser um dos episódios mais vergonhosos da história do Serviço Social britânico (e australiano).  
Sejamos claros. Não estamos argumentando que todos os assistentes sociais na  
Alemanha, durante a era nazista, eram membros do partido nazista e nem sequer,  
necessariamente, eleitores nazistas, ou companheiros de viagem ou “apoiadores” num sentido  
consciente (embora alguns fossem, sem dúvida, tudo isto). Tampouco estamos sugerindo que  
todos os assistentes sociais na Grécia eram apoiadores conscientes da Junta, ou que os  
assistentes sociais britânicos eram racistas que abusavam de crianças.  
● No entanto, os assistentes sociais, em cada um dos exemplos anteriormente citados, se  
tornaram burocratas “inconsequentes/irrefletidos”, exemplos daquilo a que Arendt  
(1963/2006) poderia chamar de “banalidade do mal”.  
Em sua análise do assassino nazista Adolph Eichmann, a autora sugere que Eichmann  
era uma mediocridade e um personagem insípido, embora empenhado nas suas tarefas. Ele era  
alguém que, devido à sua “inconsequência/irreflexão”, praticava “atos maus sem más  
intenções” e nunca se “percebia completamente o que estava fazendo” devido a uma  
“incapacidade (...) de pensar do ponto de vista de outra pessoa”. Sem empatia básica, ou sem  
qualquer profundidade na sua compreensão do mundo, “cometeu crimes em circunstâncias que  
tornaram (...) impossível para ele saber ou sentir que [estava] agindo de forma errada”. Para  
Arendt, ele era um exemplo da natureza sem rosto do perverso nazismo.  
376  
Sem pensamento crítico, sem reflexão e sem empatia, o assistente social pode  
facilmente tornar-se um “burocrata inconsequente/irrefletido” que executa tarefas nas quais  
pode torná-lo uma pequena engrenagem na máquina repressiva do Estado e um profissional que  
é conivente com os poderosos.  
Conformidade: neutralidade profissional  
Se uma resposta à pressão política tem sido a conivência ativa com políticas estatais  
opressivas, uma resposta mais comum tem sido retratar o Serviço Social como uma profissão  
politicamente neutra, uma profissão que, de alguma forma, está “acima da política”. Esta visão  
estreita e despolitizada do Serviço Social, que é também uma caraterística definidora daquilo a  
que se tem chamado Serviço Social Neoliberal, tem sido promovida pelos governos do Reino  
Unido, tanto Trabalhista como Conservador, durante mais de duas décadas. Ao lançar o novo  
currículo de Serviço Social na Inglaterra e no País de Gales em 2002, por exemplo, a então  
Ministra da Saúde Jacqui Smith argumentou:  
Libertas, Juiz de Fora, v. 24, n. 1, p. 367-386, jan./jun. 2024. ISSN 1980-8518  
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O Serviço Social é um trabalho muito prático. Trata-se de proteger as pessoas  
e de mudar as suas vidas, e não de ser capaz de dar uma explicação fluente e  
teórica sobre as razões que as levaram a ter dificuldades em primeiro lugar”  
(Smith, 2002).  
A conformidade tem alguns elementos em comum com a conivência, na medida em que  
exige que o assistente social implemente as políticas do Estado, mas não se trata da  
implementação “inconsequente/irrefletida” e desinteressada de regras autoritárias como nos  
referimos acima. No âmbito da conformidade, a maioria dos trabalhadores estará consciente,  
até certo ponto, das consequências das políticas para os usuários dos serviços, às suas famílias  
e às comunidades, mas sentirá que “não há alternativa viável”.  
No entanto, na realidade, negar a natureza política do Serviço Social não significou que  
este tenha permanecido eticamente puro - na verdade, muito pelo contrário. Na prática,  
significou que os assistentes sociais frequentemente permaneceram em silêncio quando  
deveriam ter se manifestado, não desafiando as políticas e práticas que contribuem para a  
opressão ou a desigualdade e, em vez disso, prosseguindo um enfoque restrito nos métodos e  
tecnologias do Serviço Social em busca de respeitabilidade profissional.  
Contestação: um Serviço Social de resistência  
Se a resposta dos assistentes sociais quando confrontados com a repressão política tem  
sido, por vezes, a conivência ativa ou, mais comumente, o silêncio e a “continuação do  
trabalho”, também é verdade que, historicamente, tem havido uma terceira resposta, de  
resistência ativa à opressão, de tomada de partido por parte dos assistentes sociais. Essa resposta  
é frequentemente associada ao movimento do Serviço Social Radical que se desenvolveu na  
Grã-Bretanha, no Canadá, na Austrália e nos EUA durante o início da década de 1970,  
alimentado pela ascensão dos grandes movimentos sociais da década de 1960 - o movimento  
das mulheres, o movimento dos direitos civis dos negros, etc. Algumas das principais  
características desse movimento foram:  
377  
- Uma ênfase na desigualdade estrutural e não nas falhas individuais;  
- Uma crítica ao Estado de Bem-Estar Social como opressivo e controlador;  
- Defesa de uma relação diferente entre trabalhadores e clientes;  
- Uma ênfase nas abordagens coletivas;  
- Para alianças entre assistentes sociais e coletivos de usuários dos serviços;  
- A tomada de consciência de que “os assistentes sociais também são trabalhadores” e o  
crescente envolvimento dos sindicatos dentro do Serviço Social.  
É importante notar que o Serviço Social Radical era visto pelos seus adeptos não como  
um método, mas como uma abordagem, ou, nas palavras dos autores:  
O Serviço Social Radical, é sentido, é essencialmente a compreensão da  
Autor  
posição dos oprimidos no contexto das estruturas sociais e econômicas em que  
vivem (Bailey; Brake, 1975, p. 9).  
Esse movimento foi muito importante. Mas, como já defendemos em outro texto, a  
tradição do Serviço Social Radical é mais antiga do que o movimento dos anos 1970 (Lavalette;  
Ferguson, 2008). Por exemplo, num discurso proferido em 1910, Jane Adams, na época  
Presidente da Associação Nacional de assistentes sociais dos EUA, poderia argumentar:  
Um grupo que tradicionalmente foi levado à ação pela 'piedade para com os  
pobres', chamamos 'Caridosos'; o outro, maior ou menor em cada geração, mas  
sempre movido pelo 'ódio à injustiça', designamos como os Radicais”  
(Addams, 1910, p. 68).  
Desde o final do século XIX até meados do século XX, houve um número significativo  
de “pioneiros radicais” que defendiam um tipo diferente de Serviço Social. Para além de Jane  
Addams (nos EUA), a lista inclui, entre outras, pessoas (na sua maioria mulheres) como Bertha  
Cappen Reynolds (EUA), Mentona Mosser (Suíça), Irena Sendler (Polónia), Esme Rodgers  
(Austrália), Mary Jennison e Bessie Touzel (Canadá) e Mary Hughes e Emmeline Pethick (Grã-  
Bretanha).  
Num artigo em que se discute a importância das pioneiras canadenses do Serviço Social  
Radical, Jennissen e Lund (2018) descrevem os temas do seu artigo de uma forma que é  
aplicável a todas as mulheres acima referidas:  
378  
[Elas são] “assistentes sociais radicais”, ou seja, assistentes sociais que  
defendiam pontos de vista de esquerda com críticas ao capitalismo embasadas  
na classe. As mulheres de nossa amostra, todas formadas em Serviço Social,  
eram feministas, socialistas e comunistas convictas ou simpatizantes dessas  
causas; suas contribuições para a profissão eram embasadas por idéias  
marxistas. Elas eram politicamente ativas e se opunham à desigualdade de  
classe, raça e gênero. Compreendiam a importância do trabalho assalariado,  
dos sindicatos, dos partidos políticos e de como essas estruturas se relacionam  
com os trabalhadores. Eram intelectuais e prolíficas na escrita, apresentações  
e participação em conferências; eram internacionalistas comprometidos com  
a paz. Por fim, eram extremamente corajosas, recusando-se a se esquivar de  
suas convicções políticas, apesar da demissão e perseguição por parte do  
Estado e das forças conservadoras da sociedade (2018, p. 46/47).  
Além disso, devemos enfatizar que o ativismo e a resistência do Serviço Social nem  
sempre se limitam ao mundo da língua inglesa. Um dos exemplos mais importantes de práxis  
radical, embora ainda não seja suficientemente conhecido no Ocidente, é o Movimento de  
Reconceituação que se desenvolveu na América Latina nos anos 1960 (Critical and Radical  
Social Work, 2021). O Movimento de Reconceituação tinha suas raízes no marxismo e foi  
influenciado por três perspectivas contemporâneas: as ideias de conscientização de Paulo  
Freire, elementos extraídos da teologia da libertação e a influência dos movimentos sociais que  
estavam surgindo na América Latina naquela época.  
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Título  
Um dos principais pontos a serem observados em relação a todos os assistentes sociais  
radicais e os movimentos que mencionamos é que eles não existiam isoladamente. Eles faziam  
parte de redes de Serviço Social Radical que haviam mergulhado em movimentos relevantes e  
significativos para a mudança social: associações de direitos e sufrágio das mulheres,  
organizações sindicais e de classe, grupos pacifistas, antiguerra e anti-imperialistas, campanhas  
pelos direitos dos imigrantes, refugiados e comunidades de baixa renda. Eles se envolveram, se  
inspiraram e aprenderam com o engajamento nesses movimentos progressistas; foi o  
envolvimento neles que criou a oportunidade de trazer a percepção dos movimentos para suas  
atividades de Serviço Social. Dessa forma, buscaram desenvolver uma teoria e prática de  
Serviço Social que desafiasse as estruturas opressivas do capitalismo e contribuísse para a luta  
a favor de um tipo diferente de sociedade.  
Mais recentemente, e assim como outros movimentos progressistas, o Serviço Social  
Radical (e o Serviço Social de forma mais geral) tornou-se um alvo de governos e formações  
políticas da Nova Direita que ganharam destaque no início dos anos 1980 com as eleições de  
Margaret Thatcher no Reino Unido e Ronald Reagan nos EUA. Em sua maior parte, o Serviço  
Social Radical esteve recuado durante a longa noite do neoliberalismo. Há sinais, no entanto,  
de que as coisas estão começando a mudar. Nos últimos anos, houve uma resistência crescente  
por parte dos assistentes sociais em todo o mundo ao impacto das políticas neoliberais, tanto na  
vida das pessoas que usam os serviços quanto no trabalho profissional cotidiano do assistente  
social.  
379  
Diversos fatores contribuíram para o surgimento desse novo radicalismo: a ira em  
relação às políticas de austeridade impostas a pessoas de baixa renda e pessoas com deficiência,  
após a crise financeira de 2008, o impacto de movimentos sociais mais amplos, como o  
movimento Occupy Wall Street em 2011, a solidariedade com os refugiados que fogem de  
guerras e perseguições, e assim por diante.  
Mas, se há um único fator que alimenta essa resistência, é a rejeição, por parte dos  
trabalhadores de todo o mundo, do modelo de Serviço Social voltado para o mercado que tem  
sido promovido pelos governos do Reino Unido e de outros países desde a década de 1990 e  
que continua a ser o modelo dominante em muitas partes do mundo. A influência desse modelo  
ficou evidente em uma série de seminários on-line organizados em conjunto, pela Federação  
Internacional de Assistentes Sociais e pela Social Work Action Network, em 2020, para discutir  
as respostas do Serviço Social à pandemia de Covid (agora publicada como um e-book  
[Lavalette et al, 2020]).  
De forma positiva, os participantes da Grécia, Chile, África do Sul, Palestina e outros  
Autor  
países relataram maneiras novas e imaginativas que os assistentes sociais desenvolveram para  
manter contato com os usuários dos serviços durante a crise, para reduzir o isolamento social e  
proteger a saúde mental. Também houve relatos inspiradores de assistentes sociais que  
estabeleceram vínculos com as novas organizações de ajuda mútua que estavam surgindo em  
todos os lugares e o desafio que isso representava para os modelos neoliberais de Serviço Social,  
contrário aos riscos.  
No entanto, de forma menos positiva, muitos assistentes sociais relataram que, em seus  
espaços sócio-ocupacionais, a situação se mantinha igual. Em vez de darem respostas novas e  
criativas à catástrofe que a Covid representava, os trabalhadores falaram da preocupação maior  
da gerência em cumprir orçamentos e metas e também da mesma ênfase no monitoramento e  
vigilância, em vez de trabalhar coletivamente com comunidades e usuários de serviços para  
ajudá-los a atender às suas necessidades e enfrentar suas dificuldades em tempos de crise.  
Outros ainda falaram sobre o fato do Serviço Social ser “invisível” na crise atual - e um deles  
descreveu como as avaliações de proteção infantil estavam sendo realizadas do lado de fora das  
casas das pessoas, através das janelas!  
Essa realidade não é culpa de trabalhadores ou mesmo de gerentes individualmente. Em  
vez disso, ela reflete o domínio bem documentado, ao longo de várias décadas, da Nova Gestão  
Pública ou de abordagens gerencialistas do Serviço Social, com base em uma prática altamente  
individualizada, orientada por orçamentos e metas, erosão do trabalho profissional em  
relacionamentos (com o trabalho direto muitas vezes terceirizado para o Terceiro Setor ou  
organizações privadas) e uma crescente divisão geográfica e cultural entre os espaços sócio-  
ocupacionais de Serviço Social e as comunidades que elas pretendem atender.  
380  
Esse “Serviço Social neoliberal” está, obviamente, muito distante do que muitos  
reconhecem como uma boa atuação do Serviço Social. Isso também significa que a contribuição  
do Serviço Social durante a crise da Covid foi consideravelmente menor do que poderia ter  
sido. Mas, embora tudo isso seja verdade, as duas últimas décadas, como observamos acima,  
também viram uma resistência crescente a esse modelo, cujos exemplos serão considerados no  
restante deste capítulo.  
O novo radicalismo do Serviço Social  
Nesta última seção, queremos considerar algumas das novas vertentes do radicalismo  
no Serviço Social que surgiram no último período.  
No texto Global Social Work in a Political Context (Serviço Social global em um  
contexto político), traçamos o crescimento de uma série de organizações radicais de Serviço  
Libertas, Juiz de Fora, v. 24, n. 1, p. 367-386, jan./jun. 2024. ISSN 1980-8518  
Título  
Social em todo o mundo (Ferguson et al., 2018). Já observamos anteriormente o sucesso da  
Orange Tide na Espanha, que ganhou destaque em 2014, imersa nos movimentos contra a  
austeridade que estavam florescendo no país na época. A rede húngara New Approach, de vida  
relativamente curta, embora significativa, cujo trabalho com moradores de rua e comunidades  
ciganas os colocou em conflito com o estado húngaro autoritário. A Progressive Welfare  
Network em Hong Kong envolve vários trabalhadores (muito corajosos) da linha de frente que  
têm sido particularmente ativos em movimentos sociais nos últimos anos e que desempenharam  
um papel importante no desenvolvimento de formas mais radicais do trabalho profissional. Eles  
tiveram um papel central no movimento Occupy Hong Kong em 2011 e no movimento  
Umbrella Democracy de 2014-15. Enquanto o Boston Health Liberation Group, nos Estados  
Unidos da América, que, além da atividade de campanha, desenvolveu um modelo de atuação  
e documentou seu uso em uma série de espaços do Serviço Social (Martinez e Fleck-Henderson,  
2014). Seus princípios orientadores são resumidos por Martinez como sendo:  
- Holística: situar os indivíduos em sua matriz completa de determinantes  
pessoais, estruturais, ideológicos e institucionais;  
- Crítico: recusando-se a aceitar o neoliberalismo e a noção de que o Serviço  
Social deve se subordinar à sua agenda social;  
- Empoderamento: busca liberar usuários e assistentes sociais da crença  
confusa de que as condições atuais são inevitáveis e estão além do nosso poder  
de mudança; busca apoiá-los para que se tornem aliados ativos de indivíduos  
e movimentos que trabalham pela mudança social;  
- Esperançoso: resgatar a memória e valorizar “a capacidade humana coletiva  
de criar mudança” (Reisch, 2013, p. 68); (Martinez, 2014).  
381  
Por fim, como membros fundadores da Social Work Action Network (SWAN) no Reino  
Unido, já discutimos anteriormente a atividade e a filosofia da rede (consulte Ferguson et al  
2018, Moth; Lavalette, 2019). A rede foi fundada em 2006 em uma conferência com 300  
participantes em Liverpool. Pouco tempo depois, foram criados grupos da SWAN na Grécia e  
na Irlanda. As atividades da SWAN foram agrupadas em torno de três aspectos principais.  
Em primeiro lugar, conferências anuais, realizadas todos os anos em diferentes  
universidades do Reino Unido, têm proporcionado um importante fórum para discutir e debater  
as respostas das políticas nacionais às questões que afetam o Serviço Social, como: a  
austeridade, a privatização e o racismo. Uma característica fundamental dessas conferências  
tem sido o papel desempenhado pelos usuários de serviços, tanto como palestrantes quanto  
como delegados.  
Em segundo lugar, a SWAN esteve envolvida em várias campanhas em nível nacional  
e local. Em nível local, essas campanhas incluíram a defesa dos solicitantes de asilo, a oposição  
à privatização dos serviços infantis e a contestação dos cortes nos serviços de saúde mental. Em  
Autor  
nível nacional, a SWAN foi uma das redes organizadoras que, em 2015, montou uma série de  
“comboios” para apoiar os refugiados mantidos em centros de detenção não oficiais na França,  
na Grécia e na República Tcheca. Na Escócia, a SWAN fez campanha por um sistema de  
assistência social e controle público baseado na necessidade e não no lucro (Ferguson; Gall,  
2020).  
Em terceiro lugar, em 2013, a SWAN se envolveu com a imprensa política para criar e  
lançar o Critical and Radical Social Work: an International Journal. Embora não esteja  
formalmente vinculada à SWAN, o fato de os dois coeditores também serem membros  
fundadores da SWAN e de muitos membros do Conselho Editorial serem ativistas importantes  
da SWAN significa que, na prática, os vínculos são estreitos. A revista já conquistou um grande  
número de leitores e está proporcionando um fórum para o desenvolvimento de novas ideias  
sobre Serviço Social crítico e radical, com contribuições do mundo todo.  
Durante a pandemia, as várias organizações radicais do Serviço Social listadas acima  
começaram a trabalhar em conjunto de forma muito mais próxima. A partir de maio de 2020,  
os grupos começaram a realizar reuniões online regulares - e também em conjunto com a  
Federação Internacional de Serviço Social. O resultado foi a criação de uma rede internacional  
formal, a Social Work Action Network International (SWANI). A SWANI reuniu grupos de todo  
o mundo. Ela tem grupos representativos no Reino Unido, na Irlanda, na Grécia, na Hungria,  
na Suécia, nas Filipinas, no Japão, em Hong Kong, na Austrália, no Chile, no Brasil, na  
Argentina e nos EUA. Embora não seja um membro formal, o coletivo Rebel Social Work na  
Nova Zelândia (que tem uma presença significativa no Facebook) é um aliado próximo do  
grupo.  
382  
A Rede se reúne trimestralmente para planejar suas atividades e tem subgrupos para  
tratar de questões relacionadas à educação em Serviço Social, ao profissionalismo/sindicalismo  
em Serviço Social e a presença online e na mídia. Na Páscoa de 2021, a rede realizou sua  
primeira conferência internacional multilíngue/multi-fuso horário, que atraiu a contribuição de  
milhares de assistentes sociais do mundo todo.  
A SWANI reúne assistentes sociais radicais de todo o mundo e é um centro importante  
para que profissionais radicais, acadêmicos e usuários de serviços se encontrem, discutam e  
compartilhem novas ideias. É uma rede de ação com foco no engajamento político em cada um  
dos países onde a SWANI está presente e em ações coordenadas internacionalmente sempre  
que possível. No entanto, assim como os pioneiros radicais das gerações anteriores, a SWANI  
vê o Serviço Social Radical como parte integrante de movimentos mais amplos de mudança  
social. O modelo de trabalho é aquele que, na política, seria entendido como uma “frente unida”.  
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Com base nos insights desenvolvidos pelo Comintern no início da década de 1920  
(Comintern 1922) e desenvolvidos de forma mais completa no trabalho de Leon Trotsky  
(1931/1989) e Antonio Gramsci (1926/1990), a Frente Unida foi originalmente desenvolvida  
como uma intervenção estratégica para defender a maior unidade de ação entre as forças  
progressistas na luta por um mundo melhor. Com base no resumo de Choonara (2007): a “Frente  
Unida” reúne os ativistas em uma luta comum; ela representa um conjunto de demandas  
aceitáveis para aqueles que se descreveriam como revolucionários (dos quais alguns serão  
marxistas) e para aqueles que não são, mas que estão comprometidos com uma reforma  
significativa e com a melhoria das condições sociais; dentro da Frente Unida há espaço para a  
contestação ideológica fraterna sobre objetivos, estratégias e táticas.  
A SWANI representa uma “frente unida” internacional de assistentes sociais radicais.  
Ela reuniu grupos de ativistas radicais em torno da noção de que “outro Serviço Social é  
possível”. Essa é a crença de que políticas sociais “boas” e bem financiadas, comprometidas  
com o atendimento das necessidades das pessoas, podem melhorar significativamente a vida de  
indivíduos e comunidades. Esse “outro Serviço Social” é aquele comprometido com a justiça  
social e com o combate a todas as formas de opressão e desigualdade de classe. E a forte crença  
de que, para estabelecer esse “melhor Serviço social”, é preciso se engajar em lutas políticas  
por um mundo diferente.  
383  
Conclusão: o retorno da resistência  
Iniciamos este capítulo destacando as profundas ameaças existenciais representadas por  
uma combinação tóxica de crises globais - ecológicas, econômicas e políticas. Essas ameaças  
dificilmente poderiam ser mais graves. Mas há um outro lado, mais esperançoso, nesse quadro  
sombrio. Pois, como mostrou o relatório do think-tank de 2019 citado na revista The Economist,  
nos últimos anos, o mundo também passou por mais revoltas políticas do que nunca. Somente  
em 2019, houve protestos em todos os continentes e em 114 países - de Hong Kong ao Haiti,  
da Bolívia à Grã-Bretanha. Ao comentar o relatório, a Economist observou que:  
Essa agitação faz parte de uma tendência crescente... O número de protestos  
em massa em todo o mundo aumentou 11,5% ao ano, em média, desde 2009.  
(Os protestos em massa são definidos como protestos civis contra o governo,  
independentemente do tamanho, e excluindo tumultos e protestos contra  
entidades não estatais). Mesmo após o ajuste para o crescimento populacional,  
os autores consideram que o número de manifestantes que saíram às ruas nos  
últimos anos excedeu o do movimento contra a Guerra do Vietnã ou o  
movimento pelos Direitos Civis (Economist, 2020).  
Esses protestos em massa incluem o movimento Black Lives Matter (Vidas Negras  
Autor  
Importam) que, em seu impacto global e em seu desafio à brutalidade policial e ao racismo  
institucional, alcançou mais em poucos anos do que a estratégia reformista de colocar “rostos  
negros em posições importantes na sociedade” fez em décadas. Eles também incluem o Climate  
Justice movement - movimento pela Justiça Climática que, em novembro de 2021, mobilizou  
100.000 pessoas de todo o mundo para se manifestarem na conferência COP-26 em Glasgow,  
exigindo dos líderes mundiais presentes uma ação real sobre as mudanças climáticas e não  
apenas mais promessas vazias (ou o que a jovem e inspiradora ativista sueca Greta Thunberg  
chamou de “blá blá blá”). O fato de que uma das principais demandas dos manifestantes era  
“mudança de sistema, não mudança climática” destaca a extensão em que os ativistas do  
movimento estão relacionando a destruição ambiental com o capitalismo neoliberal voraz que,  
se não for controlado, destruirá a humanidade e o planeta em sua busca incessante por lucro  
(Empson, 2019).  
Na década de 1960 e no início da década de 1970, o Serviço Social em vários países foi  
transformado por meio do envolvimento com os grandes movimentos sociais da época  
(Thompson, 2002). Da mesma forma, argumentamos que é no engajamento e no aprendizado  
com esses novos exemplos de luta e resistência coletiva que reside a melhor esperança de  
desenvolver formas novas e mais radicais de prática profissional no século XXI e de substituir  
o individualismo, que é a marca registrada do Serviço Social neoliberal, a favor do valor  
coletivo da solidariedade. Nas palavras do grande escritor uruguaio Eduardo Galeano:  
384  
Eu não acredito em caridade.  
Acredito na solidariedade.  
A caridade é tão vertical. Vai de cima para baixo.  
A solidariedade é horizontal. Respeita a outra pessoa.  
Tenho muito que aprender com outras pessoas.  
(Citado em Barsamiam, 2004, p. 146).  
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