Francisco Flavio Eufrazio
Breve análise da ideologia-política do conservadorismo (e suas influências) no
Brasil
O conservadorismo tem sido a tônica da política brasileira nos últimos anos.
[...] A razão disso é o significado social que o pensamento e a práxis
conservadoras representam. Em um país de inserção periférica, dependente
[...] no circuito da divisão internacional do trabalho, como o Brasil, as
ideologias conservadoras, em geral, e o conservadorismo em particular,
tendem a ressoar e a repercutir com intensidade sobre a cultura, a economia e
a política (Souza, 2016, p. 360).
O conservadorismo presente nas relações sociais que se constituíram (e se constituem) no
Brasil, de característica razoavelmente distinta de “outros conservadorismos” presentes em
países de formação econômica clássica, mas, ao mesmo tempo, imprimindo certas similaridades
constitutivas “abrasileiradas”, parece resultar de amálgamas políticas e ideológicas mediante
aproximações com o fascismo e com o bonapartismo (Souza, 2020). Sua composição, oriunda
de ideologias políticas ultranacionalistas, autoritárias e ditatoriais, somada à personificação de
tradições, valores e princípios reivindicados pela classe sociorracial, política e economicamente
dominante como verdades intransigentes, é frequentemente (re)atualizada para (re)definir
métodos conservacionistas e inibidores de mudanças radicais e profundas capazes de romper
com as “revoluções” dentro da ordem (Fernandes, 2008).
Suas influências tendem a “acentuar elementos de uma herança histórica que, mediante
contradições, não foi inteiramente superada” (Souza, 2020, p. 275). E, pelo que é perceptível
pelo que ocorreu e se agravou no governo Bolsonaro, elas permanecem presentes “no cotidiano
e nos interesses das classes dominantes e dominadas, influenciando, sobretudo, suas escolhas
políticas, ideias, valores, costumes e relações sociais” (Souza, 2020, p. 275).
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Acerca destas influências, é preciso lembrar que o padrão de civilização conservador
vigente no Brasil, agudizado com a latência do autoritarismo e da autocracia burguesa no
governo Bolsonaro (Pereira, et al., 2021), não é uma adversidade societária contemporânea,
tampouco essencialmente autêntica: ele foi “transferido ou transplantado de fora, [...] por via
de herança cultural e de participação contínua nos processos de transformação dessa civilização,
ocorridos nos centros originais de sua elaboração e irradiação” (Fernandes, 2008, p. 141), com
a perspectiva de garantir estabilidade das posições estratégicas para o setor político e
economicamente dominante na estrutura das classes sociais em disputa, mediante a arcaização
do moderno e a modernização do arcaico sobre bases conservadoras capazes de centralizar o
monopólio do poder sob o controle de uma de suas facções (Fernandes, 1975; 2008).
Como fenômeno utilizado para preservar o domínio do poder da classe sociorracial,
política e economicamente dominante, inerente à atual organização da sociedade no complexo
Libertas, Juiz de Fora, v. 24, n. 2, p. 626-646, jul./dez. 2024. ISSN 1980-8518