A nova ofensiva contra o trabalho na  
contemporaneidade e a validade histórico-  
analítica da teoria marxiana da crise1  
The new offensive against contemporary work and the historical-analytical  
validity of the marxian theory of crisis  
Fabiana Alcântara Lima*  
Resumo: Este trabalho tem por objetivo discutir  
as novas determinações do trabalho após a  
deflagração da crise financeira mundial de  
2008. Dadas as condições de desassalariamento  
e o aprofundamento sem precedentes dos níveis  
Abstract: This work aims to discuss the new  
determinations of work after the outbreak of the  
2008 global financial crisis. Given the  
conditions of unemployment and the  
unprecedented deepening of unemployment and  
informalization levels, which substantiate the  
structural precariousness of work, we argue that  
understanding the Capital's new offensive  
against labor requires the recovery of the  
concrete historical bases of Marx's theory of  
crisis. To do so, we resort to the main categories  
of Marxian analysis of the global process of  
capitalist production, with the help of  
contemporary debate, research and data on the  
subject. Our argument suggests contradictions  
related to the financial dominance of capital  
over labor, as a tendency for the reproduction of  
capital.  
de desemprego  
e
informalização, que  
consubstanciam a precarização estrutural do  
trabalho, argumentamos que a compreensão da  
nova ofensiva do capital contra o trabalho exige  
a recuperação das bases histórico-concretas da  
teoria da crise em Marx. Para tanto, recorremos  
às principais categorias da análise marxiana  
sobre o processo global de produção capitalista,  
com o auxílio do debate contemporâneo,  
pesquisas e dados sobre a temática. A nossa  
argumentação sugere contradições relacionadas  
ao domínio financeiro do capital sobre o  
trabalho, como tendência da reprodução do  
capital.  
Palavras-chaves: Teoria da crise; Trabalho;  
Keywords Crisis theory. Work. Reproduction  
Reprodução do capital.  
of capital.  
1 Neste artigo constam reflexões expostas no texto publicado, originalmente, nosAnais da XI Jornada Internacional  
de Políticas Públicas, UFMA/2023. Disponível em:  
769b.pdf. Acesso em: 29 de julho de 2024.  
*
Doutoranda no Programa de Pós-graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e  
pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisa em Trabalho, Questão Urbano-rural-ambiental, Movimentos Sociais  
e Serviço Social (GEPTED/PPGSS/UFRN). ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1680-3978  
DOI: 10.34019/1980-8518.2024.v24.43755  
Esta obra está licenciada sob os termos  
Recebido em: 01/03/2024  
Aprovado em: 31/07/2024  
Fabiana Alcântara Lima  
Introdução  
Nas últimas décadas, a dinâmica de expansão e concentração do capital levada às  
últimas consequências com a crise agravada pela pandemia, fez o capital reiterar medidas de  
ajuste neoliberal que já vinham em processo, desde a crise mundial deflagrada em 2008. Nesse  
cenário de aprofundamento do padrão de acumulação financeira, o capital redefine suas  
estratégias de monopolização em escala planetária, instituindo o rentismo como a norma geral  
para a produção da riqueza. Esta forma de acumulação é marcada pela contradição  
produção/apropriação de valor e pela insuficiente capacidade do setor produtivo gerar o  
excedente econômico necessário à sua reprodução ampliada.  
Este artigo busca recuperar as bases materiais da crise contemporânea, sob hegemonia do  
capital financeiro, no sentido de provocar reflexões acerca da validade histórico-ontológica da  
teoria da crise em Marx. Longe da pretensão de contemplar a complexidade do debate,  
pretendemos, especificamente, resgatar contribuições teóricas sobre crise e reprodução do  
capital, partindo das expressões concretas no âmbito do trabalho, que contempla estudos em  
desenvolvimento2. O trabalho tem como fonte de pesquisa o levantamento de dados estatísticos,  
oriundos de pesquisas realizadas anteriormente e revisão bibliográfica de autores clássicos e  
contemporâneos.  
Diante do cenário de crise, em que o capital necessita cada vez mais de respostas que  
não só garantam a recuperação de suas taxas de lucro, mas que possa estabelecer um consenso  
entre as classes, supomos que a nova ofensiva contra o trabalho reforça o projeto de dominação  
burguesa, buscando legitimar uma forma de trabalho, supostamente, descolada da produção de  
valor (Antunes, 2018; Tavares, 2021). Essas atividades situam-se, predominantemente, na  
esfera da circulação, lócus privilegiado da venda de serviços e mercadorias por pequenas e  
microempresas e microempreendedores individuais, aparentemente, “autônomas” das  
determinações macrossociais, configurando o que Ricardo Antunes, no livro O Privilégio da  
servidão, denominou de novo proletariado de serviços na era digital pensem-se nos serviços  
dos entregadores, dos motoristas de aplicativos e outras modalidades de trabalho por conta  
própria.  
674  
Em resposta ao quadro de desemprego e informalização do trabalho, agravado nos países  
da América Latina com a pandemia do Coronavírus (COVID-19), as políticas voltadas ao  
trabalho e a renda são recolocadas, notadamente, no epicentro do debate das agendas  
2
Constitui reflexões da tese intitulada Crise e reprodução do capital na contemporaneidade: uma crítica ao  
fenômeno do empreendedorismo (2024), sob orientação do professor Dr. Marcelo Braz Moraes dos Reis, do  
Programa de Pós-Graduação em Serviço Social (PPGSS/UFRN).  
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A nova ofensiva contra o trabalho na contemporaneidade e a validade histórico-analítica  
da teoria marxiana da crise  
governamentais. Sob a orientação dos organismos internacionais e com forte apelo ideológico  
do empreendedorismo, a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) e a  
Organização Internacional do Trabalho (OIT)3 destacam-se como recomendação imediata à  
recessão a) o apoio dos serviços de proteção social básica e b) a proteção das pequenas e médias  
empresas e dos trabalhadores da economia informal4 através de incentivos financeiros. No  
Brasil, ganha centralidade a implantação de programas de fomento ao empreendedorismo,  
operacionalizados em parceria com os bancos5.  
A nossa argumentação sugere que tais alternativas, na medida em que contribui para o  
ocultamento dos índices de desemprego, realçando a preocupação do Estado com os  
trabalhadores desempregados, tem potencializado novas formas de precarização do trabalho  
associadas ao endividamento. A novidade consiste no que alguns especialistas vêm chamando  
de expropriação financeira da classe trabalhadora, que se caracteriza pelo endividamento  
crescente e expansão do capital financeiro para todas as esferas da vida (Granemann, 2007;  
Fontes, 2008; Lavinas; 2021).  
Portanto, pretendemos desenvolver a referida proposta a partir dos seguintes eixos  
temáticos: 1) As bases histórico-concretas da Teoria da crise em Marx 2) O debate marxista  
contemporâneo sobre a crise 3) A nova ofensiva contra o trabalho no pós-2008: tendências  
recentes. Metodologicamente, utilizaremos conceitos e categorias marxianas centrais à análise  
da crise do capital, a saber, reprodução do capital, capital fictício e valor, além do debate  
contemporâneo sobre a nova dinâmica da acumulação financeira.  
675  
Tomamos como referencial central para a elaboração crítica de Marx no livro III de O  
Capital (2017), de que trata O processo global de produção capitalista, nos quais o autor  
examina, dentre outras questões, o papel do crédito na produção capitalista e no processo de  
valorização do capital. O debate sobre a nova ofensiva contra o trabalho no pós-2008 será  
3 Situação trabalhista na América Latina e no Caribe maio de 2020 Número 22: Trabalho em tempos de pandemia:  
desafios contra a doença de coronavírus (COVID-19). De acordo com as estimativas da OIT, o trabalho informal  
é a fonte de renda para muitos lares na América Latina e no Caribe, onde a taxa média de informalidade é de  
4 O termo se refere a setorizalização da economia – formal e informal – adotada, originalmente, nas formulações  
expostas no Relatório do Quênia (OIT, 1972) e nos trabalhos do Programa de Emprego para a América Latina e o  
Caribe (PREALC), que se revela presente até hoje em seus estudos.  
5 Seguindo a recomendação, o governo brasileiro regulamentou o Programa Nacional de Apoio às Microempresas  
e Empresas de Pequeno Porte (PRONAMPE), sancionado pela Lei nº 13.999/2020, com o objetivo de desenvolver  
e fortalecer os pequenos negócios. O programa prevê investimentos de 15,9 bilhões e uma linha de crédito até o  
limite de 30% da receita bruta obtida em 2019, com a participação de diversos bancos públicos. O público alvo a  
ser atingido pelo programa são as pequenas e microempresas com faturamento de R$ 360 mil a R$ 4,8 milhões  
por ano, não contemplando, portanto, os Microempreendedores Individuais (MEI), cujo faturamento é  
expressivamente menor.  
Fabiana Alcântara Lima  
auxiliado por dados sobre a temática, a partir de relatórios da Pesquisa Nacional de Amostra de  
Domicílios (PNAD) Contínua (2022) e da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do  
Consumidor (PEIC) e Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo  
(CNC) (2023).  
As bases histórico-concretas da Teoria da crise em Marx  
Na obra marxiana não há elaboração sistematizada sobre a crise. As suas formulações  
percorrem o imenso arsenal teórico de sua obra máxima O capital, subdividido em três livros,  
além do livro IV, intitulado Teorias da Mais-valia. Esse método de investigação e de exposição  
permitiu uma certa flexibilidade analítica radicada na lógica de compreensão de suas partes  
como uma unidade contraditória, desde as determinações gerais até as particulares, do modo de  
produzir e de se reproduzir da sociedade capitalista. Historicamente, as formulações marxianas  
e marxistas sobre a crise perpassam diferentes estágios do desenvolvimento capitalista e  
tradições teóricas6. Partindo do pressuposto analítico deste trabalho, nos interessa nesta sessão  
o resgate das bases histórico-concretas que fundam a teoria marxiana sobre a crise, tendo como  
centralidade a análise do trabalho. Para tanto, daremos destaque aos fenômenos monetários e  
as suas funções determinantes no processo de reprodução do capital.  
A crise estrutural que começamos a experimentar em meados dos anos 1970 do século  
XX, com o aumento dos preços do petróleo bruto no mercado internacional, através da expansão  
do mercado financeiro e das altas taxas de juros, fez requerer do grande capital, medidas de  
ajustes com vistas à reestruturação da economia mundial. O capital se dispõe de meios variados  
para a sua realização na esfera do consumo. O objetivo é encurtar ao máximo o seu tempo de  
rotação, articulando capital produtivo, comercial e monetário, dinâmica que Marx denominou  
movimento total do capital, no capítulo IV do seu segundo livro. As crises se manifestam,  
fundamentalmente, quando esse movimento é interrompido e se desenvolve na esfera da  
reprodução.  
676  
Contudo, é no seu primeiro livro que o filósofo desenvolve formulações indispensáveis  
à compreensão da sua teoria da crise. Podemos dizer que no âmago da crise encontra-se a  
acumulação de capital e suas necessidades variáveis de expansão, a partir da aplicação de mais-  
valor ao processo produtivo. Marx demonstra que o valor é determinado pela proporção  
6 Remetemos à chamada tradição marxista que surge com a Primeira Internacional comandada por Marx e Engels  
(1864-1871), passando pela Segunda Internacional fundada em 1889, após a morte de Marx, com a presença de  
teóricos revisionistas como Kautsky, Plekhanov e Bernstein e, posteriormente, ganha força na interpretação dos  
novos fenômenos da sociedade burguesa, a partir das formulações dos teóricos que aderiram à III Internacional  
fundada por Lênin em 1919, à exemplo de Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo.  
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A nova ofensiva contra o trabalho na contemporaneidade e a validade histórico-analítica  
da teoria marxiana da crise  
constante e variável de capital, sempre suscetíveis a modificações. Assim, só é possível pensar  
acumulação, a partir do momento em que o capitalista investe na compra de meios de produção  
(capital constante) e força de trabalho (capital variável). A esta dinâmica Marx denominou  
composição orgânica do capital (q)=c/v.  
Ao valorizar por meio do trabalho vivo o valor constante do trabalho morto, através  
do aumento da produtividade do trabalho, o objetivo da produção capitalista alcança seu fim.  
Há, no entanto, uma tendência à redução da composição orgânica do capital, particularmente,  
em períodos de crise. No contexto da crise contemporânea, por exemplo, dentre outros fatores,  
essa redução se traduz pelo aumento dos níveis de apropriação de valor em razão  
desproporcional à produção capitalista.  
Na perspectiva marxiana, o capital só pode ser entendido como uma unidade de  
produção e realização de valor e mais-valor. Isto quer dizer que, se uma mercadoria que foi  
produzida no processo de trabalho não pode ser vendida no mercado, então o trabalho  
incorporado à produção não realiza valor. Ou seja, no movimento do capital, que tem como  
fórmula geral D-M-D´, o capitalista investe dinheiro em meios de produção e força de trabalho  
para produzir mercadorias com o objetivo de obter mais dinheiro do que investiu e,  
consequentemente, mais capital. O valor da mercadoria só se realiza quando pode ser convertida  
em mais dinheiro. Essa conversão se cumpre fora do processo produtivo, por meio da troca das  
mercadorias, possibilitando a reprodução da circulação do capital. E para dizê-lo nas suas  
próprias palavras:  
677  
Aforça de trabalho é comprada, aqui, não para satisfazer, mediante seu serviço  
ou produto, às necessidades pessoais do comprador. O objetivo perseguido por  
este último é a valorização de seu capital, a produção de mercadorias que  
contenham mais trabalho do que o que ele paga, ou seja, que contenham uma  
parcela de valor que nada custa ao comprador e que, ainda assim, realiza-se  
mediante a venda de mercadorias. A produção de mais-valor, ou criação de  
excedente, é a lei absoluta desse modo de produção. A força de trabalho só é  
vendável na medida em que conserva os meios de produção como capital,  
reproduz seu próprio valor como capital e fornece uma fonte de capital  
adicional em trabalho não pago. Portanto, as condições de sua venda, sejam  
elas favoráveis ao trabalhador em maior ou menor medida, incluem a  
necessidade de sua contínua revenda e a constante reprodução ampliada  
da riqueza como capital (Marx, 2014, 453-453, grifo nosso).  
Na passagem Marx deduz que a capacidade da força de trabalho produzir valor no  
processo produtivo, mediante o trabalho assalariado, se constitui necessidade primeira da  
acumulação. Quanto mais extração de mais-valor, maior é a capacidade de reprodução do  
capital. Mas a possibilidade de o capital valorizar-se não se encerra nela. Daí a preocupação de  
Marx em desvelar as leis de produção e de reprodução do capital, enquanto unidade  
Fabiana Alcântara Lima  
indissociável, ao buscar “a conexão real entre os ciclos dos capitais individuais como conexão  
dos movimentos parciais do processo de reprodução do capital social total(Marx, 2014, p.  
179).  
Sabe-se que o pensador não conheceu a condição de superacumulação que caracteriza  
o estágio atual da crise contemporânea, desencadeada em meados da década de 70 do século  
XX. Nem mesmo, o que se convencionou chamar de financeirização, que resulta da  
superacumulação e da queda das taxas de lucro do capital produtivo, além das análises clássicas  
sobre Capital financeiro que sucederam as formulações marxianas7. No entanto, quando esta  
forma de capital ainda não estava plenamente desenvolvida, Marx estudou as conexões entre  
os fenômenos monetários e o processo de produção de valor implícito nas relações financeiras,  
demonstrando as formas aparentes da crise e a sua necessidade histórica. Aqui tudo aparece  
distorcido, pois nesse mundo de papel jamais se manifestam o preço real e seus fatores reais; o  
que se vê são apenas barras, dinheiro metálico, cédulas bancárias, letras de câmbio e títulos”  
(Marx, 2017, p. 547).  
É em seu terceiro livro, especificamente, dos capítulos XXI a XXVI8, que o pensador  
desenvolve de modo mais sistemático a sua teoria da crise. Ainda que a investigação da  
produção de mercadorias tenha sido o ponto de partida de Marx, as análises sobre os fenômenos  
monetários ganham centralidade no debate marxista contemporâneo sobre a crise e a sua  
ofensiva contra o trabalho, buscando descortinar as determinações do valor ocultas em  
modalidades de trabalho informal e por conta própria9.  
678  
É inegável que essa tendência seja expressão dos limites cada vez maiores de acesso ao  
trabalho formal e, consequentemente, do desemprego e pauperismo da classe trabalhadora. Ou,  
dito a partir da própria teoria marxiana, trata-se do “material humano a serviço das necessidades  
variáveis de expansão do capital e sempre pronto para ser explorado, independentemente dos  
limites do verdadeiro incremento da população” (Marx, 2010, p. 735). No capítulo 23 do livro  
7 Remetemos remete aos estudos apontados originalmente por Hilferding em seu livro O capital financeiro (1985),  
também analisadas por Lênin no clássico ensaio O Imperialismo, fase superior do capitalismo (1916) e por Rosa  
Luxemburgo (1913) em A acumulação do capital. Contribuição ao estudo econômico do imperialismo. Tais  
estudos, permitem afirmarmos que o capital financeiro potencializou em grande magnitude as contradições  
capitalistas. Nesta perspectiva, a esfera da circulação e do consumo se tornaria lócus de profundas contradições e,  
por que não dizer, ímpeto para a construção de consciência de classe?  
8
Destacamos, especificamente, os capítulos em que Marx retoma a sua análise sobre o dinheiro e suas funções  
parasitárias ou, se preferirmos, sobre o capital portador de juros, forma desenvolvida do capital fictício.  
9 No âmbito da Sociologia do trabalho, destacamos a coletânea de pesquisas presentes no livro Riqueza e Miséria  
do Trabalho no Brasil II organizado por Ricardo Antunes, em que apresenta divergências em relação às teses  
do filósofo alemão Jürgen Habermas nos livros A nova obscuridade (1989) e Teoria do agir comunicativo (1991).  
Também dialoga criticamente com as análises de André Gorz nos livros O imaterial (2003) e Metamorfoses do  
trabalho (2005).  
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A nova ofensiva contra o trabalho na contemporaneidade e a validade histórico-analítica  
da teoria marxiana da crise  
I de O Capital, ao tratar sobre a lei geral da acumulação capitalista, Marx demonstra que o  
crescimento da força de trabalho sobrante é parte constitutiva do modo de produção capitalista  
e condição necessária à acumulação, fenômeno também denominado pelo filósofo de  
superpopulação relativa.  
No contexto de crise contemporânea, a coexistência de múltiplas faces da informalidade  
disponíveis ao capital à níveis de exploração cada vez mais elevados, reitera a assertiva  
marxiana. São as ocupações situadas na esfera da circulação e da venda de serviços e  
mercadorias, cuja natureza se funda, de modo insubstituível, na produção de mais-valia pelas  
grandes empresas e setores produtivos. Ou seja, a reprodução do capital ocorre sem que ele  
precise, necessariamente, investir em força de trabalho.  
Ao criticar as formulações dos economistas clássicos e contrariar o suposto caráter  
imanente da lei do valor, Marx demonstra que quanto maior o grau de desenvolvimento do  
capital, menor é a necessidade de força de trabalho para atender a um dado nível de acumulação.  
Isto quer dizer que:  
O sobretrabalho da parte ocupada da classe trabalhadora engrossa as fileiras  
de sua reserva, ao mesmo tempo que, inversamente, esta última exerce,  
mediante sua concorrência, uma pressão aumentada sobre a primeira,  
forçando-a ao sobretrabalho e à submissão aos ditames do capital. A  
condenação de uma parte da classe trabalhadora à ociosidade forçada em razão  
do sobretrabalho da outra parte, e viceversa, torna-se um meio de  
enriquecimento do capitalista individual, ao mesmo tempo que acelera a  
produção do exército industrial de reserva num grau correspondente ao  
progresso da acumulação social (Marx, 2013, p. 465).  
679  
Visto a partir da perspectiva marxiana, podemos antecipar, de modo generalizado, um  
dos nossos argumentos principais no texto, o de que a crise contemporânea sob hegemonia  
financeira potencializa a ofensiva do capital contra o trabalho, a partir dos seus mecanismos  
contratendenciais inerentes à lógica da acumulação. A consequência é a reprodução de  
estratégias de extração e apropriação de mais-valia que tendem a acelerar a acumulação, ao  
tempo em que repõe o exército industrial de reserva. Tudo se passando como se fosse possível,  
em momentos de profunda crise, a “blindagem” de determinados segmentos da economia–  
diga-se, a esfera da circulação onde situam-se trabalhadores desempregados, terceirizados e  
precarizados, funcionais às novas necessidades de reprodução do capital.  
O debate marxista contemporâneo sobre a crise  
O estágio capitalista que designamos como contemporâneo inicia-se com a recessão de  
1974-1975. A crise generalizada que pôs fim aos “anos dourados” inaugura um novo estágio  
da dinâmica de acumulação do capital. Diferentemente das crises cíclicas, em que era possível  
Fabiana Alcântara Lima  
a retomada da taxa de lucro dentro dos limites do capital,10 a crise contemporânea se caracteriza  
pelo bloqueio dessa possibilidade pela via dos espaços produtivos, assumindo um caráter  
permanente denominado por Meszáros (2010) de crise estrutural11. Essa crise se caracteriza,  
expressamente, pela expansão do capital financeiro em todas as esferas da vida social, haja vista  
a voraz apropriação de valor em razão desproporcional à produção capitalista, que se traduz em  
mais renda concentrada e, paradoxalmente, em maiores níveis de desigualdade.  
No texto Das crises cíclicas à estrutural, o filósofo húngaro recorda como exemplo  
emblemático, a devastação da natureza no Brasil, o emblemático caso da Amazônia a crise  
das instituições políticas, das estruturas familiares diga-se, as desigualdades do conjunto das  
relações humanas; de classe, gênero, raça, religião etc. Assim, a “crise estrutural do capital  
revela-se como uma verdadeira crise de dominação em geral” (Meszáros, 2010, p. 78), cujo  
alicerce se sustenta por uma ofensiva sem precedentes do capital contra o trabalho.  
A partir dos anos 2000, particularmente, no rastro da crise financeira que atingiu uma  
das principais economias mundiais12, evidencia-se uma busca inexorável pela valorização do  
capital acumulado, a partir do colapso dos empréstimos subprime13, provocou a falência do  
quarto maior banco norte-americano, o Lehman Brothers e Merryl Lynch. Além disso, as duas  
maiores empresas automobilísticas do mundo também entraram em crise, a General Motors e  
a Chrysler. “Um dos resultados anunciados da reestruturação dessas empresas é a demissão de  
52 mil trabalhadores” (Marques; Nakatani, 2009, p. 69), o que traduz o caráter universal e  
global da crise estrutural, que não se limita a esfera das finanças, da economia norte-  
americana14.  
680  
Essa crise tem sido analisada como marco histórico da nova dinâmica capitalista,  
também denominada hipertrofia do capital fictício, que se caracteriza pela oferta abundante de  
crédito por meio de financiamento hipotecário para compra de imóveis à baixo custo. O  
resultado foi a elevação das taxas de juros, desemprego, empobrecimento e hiperindividamento  
10 Pensemos nos mecanismos de contratendência à crise engendrados pelo pacto fordista-keynesiano, em resposta  
à recessão de 1929-1933, também chamada de Grande Depressão.  
11 Recomendamos a obra A crise estrutural do capital, de autoria de István Mészáros (2009).  
12 A primeira manifestação dessa crise ocorreu na esfera financeira, não por acaso, nos Estados Unidos, país onde  
se desenvolveu um maior grau de capital fictício. Para esta compreensão sugerimos a análise de Charles R. Morris  
(2008), autor do livro “O crash de 2008: dinheiro fácil, apostas arriscadas e o colapso global do crédito. São Paulo:  
Aracati, 2009”.  
13“Esse tipo de contrato é que foi chamado de subprime, devido ao elevado índice de inadimplência das famílias.  
O banco ou a agência hipotecária que corria inicialmente o risco ia transferindo vários desses contratos,  
combinados com contratos mais seguros e transformados em um derivativo vendido para outras instituições no  
mercado financeiro. Para conseguir vender esses derivativos a taxa de juros oferecida era maior, financiada pela  
diferença obtida no contrato subprime.” (Marques; Nakatani, 2009, p. 61).  
14  
Para esta compreensão sugerimos a análise de Charles R. Morris (2008), autor do livro “O crash de 2008:  
dinheiro fácil, apostas arriscadas e o colapso global do crédito. São Paulo: Aracati, 2009”.  
Libertas, Juiz de Fora, v. 24, n. 2, p. 673-690, jul./dez. 2024. ISSN 1980-8518  
A nova ofensiva contra o trabalho na contemporaneidade e a validade histórico-analítica  
da teoria marxiana da crise  
das famílias norte-americanas, consequências expressas mundialmente, conforme analisam  
Duménil e Lévy (2014).  
Segundo Marques e Nakatani (2009, p. 63), trata-se de uma crise provocada pela  
hipertrofia do capital fictício15. Ou seja, grande parte do capital global se especializa na  
apropriação do valor produzido e uma menor parte investe na produção desse valor. Esta  
apropriação chega ao ápice quando falta capital para ser apropriado: caem as taxas de lucro e o  
capital entra em crise (Carcanholo, 2015). Em tese, a saída da crise seria desvalorizar o capital  
concentrado, o que implicaria em maiores investimentos nos setores produtivos e,  
consequentemente, a geração de novos postos de trabalho. No entanto, os Estados continuam a  
adotar medidas neoliberais de contenção de gastos sociais, enquanto medidas de ajuste  
necessário à retomada da taxa média de lucro do capital.  
De acordo com Carcanholo e Nakatani (2015), a remuneração do capital fictício está  
constituída pelos juros auferidos e pelos ganhos obtidos pelo capital especulativo parasitário,  
forma desenvolvida do capital fictício. As novas determinações da produção global capitalista  
expressam a relação estabelecida entre capital produtivo e o que Marx no capítulo XXI do livro  
III de O capital denominou capital portador de juros. Ao examinar o desenvolvimento do  
sistema de crédito no capítulo XXV do Livro III, Marx (2017) chama a atenção para o fato de  
que este é uma expressão desenvolvida da produção capitalista, haja vista a sua função à  
aceleração do desenvolvimento das forças produtivas e valorização do capital.  
681  
No plano concreto, esses mecanismos elevaram os níveis de concentração da renda das  
classes capitalistas mais altas e das instituições financeiras leiam-se, os bilhões de dólares  
injetados para o salvamento dos bancos e do empresariado norte-americano16. Essa  
concentração não alcançou, portanto, a massa de trabalhadores das classes mais baixas. A esses  
trabalhadores restaram o endividamento crescente como alternativa ao suprimento dos meios  
de subsistência, em razão do desemprego e perda das rendas. Somente em 2008, “os  
empréstimos brutos do setor financeiro representaram 76% dos tomados pelas famílias e  
governo considerados em conjunto, e mais que cada um deles separadamente” (Duménil e  
Lévy, 2014, p. 116), percentual absolutamente maior, se comparado com os dados do período  
pós-guerra.  
15 Segundo Chesnais (1998, p. 268): “Na época em que Marx escreveu, essas representações de um capital público  
ou privado ainda eram pouco numerosas: limitavam-se aos títulos dos empréstimos tomados pelo Estado e às  
ações. Nas páginas que tratam do que ele chama de capital fictício, Marx estudou, com inegável fascínio, a maneira  
como as instituições financeiras (entre as quais a Bolsa) são capazes de fazer com que um crédito ou um título se  
desdobre para viver muitas vidas (livro III, capítulo XXIX e XXX)”.  
16 Recomenda-se TONELO, Iuri. No entanto, ela se move: a crise de 2008 e a nova dinâmica do capitalismo. 1ª.  
Ed – São Paulo: Boitempo/ Iskra, 2021 (Mundo do trabalho).  
Fabiana Alcântara Lima  
Ainda que os fenômenos monetários ganhem centralidade em um volume significativo de  
estudos sobre a crise de 2008, importa recordar as determinações que demarcam a crise  
contemporânea. Em um notável estudo, Ernest Mandel no capítulo XXV do seu livro A crise  
do capital: os fatos e sua interpretação marxista oferece pistas sobre as novas configurações  
da crise. Uma obra que nasceu de análises conjunturais sobre o quadro histórico das recessões  
de 1974/75 e 1980/82, que marcou a ruptura com o período de expansão do pós-guerra da  
economia internacional.  
No referido capítulo, o autor afirma que “a função objetiva da crise é a de constituir o  
mecanismo através do qual a lei do valor se impõe apesar da concorrência (ou da ação dos  
monopólios) capitalista” (Mandel, 1990, p. 212). Significa dizer que a interrupção da realização  
é determinada precisamente pelo seu valor de uso, cujos elementos se situam no processo  
material de produção, ainda que a esfera financeira ganhe centralidade no processo de  
valorização do capital. Nestes termos, as novas determinações da produção global capitalista  
traduzem a relação estabelecida entre capital produtivo e o que Marx no capítulo XXI do livro  
III de O capital denominou capital portador de juros.  
Do ponto de vista ídeo-político, tais contradições tendem a reforçar as estratégias de  
ocultação das contradições capitalistas, cumprindo função determinante ao processo de  
reprodução do capital. Trata-se de uma forma fetichista consumada da circulação de capital,  
ou seja, o dinheiro como uma forma mais evidente de mistificação do capital. Nos escritos de  
Marx, “o dinheiro-capital atinge a forma mais reificada, mais fetichista do processo de  
valorização” (2010, p 519). Nesta perspectiva, pode-se dizer que em condições de acumulação  
financeira, a relação social se converte em uma relação entre “coisas” se mantendo,  
aparentemente, na esfera da circulação monetária.  
682  
Tais manifestações fenomênicas são trabalhadas com rigor no livro Para a crítica da  
crise: diálogos com intelectuais e parlamentares da esquerda em Portugal, em que Marcelo  
Braz (2016), tendo como horizonte os impactos da crise de 2008 na realidade portuguesa, busca  
desvelar a sua essência se valendo da crítica marxiana e marxista. O autor parte do suposto da  
crise como expressão de contradições concentradas, relacionadas ao problema do valor, à sua  
criação no processo produtivo e à sua realização no processo de circulação.  
Concordando com a perspectiva mandeliana, o autor compreende as crises como  
complexo de determinações que se processaram, de modo cumulativo, nos períodos de  
expansão, relacionados ao novo estágio de acumulação do capital. Tratam-se de fatores  
estruturais e não somente conjunturais de ordem sócio-política, intrínsecos às contradições  
postas pelo desenvolvimento tardio (Mandel, 1982).  
Libertas, Juiz de Fora, v. 24, n. 2, p. 673-690, jul./dez. 2024. ISSN 1980-8518  
A nova ofensiva contra o trabalho na contemporaneidade e a validade histórico-analítica  
da teoria marxiana da crise  
A incontrolabilidade de um sistema que cria riqueza demais, comércio em  
excesso, mercado em abundância precisa ser contida. Capitais excedentes  
devem ser desvalorizados; dificuldades de realização da mais-valia devem ser  
mitigadas pelo crédito; empresas em dificuldades devem ser ou salvas ou  
absorvidas; a pulverização do mercado deve dar lugar a formas mais  
centralizadas e até monopolizadas de comércio e de financiamento; salários e  
outros gastos com a força de trabalho devem ser deprimidos; velhas formas de  
exploração devem dar lugar a novas ou até mesmo algumas formas mais  
antigas podem ser reavivadas, desde que em qualquer um dos casos sejam  
criadas as condições para elevar as taxas de mais-valia (Braz, 2016, p. 31).  
Portanto, argumenta o autor, que os mecanismos contratendenciais, com os quais nos  
deparamos no pós-2008, não passam de soluções temporárias ou momentâneas, incapazes de  
pôr em xeque as suas contradições substanciais do capitalismo recordem-se as atuais políticas  
de ajuste fiscal e os diversos ataques aos direitos trabalhistas e previdenciários da classe  
trabalhadora brasileira, sob o mote da crise . Dentre as principais causas que engendram as  
crises, Braz (2016) destaca a combinação entre superprodução de mercadorias e  
superacumulação de capitais, que reivindica a expansão de campos de valorização inéditos. O  
outro aspecto se refere ao subconsumo das massas trabalhadoras.  
Ainda de acordo com o autor, as crises explicam-se pela lei da tendência à queda da  
taxa de lucro tratada no livro terceiro de O capital e considerada uma das mais importantes da  
obra marxiana. De acordo com as formulações de Marx, o aumento da taxa de afluência de  
trabalhadores ao exército industrial de reserva é um traço constitutivo dos mecanismos de  
contratendência engendrados pelo capital em crise. Recordem-se o desemprego massivo  
causado com o esgotamento do padrão de acumulação taylorista-fordista. Sob tais  
circunstâncias, o capital se dispõe de meios que tendem a acelerar o período de rotação do  
capital, facilitado pelo capital monetário. Esta forma de capital torna-se, portanto, decisiva à  
retomada da demanda por mercadorias e a consequente retomada das taxas de lucro. Contudo,  
no capítulo 16 do segundo livro, dedicado a rotação do capital variável, Marx explica que o  
consumo, por si só, não é capaz de resolver o problema das crises, como a própria história  
demonstrou. A saber:  
683  
Quanto mais curto é o período de rotação do capital – quanto mais curtos são  
os intervalos em que se renovam seus prazos de reprodução durante o ano –,  
tanto mais rapidamente sua parte variável, inicialmente adiantada pelo  
capitalista em forma-dinheiro, converte-se em forma-dinheiro do produtor de  
valor (que, além disso, inclui mais-valor) criado pelo trabalhador para a  
reposição desse capital variável; tanto mais curto, portanto, o tempo para o  
qual o capitalista tem de adiantar dinheiro de seu próprio fundo [...] (Marx,  
2014, p. 409).  
Fabiana Alcântara Lima  
A partir da assertiva marxiana, dissemos que é parte inerente à dinâmica de acumulação  
capitalista alargar os limites de acesso ao trabalho e, consequentemente, ampliar o quantitativo  
de trabalhadores disponíveis a trabalhar sob condições cada vez mais precárias. Enquanto a  
renda monetária permanece blindada sob a crise17. Deste modo, se por um lado aumenta a  
superpopulação relativa, por outro lado, aos trabalhadores que permanecem empregados,  
restam as jornadas exaustivas, as condições degradantes, o aumento da intensidade de trabalho  
e o rebaixamento salarial.  
A nova ofensiva contra o trabalho no pós-2008: tendências contemporâneas  
As novas determinações da produção global capitalista traduzem a relação estabelecida  
entre capital produtivo e o que Marx no capítulo XXI do livro III de O capital denominou capital  
portador de juros. Trata-se de uma massa de capital dinheiro não investida produtivamente, que  
se apropria da mais-valia global. Segundo Chesnais (2005, p. 35), “esse capital busca “fazer  
dinheiro” sem sair da esfera financeira, sob a forma de juros de empréstimos [...]”.  
Nas suas lições sobre a lei do valor, Marx (2017) demonstra as formas multifacetadas  
do processo de transformação do dinheiro em capital, que passa desde a produção do excedente  
econômico, identificado em sua grandeza como mais-valia e extraídas da produção e circulação  
de mercadorias, até a forma especifica assumida pelo capital como portador de juros, definido  
com suas palavras, como um “capital vadio, à espera de aplicação” (Livro III, capítulo XIX).  
Dito de outro modo, a remuneração deste capital está constituída pelos juros auferidos e pelos  
ganhos obtidos pelo capital especulativo parasitário. Os dados apresentados na seção anterior,  
acerca da especulação financeira dos bancos, no contexto norte-americano, ratificam as  
formulações marxianas.  
684  
No Brasil, mesmo com as medidas implementadas pelo governo –de aumento  
da base monetária sobre a qual os bancos podem realizar empréstimos; de  
redução do imposto de renda e do imposto sobre o produto industrializado dos  
automóveis, de aumento das linhas de crédito dos bancos federais, inclusive  
do banco Nacional de Desenvolvimento e Social (BNDES), entre outras, o  
número de demitidos aumenta de forma assustadora (Marques; Nakatani,  
2009, p. 74).  
Desde 2008, o governo brasileiro vem aprimorando estratégia de fomento ao trabalho  
por conta própria como alternativa à crise. Podemos tomar como exemplo o aumento  
17 Um bilhão de trabalhadores de 50 países tiveram um corte médio de US$ 685 dólares em seus salários no ano  
passado, o que representou uma perda coletiva de US$ 746 bilhões em salários reajustados pela inflação,  
No Brasil, a queda dos salários de trabalhadoras e trabalhadores foi de 6,9% no ano passado, enquanto  
acionistas receberam cerca de 24% a mais do que em 2021 (US$ 33,8 bilhões – US$ 27,3 bilhões). Disponível em:  
Libertas, Juiz de Fora, v. 24, n. 2, p. 673-690, jul./dez. 2024. ISSN 1980-8518  
A nova ofensiva contra o trabalho na contemporaneidade e a validade histórico-analítica  
da teoria marxiana da crise  
significativo de registros de microempreendedores individuais (MEI), categoria regulamentada  
em nível federal no ano de 2008,18 que representa hoje uma das principais estratégias de  
enfrentamento ao desemprego no país. Tratam-se de respostas ao alargamento do índice de  
desemprego e informalização da força de trabalho, especialmente, no período de crise agravada  
pela pandemia19. O que aparece como alternativa esconde, no entanto, uma tentativa de  
ocultamento desses índices20. Esse mecanismo tem sido promovido pelos bancos e organismos  
privados, que fortalecem parcerias junto aos aparelhos midiáticos, em função da divulgação de  
experiências empreendedoras exitosas, à exemplo dos eventos e cursos ofertados pelo Serviço  
Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE).  
De acordo com Abílio (2014), uma das consequências destrutivas deste processo é a  
subsunção21 incontestável do trabalho ao capital, refletida na intensificação do quadro de  
desemprego no contexto de acumulação flexível, processo agravado nos países latino-  
americanos. Essa nova forma de organização na dispersão reflete um processo de redução e  
transferência de capital constante para o trabalhador, que assume, em escala individual, a  
responsabilidade dos custos e condições de trabalho (desprotegido), aumentando a intensidade  
e extensão das jornadas de trabalho, chegando, por sua vez, na esfera do consumo e apropriação  
dos lucros pelo capital.  
Seguindo essa tendência, pequenas e microempresas, domiciliares ou não, passaram a  
abastecer a força de trabalho sobrante, através das quais muitos trabalhos informais, nas  
palavras de Tavares (2014), se articulam por fios invisíveis à produção formal numa relação de  
assalariamento disfarçado: trata-se de um processo de personificação da empresa pelo  
trabalhador. Assim, o aumento significativo de ocupações precárias no Brasil, nos últimos anos,  
associada à flexibilização das relações de trabalho é marcado pela hegemonia do capital  
financeiro cujo “espírito” leva até as últimas consequências a finalidade irremediável de “fazer  
mais dinheiro” do dinheiro e pelo dinheiro, agora não mais tendo como meio principal a  
685  
18 Regulamentada pelo governo Lula, a Lei Complementar n. 128/2008, que alterou a Lei Geral da Micro e Pequena  
Empresa  
(Lei  
Complementar  
n.  
123/2006)  
Disponível  
em:  
19 Indicamos a coletânea intitulada Trabalho e pandemia: informalidade, precarização e suas múltiplas relações,  
organizado por Roberto Véras de Oliveira e Ari Rocha da Silva (2021).  
20 Na nossa interpretação, tornar-se MEI significa sair das estatísticas oficiais de emprego informal e desemprego  
De acordo com a PNAD, "a taxa de informalidade – soma dos trabalhadores sem carteira, trabalhadores domésticos  
sem carteira, empregador sem CNPJ, conta própria sem CNPJ e trabalhador familiar auxiliar". Disponível:  
21 “O conceito de subsunção, mais ainda, de subsunção real, na teoria marxiana sintetiza a separação entre meios  
de produção e força de trabalho (o que significa pensar em termos da própria constituição da força de trabalho  
como tal), que é também um desapossamento do conhecimento, das decisões e do controle do trabalhador sobre a  
produção” (Abílio, 2014, p. 192).  
Fabiana Alcântara Lima  
produção em massa de mercadorias, mas sim a especulação financeira”, conforme interpretação  
de Graça Druck (2011, p. 91).  
Tais tendências reforçam a hipótese central de Antunes (2018) no livro O privilégio da  
servidão, a de que se processa uma nova morfologia de trabalho denominada de novo  
proletariado de serviços da era digital. Nesse cenário em que o empreendedorismo aparece  
como alternativa à crise22, o trabalho digital tornou-se mediação fundamental. Sem relação  
patronal, sem propriedade dos meios de produção, são “empreendedores de si mesmos”, com  
jornadas exaustivas e salários rebaixados (pagos por peça), algumas vezes, transformada em  
dívida, a exemplo do emblemático serviço dos entregadores. Embora os discursos de incentivo  
sugiram a possibilidade do trabalhador, a partir das suas próprias condições de investimentos e  
atributos pessoais, “fazer o seu próprio salário” e gerar novas alternativas de renda, o que se  
observa, na realidade, é a intensificação das condições de precarização.  
Os dados são incontestáveis. Mesmo em condições de pandemia, o Brasil alcançou no  
final de 2020 recorde no número de registros de MEI, com um total de 11,3 milhões de MEIs  
ativos, 20% a mais do que no fim de 2019, quando o segmento tinha 9,4 milhões de registros  
(Portal do Empreendedor, 2020)23. No entanto, os dados revelam que apesar do  
empreendedorismo se constituir como alternativa ao desenvolvimento e da “livre” escolha dos  
trabalhadores, as condições objetivas não deixam dúvidas. Segundo pesquisa divulgada pela  
Neon, responsável pela plataforma MEI Fácil, 53% destes empreendedores viviam com até R$  
1 mil reais por mês ao fim do ano passado. E nos últimos meses, 52% dos empreendedores  
individuais buscaram auxílio financeiro com parentes e amigos. E apenas um em cada cinco  
obteve empréstimo com bancos ou instituições financeiras tradicionais (MEI fácil, 2020)24.  
De acordo com o Sebrae/PB (2020), com base em dados da Receita Federal25 o índice  
de inadimplência dos microempreendedores individuais na Paraíba sofreu um aumento de quase  
15% entre os meses de dezembro de 2019 e maio deste ano. No mês de maio, o índice de  
inadimplência era de 57,12%, ou seja, 59.716 microempreendedores dos 139.271 registrados  
no Simples Nacional na Paraíba estavam em dia com o pagamento do Documento de  
Arrecadação do Simples (DAS). Em dezembro de 2019, esse percentual era de 42,75%: dos  
686  
22  
Pensemos no Vamos Ativar o Empreendedorismo (VAE), criado pela grande mídia em 2020, em meio à  
pandemia e financiado por diversas instituições financeiras, como o Itaú e o Bradesco.  
23  
bate-recorde-em-2020/. Acesso em 24 nov. 2021.  
24  
Disponível  
em:  
25 Disponível em:  
Libertas, Juiz de Fora, v. 24, n. 2, p. 673-690, jul./dez. 2024. ISSN 1980-8518  
A nova ofensiva contra o trabalho na contemporaneidade e a validade histórico-analítica  
da teoria marxiana da crise  
130.102 MEIs registrados no estado, 74.488 estavam adimplentes, o que revela a tendência ao  
endividamento dos MEIs, no período anterior à crise agravada pela pandemia.  
Os dados acima ratificam a contradição entre os discursos de incentivo ao  
empreendedorismo e as condições objetivas experimentadas pelos trabalhadores, no tocante a  
desproteção associada ao endividamento. Nesta direção, as desigualdades de classe inerentes  
à sociedade capitalista são canceladas e os indivíduos passam a se distinguir pelas e aptidões  
individuais e subjetivas, cuja referência comum é o mercado. Seguindo essa linha de análise,  
as relações sociais de produção e reprodução social são polarizadas, como se pertencessem a  
extremos opostos, para além da sociedade de classes e dos conflitos entre capital e trabalho”  
(Valentim; Peruzzo, 2018).  
É inegável que a crise expressa pela contradição produção/realização do valor teve como  
consequência direta a redução dos postos formais de trabalho, repercutindo na elevação do grau  
de informalização e precarização da força de trabalho sobrante. A novidade consiste no que  
alguns especialistas vêm chamando de dominância financeira sobre o trabalho, que se  
caracteriza pelo endividamento crescente e expansão do capital financeiro para todas as esferas  
da vida, seja através de hipotecas (predominante nos países centrais), seja através de crédito de  
consumo (predominante nos países periféricos) conforme analisa Lena Lavinas (et al., 2021).  
Em nível do Brasil, os dados são incontestáveis. De acordo com a Pesquisa de  
Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) e Confederação Nacional do Comércio  
de Bens, Serviços e Turismo (CNC) (2023), o endividamento bate terceiro recorde este ano e  
atinge 79,3% das famílias brasileiras, dado que supomos ter relação com o crescimento das  
ocupações por conta própria26, público que também apresenta condições de endividamento. De  
acordo com o Sebrae/PB (2020), com base em dados da Receita Federal, o índice de  
inadimplência dos microempreendedores individuais na Paraíba sofreu um aumento de quase  
15% entre os meses de dezembro de 2019 e maio de 2020.  
687  
Vimos que a nova dinâmica de acumulação, que modificou a finalidade do processo de  
valorização do capital por intermédio da mercadoria dinheiro, só pode existir, teoricamente,  
destruindo valor de uso. Contudo, os leitores desta tradição teórica sabem que o dinheiro se  
converte em capital na medida em que se vincula ao movimento global, sendo, portanto, na  
forma inicial dinheiro que se gesta o processo capitalista de produção.  
26 A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e  
Estatística (IBGE, 2022) revela que, no terceiro trimestre de 2022, o número médio anual de trabalhadores por conta  
própria chegou a 25,5 milhões em 2022, com alta de 2,6% no ano. Foi o maior nível da série histórica da pesquisa e  
ficou 27,3% maior que em 2012, quando era de 20,1 milhões (o menor da série).  
Fabiana Alcântara Lima  
Considerações finais  
As contribuições subscritas neste texto fazem parte das reflexões suscitadas durante a  
retomada crítico-investigativa em torno das tendências contemporâneas do trabalho e a sua  
relação com a crise capitalista. Argumentamos que a ofensiva contra o trabalho no pós-2008,  
expressa por diferentes formas de valorização do capital potencializa, em grande magnitude, a  
expansão das relações de precarização do trabalho associada ao endividamento da classe  
trabalhadora. Nesta nova dinâmica, o capital necessita cada vez mais de respostas que não só  
garantam a recuperação de suas taxas de lucro e extração de mais valor, mas também de  
mecanismos ídeo-políticos que buscam ocultar as suas reais necessidades, modificando a forma  
e o conteúdo da dinâmica de acumulação do capital.  
Sob esse aspecto, partimos da suposição de que a ofensiva financeira contra o trabalho  
no pós-crise de 2008, representa o domínio financeiro sob a esfera da reprodução social. E por  
isto constitui um mecanismo contratendencial ao interferir na composição do exército industrial  
de reserva e, ao mesmo tempo, potencializar o trabalho precário. Essa ofensiva expressa a face  
reificada do capital-dinheiro, demonstrando que sua forma aparente de autonomia se funda na  
exploração da força de trabalho mundialmente e numa voracidade sem precedentes.  
Portanto, ainda que a expansão do crédito seja uma constante histórica do capital em  
seus estágios de crise, com o colapso de 2008, essa tendência assume novas conotações  
associadas às necessidades do sistema global de produção e suas determinações sobre o  
trabalho. Do ponto de vista fenomênico, o que aparece como saída da crise, na realidade, exerce  
função específica ao modo de operar do capitalismo sob a dominância financeira, que tem  
atingido, drasticamente, a completude da classe trabalhadora e, com piores efeitos, os  
trabalhadores que atuam na esfera da circulação.  
688  
A compreensão da crise contemporânea, seus rebatimentos nas relações de trabalho e nas  
estratégias de enfrentamento por via do Estado exige, portanto, a recuperação da análise marxiana  
da crise e dos mecanismos de reprodução do capital, reeditados sob as novas circunstâncias  
históricas, o que conduz ao argumento central trabalhado ao longo do texto: a de que a crise sob o  
domínio financeiro no pós-2008 representa a construção de uma nova ofensiva contra o trabalho,  
cujas contradições são deslocadas para a esfera da reprodução do capital.  
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