Fabiana Alcântara Lima
a retomada da taxa de lucro dentro dos limites do capital,10 a crise contemporânea se caracteriza
pelo bloqueio dessa possibilidade pela via dos espaços produtivos, assumindo um caráter
permanente denominado por Meszáros (2010) de crise estrutural11. Essa crise se caracteriza,
expressamente, pela expansão do capital financeiro em todas as esferas da vida social, haja vista
a voraz apropriação de valor em razão desproporcional à produção capitalista, que se traduz em
mais renda concentrada e, paradoxalmente, em maiores níveis de desigualdade.
No texto Das crises cíclicas à estrutural, o filósofo húngaro recorda como exemplo
emblemático, a devastação da natureza – no Brasil, o emblemático caso da Amazônia – a crise
das instituições políticas, das estruturas familiares – diga-se, as desigualdades do conjunto das
relações humanas; de classe, gênero, raça, religião etc. Assim, a “crise estrutural do capital
revela-se como uma verdadeira crise de dominação em geral” (Meszáros, 2010, p. 78), cujo
alicerce se sustenta por uma ofensiva sem precedentes do capital contra o trabalho.
A partir dos anos 2000, particularmente, no rastro da crise financeira que atingiu uma
das principais economias mundiais12, evidencia-se uma busca inexorável pela valorização do
capital acumulado, a partir do colapso dos empréstimos subprime13, provocou a falência do
quarto maior banco norte-americano, o Lehman Brothers e Merryl Lynch. Além disso, as duas
maiores empresas automobilísticas do mundo também entraram em crise, a General Motors e
a Chrysler. “Um dos resultados anunciados da reestruturação dessas empresas é a demissão de
52 mil trabalhadores” (Marques; Nakatani, 2009, p. 69), o que traduz o caráter universal e
global da crise estrutural, que não se limita a esfera das finanças, da economia norte-
americana14.
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Essa crise tem sido analisada como marco histórico da nova dinâmica capitalista,
também denominada hipertrofia do capital fictício, que se caracteriza pela oferta abundante de
crédito por meio de financiamento hipotecário para compra de imóveis à baixo custo. O
resultado foi a elevação das taxas de juros, desemprego, empobrecimento e hiperindividamento
10 Pensemos nos mecanismos de contratendência à crise engendrados pelo pacto fordista-keynesiano, em resposta
à recessão de 1929-1933, também chamada de Grande Depressão.
11 Recomendamos a obra A crise estrutural do capital, de autoria de István Mészáros (2009).
12 A primeira manifestação dessa crise ocorreu na esfera financeira, não por acaso, nos Estados Unidos, país onde
se desenvolveu um maior grau de capital fictício. Para esta compreensão sugerimos a análise de Charles R. Morris
(2008), autor do livro “O crash de 2008: dinheiro fácil, apostas arriscadas e o colapso global do crédito. São Paulo:
Aracati, 2009”.
13“Esse tipo de contrato é que foi chamado de subprime, devido ao elevado índice de inadimplência das famílias.
O banco ou a agência hipotecária que corria inicialmente o risco ia transferindo vários desses contratos,
combinados com contratos mais seguros e transformados em um derivativo vendido para outras instituições no
mercado financeiro. Para conseguir vender esses derivativos a taxa de juros oferecida era maior, financiada pela
diferença obtida no contrato subprime.” (Marques; Nakatani, 2009, p. 61).
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Para esta compreensão sugerimos a análise de Charles R. Morris (2008), autor do livro “O crash de 2008:
dinheiro fácil, apostas arriscadas e o colapso global do crédito. São Paulo: Aracati, 2009”.
Libertas, Juiz de Fora, v. 24, n. 2, p. 673-690, jul./dez. 2024. ISSN 1980-8518