Alexandra Aparecida Leite Toffanetto Seabra Eiras
Os autores anteviram no modo de produção capitalista, uma dada materialidade
fundante de uma “história universal”10 e as possibilidades abertas neste processo, para o
conjunto dos povos, com impacto em termos da liberdade e autonomia individuais, em uma
perspectiva emancipadora para os seres humanos, tomados coletiva e individualmente.
Assim, evidencia-se que a emergência da totalidade concreta está relacionada ao
processo histórico assentado material e objetivamente no desenvolvimento das forças
produtivas sob o capitalismo, que envolve nessa dinâmica, o planeta, integrando no processo
de produção/reprodução social, as diferentes regiões/territórios.
No plano teórico-analítico, a compreensão dessa objetivação ocorre pela Economia
Política e pela Crítica à Economia Política elaborada por Marx e Engels.
A partir desses pressupostos, observa-se através de Rubin (2014), que a gênese deste
processo aconteceu no decorrer do período conhecido como “mercantilismo” (séculos XVI e
XVII)11.
Nesta direção, Rubin (2104, p. 40) argumenta:
No final da Idade Média já se apresentavam os sinais de que a economia
regional ou citadina estava em fase de declínio [...] A economia regional era
baseada numa combinação do manso senhorial rural com as guildas urbanas;
[...] a decomposição se deu [pelo] rápido desenvolvimento de uma economia
monetária, a expansão do mercado e a força crescente do capital mercantil.
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da divisão do trabalho determina também as relações entre os indivíduos e o material, o instrumento e o produto
do trabalho” (Marx e Engels in Villar, 1980, p. 106). “O desenvolvimento da força produtiva do trabalho pressupõe
uma cooperação em ampla escala; como tão-somente partindo desse pressuposto é possível organizar a divisão e
a combinação do trabalho, economizar os meios de produção concentrando-os em massa, criar meios de trabalho
que já materialmente só podem ser empregados em comum, por exemplo, os sistema de máquinas; como forças
imensas da natureza podem ser obrigadas a servir à produção em aplicação tecnológica da ciência” (Marx – O
Capital, in Villar, 1980, p. 125).
10 Após analisar a obra de Marx, buscando sua relação com o campo de pesquisa da história, na perspectiva do
historiador, Villar conclui: “Marx combina em cada uma de suas páginas não apenas – como observou Schumpeter
– teoria econômica e análise histórica, mas também, numa intrincadíssima rede, a teoria da história e a história da
teoria, um conjunto que o próprio Schumpeter não conseguiu alcançar, apesar do poder de seu pensamento e de
sua grande erudição; Schumpeter só teve êxito na história da teoria. [...] Também para O Capital – se quisesse
defini-lo com relação ao tema ‘Marx e a história’ – deveria dizer, como para a Ideologia Alemã, que não é um livro
de história, mas é obra de um historiador” (Villar, 1980, p. 126). É interessante que Villar termina esse artigo
indicando no item 5, o título, “A história universal como resultado”. Embora ele não explique essa concepção
(ainda que a tenha exposto a partir da análise dos textos de Marx, dentre os quais se destaca a Ideologia Alemã),
fica subentendido que esse é o caminho para ele, enquanto historiador marxista. Aesse respeito, também me parece
que a obra de Hobsbawm, sobretudo, o estudo sobre as “Eras” (Das Revoluções, Do Capital, Dos Extremos) foi
elaborada buscando uma amplitude histórica (de análise de dados e processos) no nível global.
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“A era do capital mercantil (ou capitalismo primevo) abrange os séculos XVI e XVII, tendo sido uma era de
enormes transformações na vida econômica da Europa Ocidental, com o desenvolvimento extensivo do comércio
marítimo e o predomínio do capital comercial” (Rubin, 2014, p. 39) “Assim como uma compreensão completa da
economia capitalista é impossível sem o conhecimento da época da acumulação capitalista primitiva, tampouco
pode haver uma compreensão correta da evolução da economia política contemporânea sem um conhecimento
geral dos economistas da era mercantilista” (Rubin, 2014, p. 35) “Embora isso possa ocorrer de modo menos
visível e com maior complexidade, ainda pensamos que as exigências da política econômica concreta exercem um
poderoso impacto sobre a orientação das ideias econômicas” (Rubin, 2014, p. 30).
Libertas, Juiz de Fora, v. 24, n. 1, p. 187-211, jan./jun. 2024. ISSN 1980-8518