Inez R. Zacarias; Elziane (Ziza D) O. Dourado; Isaura G. de Carvalho Aquino; María Fernanda Escurra
consegue escapar da contínua procura empiricista que impede a compreensão das estruturas
que provocam os fenômenos, nem consegue esclarecer categorias em si mesmas enganosas.
A economia vulgar, com efeito, não faz mais que interpretar, sistematizar e
louvar doutrinariamente as concepções dos agentes presos dentro das relações
burguesas de produção. Não nos deve surpreender, portanto, que ela,
precisamente na forma de manifestação alienada das relações econômicas, nas
quais essas aparecem, prima facie, como contradições totais e absurdas – e
toda ciência seria supérflua se a forma de manifestação e a essência das coisas
coincidissem imediatamente –, se sinta aqui perfeitamente à vontade e que
essas relações lhe apareçam tanto mais naturais quanto mais escondida se
encontrar nela a correlação interna, ao mesmo tempo em que são correntes
para a concepção comum (Marx, 2021, p. 880).
Escurra (2018) ressalta que a crítica de Marx (2015; 2021), no caso da economia
política, demonstra que as falsas ideias possuem um papel necessário fundamentado nas
estruturas sociais que elas representam. Para Marx, a economia burguesa apresenta categorias
objetivas, pois se traduzem em formas de pensamento que, apesar de enganosas, possuem
validade social ao representar a forma como as relações sociais se evidenciam aos sujeitos na
produção.
Trata-se de formas de pensamento socialmente válidas e, portanto, dotadas
de objetividade para as relações de produção desse modo social de produção
historicamente determinado, a produção de mercadorias. Por isso, todo o
misticismo do mundo das mercadorias, toda a mágica e a assombração que
anuviam os produtos do trabalho na base da produção de mercadorias
desaparecem imediatamente, tão logo nos refugiemos em outras formas de
produção (Marx, 2015, p. 151).
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Nesta perspectiva, com base em Duayer (2001), Escurra (2018) acrescenta que ao
reconhecer que essas categorias são objetivas para este modo de produção social e submetê-
las a uma crítica radical, Marx obtém um duplo resultado: por um lado, afirma a objetividade
das ideias correntes sobre o mundo e, por outro, não equipara todas as ideias sobre o mundo,
posto que as ideias objetivas podem perfeitamente ser falsas, superficiais e, consequentemente,
objeto de crítica.
A autora registra, inclusive, que é relevante reforçar que Marx teoricamente sempre
considerou o falso enquanto socialmente necessário, na medida em que em suas obras,
após a análise crítica minuciosa,ele nunca abandona formas de consciência científica,
artística, religiosa etc. que contam com validade social, apesar de absurdas, falsas e/ou
incoerentes (Duayer, 2001). De fato, considerada a sua validade social efetiva, a crítica não
possui o poder de anular praticamente a teoria ou concepção criticada (Escurra, 2018).
Escurra (2018) reforça que, como sublinhado por Duayer (2001), Marx desenvolvia
críticas rigorosas às teorias burguesas que considerava falsas, em menor ou maior medida, e
Libertas, Juiz de Fora, v. 24, n. 1, p. 90-103, jan./jun. 2024. ISSN 1980-8518