Antônio Dimas Cardoso; Máximo Alessandro Mendes Ottoni
para se tornar uma profissão. Todavia, a ação social ainda não estava voltada aos interesses da
classe trabalhadora, visto que as questões sociais eram tratadas como um desajuste da pessoa
ou da família, sendo que os agentes sociais concediam benesses aos pobres, cumprindo
orientações da Igreja e do Estado. Devido à ligação com a Igreja, moças religiosas se
interessaram pelo curso (Corrêa Netto, 2010).
De acordo com o autor, no início do século XX, é criada na Europa a Escola Católica
de Serviço Social de Paris, vinculada à doutrina social da Igreja, que divulga essa ideologia na
Europa e na América Latina. Mas na América do Norte, houve um afastamento da religião, o
que favoreceu o surgimento e crescimento da Associação Nacional de Trabalhadores Sociais,
em 1920. No pós-Primeira Guerra Mundial, houve a reconstrução econômica, política e social
da Europa, e enfraquecimento da Igreja, que passou a incentivar leigos na sua ação social.
Nessa breve introdução referente ao nascimento do serviço social como profissão,
percebe-se uma forte influência da Igreja e também da burguesia, onde os primeiros assistentes
sociais, sem um conhecimento holístico da questão social e tudo o que a envolve, realizavam
um trabalho ditado pelos grupos dominantes, tratando os desfavorecidos de forma moralista e
caridosa. Nesse contexto, verifica-se uma forte presença feminina, especialmente nas práticas
caritativas.
Em relação à questão feminina, Martins (2015) asserta que a caridade não estava restrita
somente às mulheres, que eram a maioria, pois haviam homens que participavam de ações
caritativas, como os filantrópicos ricos, que poderiam ser católicos ou protestantes, e que
destinavam parte das suas riquezas para instituições de caridade, mas também aquelas voltadas
ao ensino, cultura e arte.
666
Conforme o autor existe um discurso de gênero na sociedade, como se coubesse à
mulher ocupar o lugar voltado para as questões de caridade e de ajuda aos mais necessitados.
Mas ele ressalta que esse trabalho foi importante, pois possibilitou que as mulheres saíssem dos
seus lares e ampliassem as suas vivências. Isso aconteceu tanto no Serviço Social, como na
Enfermagem.
Sobre a atuação profissional, Correa Neto (2010) vai dizer que os primeiros assistentes
sociais eram do sexo feminino e voltados à religiosidade, à caridade e à moral. Utilizavam dos
seus conhecimentos e técnicas para adaptar as pessoas ao sistema vigente, buscando eliminar
as manifestações e o conteúdo político no meio dos trabalhadores, e trabalhavam de forma
caridosa, o que servia para camuflar a miserabilidade deixada pelo sistema capitalista.
Martins (s/d) afirma que existiam interesses diversos quanto à atuação dos assistentes
sociais: para a Igreja, o interesse seria a difusão da Doutrina Social da Igreja no meio operário,
Libertas, Juiz de Fora, v. 24, n. 2, p. 661-672, jul./dez. 2024. ISSN 1980-8518