Conservadorismo enquanto ideologia-política e  
peleja histórica do Serviço Social  
Conservatism as a political ideology and a historical struggle of Social Work  
Francisco Flavio Eufrazio*  
Resumo:  
O
trabalho reforça que  
o
Abstract: The work highlights that  
conservatism was and remains a historical  
struggle of Social Work, which is expressed  
ideologically and politically in the national  
societal structure. It presents brief analyses of  
the influences of conservatism on the formation  
of social relations and argues that they are  
maintained by the bourgeois sector to prevent  
the disappearance of the class system that has  
been formed in the country. It indicates that  
conservatism, as an ideology-politics, still  
affects Social Work, mainly via socio-  
occupational spaces, and considers, based on a  
literature review, that the rupture with this  
phenomenon, on the part of the professional  
category, will only be possible when the class  
system that was formed.  
conservadorismo foi e permanece sendo uma  
peleja histórica do Serviço Social e que se  
expressa ideológica e politicamente na estrutura  
societária nacional. Apresenta breves análises  
sobre as influências do conservadorismo na  
formação das relações sociais e argumenta que  
elas são mantidas pelo setor burguês para  
impedir o fenecimento do sistema de classes que  
se formou no país. Indica que  
conservadorismo, enquanto ideologia-política,  
ainda incide sobre Serviço Social,  
principalmente via espaços sócio-ocupacionais,  
e considera que o rompimento definitivo com tal  
fenômeno, por parte da categoria profissional,  
será possível quando ocorrer o fenecimento do  
sistema de classes.  
o
o
Palavras-chaves: Conservadorismo; Espaços  
Keywords: Conservatism; Socio-occupational  
sócio-ocupacionais; Serviço Social.  
spaces; Social Work.  
Introdução  
Rasgos axiais sobre o problema. Preliminarmente, segundo Netto (2011), o sincretismo é  
O fio condutor da afirmação e do desenvolvimento do Serviço Social como  
profissão, seu núcleo organizativo e sua norma de atuação. Expressa-se em  
todas as manifestações da prática profissional e revela-se em todas as  
intervenções do agente profissional como tal. O sincretismo foi um princípio  
constitutivo do Serviço Social (Netto, 2011, p. 92).  
Considero que o sincretismo representa a mescla de circunstâncias distintas, como: a  
* Bacharel em Serviço Social pela Universidade Federal de Campina Grande - UFCG. Mestre em Serviço Social  
e Direitos Sociais pela Universidade Estadual do Rio Grande do Norte - UERN. Doutorando em Serviço Social  
pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6835-349X  
DOI: 10.34019/1980-8518.2024.v24.44146  
Esta obra está licenciada sob os termos  
Recebido em: 10/04/2024  
Aprovado em: 14/11/2024  
Conservadorismo enquanto ideologia-política e peleja histórica do Serviço Social  
arcaização do moderno e a modernização do arcaico (Fernandes, 1975). O sincretismo é um  
fenômeno que simboliza uma incompatibilidade de conjunturas desiguais coexistindo. Ele se  
apresenta predominantemente nas relações sociais mediante eventualidades, acontecimentos,  
episódios etc. que se contrapõem à dita sociabilidade moderna ao reviver e revitalizar  
anacronismos incompatíveis com os avanços teleológicos e ontológicos da humanidade no  
tempo presente. Dessa forma, o sincretismo acaba limitando mudanças sócio-estruturais  
profundas e capazes de romper com a ordem societária vigente, por isso, compreendo o  
sincretismo como uma contradição do sistema capitalista.  
O sincretismo que desenvolve o Serviço Social (Netto, 2011) é processado pelo  
desenvolvimento capitalista, tanto ideológica quanto politicamente. Ele se manifesta de forma  
objetiva e subjetiva, também mediante práticas conservadoras que o perpetuam e, ao perpetuá-  
lo, se conservam. Neste caso, e concordando com Souza (2020), reforço: o sincretismo é uma  
expressão do conservadorismo que, somado ao ecletismo, (re)produz agravos no Serviço  
Social, já que “o conservadorismo nunca deixou de permear a formação e o [exercício]  
profissional. Por vezes explícita, por vezes implicitamente” (Boschetti, 2015, p. 639).  
Para Souza (2020), ainda é necessário tratar o conservadorismo, assim como sua  
expressão sincrética e eclética, enquanto problemáticas a serem enfrentadas em suas dimensões  
sócio-históricas, teóricas, culturais, políticas e ideológicas. Ainda segundo o autor, o Serviço  
Social deve compreender o conservadorismo enquanto fenômeno presente na totalidade das  
relações sociais, percebendo-o enquanto determinação estrutural dotada de raiz político-  
ideológica, arraigada e nutrida nas/pelas contradições capitalistas, para efetivar definitivamente  
a tão aspirada ruptura com a estrutura sincrética do Serviço Social de notoriedade conservadora.  
O conservadorismo ainda se apresenta enquanto peleja histórica do Serviço Social  
(Maranhão, 2016), ao incidir precipuamente sobre a profissão via espaços de trabalho, os quais  
carregam consigo tensões de classes e disputas de projetos societários que podem gerar  
complicações na operacionalidade do exercício profissional, seja pela incidência da autonomia  
relativa (Iamamoto, 2012) sobre o profissional inserido tanto dentro, quanto fora dos espaços  
de trabalho das políticas públicas e sociais, seja pela via da regressão ou retirada de direitos  
sociais, mediante a desproteção social do Estado que negligencia e vilipendia a questão social,  
a partir da ideologia-política conservacionista e reacionária capaz de (re)definir o papel e a  
função do Estado diante dela (questão social), o que pode impactar, direta ou indiretamente, nas  
condições e relações de trabalho de assistentes sociais (Moura, 2019).  
627  
Tais possíveis circunstâncias indicam que o Serviço Social, enquanto profissão inserida  
na divisão social e técnica do trabalho, ainda que ancorado numa perspectiva crítica, política e  
Francisco Flavio Eufrazio  
ética, não é alheio às contradições, tampouco às ideologias do sistema capitalista que incidem  
tanto sobre o exercício profissional quanto sobre as suas instituições empregadoras.  
A questão do conservadorismo e suas repercussões tradicionalistas e restauradoras  
também se apresentam como problemáticas cruciais ao Projeto Ético-Político do Serviço Social  
brasileiro, ao repercutirem nos princípios norteadores da profissão, sobretudo naqueles  
referentes1 ao compromisso da categoria profissional com a emancipação humana (Souza,  
2020). Além disso, o conservadorismo presente nas relações sociais tem produzido no interior  
da categoria profissional pensamentos e análises que afirmam haver um hiato entre formação e  
exercício profissional, ao fomentar pensamentos de que há “um fosso entre um projeto de  
formação baseado na teoria crítica marxista e uma prática profissional que não incorporaria  
essas referências teóricas e incorreria em trabalhos profissionais conservadores e reiterados”  
(Boschetti, 2015, p. 638).  
Ocorre que o conservadorismo é politicamente ideológico (Souza, 2020). Ele se fez e se  
faz presente em todas as relações sociais, especialmente no exercício da categoria profissional  
nos espaços sócio-ocupacionais, ainda possivelmente por práticas tradicionais, burocráticas,  
alienadas e reducionistas, destituídas de referencial histórico-crítico, as quais podem ser  
impostas muitas das vezes de maneira compulsória sobre o profissional (Martinelli, 1989).  
Assim, podendo resultar num exercício profissional desassociado da práxis e reverberar em  
práticas policialescas, classistas e de culpabilização do usuário dos serviços, programas,  
projetos e benefícios das políticas públicas e sociais, já que essas possíveis práticas tendem a  
ser influenciadas por perspectivas teóricas pós-modernas, positivistas, funcionais e  
estruturalistas, as quais circunscrevem os possíveis danos das influências ideológicas do  
conservadorismo no “saber-fazer” profissional. Uma vez que, direta ou indiretamente, “são [...]  
decisivas as tendências conservadoras da política institucional do Estado brasileiro, com as  
quais se relacionam mais diretamente as entidades representativas do [Serviço Social e o  
exercício profissional]” (Souza, 2020, p. 37).  
628  
Evidentemente, tais circunstâncias podem impactar porventura o Serviço Social, em  
geral, e o exercício profissional em particular, seja por uma possível “corrosão” do estatuto  
teórico e político da profissão via ecletismo: o qual constitui uma dimensão que tende “a  
reproduzir traços do conservadorismo no Serviço Social, funcionando como uma espécie de  
caixa de ressonância do conservadorismo crescente na sociedade brasileira” (Souza, 2020, p.  
1 Ver em específico o Código de Ética do Serviço Social, principalmente seus princípios fundamentais. Disponível  
08 out. 2023.  
Libertas, Juiz de Fora, v. 24, n. 2, p. 626-646, jul./dez. 2024. ISSN 1980-8518  
Conservadorismo enquanto ideologia-política e peleja histórica do Serviço Social  
64); ou por uma possível “colisão” com estatuto profissional do Serviço Social, ao afetar os  
princípios norteadores da profissão via conservadorismo: o qual tende a manter “sua influência,  
contraditoriamente, no cotidiano do Serviço Social como profissão e como área de  
conhecimento” (Souza, 2020, p. 64).  
Ainda assim, é preciso reconhecer que tais fenômenos (ecletismo e conservadorismo) não  
são requisitados ou mesmo vilipendiados pelo Serviço Social, ao contrário, eles são impostos à  
categoria profissional mediante “um conjunto de determinantes históricos, que fogem ao seu  
controle e impõem limites, socialmente objetivos, à consecução de um projeto profissional”  
(Iamamoto, 2014, p. 424).  
Situado isso, resta ratificar que o objetivo do trabalho é apresentar breves análises sobre  
o conservadorismo enquanto ideologia-política: implementada e mantida como substrato das  
relações sociais pelos setores burgueses na perspectiva de impedir possível fenecimento do  
sistema de classes que se formou e se desenvolve no Brasil. Em seguida, tem em vista indicar  
como o conservadorismo se apresenta no Serviço Social, destacando o espaço sócio-  
ocupacional2 que emprega assistentes sociais como uma das vias para a incidência do  
conservadorismo sobre a profissão. Por fim, argumenta que o conservadorismo enquanto  
ideologia-política ainda repercute negativamente no Serviço Social, e considera que o  
rompimento com tal fenômeno por parte da categoria profissional será possível quando ocorrer  
o fenecimento do sistema de classes.  
629  
As reflexões aqui apresentadas são resultadas de revisões bibliográficas. Em especial,  
recorreu-se à tese de doutorado de Jamerson Murillo Anunciação de Souza — “Tendências  
ideológicas do conservadorismo” —, na perspectiva de compreender o conservadorismo  
enquanto ideologia-política. Artigos e livros também foram utilizados na construção da análise,  
tais como Iamamoto (2014; 2009), Netto (2011), Mota (2012), Boschetti (2015), etc. Quanto à  
bibliografia referente às influências do conservadorismo nas relações sociais no Brasil, uma  
obra em particular se destaca: “Sociedade de classes e subdesenvolvimento”, de autoria do  
sociólogo Florestan Fernandes (2008). Ao priorizar tais bibliografias, visei compreender as  
influências da ideologia-política do conservadorismo no Brasil e no Serviço Social, na  
perspectiva de contribuir ao debate e no combate ao conservadorismo.  
2
Não há destaque em especial de nenhum espaço sócio-ocupacional. Elaboro minha análise a partir do  
entendimento de que todos os espaços sócio-ocupacionais que empregam assistentes sociais, em alguma medida,  
são campos de disputas de interesses de classes antagônicas, bem como são espaços receptores e propagadores do  
conservadorismo, devido à sua natureza contraditória (Moura, 2019; Iamamoto, 2009).  
Francisco Flavio Eufrazio  
Breve análise da ideologia-política do conservadorismo (e suas influências) no  
Brasil  
O conservadorismo tem sido a tônica da política brasileira nos últimos anos.  
[...] A razão disso é o significado social que o pensamento e a práxis  
conservadoras representam. Em um país de inserção periférica, dependente  
[...] no circuito da divisão internacional do trabalho, como o Brasil, as  
ideologias conservadoras, em geral, e o conservadorismo em particular,  
tendem a ressoar e a repercutir com intensidade sobre a cultura, a economia e  
a política (Souza, 2016, p. 360).  
O conservadorismo presente nas relações sociais que se constituíram (e se constituem) no  
Brasil, de característica razoavelmente distinta de “outros conservadorismos” presentes em  
países de formação econômica clássica, mas, ao mesmo tempo, imprimindo certas similaridades  
constitutivas “abrasileiradas”, parece resultar de amálgamas políticas e ideológicas mediante  
aproximações com o fascismo e com o bonapartismo (Souza, 2020). Sua composição, oriunda  
de ideologias políticas ultranacionalistas, autoritárias e ditatoriais, somada à personificação de  
tradições, valores e princípios reivindicados pela classe sociorracial, política e economicamente  
dominante como verdades intransigentes, é frequentemente (re)atualizada para (re)definir  
métodos conservacionistas e inibidores de mudanças radicais e profundas capazes de romper  
com as “revoluções” dentro da ordem (Fernandes, 2008).  
Suas influências tendem a “acentuar elementos de uma herança histórica que, mediante  
contradições, não foi inteiramente superada” (Souza, 2020, p. 275). E, pelo que é perceptível  
pelo que ocorreu e se agravou no governo Bolsonaro, elas permanecem presentes “no cotidiano  
e nos interesses das classes dominantes e dominadas, influenciando, sobretudo, suas escolhas  
políticas, ideias, valores, costumes e relações sociais” (Souza, 2020, p. 275).  
630  
Acerca destas influências, é preciso lembrar que o padrão de civilização conservador  
vigente no Brasil, agudizado com a latência do autoritarismo e da autocracia burguesa no  
governo Bolsonaro (Pereira, et al., 2021), não é uma adversidade societária contemporânea,  
tampouco essencialmente autêntica: ele foi “transferido ou transplantado de fora, [...] por via  
de herança cultural e de participação contínua nos processos de transformação dessa civilização,  
ocorridos nos centros originais de sua elaboração e irradiação” (Fernandes, 2008, p. 141), com  
a perspectiva de garantir estabilidade das posições estratégicas para o setor político e  
economicamente dominante na estrutura das classes sociais em disputa, mediante a arcaização  
do moderno e a modernização do arcaico sobre bases conservadoras capazes de centralizar o  
monopólio do poder sob o controle de uma de suas facções (Fernandes, 1975; 2008).  
Como fenômeno utilizado para preservar o domínio do poder da classe sociorracial,  
política e economicamente dominante, inerente à atual organização da sociedade no complexo  
Libertas, Juiz de Fora, v. 24, n. 2, p. 626-646, jul./dez. 2024. ISSN 1980-8518  
Conservadorismo enquanto ideologia-política e peleja histórica do Serviço Social  
econômico urbano-industrial, o conservadorismo elaborado no país foi mais requisitado após a  
finalização da produção de base escravista, em meio a um potencial desequilíbrio e instabilidade  
das relações sociais desiguais, sobretudo pelos setores burgueses na perspectiva de conservar  
política e ideologicamente a consolidação e expansão do capitalismo brasileiro ao velho estilo  
das elites senhoriais.  
Com isso, [estou convencido] de que a formação do “conservadorismo à  
brasileira” emerge em um contexto histórico marcado por um racismo  
enraizado que atinge também as instituições, resultante da exploração secular  
do trabalho escravo e pelo tardio estabelecimento de relações tipicamente  
capitalistas. Trata-se de uma transição capitalista sem a mediação de um  
processo revolucionário “clássico” e sem um corte profundo e definitivo com  
as formas pré-capitalistas, ou extraeconômicas, de subordinação do trabalho  
ao capital (Souza, 2020, p. 278).  
Neste caso, viso argumentar que o conservadorismo enquanto ideologia-política serviu  
de substrato para preservar as disparidades entre as classes sociorraciais e conduzir uma  
processualidade de mudanças políticas e econômicas tipicamente capitalistas, preliminarmente  
sob o signo do liberalismo e posteriormente sob o signo do neoliberalismo.  
Foi especialmente a partir de 1930, se agudizando em 1970, mas também em 2008,  
sobretudo a partir do crescimento das teorias irracionais e acríticas, que o conservadorismo  
possibilitou como ainda tem possibilitado estabilidade para o desenvolvimento da burguesia  
nacional, muito vinculado ao agravamento da questão social e de sua negligência,  
principalmente por parte do Estado, ao revitalizar uma cultura conservadora no enfrentamento  
da questão social (Mota, 2012).  
631  
Ocorre que os meios de “enfrentamento” da questão social muitas das vezes são  
destituídos de significados políticos, do ponto de vista histórico e teórico, os quais desvinculam  
a compreensão do surgimento da questão social da lei geral da acumulação, da centralização e  
da concentração de capitais, bem como da intervenção do Estado diante das desigualdades  
sociais e da constituição e ingresso da classe trabalhadora no circuito social, exigindo seu  
reconhecimento de classe social por parte do Estado e do empresariado (Iamamoto; Carvalho,  
2014).  
A administração da questão social nesta sociabilidade, marcada por reformas paliativas,  
não aspira resultar em sua superação como uma prática de transformação e eliminação da ordem  
social que lhe determina. Ao contrário, a questão social tem sido “enfrentada” mediante ações  
restauradoras e conservadoras nos marcos da sociedade burguesa (Mota, 2012). Em outras  
palavras, o trato da questão social, nos marcos da ordem vigente, é condicionado a “políticas e  
reformas sociais que mantêm intocadas a propriedade privada e a exploração do trabalho  
Francisco Flavio Eufrazio  
alheio” (Mota, 2012, p. 27).  
Tal realidade parece estar relacionada a parâmetros alienantes/alienadores e inibidores de  
entendimento crítico sobre a questão social e sobre o sistema político-econômico que a  
constitui. Isso porque a ideologia-política expressa pelo conservadorismo, ao mesmo tempo,  
em que funciona como mecanismo resguardador da ordem vigente, também determina a  
compreensão sobre ela, ao condimentar pensamentos, ideias, valores, crenças e relações sociais  
que a percebem como normalidade e insuperável; e ao fomentar concepções de realidade  
fetichizadas e reducionistas apoiadas em experiências limitadas e em abordagens irracionais  
sobre a complexidade e totalidade do real, acaba por garantir que as bases de produção e  
reprodução do sistema capitalista permaneçam intactas e inalteráveis.  
Acerca da temática, Rodrigues (2012), em seu trabalho “‘O estruturalismo e a miséria da  
razão’: bases para uma crítica a Foucault”, chama a atenção para as influências das  
perspectivas teóricas acríticas relacionadas às tentativas de compreensão da realidade concreta.  
Ao analisar as abordagens de Foucault apoiadas em experiências reducionistas da realidade, a  
autora defende que elas são elaboradas mediante abstrações superficiais e irracionais que  
reduzem a razão, a intelectualidade e o entendimento à imediaticidade pragmática, deixando de  
fora a compreensão dialética por se “aferrar a uma modalidade operativa racional  
essencialmente limitada, cujos procedimentos dedutivos e lógico-matemáticos que lhes são  
próprio[s] [...] deixam escapar a dinâmica contraditória e processual dos fenômenos”  
(Rodrigues, 2012, p. 168).  
632  
São abordagens analíticas que tiveram proporções significativas associadas às  
complicações próprias do sistema capitalista e como esse sistema as utiliza em sintonia com o  
conservadorismo: pois “as influências conservacionistas se mantiveram tão fortes e em  
condições de neutralizar o impacto das influências inovadoras no comportamento social  
[inteligentemente crítico]” (Fernandes, 2008, p. 109).  
O momento histórico e factual de sua generalidade, pelo que se pode inferir de Souza  
(2020), ocorreu no último quartel do século XX, precisamente durante a década de 1970, com  
o neoliberalismo representando, cognoscível e criticamente, a decadência liberal e  
sociometabólica do sistema capitalista (Mészáros, 2011). Além disso, houve nesse período a  
proliferação de perspectivas pós-modernas, estruturalistas e pós-estruturalistas, reivindicando a  
refutação de teorias como marxismo, mas que não cunham abordagens de totalidade, tampouco  
apresentam mediações relativas às opressões, explorações, desigualdades e dominações do  
respectivo sistema, por associarem contradições próprias do capitalismo à meritocracia, por  
exemplo.  
Libertas, Juiz de Fora, v. 24, n. 2, p. 626-646, jul./dez. 2024. ISSN 1980-8518  
Conservadorismo enquanto ideologia-política e peleja histórica do Serviço Social  
Associações como essas têm resultado na manutenção das condições reais da produção  
capitalista e naquelas referentes à sua reprodução (Mandel, 1982), seja pela via da alienação,  
da fetichização, da reificação ou da manipulação, que por vezes repercutem em pensamentos  
petrificadores da realidade, os quais podem induzir uma percepção do real de maneira  
naturalizada; além de poderem fragmentar a totalidade e a luta da classe trabalhadora enquanto  
unidade de diversos, ao fomentar a perspectiva do identitarismo.  
Essas ações são potenciais estimuladoras de determinações e de justificativas políticas e  
ideológicas que podem conferir pontos de vista significativamente diferentes aos sujeitos  
sociais, segundo suas posições sociais em relação aos instrumentos disponíveis de controle  
social, mantidos por uma tradição culturalmente conservadora. No Brasil, a cultura  
conservadora inerente ao “sistema ideológico socialmente estabelecido e dominante funciona  
de maneira a apresentar suas próprias regras de seletividade, tendenciosidade, discriminação e  
até distorção sistemática como ‘normalidade’, ‘objetividade’ e ‘imparcialidade científica’”  
(Mészarós, 2004, p. 13)3. Suas repercussões tendem a manter estruturas sociais que “continuam  
a ter vitalidade para preservar técnicas arcaicas legalmente proscritas de controle autoritário do  
poder, enquanto as sociais modernas não possuem bastante vitalidade para impor ou defender  
as técnicas democráticas de organização do poder” (Fernandes, 2008, p. 133).  
Ocorre que há relativa conexão entre a irracionalidade e o conservadorismo. Ambos se  
fortalecem reciprocamente, estabelecem bases de mandonismo e definem diagnósticos  
conservacionistas e de culpabilização sobre a matéria-prima do Serviço Social, a qual é a  
questão social, além de definir o papel e a função do Estado diante dela (Iamamoto; Carvalho,  
2014; Souza, 2020). Além disso, as funções do conservadorismo “abrasileirado” imprimem o  
impasse político-ideológico posto diante das tentativas de avanço e das manifestações dos  
circuitos sociais insatisfeitos com a processualidade civilizatória nacional.  
633  
Nos últimos anos, especialmente entre 2018 e 2022, a classe trabalhadora se deparou  
(como ainda se depara) com grandes desafios no enfrentamento do conservadorismo e de sua  
ideologia-política, sobretudo num contexto político, social e econômico marcado pelo aumento  
da precariedade e da flexibilidade das condições e relações de trabalho; pelo crescimento da  
informalidade; pela tendência crescente da plataformização do trabalho no tempo histórico da  
chamada indústria 4.0; além do crescente desemprego e do cerceamento de direitos sociais e  
trabalhistas.  
3
Partes da obra “O poder da ideologia” do Ístván Mészarós (2004), disponível em:  
%20ideologia%20%28pp.%2011-27%29.pdf. Acesso em: 11 jul. 2023.  
Francisco Flavio Eufrazio  
Atualmente, a luta que a classe trabalhadora tem empreendido no Brasil é  
majoritariamente referente à defesa da permanência de direitos sociais que conseguiram —  
mediante muita resistência por parte da sociedade civil progressista — atravessar o governo  
Bolsonaro. Em contraposição, o conservadorismo e sua ideologia-política têm alçado voo junto  
da extrema-direita, a qual o mantém como guardião do seu projeto societário (Barroco, 2022).  
É significativo destacar que o combate ao conservadorismo não está apenas relacionado  
à realização de mudanças nas mais “simples” relações sociais, já que a luta contra ele demanda  
transformações profundas em todas as esferas sociais, sobretudo nas representativas da  
sociedade civil que, durante os anos de gestão do governo Bolsonaro, foram majoritariamente  
ocupadas pela extrema-direita reacionária e conservadora, representada pela bancada  
parlamentar da “bíblia”, da “bala” e do “boi”. E que tiveram como principal apoiador de suas  
práticas e deliberações reacionárias e conservadoras a figura de Bolsonaro.  
Para Pereira et al. (2021), o ingresso de Jair Bolsonaro à Presidência da República foi  
decorrente da permanência de setores conservadores presentes nas instituições representativas  
da sociedade civil desde o golpe militar de 1964. Para a autora, esses setores vêm empreendendo  
ações reacionárias e restauradoras na perspectiva de barrar o projeto revolucionário da classe  
trabalhadora que havia prosperado junto aos avanços sociais nos primeiros governos petistas.  
Contudo, o resultado indesejado obtido por esses setores foi, sobretudo, o baixo rendimento em  
lucratividade, já que Bolsonaro “não mirou no aumento dos lucros do capital ou na solidificação  
de valores conservadores tradicionais” (Pereira et al., 2021, p. 8). Já para Bolsonaro, os efeitos  
inesperados de sua contraposição de projetos desembocaram na perda de apoio e força política  
na sua tentativa de reeleição em 2022. Para a classe trabalhadora, os efeitos desse jogo sádico  
de interesses desencadearam a difusão e a legitimação social do chamado neoconservadorismo  
de feições neoliberais (Barroco, 2022).  
634  
Em Barroco (2022), podemos inferir que a constituição do neoconservadorismo  
representa uma tentativa de atualização de fenômenos históricos utilizados pelo capitalismo  
para manter suas bases de produção e reprodução operando. Se o conservadorismo  
desenvolvido no Brasil resultou de amálgamas políticas e ideológicas da junção de elementos  
fascistas e bonapartistas, o neoconservadorismo, por outro lado, conservou tais elementos e  
agregou outros, pois o neoconservadorismo se “consiste na junção entre os valores do  
conservadorismo moderno e os princípios do neoliberalismo” (Barroco, 2022, p. 13). Segundo  
a autora, “do conservadorismo clássico, preservam-se a tradição, a experiência, o preconceito,  
a ordem, a hierarquia, a autoridade, valorizando-se as instituições tradicionais, como a igreja e  
a família patriarcal” (Barroco, 2022, p. 13). Já do neoliberalismo, “conservam-se a não  
Libertas, Juiz de Fora, v. 24, n. 2, p. 626-646, jul./dez. 2024. ISSN 1980-8518  
Conservadorismo enquanto ideologia-política e peleja histórica do Serviço Social  
interferência do Estado na economia, o empreendedorismo, a meritocracia, o privatismo, o  
combate aos movimentos sociais e aos direitos sociais” (Barroco, 2022, p. 13).  
Contudo, mesmo com o término do governo Bolsonaro, o conservadorismo e algumas  
características de sua nova versão permanecem vigentes no cotidiano das relações sociais, pois  
os setores conservadores que apoiaram a candidatura de Jair Messias Bolsonaro à Presidência  
da República não foram suprimidos ou eliminados com a derrota do candidato na tentativa de  
se reeleger em 2022. Os setores conservadores presentes na sociedade brasileira foram  
fortemente beneficiados tanto politicamente quanto ideológica e economicamente enquanto  
perdurou a gestão do ex-presidente Bolsonaro.  
Atualmente, esses setores se concentram em três principais esferas da sociedade:  
1. No religioso. O grande crescimento de igrejas pentecostais e neopentecostais  
revitaliza as práticas conservadoras e reacionárias na perspectiva de inibir  
avanços da modernidade ao impor uma percepção de mundo por lentes  
heurísticas, negando a ciência, naturalizando a desigualdade e enaltecendo a  
ordem e os “bons costumes” tradicionais que são enviesados de preconceitos,  
discriminações e intolerâncias (Barroco, 2022).  
2. Nas forças militares. As forças militares exercem papel axial na preservação da  
ordem burguesa e da cultura conservadora. As ações empreendidas pelas forças  
militares não visam mediar conflitos, tampouco restaurar a convivência social.  
Ao contrário, elas são operacionalizadas para “reprimir qualquer ameaça das  
classes dominadas [...] através do Exército, da polícia, do sistema judiciário e  
penitenciário” (Mandel, 1982, p. 334).  
635  
3. Nas propostas neofascistas. As quais visam incorporar discursos de ódio,  
intolerância, defesa de um nacionalismo radical e o uso da força e da violência  
no circuito social e econômico, além de enaltecer determinada raça  
simultaneamente ao extermínio de outras. Nessas propostas, os setores  
conservadores “encontram ressonância num tempo em que o emprego é escasso  
e a competição toma o lugar da solidariedade; em que a barbárie dissemina o ódio  
e a desumanização; em que a brutalidade passa a ser virtude política e o  
irracionalismo apela aos piores instintos e às reservas de animalidade que brotam  
no indivíduo, na sociedade capitalista” (Barroco, 2022, p. 13).  
Mesmo o país experimentando poucas progressões e muitas convulsões políticas  
dramáticas, relacionadas a mudanças de produção econômica de baixo desenvolvimento  
Francisco Flavio Eufrazio  
interno, mas de alta rentabilidade externa após 1930, que se agravaram com a instalação de uma  
ditadura que reorientou a organização e as polarizações do poder na sociedade brasileira em  
1937, subsequentemente, desemborcando numa “renovação” da “democracia” liberal-  
conservadora, somada ao suicídio de um presidente eleito e a renúncia de outro, que gestou uma  
experiência parlamentarista efêmera e extemporânea, mas também uma conspiração civil com  
apoio militar que redundou num golpe de Estado contrarrevolucionário e na implementação de  
um regime militar autoritário em 1964, o qual reatualizou o substrato material, político e  
ideológico que fez crescer a autocracia burguesa e conservadora que perdura até os dias atuais,  
é possível perceber que o conservadorismo nessa processualidade histórica-civilizatória não  
deu trégua; ao contrário, contribuiu significativamente para manter a organização da estrutura  
de classes no Brasil, em patamares que facilitou, em todos os níveis e em todos os momentos  
históricos do país: a absorção dos “progressos” pelos setores sociorraciais, políticos e  
economicamente dominantes (Fernandes, 2008; Souza, 2020).  
Nesse caso, é fundamental reconhecer “que o conservadorismo como forma de  
pensamento [político e ideológico] e experiência prática é resultado de um contra movimento  
aos avanços da modernidade, e nesse sentido, suas reações são restauradoras e preservadoras”  
(Yazbek, 2020, p. 300). Sua notoriedade se espraia em todos os âmbitos das relações sociais,  
garantindo a inviolabilidade de mudanças estruturais capazes de erradicá-lo. Por isso, o  
conservadorismo ainda se apresenta no Serviço Social, mesmo havendo intencionalidade de  
rompimento com ele por parte da categoria profissional. Portanto, é necessário não vilipendiar,  
tampouco negligenciar a existência do conservadorismo nas relações sociais que se forjaram no  
país, muito menos desconsiderar sua incidência no Serviço Social, majoritariamente viabilizada  
a partir dos espaços do exercício profissional.  
636  
Conservadorismo e sua incidência no Serviço Social via espaços sócio-ocupacionais  
Preliminarmente, [parto] do entendimento de que as demandas postas no  
cotidiano profissional têm requisitado ações cada vez mais imediatas,  
fragmentadas, heterogêneas e superficiais aos assistentes sociais, e que as  
políticas sociais [e públicas, as quais são campos da] intervenção dos  
profissionais, carregam contradições inerentes à sua própria natureza. É  
importante também situar que, num contexto de crise estrutural do capital, a  
lógica neoliberal – vista como saída à crise – adentra e interfere  
consideravelmente nas relações de trabalho dos assistentes sociais, pois com  
vínculos precários, baixa remuneração, desemprego e condições mínimas para  
o exercício profissional, muitos assistentes sociais acabam por acatar  
determinações que são contrárias aos princípios da profissão. Os espaços  
sócio-ocupacionais, enquanto instituições que possibilitam a atuação dos  
profissionais, também [são] composto[s] por interesses diversos e expressa[m]  
muitas das vezes determinações contrárias aos princípios profissionais. Assim,  
Libertas, Juiz de Fora, v. 24, n. 2, p. 626-646, jul./dez. 2024. ISSN 1980-8518  
Conservadorismo enquanto ideologia-política e peleja histórica do Serviço Social  
os assistentes sociais inseridos na saúde, educação, assistência social,  
sociojurídico e outras áreas enfrentam dilemas diversos quando optam pelo  
projeto crítico da profissão [contrário ao conservadorismo] (Moura, 2019, p.  
114).  
Os espaços sócio-ocupacionais que empregam assistentes sociais se apresentam como  
ambientes contraditórios, ora representando avanços, ora retrocessos. São pensados, elaborados  
e desenvolvidos pelo Estado (e pelo empresariado), mediante exigências e lutas da classe  
trabalhadora, para oferecer mínima cobertura e assistência social e máxima proteção  
empresarial, já que têm como uma de suas finalidades gerarem aquietamento social. Eles são  
produtos da efetivação e da execução de políticas públicas e sociais, desenvolvidas para  
responder aos agravos sociais produzidos pelas desigualdades e explorações do sistema  
capitalista e assim produzir, a curto e médio prazo, controle e apaziguamento entre burgueses e  
operários. Por outro lado, segundo Iamamoto (2009), os espaços sócio-ocupacionais se  
constituem enquanto ambientes para realização da venda da força de trabalho do profissional  
como tal.  
Segundo Iamamoto (2009),  
O exercício da profissão realiza-se pela mediação do trabalho assalariado, que  
tem na esfera do Estado e nos organismos privados – empresariais ou não – os  
pilares de maior sustentação dos espaços ocupacionais desse profissional,  
perfilando o seu mercado de trabalho, componente essencial da  
profissionalização do Serviço Social. A mercantilização da força de trabalho,  
pressuposto do estatuto assalariado, subordina esse trabalho de qualidade  
particular aos ditames do trabalho abstrato e o impregna dos dilemas da  
alienação, impondo condicionantes socialmente objetivos à autonomia do  
assistente social na condução do trabalho e à integral implementação do  
projeto profissional (Iamamoto, 2009, p. 8).  
637  
O profissional do Serviço Social, ao ser inserido nos espaços operacionais das políticas  
públicas e sociais — Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), Centros de  
Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), hospitais, instituições públicas de  
ensino básico ou superior, Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), mas também nos Centros  
de Atenção Psicossocial (CAPs), Núcleos Ampliados de Saúde da Família (NASFs), etc. —, é  
recrutado pelo Estado para atuar na mediação de direitos; na prestação de assessoria e  
consultoria a órgãos da administração pública ou privada, seja direta ou indiretamente; na  
resolução de possíveis problemas que possam surgir entre os usuários e as instituições públicas  
e sociais que dispõem de programas, projetos, serviços e benefícios constitucionalmente  
garantidos; mas também na elaboração, implementação, execução e avaliação de políticas  
públicas e sociais, conforme as diligências das competências profissionais dispostas no Art. 4º  
da Lei n.º 8.662, de 7 de junho de 1993, a qual regulamenta a profissão.  
Francisco Flavio Eufrazio  
Sua inserção e exercício profissional são permeados por contradições próprias das  
instituições empregadoras, devido ao paradoxo funcional que as constitui enquanto espaços  
institucionais expressivos de contradições sociais (Iamamoto, 2009). Não obstante, é  
importante lembrar que o surgimento do Serviço Social brasileiro esteve associado à  
mundialização da matéria-prima de sua intervenção profissional, as quais são as expressões da  
questão social que se generalizaram a partir do desenvolvimento e mundialização do sistema  
capitalista, mais precisamente em seu estágio imperialista, pelo que se pode inferir de Netto  
(2011).  
Foi particularmente no imperialismo que as desigualdades entre os vários segmentos  
sócio-raciais se agudizaram e ganharam generalidade no país, com destaque especial para a  
pauperização da classe trabalhadora, acrescida tanto pela concentração de riquezas quanto pela  
relação desigual e exploratória entre burguesia e operariado oriunda do sistema capitalista  
(Netto, 2011). Cabe destacar, rapidamente, que  
não existe uma relação direta e imediata entre Serviço Social e questão social  
[...]. A relação existente é de natureza mediata em face das determinações  
históricas da existência e reprodução da profissão que se materializam nas  
demandas do Estado, do setor privado mercantil ou não e dos movimentos e  
organizações sociais e populares via obtenção ou execução de meios que  
permitam o enfrentamento das expressões da questão social (Mota, 2012, p.  
34).  
638  
Ao destacar essa natureza mediata entre Serviço Social e questão social, seja pelo setor  
público ou privado, viso enfatizar que não há uma inerência orgânica entre a profissão e a  
questão social. Em poucas palavras, não é o Serviço Social que cria ou mantém a questão social  
vívida e latente, tampouco será o Serviço Social e os seus agentes profissionais que o constituem  
que irão erradicá-la isoladamente. A questão social é um dos principais problemas produzidos  
pelo capitalismo e só a classe trabalhadora internacionalizada e mundializada conseguirá,  
coletivamente, destruí-lo.  
No Brasil, a questão social ganha maior notoriedade a partir de 1930, muito associada aos  
agravos sociais produzidos pelas tentativas de consolidação do mercado capitalista, pela  
escassez de postos de trabalho para a classe trabalhadora nativa e nacionalizada  
compulsoriamente4 e pela insalubridade da vida, mas também pela “expansão do processo de  
formação e desenvolvimento da classe trabalhadora e de seu ingresso no cenário político da  
sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado”  
(Iamamoto; Carvalho, 2014, p. 77).  
4 Leia-se aqui a população africana escravizada e mantida no país contra sua vontade.  
Libertas, Juiz de Fora, v. 24, n. 2, p. 626-646, jul./dez. 2024. ISSN 1980-8518  
Conservadorismo enquanto ideologia-política e peleja histórica do Serviço Social  
Para o setor conservador, a questão social foi percebida e interpretada como simples  
episódio epidérmico, sem importância. Reivindicada como fenômeno natural, convertida em  
objeto de ação moralizadora (Netto, 2011). Para esse setor,  
O enfrentamento das suas manifestações deve ser função de um programa de  
reformas que preserve, antes de tudo e mais, a propriedade privada dos meios  
de produção. [...] trata-se de combater as manifestações da “questão social”  
sem tocar nos fundamentos da sociedade burguesa. Tem-se aqui, obviamente,  
um reformismo para conservar (Netto, 2011, p. 115).  
A negligência da questão social pelos setores conservadores da sociedade brasileira foi  
sistemática e deliberadamente bem montada e inteligentemente arquitetada para interpretar as  
contradições, problemas e desigualdades que são próprias do sistema capitalista como sendo  
provenientes dos limites de cada indivíduo. Esses setores se utilizaram da culpabilização do  
sujeito diante da situação-problema para negar o ethos da questão, ao reivindicarem lógicas  
conservadoras e meritocráticas, além de vilipendiar o problema nos seus diversos níveis,  
desvinculando-o da dinâmica dicotômica produzida pelas explorações e expropriações do  
sistema capitalista.  
Obviamente, tais ações ocultam o real interesse por trás delas: impedir ou limitar a classe  
trabalhadora de acessar direitos sociais e, com isso, restringir a sociabilização dos recursos  
públicos. É uma tática dos setores conservadores de impossibilitar que a classe trabalhadora  
consiga alterar profundamente a estrutura das relações sociais, econômicas e políticas desiguais  
entre burgueses e operários. Táticas como essa foram bastante empreendidas e facilitadas pela  
implementação de variadas categorias profissionais, como o Serviço Social, junto aos serviços  
públicos e sociais, pela perspectiva burguesa de preservar inviolável a estrutura contraditória  
entre as classes sociais. Neste caso, é possível cogitar que as circunstâncias impostas pela  
burguesia conservadora sobre o Estado em relação ao trato da questão social podem incidir,  
direta ou indiretamente, no exercício profissional de assistentes sociais a partir das condições e  
relações desfavoráveis para a execução do labor profissional nos espaços sócio-ocupacionais  
das políticas públicas e sociais, podendo gerar restrições e barreiras diante da operacionalidade  
dos serviços e direitos sociais para a população.  
639  
Nesse ínterim, cabe sublinhar que as primeiras intervenções de assistentes sociais no país,  
por exemplo, caracterizavam-se por práticas conservadoras e associadas aos interesses do modo  
de produção capitalista, sobretudo a partir de 1930. Martinelli (1989) descreveu o caráter das  
ações realizadas pelos agentes profissionais anteriormente ao Movimento de Reconceituação  
do Serviço Social Latino-Americano5, como:  
5 Em poucas palavras, o assim denominado Movimento de Reconceituação do Serviço Social Latino-Americano  
Francisco Flavio Eufrazio  
[...] práticas burocráticas, alienadas e reducionistas, destituídas de referencial  
histórico-crítico, [...][marcadas] ainda por uma intensa dessolidarização da  
categoria profissional, que [incidiram] tanto sobre seus próprios pares como  
sobre suas relações com outras categorias profissionais (Martinelli, 1989, p.  
121).  
Nas “[...] primeiras experiências em Serviço Social [...]”, diz Iamamoto e Carvalho (2014,  
p. 207) “[...] os assistentes sociais atuaram, em geral, na racionalização dos serviços  
assistenciais ou na sua implementação [...]”, mediante práticas laborais que foram notadamente  
influenciadas pelo conjunto ideológico e formativo do Serviço Social de cunho positivista,  
filantrópico, fenomenológico e católico-conservador, denominado pela categoria profissional  
como protoformas do Serviço Social brasileiro, as quais foram responsáveis por estruturar e  
adequar, à época, a profissão à ideologia do conservadorismo, constituindo-a como substrato  
do exercício profissional.  
É importante destacar também que o tipo de operacionalidade do Serviço Social, de 1930  
até o final da década de 1970, expressou a mais aguda incidência do conservadorismo sobre a  
categoria profissional, com vista a responder às demandas da burguesia mediante a incidência  
sobre o exercício profissional, fosse pelo conteúdo teórico/político orientador da intervenção  
profissional antes e um pouco depois de 1960 (positivista e fenomenológico), ou posteriormente  
a essa década, com a modernização e reatualização do conservadorismo no interior da profissão  
até o desencadeamento da intenção de ruptura com o conservadorismo, a qual ganha maior  
notoriedade em 1979, com o Congresso da Virada6.  
640  
Embora o Serviço Social tenha buscado gerar mudanças na direção do seu fazer  
profissional durante e após o Movimento de Reconceituação do Serviço Social Latino-  
Americano, com objetivo de romper com as influências do tradicionalismo conservador;  
afastando-se da fenomenologia, do positivismo e do ideário católico-conservador através da  
aproximação sucessiva com a tradição marxista e pela construção de um Projeto Ético-Político  
— o qual representa a síntese entre o Código de Ética da profissão, as Diretrizes Curriculares e  
a Lei que regulamenta a profissão (Lei n.º 8.662/93) — voltado a defender os interesses da  
classe trabalhadora, bem como buscar contribuir na edificação e permanência de um modelo de  
sociedade cada vez mais igualitário, livre e plural (Netto, 2010); a categoria profissional, apesar  
disso, ainda se depara com situações contrárias aos interesses da classe trabalhadora, as quais,  
muita das vezes, ferem os princípios norteadores da profissão mais relacionados ao exercício  
buscou gerar “[...] condições para uma renovação da [profissão] de acordo com suas necessidades e interesses”  
(Netto, 2010, p. 129).  
6 Foi durante o Congresso da Virada, no ano de 1979, que a perspectiva de ruptura com o conservadorismo ganhou  
maior repercussão no interior da categoria profissional. Ver mais em Netto (2010).  
Libertas, Juiz de Fora, v. 24, n. 2, p. 626-646, jul./dez. 2024. ISSN 1980-8518  
Conservadorismo enquanto ideologia-política e peleja histórica do Serviço Social  
profissional, por se transformarem em requisições da burguesia, impostas sobre o exercício  
profissional via instituições empregadoras, as quais são notadamente impregnadas de ideologias  
preservadoras e restauradoras do status quo, por não serem desenvolvidas mediante perspectiva  
de superação da exploração do trabalho pelo capital.  
É importante destacar que muitas das demandas requisitadas pelas instituições  
empregadoras aos assistentes sociais acabam se sobrepondo às demandas reais da população,  
colocando o profissional em um dilema histórico, o qual desencadeia contradições na profissão  
e no exercício profissional, permanecendo os profissionais, dessa forma, numa espécie de  
“contínuo hiato operacional”, já que as políticas sociais e os espaços sócio-ocupacionais nos  
quais os agentes profissionais estão inseridos e as  
Ações públicas são instâncias em que se refletem interesses contraditórios e,  
portanto, espaços de lutas e disputas políticas. Por um lado, eles dispõem de  
potencial para fazer avançar o processo de democratização das políticas  
sociais públicas. Por outro lado, […] podem ser capturados por aqueles que  
apostam na reiteração do conservantismo político, fazendo vicejar as  
tradicionais práticas clientelistas, o cultivo do favor e da apropriação privada  
da coisa pública segundo interesses particularistas, que tradicionalmente  
impregnaram a cultura política brasileira (Iamamoto, 2009, p. 361).  
Isso porque os espaços de atuação profissional congregam contradições que incidem tanto  
sobre os assistentes sociais quanto sobre outros profissionais, e que podem reverberar  
possivelmente em prejuízos para a sociedade civil. Embora constituam o resultado das disputas  
das classes sociais e conquistas da fração operária, os espaços sócio-ocupacionais representam,  
no fim e ao cabo, ações diretas do Estado (e indiretamente do empresariado) diante da questão  
social e das lutas da classe trabalhadora. Para Iamamoto (2009), por serem de natureza  
contraditória, os espaços sócio-ocupacionais se constituem como ambientes laborais cujos  
profissionais neles inseridos convivem com os impactos das tensões de classes (Iamamoto,  
2009).  
641  
Desta forma,  
O espaço do [exercício] profissional não pode ser tratado exclusivamente na  
ótica das demandas já consolidadas socialmente, sendo necessário, a partir de  
um distanciamento crítico do panorama ocupacional, apropriar-se das  
demandas potenciais que se abrem historicamente à profissão no curso da  
realidade (Iamamoto, 2009, p. 4).  
Já que os campos de atuação dos profissionais de Serviço Social são um dos principais  
espaços de disputa entre burgueses e operários pelo domínio da “coisa pública” (Iamamoto,  
2009), além de serem ambientes laborais cujas tendências conservadoras, arcaicas, autoritárias,  
burocráticas, alienadas, tradicionalistas, preservadoras e restauradoras se mantêm. Seja pela via  
da redução da universalidade das ações e serviços de saúde provocada pelo neoliberalismo. Seja  
Francisco Flavio Eufrazio  
pela seletividade assistencial mediada a partir do nível de renda, o qual é utilizado como um  
dos parâmetros para acessar serviços, projetos, programas e benefícios da política de assistência  
social. Isso sem destacar de maneira aprofundada os agravos produzidos pela obrigatoriedade  
da contribuição à previdência social como regra geral, para, posteriormente, usufruir da  
cobertura dela em uma sociedade com alto índice de desemprego.  
Cabe recordar as contrarreformas do Estado iniciadas pelo governo Fernando Henrique  
Cardoso durante a década de 1990, mantidas pelos governos petistas, perpetuadas no governo  
Temer e agudizadas no governo Bolsonaro, as quais intensificaram a redução de direitos e  
serviços sociais viabilizados pelas políticas públicas e sociais, a serem efetivados mediante as  
intervenções de profissionais atuantes nas mesmas.  
[Acerca da temática], Behring (2008) destaca que as limitações do Estado ao  
social, efetivadas em decorrência de uma angulação maior de amparo estatal  
aos interesses burgueses, são decorrentes da diminuição da proteção social  
gerada pela tentativa da reestruturação acumulativa após a introdução do  
modelo neoliberal no país, o qual atingiu, a partir de 1990, não só as políticas  
públicas e sociais, mas as condições e relações de trabalho, sobretudo nos  
espaços de trabalho público que empregam assistentes sociais (Eufrazio, 2022,  
p. 4).  
São circunstâncias que imprimem limitações postas frente à efetivação de direitos sociais  
que, direta ou indiretamente, incidem sobre os agentes profissionais, inseridos tanto naqueles  
destacados acima quanto em outros espaços sócio-ocupacionais, ocasionando, desta forma, uma  
latência da relativa autonomia profissional provocada tanto pelas instituições empregadoras  
quanto pela política-ideológica do conservadorismo presente nelas. A qual esteve  
significativamente operante no governo Bolsonaro, influenciando ideias, valores, crenças e  
objetivos da população em geral, como também modificando disposições legais com vista a  
reduzir direitos sociais, como ocorreu com as leis trabalhistas e com a previdência social. Neste  
caso, é possível sugerir que uma das formas que o conservadorismo utiliza para incidir no  
Serviço Social é via espaços sócio-ocupacionais, já que esses, assim como as políticas públicas  
e sociais que os efetivam e os regulamentam, são permeados por contradições próprias à sua  
natureza.  
642  
Os espaços sócio-ocupacionais permeados de conservadorismo geram no Serviço Social  
complicações que impactam tanto nas condições quanto nas relações de trabalho. A partir disso,  
o conservadorismo e sua ideologia-política passam a afetar mais fortemente o chamado estatuto  
profissional do Serviço Social e, por determinação, os princípios norteadores do exercício  
profissional. O que orienta tal hipótese é que o conservadorismo é e sempre será: “alimento  
imprescindível da reprodução do capital, e por isso nunca sai de cena” (Boschetti, 2015, p. 639).  
Libertas, Juiz de Fora, v. 24, n. 2, p. 626-646, jul./dez. 2024. ISSN 1980-8518  
Conservadorismo enquanto ideologia-política e peleja histórica do Serviço Social  
A repercussão do conservadorismo sobre os princípios norteadores do exercício profissional de  
assistentes sociais através dos espaços sócio-ocupacionais não visa rebobinar necessariamente  
a profissão às suas protoformas tradicionais, mas conservar preliminarmente o sistema de classe  
intocável através da imposição de limitações diante dos avanços da classe trabalhadora e do  
cerceamento dos direitos sociais.  
No campo da economia, o atual contexto de crise capitalista tem revitalizado princípios,  
ações, medidas e valores conservadores para limitar a socialização da riqueza produzida pela  
classe trabalhadora, na perspectiva de encontrar saídas para a crise através da expropriação do  
fundo público. Soma-se a isso o incentivo ao empreendedorismo vinculado à redução do papel  
do Estado e à diminuição de recursos orçamentários a serem destinados para a efetivação e para  
a garantia de direitos sociais, cada vez mais fragilizados pelo processo de mercantilização dos  
serviços públicos e sociais. Para Boschetti (2015), “todas essas medidas estiveram largamente  
em curso sob o manto neoliberal desde a década de 1970, [alimentando] a competitividade, o  
individualismo e valores liberais conservadores” (Boschetti, 2015, p. 640).  
Em relação ao Serviço Social, mais precisamente aos princípios norteadores do exercício  
profissional, essas medidas têm afetado mais fortemente duas disposições do Código de Ética  
Profissional:  
● Compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população e com o  
aprimoramento intelectual, na perspectiva da competência profissional (CFESS, 2012,  
p. 24) e;  
643  
● Disposição de condições de trabalho condignas, seja em entidade pública ou privada,  
de forma a garantir a qualidade do exercício profissional (CFESS, 2012, p. 31).  
No campo social, as funções superestruturais desempenhadas pelo Estado7 em função da  
manutenção das condições de produção e reprodução da sociabilidade capitalista não apenas  
têm gerado vilipêndio e negligência das expressões da questão social, como as têm  
intensificado. A série de problemas entorno das condições e relações de trabalho; a  
mercantilização da educação somada ao aligeiramento nos processos formativos; a fragilidade  
nas ações e serviços de saúde pública vinculado ao crescimento da procura por planos de saúde  
privados; os baixos valores dos benefícios previdenciários e as precárias condições de moradia  
e saneamento básico acabam desencadeando rupturas nas proposições da cobertura social e na  
Seguridade Social, afetando drasticamente a classe trabalhadora (Boschetti, 2015). Sobre o  
7 Em Mandel (1982), é possível apreender três principais funções superestruturais desempenhadas pelo Estado em  
favor do capitalismo: 1 - criar condições gerais de produção e reprodução; 2 - reprimir qualquer ameaça às classes  
dominantes; 3 - garantir a incidência da ideologia da classe dominante sobre a dominada.  
Francisco Flavio Eufrazio  
Serviço Social e sobre os princípios norteadores do exercício profissional, o desempenho das  
funções superestruturais realizadas pelo Estado para manter intacta a sociedade burguesa  
dificulta os assistentes sociais em promover:  
● Ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial de toda  
sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis, sociais e políticos das classes  
trabalhadoras (CFESS, 2012, p. 23);  
● Defesa do aprofundamento da democracia, enquanto socialização da participação  
política e da riqueza socialmente produzida (CFESS, 2012, p. 23);  
● A equidade e justiça social, que assegure universalidade de acesso aos bens e serviços  
relativos aos programas e políticas sociais, bem como sua gestão democrática (CFESS,  
2012, p. 23);  
No campo ideológico, o crescimento do fundamentalismo; a intensificação do  
preconceito, da discriminação, da intolerância contra religiões de matriz africana; o crescente  
do nível de violência letal contra negros, mulheres e população LGBT+ (BOSCHETTI, 2015),  
somado à presença de setores conservadores nas instituições representativas da sociedade civil  
e nas de deliberação de políticas públicas e sociais têm requisitado dos assistentes sociais um  
empenho grandioso na “eliminação de todas as formas de preconceito, [ao buscarem incentivar]  
o respeito à diversidade, à participação de grupos socialmente discriminados e à discussão das  
diferenças” (CFESS, 2012, p. 23).  
644  
Considerações finais  
Nesse breve trabalho, visei tecer análises para identificar se ainda há a incidência do  
conservadorismo no Serviço Social brasileiro, reconhecendo sua existência. Admitir sua  
presença não significa refutar, tampouco diminuir os avanços conquistados e produzidos pela  
categoria profissional, tanto internos quanto externos à profissão.  
Além disso, considero que, embora a profissão tenha se estabelecido sobre bases  
conservadoras, elas necessariamente não são mais o conteúdo da intervenção dos agentes  
profissionais. Contudo, faz-se necessário reconhecer que tal fenômeno ainda incide sobre o  
exercício profissional, já que os assistentes sociais exercem suas intervenções laborais em um  
circuito social e institucional no qual há a presença do conservadorismo.  
O conservadorismo continua repercutindo negativamente no Serviço Social, sobretudo  
por interferências das instituições empregadoras impregnadas de conservadorismo, o qual se  
apresenta nos espaços sócio-ocupacionais que empregam assistentes sociais, ocasionando  
dificuldades na qualidade do exercício profissional de assistentes sociais comprometidos com  
Libertas, Juiz de Fora, v. 24, n. 2, p. 626-646, jul./dez. 2024. ISSN 1980-8518  
Conservadorismo enquanto ideologia-política e peleja histórica do Serviço Social  
os interesses da classe trabalhadora.  
Embora haja intencionalidade por parte da categoria profissional em romper efetiva e  
definitivamente com o conservadorismo, cogito que isso só será possível quando ocorrer o  
fenecimento do sistema de classes capitalista, porque é o próprio sistema de classes que mantém  
vívido o conservadorismo como determinação política e ideológica de preservação do sistema  
capitalista e da divisão da sociedade em classes distintas e antagônicas. Ou seja, há uma  
reciprocidade entre conservadorismo e capitalismo, donde ambos se fortalecem mutuamente.  
Para concluir, ressalto: é necessário que a categoria profissional, assim como a sociedade  
civil e, principalmente, alunos de graduação e Pós-Graduação, reconheçam que o Serviço  
Social, enquanto profissão eclodida na sociabilidade capitalista, não domina a potencialidade,  
tampouco o poderio de eliminar o respectivo sistema econômico. O Serviço Social,  
isoladamente, não será a lança que impedirá o capitalismo de se reerguer após momentos de  
estagnação, tampouco a pedra que atrapalhará seu avanço, muito menos a substância química  
que irá corroê-lo. O Serviço Social e os seus agentes profissionais fazem parte de um conjunto  
de operários que vivem sob a égide do capitalismo e qualquer pensamento ou prospecção que  
reduza o sentido de coletividade revolucionada, endeusando uma profissão ou demonizando-a,  
não passa de mera alienação.  
645  
Referências bibliográficas  
BARROCO, Maria Lúcia da Silva. Direitos humanos, neoconservadorismo e neofascismo no  
Brasil contemporâneo. Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 143, p. 12-21, jan./abr. 2022.  
31 ago. 2023.  
BOSCHETTI, Ivanete. Expressões do conservadorismo na formação profissional. Serv. Soc.  
Soc., São Paulo, n. 124, p. 637-651, out./dez. 2015. Disponível em:  
Acesso em: 31 ago. 2023.  
Brasil. CFESS. Código de ética do/a assistente social. Lei 8.662/93 de regulamentação da  
profissão. - 10ª. ed. rev. e atual. - [Brasília]: Conselho Federal de Serviço Social, [2012].  
EUFRAZIO, Francisco Flavio. Contribuições ao debate do Serviço Social na política  
previdenciária em tempos de contrarreforma. XVII CONGRESSO BRASILEIRO DE  
ASSISTENTES  
SOCIAIS,  
2022.  
Disponível  
em:  
2023.  
FERNANDES, Florestan. Sociedade de classes e subdesenvolvimento. - 5. ed. rev. - São Paulo:  
Global, 2008.  
Fernandes, Florestan. Capitalismo dependente e classes sociais na América Latina. 2. ed. Rio  
de Janeiro: Zahar, 1975.  
IAMAMOTO, Marilda Villela.; CARVALHO, Raul de. Relações sociais e Serviço Social no  
Brasil: esboço uma interpretação histórico-metodológica. 4. ed. São Paulo/Lima:  
Cortez/Celats, 2014.  
Francisco Flavio Eufrazio  
IAMAMOTO M. Os espaços sócio-ocupacionais do assistente social. Serviço Social: Direitos  
Sociais  
e
Competências  
Profissionais,  
2009.  
Disponível  
em:  
Acesso em: 30 ago. de 2023.  
MANDEL, Ernest. O capitalismo tardio. - São Paulo: Abril Cultural. 1982.  
MARANHÃO, Cézar. Uma peleja teórica e histórica: Serviço Social, sincretismo e  
conservadorismo. In: MOTA, Ana Elizabete; AMARAL, Ângela (org.). Cenários,  
contradições e pelejas do Serviço Social Brasileiro. São Paulo: Cortez, 2016.  
MARTINELLI, Maria Lúcia. Serviço Social: identidade e alienação. São Paulo: Cortez, 1989.  
MÉSZÁROS, Istevan. A crise estrutural do capital.- 2. ed. rev. e ampliada.- São Paulo:  
Boitempo, 2011.  
MÉSZÁROS,  
Istevan.  
O
poder  
da  
ideologia.  
(2004).  
Disponível  
em:  
MOTA, Ana Elizabete. Questão Social, pobreza e Serviço Social: em defesa da Perspectiva  
Crítica. In: GOMES, Vera Lúcia Batista; VIEIRA, Ana Cristina de Souza; NASCIMENTO,  
Maria Antonia Cardoso. O avesso dos direitos: Amazônia e nordeste em questão. Recife:  
Ed. Universitária da UFPE, 2012.  
MOURA, H. C. E. (2021). Configurações do conservadorismo no Serviço Social brasileiro:  
breves aproximações da realidade contemporânea. Serviço Social Em Debate, 2(2).  
Recuperado  
de:  
Acesso em: 30 ago. 2023.  
NETTO, José Paulo. Ditadura e Serviço Social: uma análise do Serviço Social no Brasil pós-  
64. - 15 ed. - São Paulo: Cortez, 2010.  
NETTO, José Paulo. Capitalismo monopolista e serviço social; 8. ed. São Paulo: Cortez,  
2011.  
PEREIRA, Camila et. al. Capitalismo dependente, Estado e autoritarismo no Brasil. Textos &  
Contextos, Porto Alegre, v. 20, n. 1, p. 1-11, jan./dez. 2021. Disponível em:  
2023.  
646  
RODRIGUES, Mavi. “O estruturalismo e a miséria da razão”: bases para uma crítica a  
Foucault”. In: BRAZ, Marcelo (org.). Carlos Nelson Coutinho: e a renovação do marxismo  
no Brasil. 1.ed. São Paulo: Expressão Popular, 2012.  
SOUZA, Jamerson Murillo Anunciação de. O conservadorismo moderno: esboço para uma  
aproximação. Serv. Soc. Soc. (122)  
Apr-Jun 2015. Disponível em:  
SOUZA, Jamerson Murillo Anunciação de. Tendências ideológicas do conservadorismo  
[recurso eletrônico] / Jamerson Murillo Anunciação de Souza. Recife: Ed. UFPE, 2020.  
YAZBEK, Maria Carmelita. Os fundamentos do serviço social e o enfrentamento ao  
conservadorismo. Revista Libertas, v. 20 n. 2, (jul/dez 2020). Disponível em:  
Libertas, Juiz de Fora, v. 24, n. 2, p. 626-646, jul./dez. 2024. ISSN 1980-8518