Os efeitos da violência interparental nas  
crianças: o olhar de uma comissão de proteção  
de crianças e jovens (CPCJ) em Portugal  
The effects of interparental violence on children: a look at the child  
protective services in Portugal  
Ana Sofia Carvalho Pinto*  
Eva Raquel Xavier de Melo Gil Chaves**  
Cristiana Dias de Almeida***  
Mónica Alexandra Vidal Teixeira****  
Resumo: A violência interparental é uma das  
situações mais evidentes de violência indireta  
que tem vindo a merecer uma maior atenção no  
panorama nacional. Com o presente artigo,  
pretende-se promover a discussão do fenómeno  
da criança exposta à violência, com o objetivo  
central de perceber os efeitos da violência  
interparental nas crianças acompanhadas na  
CPCJ. Para a concretização deste estudo  
exploratório foi utilizada a metodologia mista.  
Como técnica de recolha de dados realizaram-  
se cinco entrevistas entre 4 e 19 de abril de  
2023. Utilizou-se para análise dos dados: a  
Abstract: Interparental violence has been the  
focus of attention on a national level as one of  
the most glaring forms of indirect violence. This  
article aims to promote the discussion of the  
problem of the child exposed to violence with  
the main objective of understanding the effects  
of interparental violence on the children  
monitored by child protective services. To carry  
out this study exploratory,  
a
mixed  
methodology was used. As a data collection  
technique, five interviews were carried out  
between April 4th 2023 and April 19th 2023.  
For data analysis the following were used:  
*
Licenciada em Serviço Social pela Universidade Lusófona – Centro Universitário do Porto. ORCID:  
**  
Doutora em Serviço Social pela Universidade Católica Portuguesa & Universidade de Coimbra. Doutora em  
Ciências Sociais - Psicologia da Justiça pela Universidade Fernando Pessoa do Porto. Mestre em Psicologia da  
Justiça e do Comportamento Desviantes pela Universidade Católica do Porto. Licenciada em Serviço Social pela  
Universidade Católica de Braga. Professora Auxiliar de Serviço Social na Universidade Lusófona – Centro  
Universitário do Porto (FCESE). Lusófona University, Intrepid Lab, Porto, Portugal. ORCID:  
***  
Doutora em Serviço Social pela Universidade Católica Portuguesa & Universidade de Coimbra. Mestre e  
licenciada em Sociologia pela Universidade de Coimbra. Professora Auxiliar e Diretora da Licenciatura em  
Serviço Social na Universidade Lusófona - Centro Universitário do Porto. Lusófona University, Intrepid Lab,  
**** Doutora em Gerontologia UA/ICBAS. Mestrado em Gerontologia na UA. Licenciatura em Serviço Social pelo  
ISMT. Doutoranda do Programa Interuniversitário de Doutoramento em Serviço Social (Universidade Coimbra-  
FPCE e Universidade Católica Portuguesa-FCH). Professora Auxiliar da Universidade Lusófona (FCESE).  
Lusófona University, Intrepid Lab, Porto, Portugal. Centro Lusíada de Investigação em Serviço Social e  
DOI: 10.34019/1980-8518.2024.v24.44601  
Esta obra está licenciada sob os termos  
Recebido em: 20/05/2024  
Aprovado em: 05/08/2024  
Os efeitos da violência interparental nas crianças:  
o olhar de uma comissão de proteção de crianças e jovens (CPCJ) em Portugal  
análise de conteúdo e a análise estatística de  
dados. Os resultados demonstram que as  
crianças expostas à violência interparental  
desenvolvem inúmeros efeitos negativos que  
consequentemente terão repercursões imediatas  
e implicações ao longo da vida. Apesar da  
crescente visibilidade do fenómeno, a violência  
interparental continua a ser um problema social  
grave, pois, muitas vezes, não é reconhecido no  
seio da própria família.  
content analysis and statistical data analysis.  
The results show that children exposed to  
interparental violence develop numerous  
negative effects that will consequently have  
repercussions throughout their lives. Despite  
the growing visibility of the problem,  
interparental violence continues to be a grave  
social problem, as it is often not recognized  
within the family itself.  
Palavras-chaves: Violência interparental;  
Violência doméstica; Crianças; CPCJ.  
Keywords: Interparental violence; Domestic  
violence; Child; A look at the child protective  
services.  
Introdução  
A exposição à violência interparental tem vindo a merecer alguma atenção por parte de  
profissionais de diversas áreas das ciências sociais. Se por um lado emergiu um olhar mais  
atento da violência conjugal como um problema social, por outro ressaltou uma maior  
preocupação com os diversos efeitos da exposição da criança à violência.  
A violência entre casais tem-se evidenciado atualmente, devido não só à emergência de  
novas e maior número de denúncias e sinalizações, resultado de um elevado número de  
informação e campanhas de prevenção/sensibilização acerca da problemática, bem como do  
aparecimento de novos e diversos estudos sobre o fenómeno em questão (Rocha, 2007).  
A revisão da literatura evidencia que as crianças expostas à violência interparental  
surgem grande parte das vezes como vítimas diretas de violência (e.g., coocorrência de  
violência). Por outro lado, em termos de impacto não é necessário a criança experienciar de  
forma direta a violência, para ser afetada (Sani, 1999) e revelar uma série de sintomas  
desadaptativos. Na mesma linha de pensamento seguem outros estudos (e.g., Coutinho; Sani,  
2008; Sani, 2007) ao reconhecer que a violência concorre para um desajustamento global e  
reflete-se em acrescidas dificuldades de adaptação nos diferentes contextos da criança.  
Tendo em vista os inúmeros casos e os efeitos evidenciados pelas crianças expostas a  
violência interparental, partiu-se da formulação do objetivo geral do presente trabalho, perceber  
efeitos da violência interparental nas crianças acompanhadas numa Comissão de Proteção de  
Crianças e Jovens (CPCJ) da zona Norte de Portugal. Mais concretamente procurou-se (i)  
Identificar os efeitos da violência interparental nas crianças; (ii) Caracterizar os efeitos da  
violência interparental nas crianças; (iii) Perceber a influência da violência interparental nas  
crianças; e (iv) Analisar a experiência profissional dos/as técnicos/as da CPCJ em casos de  
exposição das crianças à violência interparental.  
535  
Ana Pinto; Eva Chaves; Cristiana Almeida; Mónica Teixeira  
Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ)  
No âmbito do sistema jurídico português, as ações do Estado em relação à proteção de  
crianças e jovens são restritas apenas aos casos em que exista um perigo iminente para a  
segurança e bem-estar da criança (Poeiras; Calheiros, 2019). A proteção das crianças e jovens  
por parte do Estado é um valor estabelecido pela Constituição (artº. 69, nº1 da Constituição da  
República Portuguesa). De acordo com o estabelecido na Convenção Internacional sobre os  
Direitos da Criança (assinada em Portugal em 26/1/1990), que exigem dos Estados aderentes  
a implementação de ações de proteção das crianças contra todo o tipo de violência, seja ela  
dentro ou fora do ambiente familiar (Poeiras; Calheiros, 2019).  
É da competência da CPCJ avaliar e investigar as condições de risco e vulnerabilidade  
das crianças e jovens, além de coordenar as ações de proteção e apoio necessárias, em  
colaboração com outras instituições. Desempenham um papel crucial na prevenção e  
intervenção em casos de maus-tratos, abusos, negligência, abandono e outras circunstâncias  
que possam ameaçar o bem-estar e o desenvolvimento das crianças e jovens (Poeiras;  
Calheiros, 2019; Guerra, 2021).  
As CPCJ são entidades oficiais independentes, com uma composição diversificada de  
profissionais de diferentes áreas, responsáveis por tomar decisões imparciais e autónomas em  
relação às situações de proteção de crianças (Guerra, 2021). Esta equipa multidisciplinar é  
composta por representantes de várias entidades, como Autarquias, Instituições de  
Solidariedade Social, Ministério Público, Forças de Segurança e atua a nível local, em cada  
município do país.  
536  
A intervenção da CPCJ depende do consentimento de ambos os progenitores, do  
representante legal ou da pessoa que tenha guarda de facto. Nos casos cuja gravidade e urgência  
justifiquem uma intervenção imediata, ainda que exista uma oposição por parte dos  
progenitores, existe um “procedimento judicial urgente”, tal como prevê o artigo 91.º da Lei  
de Proteção de Crianças e Jovens em Perigo. Assim, quando existe perigo atual ou iminente  
que comprometa a integridade física ou psíquica da criança ou jovem, são adotadas medidas  
apropriadas para garantir a segurança imediata da criança ou jovem, como por exemplo, a  
remoção da família e é solicitada a intervenção das autoridades policiais ou do tribunal  
(Guerra, 2021, p. 13).  
A salientar que, as decisões tomadas pela CPCJ são sempre em benefício da criança e  
devem ser acompanhadas de medidas que promovam o seu bem-estar e desenvolvimento  
saudável.  
Libertas, Juiz de Fora, v. 24, n. 2, p. 534-552, jul./dez. 2024. ISSN 1980-8518  
Os efeitos da violência interparental nas crianças:  
o olhar de uma comissão de proteção de crianças e jovens (CPCJ) em Portugal  
Violência interparental  
No campo da terminologia, revela-se importante discutir algumas considerações  
alusivas à forma de violência que pretendemos abordar.  
Os conceitos violência interparental, violência conjugal e marital usam-se de forma  
indiscriminada, não que não mereçam as adequadas distinções, mas sim porque nos queremos  
referir a um tipo de “vitimação, em que a criança está exposta à violência entre duas pessoas  
próximas afetivamente e com quem partilha o mesmo espaço” (Sani, 2003, p. 15).  
Sani (2003) afirma que existem limitações ao utilizar o conceito de violência doméstica  
para definir o conceito de violência interparental, uma vez que sendo esta definição mais  
abrangente, pode englobar outras formas de violência como por exemplo os maus-tratos a  
crianças ou a pessoas idosas; violência sobre a/o companheira/o. Nesta última situação, faz-se  
a referência a ambos os géneros, visto que, e sendo estatisticamente menos recorrente, pode  
acontecer violência sobre o género masculino.  
No que respeita ao conceito de violência interparental, esta é caracterizada como uma  
disputa violenta que acontece entre os pais ou responsáveis da criança, sejam eles casados ou  
não (Sani, 2003) e que pode manifestar-se de diversas formas, nomeadamente: violência física,  
emocional, verbal e psicológica, sendo que essa dinâmica pode ter impactos significativos não  
apenas nos envolvidos, mas também nos filhos, que podem ser testemunhas dessas situações.  
Além de afetar o bem-estar emocional e psicológico das crianças, a violência interparental pode  
comprometer o desenvolvimento saudável e a segurança, levando a efeitos colaterais, como  
problemas de comportamento, dificuldades de aprendizagem e transtornos emocionais. É um  
tema essencial no âmbito da investigação sobre violência familiar e suas repercussões na  
dinâmica familiar e na sociedade.  
537  
As diversas formas pelas quais as crianças podem ser vítimas de abuso têm se tornado  
um dos maiores desafios para os/as profissionais da área social e da saúde, que constatam a  
sobreposição entre estar exposto à violência e ser vítima de violência. A ideia equivocada de  
que a violência entre parceiros/as é um problema exclusivo dos adultos desconsidera de maneira  
egoísta e irresponsável as situações de vitimação de crianças (Sani; Cardoso, 2013).  
Impacto da violência interparental nas crianças  
A experiência que uma criança vivencia quando é exposta ao conflito entre os pais torna-  
se um facto marcante para a mesma, perturbando as suas emoções independentemente da idade  
apresentada (Sani, 2004). Contudo, a tipologia da violência pode agravar ou atenuar o impacto  
da violência (APAV, 2021).  
Ana Pinto; Eva Chaves; Cristiana Almeida; Mónica Teixeira  
Pode-se concluir através da reflexão de estudos alusivos à violência interparental que  
estas crianças presenciam um elevado risco no que toca ao desenvolvimento de problemas ao  
nível comportamental e emocional, originando consequências para o próprio desenvolvimento  
(Martins, 2018; Menard, 2002). Os efeitos que as crianças experienciam podem revelar-se tanto  
a curto como a médio ou a longo prazo, sendo que a inexistência dos mesmos não demostra que  
a criança não foi alvo deste impacto (Coutinho; Sani, 2008). Este tipo de violência tende a ser  
continuada e desenvolve-se em escalada de frequência e intensidade, apresentando por isso  
repercussões nefastas a nível físico e psicológico para a vítima e para os que residem nesse  
contexto (Chaves; Sani, 2014). Neste sentido, surge o conceito de criança exposta a violência  
conjugal, sendo uma forma de legitimar estas crianças como vítimas e de reconhecer o  
sofrimento que muitas vezes é esquecido e de igual peso dar-lhes visibilidade (Martins, 2018).  
As crianças apresentam diferentes formas de resposta à violência, por outro lado, a  
vitimação pode funcionar como um mecanismo para desenvolver a capacidade da mesma na  
resolução de futuros conflitos (Benetti, 2006). Tais reações são sinónimo do esforço praticado  
por parte das crianças para encarar situações aterradoras e imprevisíveis, não existindo, tal  
como defende a autora “reações típicas” à violência no seio familiar (Sani, 2004).  
Margolin (1998 apud Sani, 2002), expõe que se devem ter em consideração os fatores  
desenvolvimentais (e.g., a idade, o género) e situacionais, referindo-se à proximidade física do  
conflito e emocional à vítima, à gravidade da exposição, quando se aborda a variedade de  
reações que a criança pode despoletar nos momentos seguintes à exposição recorrente à  
violência interparental. Para além disso, a ocorrência de conflitos num espaço em que a criança  
considera ser um local seguro, são elementos que se devem ter igualmente em conta.  
As crianças que sofrem abuso físico e/ou que testemunham repetidamente a violência  
conjugal podem desenvolver disrupções nos padrões normais de desenvolvimento, levando a  
problemas cognitivos, emocionais e comportamentais (Emery, 1989; Jaffe et al., 1990). Estes  
efeitos decorrem não só da prática de atos de violência contra a criança, ao que Sani (2004)  
conceitua de efeitos diretos, mas também de um conjunto de condições, que rompidas por essa  
violência, geram efeitos indiretos no ajustamento da criança. A autora, evidencia que as crianças  
expostas a estes conflitos apresentavam problemas de internalização (desenvolvimento de  
ansiedade, depressão, medos), assim como de externalização (níveis elevados de agressividade,  
raiva, fugas da própria casa). Por conseguinte, este tipo de comportamentos danificam a  
capacidade de empatia, o estabelecimento de relações interpessoais, a realização ao nível  
académico, a interpretação de situações sociais, a resolução de situações adversas, como ainda  
a competência e a integração social (Sani, 2004).  
538  
Libertas, Juiz de Fora, v. 24, n. 2, p. 534-552, jul./dez. 2024. ISSN 1980-8518  
Os efeitos da violência interparental nas crianças:  
o olhar de uma comissão de proteção de crianças e jovens (CPCJ) em Portugal  
Ademais, as crianças que se desenvolvem em contexto de conflito interparental  
interiorizaram que para resolver os conflitos surgidos ao nível das relações íntimas precisam de  
recorrer à violência, estratégia esta apreendida aquando expostas aos conflitos entre os pais.  
Deste modo, este tipo de comportamentos apresenta-se como uma maneira eficaz de que a  
criança perceciona ter o controlo e poder sobre o outro (Sani, 2004). Outro dos efeitos  
observados é o facto de a criança aceitar excessivamente que dispõe de um sentimento de  
responsabilidade pela violência que acontece na família, acreditando que ela própria e os seus  
comportamentos, originam a violência interparental ou achando que têm o dever de proteger a  
vítima, distraindo o agressor (Sani, 2004).  
Paralelamente, Magalhães (2002) expõe algumas das que considera serem  
consequências diretas da exposição a conflitos interparentais: ao nível cognitivo, que  
ocasionam défices de linguagem, intelectual, baixo rendimento profissional ou académico; ao  
nível afetivo, com o surgimento de sensações de medo, raiva, disfunção sexual e baixos níveis  
de autoestima, assim como ideação suicida; ao nível comportamental, com interferências nos  
relacionamentos interpessoais, propensão para o isolamento, raro reconhecimento das emoções,  
sentimentos de culpabilidade, violência e maltrato com os próprios filhos, toxicodependência e  
condutas e comportamentos delinquentes; e ao nível psiquiátrico, podendo surgir neuroses,  
depressões e psicoses e diversos transtornos de personalidade. No que diz respeito a crianças  
em idade primária reconhecem-se complicações ao nível escolar, despoletando problemas de  
concentração e atenção somando à probabilidade de terem até 40% menos de capacidades nas  
tarefas escolares, como por exemplo ao nível da leitura relativamente às outras crianças com  
idades idênticas (Martins, 2018).  
539  
Relativamente aos efeitos indiretos, Holden et al. (1998) reiteram que o conflito  
conjugal afeta diretamente o suporte, a disciplina e controlo, tal como a consistência e  
monitorização parental. Com isto, os mesmos autores afirmam que habitar em contexto hostil  
e violento pode ser profundamente debilitante, particularmente para a vítima. Neste tipo de  
ambientes, dá-se mais foco à monitorização e avaliação afetiva do agressor e a sua  
predisposição para a violência, da mesma maneira que a vítima tenta defender-se a si própria e  
às crianças dos constantes ataques físicos e verbais que sofrem. Por outro lado, a inconsistência  
que existe particularmente nestes seios familiares pode ser um fator agravante dos conflitos,  
quer porque os progenitores divergem no que se relaciona com a educação das crianças, quer  
porque existe uma mudança de tom e palavras por parte da progenitora quando o progenitor  
está presente (Sani, 2004).  
Ana Pinto; Eva Chaves; Cristiana Almeida; Mónica Teixeira  
A exposição à violência em contexto familiar pode resultar, ainda, em absentismo  
escolar, violência entre pares bullying, violência nas relações de namoro e nos  
relacionamentos em geral, abandono escolar ou até mesmo conflito com a lei (XXII Governo  
Constitucional, 2020).  
Sendo uma problemática cada vez mais atual, deve-se conferir mais atenção aos sinais  
que a criança apresenta a fim de prestar o auxílio de forma a garantir que os efeitos sejam  
minimizados. Por outro lado, as entidades governamentais possuem a responsabilidade de criar  
medidas de modo a salvaguardar o bem-estar das crianças.  
Metodologia e técnicas de recolha de dados  
O presente estudo é uma pesquisa exploratória que pretende ser uma primeira  
aproximação ao tema, de modo a testar a adequabilidade das questões em causa. Pretende-se  
futuramente alargar o estudo para um número amplo de CPCJ, que represente a realidade  
portuguesa. Para a concretização da investigação, foram apresentados e assinados os  
consentimentos informados de forma a garantir que os/as participantes tinham o conhecimento  
sobre o estudo empírico do presente trabalho, bem como a confidencialidade e anonimato das  
informações partilhadas. Para além disso, também foi garantido o consentimento para utilização  
da informação da Base de Dados da CPCJ, devidamente assinado pela Presidente da Comissão.  
Para a realização do presente estudo foi utilizada a metodologia mista. O recurso às  
vertentes qualitativa e quantitativa não só melhora significativamente a compreensão do  
fenómeno, como também procura dar retorno às questões inicialmente formuladas, sugerindo  
alterações em questões específicas ou até mesmo um novo design (Teddlie; Tashakkori, 2009).  
Como técnica de recolha de dados privilegiou-se a entrevista semiestruturada. Foram  
realizadas, entre 4 e 19 de abril de 2023, a 5 profissionais de uma CPCJ da região norte de  
Portugal. Estes/as profissionais são de diferentes áreas científicas, nomeadamente Serviço  
Social, Psicologia, Enfermagem e representam diferentes instituições do município: Câmara  
Municipal, Segurança Social e o Ministério da Saúde. Foram escolhidos/as pelas funções  
desempenhadas na CPCJ ao nível da “promoção dos direitos e a proteção das crianças e dos  
jovens em perigo, por forma a garantir o seu bem-estar e desenvolvimento integral” (Art.º 1 do  
Cap. I da Lei 147/99, de 1 de setembro), segundo a sua disponibilidade e respeitando a sua  
agenda de trabalho para não afetar nas dinâmicas da instituição.  
540  
Como técnica de análise de dados foi utilizada a análise de conteúdo e a análise  
estatística de dados. No que se refere à análise de conteúdo foi sinalizado o conteúdo mais  
relevante de cada entrevista e agrupado em categorias com base num cruzamento entre  
Libertas, Juiz de Fora, v. 24, n. 2, p. 534-552, jul./dez. 2024. ISSN 1980-8518  
Os efeitos da violência interparental nas crianças:  
o olhar de uma comissão de proteção de crianças e jovens (CPCJ) em Portugal  
categorias já previamente delimitadas de acordo com a literatura. Atendendo a que, na  
investigação “os dados obtidos necessitam de ser organizados e analisados e, como a maioria  
das vezes tomam uma forma numérica procede-se à sua análise estatística” (Coutinho, 2015, p.  
151), recorreu-se à análise estatística de dados quantitativos com incidência sobre o tipo de  
problemática mais presente em 2022 nas CPCJ’s.  
Apresentação dos resultados  
A apresentação dos resultados emerge da análise dos dados resultantes das entrevistas  
realizadas a profissionais de uma CPCJ da zona norte do país, bem como da análise de dados  
estatísticos nacionais referentes às CPCJ. Os dados que daqui resultaram, deram resposta ao  
objetivo central desta investigação: Perceber os efeitos da violência interparental nas crianças  
acompanhadas na CPCJ. Objetivo central integra quatro objetivos específicos (dados parciais  
desta investigação) que se consubstanciam-se nos seguintes:  
i) Identificar os efeitos da violência interparental nas crianças: A maioria das profissionais  
considera que os efeitos nas crianças são negativos e muito graves para o seu desenvolvimento,  
no entanto, referem que o surgimento e o progresso destes depende da gravidade da violência  
interparental a que são expostas. Para além disso, algumas entrevistadas relatam que os efeitos  
desta exposição recaem principalmente nos efeitos a nível psicológico ou emocional,  
provocando consequentemente elevados níveis de ansiedade, de stress e de insegurança, seja  
em contexto de relação com outras pessoas, seja no mundo ao redor delas. “(…) acabo por estar  
atenta mais a alguns sintomas mais psicológicos ou emocionais diria, mas quase sempre se vê  
um aumento da ansiedade destas crianças, não é?” (Ent5).  
541  
A literatura evidencia que a nível emocional, a criança pode revelar sintomas como,  
choro, preocupação, vergonha, menor capacidade de empatia, dificuldade em reconhecer  
emoções, tristeza, raiva, culpa e medo (Cunningham; Baker, 2007). E ainda, sentimentos muito  
ambivalentes relativamente aos cuidadores (Graham-Bermann, 1998). A tristeza e raiva são  
sentimentos experienciados por algumas crianças, que segundo Renee et al., (2011) são mais  
frequentes do que a ansiedade. As crianças com histórias na infância marcadas pela violência  
familiar têm uma maior predisposição para ter uma baixa autoestima (Shein, 2009). Tal como  
salientado anteriormente, Sani (2004) afirma que as crianças expostas a estes conflitos  
desenvolvem problemas quer de internalização, ou seja, desenvolvimento de ansiedade, quer  
de externalização (surgimento de sentimentos de raiva, agressividade, etc.).  
Segundo algumas entrevistadas, outro dos efeitos experienciados e vividos pelas crianças  
expostas a conflitos violentos entre os progenitores passam pela insegurança que surge, tanto  
Ana Pinto; Eva Chaves; Cristiana Almeida; Mónica Teixeira  
ao nível da instabilidade de humor de ambos os pais ao longo dos conflitos, como também a  
insegurança perante o mundo sobre o olhar da criança. “(…) é o facto a… da insegurança em  
que a criança vive, de nunca saber como é que vai ser o dia (...) Isto leva a um estado permanente  
de ansiedade que este é o que se traduz em… em prejuízo maior” (Ent3).  
Nos casos de violência doméstica mais graves, surgem sentimentos de stress emocional  
e ansiedade, uma vez que a própria criança consegue aperceber-se do que a vítima está a sentir,  
sendo habitual vivenciar sentimentos negativos. “(…) quando existe uma violência doméstica  
muito grave, em que existe um terror associado, não é?… àquela figura, a criança está  
constantemente em situação de stress emocional” (Ent3).  
Neste sentido, Margolin e John mencionam que “A envolvência em situações de  
violência de figuras apego faz emergir na criança sintomas de evitamento, ansiedade, novos  
medos, agressividade” (1997, p. 42). Cummings acrescenta que, esta violência a que a criança  
é constantemente exposta constitui-se como uma ameaça para esta, no sentido em que “mina o  
seu sentido de predição e o seu sentimento de acolhimento na família, preocupando-a e fazendo  
sentir-se emocionalmente stressada” (1998 apud Sani, 2002, p. 43).  
Ao longo das entrevistas, foi referido igualmente que alguns dos efeitos nas crianças por  
exposição emergem no constante estado de alerta que passam vivenciar. “Os efeitos negativos  
da violência doméstica em termos emocionais, ela vem muito associada a isto, a estes casos  
mais graves em [que] há um estado de alerta constante em que há um estado de stress constante  
no organismo (…)” (Ent3).  
542  
A par do que foi exposto anteriormente, é referido que os efeitos que as crianças  
vivenciam por conta da exposição acarretam problemas no desempenho académico, isto é, as  
próprias revelam um baixo rendimento escolar e consequentemente um decréscimo das  
avaliações. “(…) mais dificuldade de concentração na escola (…)” (Ent3).  
Em consonância com Martins (2018), a autora afirma que a crianças em idade primária  
submetidas a esta exposição revelam problemas ao nível escolar e demostram menor capacidade  
para a realização de tarefas propostas em contexto escolar.  
Em virtude do sofrimento emocional/psicológico, foi percetível pelo relato das  
profissionais que algumas crianças desenvolveram baixa autoestima, bem como sintomas  
depressivos. “(…) às vezes há uma mãe ou um pai que diz «não contes a ninguém que viste  
isto» e, portanto, eles guardam muito pra eles e acho que sintomas depressivos também é uma  
coisa que pode acontecer mais… frequentemente” (Ent5).  
Libertas, Juiz de Fora, v. 24, n. 2, p. 534-552, jul./dez. 2024. ISSN 1980-8518  
Os efeitos da violência interparental nas crianças:  
o olhar de uma comissão de proteção de crianças e jovens (CPCJ) em Portugal  
De modo similar, Magalhães (2002) cita que as consequências diretas desta exposição  
ao nível efetivo abrangem não só o surgimento de sensações de medo e raiva, como também é  
percetível um baixo nível de autoestima nas crianças.  
Tendo em consideração os efeitos despoletados nestas crianças, percebeu-se que os  
progenitores não detêm a consciência sobre como os efeitos repercutem no desenvolvimento  
das mesmas, no qual mencionam como exemplo o próprio percurso de vida. Trajetórias de vida  
marcadas pela exposição a violência interparental, utilizada como justificativa para a situação  
atual de violência e banalizando os efeitos que acabam por surgir.  
(…) penso que não só pela própria, por estarem na Comissão, mas pela própria  
educação que tiveram, que um berro, que uma palmada [suspiro profundo] não  
tem efeitos numa criança a… Muitas vezes referem que “ó, ó Doutora, se o  
meu pai bateu-me, eu estou aqui, e foi graças a algumas palmadas que eu sou  
o que sou hoje” (Ent1).  
Compreendeu-se também que existe uma normalização e banalização do padrão de  
violência, ou seja, a criança interioriza os valores típicos dos conflitos violentos que observa e  
vivencia. “(…) a reprodução dos modelos no futuro, não é?… a interiorização de valores e de  
banalização da violência doméstica (…)” (Ent3).  
Ao longo da análise de conteúdo das entrevistas, constatou-se que a normalização dos  
padrões de violência por estas crianças é um processo normal, uma vez que estas cresceram e  
desenvolveram-se num ambiente em que ouviam e presenciavam o agressor a agredir a vítima  
e a vítima a ser agredida, interiorizando que estes comportamentos fazem parte de um  
relacionamento, seja ele amoroso, afetivo ou entre membros da família.  
543  
E efetivamente há aqui uma série de crianças que já são educ[adas]- e uma  
série da população que é educada desta forma, que isto é uma forma normal  
de comunicação e o valor e a importância que atribuem a isto, muitas vezes, é  
diferente e a gravidade que tem muitas vezes é diferente também consoante a  
forma como culturalmente isto é visto, porque por vezes é banalizado (Ent3).  
A literatura indica que os progenitores com historial de vitimação na infância,  
apresentam uma maior dificuldade em lidar com situações de maior stress, podendo incutir o  
seu padrão de comportamentos aos seus filhos (Michel et al., 2011).  
Os pais assumem um papel essencial na aprendizagem de comportamentos, servindo de  
modelo para as crianças, principalmente quando são ainda muito jovens. Segundo Cunningham  
e Baker (2007), com a exposição à violência, a criança pode identificar-se com o progenitor do  
mesmo género, o que pressupõem uma aprendizagem distorcida do papel do homem e mulher  
na sociedade. No entanto, este parecer não é assim tão linear já que outros estudos atribuem  
uma conotação positiva ao facto da criança não se identificar com o agressor, para que também  
não aprove os seus comportamentos e não venha a reproduzi-los no futuro (Renner et al., 2011).  
Ana Pinto; Eva Chaves; Cristiana Almeida; Mónica Teixeira  
Para além disso, a autora Moretti (2006), explica que existe uma maior propensão, por  
parte destas crianças, para a reprodução de estratégias de resolução violentas, utilizando a  
violência física ou psicológica, aquando à presença das mesmas a exposição a violência  
interparental.  
Tendo em conta o que foi mencionado anteriormente, vale ressaltar que muitas destas  
crianças não conseguem quebrar este ciclo de violência, que se perpetuou ao longo do tempo,  
em relações futuras, procurando parceiros que exerçam violência para com as próprias. Este  
efeito tende a ser explicado pela dificuldade em quebrar o próprio ciclo violento dentro da  
relação com o agressor, convertendo-se numa espiral de violência. “(…) e depois, muitas vezes,  
se calhar elas próprias a… não conseguem quebrar o ciclo de violência e elas próprias vão  
procurar pessoas que… que também vão exercer algum tipo de violência para consigo, não  
é?…” (Ent2).  
Por outro lado, existem casos em que os próprios progenitores compreendem e têm  
noção dos efeitos que desenvolveram por conta da exposição à violência interparental na sua  
infância e, por esse motivo, mostram preocupação em não repercutir os mesmos modelos e  
comportamentos violentos para com os seus descendentes.  
E depois também há um risco da reprodução dos comportamentos a que se  
assiste. Existem os dois casos [ruído da cadeira a mexer-se]. Existem tanto as  
pessoas que dizem “Ai, eu vivi isto e não quero que o meu filho viva, porque  
eu quando era criança [ruído da porta a bater] vivia… o meu pai batia na minha  
mãe”; como existem as pessoas porque viram reproduzem, ou seja, um dos  
problemas também é a assunção deste valor e reprodução deste  
comportamento (Ent3).  
544  
ii) Caracterizar os efeitos da violência interparental nas crianças: As consequências mais  
presentes nas respostas passam por: afetar a saúde: “Quando são crianças muito pequenas a…  
vai ter efeitos na saúde” (Ent1); o desenvolvimento emocional: “Quais são as consequências?  
Negativas? A… pronto… as consequências… era aquilo que eu estava a falar, é a nível de  
desenvolvimento emocional” (…) (Ent 1); o estabelecimento de relacionamentos tanto na  
adolescência, como no futuro: “(…) a dificuldade de estabelecer relacionamentos saudáveis na  
sua vida adulta, na sua vida, na sua adolescência, na vida adulta (Ent2)” e o surgimento de  
sentimentos depressivos e ansiedade: “(…) tentar perceber se isto vai acabar por despoletar uma  
depressão, uma ansiedade que precise de ser consultado (…)” (Ent5), bem como insegurança e  
pensamentos de insuficiência enquanto indivíduos: “Enquanto eles constroem como pessoa a…  
perceber se não há aqui alguma insegurança, se eles próprios em termos de autoestima também  
não se constroem como pessoas incapazes” (Ent5).  
Libertas, Juiz de Fora, v. 24, n. 2, p. 534-552, jul./dez. 2024. ISSN 1980-8518  
Os efeitos da violência interparental nas crianças:  
o olhar de uma comissão de proteção de crianças e jovens (CPCJ) em Portugal  
iii) Perceber a influência da violência interparental nas crianças: Foi percetível através das  
entrevistas que esta exposição influencia as crianças ao nível da capacidade, da concentração e  
no seu desenvolvimento intelectual. “(…) estão mais do que explicados, mais do que estudados  
os efeitos ao nível da capacidade de concentração, capacidade de desenvolvimento intelectual  
das crianças, da aprendizagem, não é?” (Ent1).  
Paralelamente, Martins (2018) revela que esta exposição frequente nas crianças  
influenciam os seus níveis de concentração em vários contextos da sua vida, como por exemplo  
em contexto escolar, na qual estas registam um baixo nível de concentração na realização das  
tarefas escolares.  
Contudo, estes efeitos não só influenciam o desenvolvimento intelectual, como também  
interferem na saúde mental da mesma, podendo despoletar outras problemáticas associadas.  
“(…) quando são expostas a estas situações ao nível da própria saúde, cada vez vemos mais ou  
constatamos que há crianças com muitas problemáticas ao nível de saúde mental (…)” (Ent1).  
No mesmo sentido, esta exposição afeta igualmente o estabelecimento de relações no  
presente e no futuro, sejam estas afetivas ou de outra natureza, somando à insegurança que daí  
podem sentir, uma vez que interiorizaram a partir da observação que nos relacionamentos o que  
permanece é a insegurança. “Acho que vivenciar uma situação destas em fases anteriores à  
adolescência pode muitas vezes condicionar o tipo de relações de namoro que temos (…)”  
(Ent5).  
545  
Um dos exemplos mais concretos referentes à influência que os efeitos detêm na vida  
dos progenitores destas crianças, é um caso mencionado em que é percetível que os efeitos  
experienciados condicionaram a vida destes e que no presente sentem as situações de violência  
como se fossem ocorridas nos dias de hoje.  
(…) e eu posso dizer já tive aqui a… processos de crianças que os próprios  
pais me contaram que eles próprios foram vítimas de violência, de exposição  
a violência doméstica entre os seus pais, portanto avós das crianças que eu já  
tenho e que… aquilo que me dizem é… é assustador (Ent2).  
iv) Analisar a experiência profissional dos/as técnicos/as da CPCJ em casos de exposição  
das crianças à violência interparental: de forma geral as comissárias afirmaram terem  
experiência em casos com esta problemática. “Sim. Ao longo… da minha atividade profissional  
já tive variadíssimos processos que envolviam crianças que tinham sido expostas a violência  
interparental” (Ent3).  
Considerando a experiência das profissionais entrevistadas, bem como a análise dos  
processos da CPCJ em estudo, poderá concluir-se que a violência interparental é uma  
problemática muito presente. Esta não ganha expressividade apenas na Comissão, como  
Ana Pinto; Eva Chaves; Cristiana Almeida; Mónica Teixeira  
também na comunidade em geral, fazendo com que os casos tenham mais visibilidade. “(…) eu  
quase, quase poderia dizer que é quase 100%, que é quase tudo, não é?… envolve violência  
doméstica, violência interparental aliás (…)” (Ent2).  
Os resultados expostos vão ao encontro das estatísticas do ano de 2022 patentes na Base  
de Dados da CPCJ em estudo, em que consta que a problemática diagnosticada mais presente  
nesta Comissão recai sobre a violência doméstica em praticamente todos os escalões etários  
(compreendidos entre os intervalos de tempo [0-2], [3-5], [6-8], [9-10], [11-14], [15-17] e [18-  
21]). Contudo no escalão etário dos 11-14 anos (vide Gráfico 1) verifica-se que a problemática  
violência doméstica se encontra como a segunda problemática diagnosticada mais presente em  
2022 (com 21 processos instaurados), seguida da problemática comportamentos graves  
antissociais (com 23 processos instaurados), num total de 639 processos instaurados na  
Comissão em questão.  
Gráfico 1: Problemática diagnosticada mais presente em 2022 no escalão etário dos 11-14 anos.  
546  
Fonte: Base de Dados da CPCJ em estudo.  
Comparando os dados apresentados com outras CPCJ’s situadas nos distritos mais a  
norte de Portugal (CPCJ de Braga, CPCJ de Bragança, CPCJ do Porto, CPCJ de Viana do  
Castelo e CPCJ de Vila Real), segundo o Relatório Anual de Avaliação da Atividade das CPCJ  
2022, constata-se que a CPCJ do Porto, apresenta o maior número de processos instaurados  
com a problemática violência doméstica (733 processos instaurados), num total 4 299 processos  
instaurados nas CPCJ’s dos distritos mais a norte do país (Gráfico 2).  
Libertas, Juiz de Fora, v. 24, n. 2, p. 534-552, jul./dez. 2024. ISSN 1980-8518  
Os efeitos da violência interparental nas crianças:  
o olhar de uma comissão de proteção de crianças e jovens (CPCJ) em Portugal  
Gráfico 2: Problemática violência doméstica diagnosticada nas CPCJ's dos distritos da Zona Norte de Portugal em 2022.  
Fonte: Relatório Anual de Avaliação da Atividade das CPCJ 2022.  
No que concerne aos dados registados nas CPCJ’s dos distritos mais a centro do  
território nacional (Gráfico 3) em comparação com as CPCJ’s situadas no distrito do Porto  
(Gráfico 2), conforme o Relatório Anual de Avaliação da Atividade das CPCJ 2022, percebe-  
se que as CPCJ’s no distrito do Porto assinalam um maior número de processos instaurados  
com a problemática violência doméstica do que qualquer CPCJ situada nos distritos mais a  
centro de Portugal em 2022, com um total de 3031 processos instaurados com esta  
problemática.  
Gráfico 3: Problemática violência doméstica diagnosticada nas CPCJ's dos distritos da Zona Centro de Portugal  
em 2022.  
547  
Fonte: Relatório Anual de Avaliação da Atividade das CPCJ 2022.  
Confrontando os dados obtidos das CPCJ’s situadas nos distritos mais a sul do país  
(Gráfico 4) com os dados registados das CPCJ’s localizadas no distrito do Porto (Gráfico 2),  
segundo o Relatório Anual de Avaliação da Atividade das CPCJ 2022, constata-se que as  
CPCJ’s fixadas em Lisboa registam um maior número de processos instaurados com a  
Ana Pinto; Eva Chaves; Cristiana Almeida; Mónica Teixeira  
problemática violência doméstica, num total de 6784 processos instaurados com esta  
problemática, do que qualquer CPCJ instalada no distrito do Porto em 2022.  
Gráfico 4: Problemática violência doméstica diagnosticada nas CPCJ's dos distritos da Zona Sul de Portugal em  
2022.  
Fonte: Relatório Anual de Avaliação da Atividade das CPCJ 2022.  
Assim sendo, a percentagem de processos com a problemática que se encontra a ser  
estudada na CPCJ em análise, varia entre o intervalo de valores 40-70%, segundo as  
entrevistadas. Os valores das estatísticas nacionais apresentados nas figuras acima corroboram  
com a perceção das profissionais entrevistadas, e neste sentido, poder-se-á concluir que de  
facto, a violência doméstica e a violência interparental são uma problemática cada vez mais  
presente.  
548  
Considerações finais  
A questão do impacto da violência interparental tem vindo a merecer uma maior atenção  
pela constatação da presença de elevados níveis e stress em crianças expostas à violência  
interparental (Benetti, 2006). Os estudos nesta área comprovam que a vitimiação direta pode  
ser tão prejudicial quanto a vitimação indireta (e.g., Sani, 1999, 2000, 2002) refletindo-se em  
consequências a curto e/ou longo prazo em várias áreas do desenvolvimento da criança (e.g.,  
Canha, 2002; Kuhlman et al., 2012; Sani; Caprichoso, 2013). Há ainda a crença de que as  
crianças mais novas não são afetadas pela violência (e.g., Davies et al., 2009).  
Através da análise dos dados resultantes das entrevistas realizadas às técnicas  
integrantes na CPCJ em estudo, bem como da análise de dados estatísticos, percebeu-se que a  
violência interparental tem efeitos nefastos para as crianças que experienciam a violência. Os  
resultados deste estudo demonstram que, os principais efeitos são: ao nível psicológico e  
emocional, provocando nas crianças, sentimentos de insegurança e baixa autoestima,  
Libertas, Juiz de Fora, v. 24, n. 2, p. 534-552, jul./dez. 2024. ISSN 1980-8518  
Os efeitos da violência interparental nas crianças:  
o olhar de uma comissão de proteção de crianças e jovens (CPCJ) em Portugal  
interferindo também no seu rendimento escolar. Conclui-se igualmente que existe uma  
“desorganização” das emoções e dificuldades nas relações interpessoais no futuro. Por outro  
lado, constatou-se que os progenitores, atualmente, têm mais consciência sobre os efeitos que  
as situações de violência acarretam, dada a crescente visibilidade do fenómeno pelos órgãos de  
comunicação social. No entanto, as crianças que experienciam a violência tendem a normalizar  
estes padrões, devido à sua proximidade ao paradigma.  
O presente estudo exploratório pretende contribuir para a investigação deste fenómeno,  
atribuindo uma maior visibilidade às consequências da violência interparental, lançando um  
alerta para a comunidade em geral e para os profissionais que trabalham na área.  
Por fim, a violência interparental continua a ser um problema social grave, no entanto,  
com mais visilidade. Considera-se que o crescente interesse científíco no âmbito da violência  
interparental contribui para uma intervenção mais eficaz, que garanta o bem-estar destas  
crianças, ainda assim, importa refletir sobre a adequação dos modelos de intervenção social  
utilizados.  
O estudo aqui apresentado foi encarado, como já foi referido, como um estudo  
exploratório sobre o tema. Apresentou um conjunto de limitações como sejam a análise de  
apenas uma CPCJ da região norte, que se traduziu no envolvimento de um pequeno número de  
participantes. Não obstante, atendendo aos resultados obtidos, reconhece-se a necessidade de  
alargar o campo de análise. Neste sentido, sugere-se que investigações futuras deem  
continuidade a este trabalho, com a recolha de dados junto de CPCJ das restantes NUT’s, que  
possam contribuir para a atualização dos dados disponíveis, para a (re)construção teórica da  
problemática e para a reflexão sobre a mesma na realidade portuguesa.  
549  
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