Desigualdade e reconhecimento no atual  
contexto da economia política  
Inequality and recognition in the current contexto of political economy  
Antônio Dimas Cardoso*  
Máximo Alessandro Mendes Ottoni**  
Resumo: Este artigo discute a tentativa de  
atualização do socialismo no âmbito da teoria  
social marxiana, tendo Axel Honneth como  
principal referência na problematização dos  
conceitos de reconhecimento e liberdade na  
atualidade; ao mesmo tempo que identifica a  
necessidade de ação de agentes sociais na luta  
contra as desigualdades sociais, focalizando  
para o espectro do Serviço Social. Trata-se de  
um trabalho de discussão teórica, cuja  
finalidade é direcionar a análise para uma  
possível práxis na sociedade, a partir da  
operacionalização de políticas de valorização da  
dignidade humana e de redistribuição na  
sociedade.  
Abstract: This article discusses the attempt to  
update socialism within the scope of Marxian  
social theory, with Axel Honneth as the main  
reference in problematizing the concepts of  
recognition and freedom today. At the same  
time, it identifies the need for action by social  
agents in the fight against social inequalities,  
focusing on the Social Service spectrum. This is  
a work of theoretical discussion, the purpose of  
which is to direct the analysis towards a  
possible práxis in society based on the  
operationalization of policies to value human  
dignity and redistribution in society.  
Palavras-chaves: Socialismo; Desigualdade;  
Reconhecimento; Economia política; Agentes  
sociais.  
Keywords: Socialism; Inequality; Recognition;  
Political economy; Social agents.  
Introdução  
A necessidade de afirmação de valores humanitários, no contexto de exacerbação das  
desigualdades sociais e de desrespeito para com as pessoas em situação de vulnerabilidade,  
torna-se ainda mais premente na atualidade buscar referências na teoria social de Marx e sua  
crítica à economia política do sistema capitalista. Na salvaguarda aos interesses coletivos, por  
*
Doutor e Mestre em Sociologia pela Universidade de Brasília (UnB). Graduado em Ciências Sociais pela  
Fundação Norte-Mineira de Ensino Superior – FUNM. Docente e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em  
Desenvolvimento Social da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). ORCID:  
**  
Doutor e Mestre em Desenvolvimento Social pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes).  
Graduado em Serviço Social pelas Faculdades Santo Agostinho de Montes Claros (MG). Servidor da Unimontes.  
DOI: 10.34019/1980-8518.2024.v24.43734  
Esta obra está licenciada sob os termos  
Recebido em: 29/02/2024  
Aprovado em: 19/08/2024  
Antônio Dimas Cardoso; Máximo Alessandro Mendes Ottoni  
meio da conscientização política e do serviço social, o que se firma na agenda da teoria  
marxiana é o desiderato da emancipação, no sentido de expansão da liberdade das classes de  
trabalhadores. Para isso, o nosso foco é reatualizar o conceito marxiano de liberdade social –  
retomado na atualidade pela teoria crítica de Axel Honneth (2017) vinculando-o à luta por  
reconhecimento social e possibilidades objetivas de enfrentamento por meio da ação política-  
institucional de agentes públicos comprometidos com as ações transformadoras na sociedade.  
Da ideia à política, entendemos que o Serviço Social, desde sua contribuição técnica-  
profissional na formulação geral de políticas públicas de Estado até sua operacionalidade nas  
bases sociais, junto às famílias e no conjunto das instituições locais, amálgama o potencial  
político de quebrar o senso comum que naturaliza o fenômeno da desigualdade e injustiça social  
como se as leis do capitalismo não admitissem alternativa.  
Neste artigo, o que almejamos discutir é um modo de pensar e agir vinculados a um  
conceito de bem comum sobre o qual os integrantes de uma coletividade devem racionalmente  
dialogar, de maneira propositiva a estabelecer relações cooperativas entre si, com preservação  
de sua autonomia e possibilidade simétricas de discordâncias. Portanto, o nosso interesse neste  
trabalho, inspirados na abordagem marxiana, é problematizar a ideia de socialismo como  
processo de transformação da economia política, tendo como referência a luta por  
reconhecimento.  
662  
Desigualdade e reconhecimento social são duas categorias que se entrecruzam e estão  
paradoxalmente imbricadas, na centralidade dos conflitos sociais, baseadas na premissa de que  
“a forma da reprodução social de uma sociedade é determinada por valores e ideias comuns  
compartilhados e universais” (Honneth, 2015, p. 31-32). Verifica-se que, para muitos,  
notadamente no Brasil, a desigualdade social é justificada como sendo algo natural, portanto,  
aceitável na sociedade. Na teoria social marxiana, sabe-se que a alienação coloniza as  
consciências dos indivíduos, conectando-as à lógica utilitarista de mercado e de  
instrumentalização de suas ações. Portanto, um dos empreendimentos atuais da teoria social  
marxiana passa a ser então de desnaturalização da desigualdade e de busca reflexiva pela  
emancipação, tendo a luta por reconhecimento como processo de afirmação social. Desta forma,  
entendemos que o Serviço Social pode contribuir para dar visibilidade pública e implementar  
ações contra a modernidade anômala até então predominante no Brasil.  
Socialismo: a tentativa de atualização  
Inspirado pelas teses do jovem Marx, principalmente quando parte da análise  
antropológico-filosófica da condição do trabalhador na era do capitalismo, uma das principais  
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Desigualdade e reconhecimento no atual contexto da economia política  
referências na atualidade do chamado “marxismo analítico”, Honneth (2017), passou a chamar  
a atenção nos meios acadêmicos em razão de sua tentativa de “atualização” do socialismo. O  
autor alemão, da terceira geração da Escola de Frankfurt, propõe novas buscas experimentais,  
no campo da política e das necessidades partilhadas pelos indivíduos em interação social. Busca  
tornar a autorrealização reciprocamente possível, na luta por reconhecimento, associando a  
crítica da injustiça social com o desvelamento dos processos que obscurecem injustiças e  
desigualdade.  
O esforço de Honneth, ao retomar conceitos fundamentais da teoria social marxiana, é  
trazer para o debate atual o fato de que “as condições de justiça podem ser dadas não apenas  
sob a forma de direitos positivos, mas sob a forma de atitudes, modos de tratamento e rotinas  
de comportamentos razoáveis” (Honneth, 2015, p. 127). Daí a necessidade que ele propõe de  
retomada do conceito de liberdade social, pressupondo um processo de formação da vontade  
pública na construção do bem-estar dos indivíduos em sociedade, tendo em vista a criação de  
relações de reconhecimento com base em confiança e solidariedade.  
Na salvaguarda aos interesses coletivos, pela via da moralidade e esclarecimento, o que  
se afirma também na agenda da teoria social marxiana, discutida por Honneth, é o desiderato  
da emancipação, no sentido de expansão da liberdade na sociedade contemporânea. Isso  
implicaria procurar superar do ideário socialista seu arquétipo estritamente economicista e  
rejeição ao determinismo histórico. Retomar os eixos que orientaram os primeiros socialistas,  
inclusive os do jovem Marx, para então se pensar em novo processo civilizatório.  
Para isso, a política no sentido qualitativo do termo precisa ser compreendida e  
praticada como meio de proteção dos recursos vitais da coletividade e de seu desenvolvimento  
social, livre e aberto. Sabe-se que isso não pode ocorrer de forma espontânea, natural na  
sociedade. Depende da ação de agentes sociais como geralmente defende a maioria dos  
profissionais do Serviço Social comprometidos com projetos de transformação social, pela  
via da conscientização e enfrentamento do processo de alienação.  
663  
Numa economia de mercado, o planejamento e controle público são atacados como  
negação da liberdade: “a liberdade que a regulação cria é denunciada como não liberdade”  
(Polanyi, 2000, p. 297); enquanto para o liberalismo, movido pelo utilitarismo, a ideia de  
liberdade situa-se na defesa da livre empresa, somada à flexibilização de direitos sociais; ao  
passo que a liberdade social moral pode tornar-se mais ampla e mais geral do que em  
qualquer tempo.  
No sentido proposto por Honneth, em sua “tentativa de atualização” do socialismo,  
pode-se considerar que o processo de desenvolvimento social deve ser compreendido e  
Antônio Dimas Cardoso; Máximo Alessandro Mendes Ottoni  
implementado qualitativamente, vinculado a um conceito de bem comum sobre o qual os  
integrantes de uma coletividade devem racionalmente dialogar, de maneira propositiva a  
estabelecer relações cooperativas entre si, com preservação de sua autonomia e possibilidade  
simétricas de discordâncias.  
Para isso, Honneth busca referência no próprio Marx, que esboça o modelo de uma  
economia política na qual a liberdade e a solidariedade estão interligadas.  
Isto parece-lhe possível se a ordem social for concebida de modo que cada um  
entenda os objetivos que pretende atingir simultaneamente como condição da  
realização dos objetivos do outro, portanto, se as intenções individuais  
estiverem interligadas de forma tão clara que nós só possamos realizá-las se  
formos conscientes da nossa interdependência, num ato recíproco (Honneth,  
2017, p. 35).  
Nota-se que o potencial de a liberdade social contribuir para a expansão da liberdade  
total na sociedade surge em Honneth, portanto em algumas vertentes da teoria social marxiana  
como resposta a teorias liberais de justiça, que preservam um dualismo esquemático no campo  
da economia política. Ou seja, a desconexão entre produção e distribuição.  
Na tese sobre liberdade social rumo à liberdade total, Honneth enaltece a centralidade  
das contribuições coletivistas como empreendimento cooperativo e comunitário, fruto não do  
contrato abstrato, mas sim resultante de práticas sociais e aprofundamento da democracia,  
geralmente conflituosas, e que necessitam da mediação de agentes sociais. “Os princípios da  
justiça social têm de se representar como resultado da interação de todas essas realizações  
individuais de liberdade” (Honneth, 2015, p. 65 e 73).  
664  
Para Honneth (2017), assim como para Nancy Fraser (2022), a ideia de socialismo está  
associada umbilicalmente à luta por reconhecimento, para a construção de uma sociedade justa,  
pautada pela dignidade pessoal de todos os indivíduos. E isto torna-se possível quando  
associado a uma política abrangente de redistribuição, ou seja, a uma visão de justiça que visa  
alcançar a igualdade social através de uma redistribuição das necessidades materiais para a  
existência dos indivíduos enquanto seres humanos livres. Neste sentido, reconhecimento não é  
a identidade específica de grupos, mas o status dos membros do grupo como parceiros plenos  
na integração social.  
No entanto, para que esta “tentativa de atualização” do socialismo em Honneth não fique  
circunscrita a uma dimensão especulativa, o nosso esforço é tentar assegurar operacionalidade  
a esta ideia primordial, direcionando-a a práxis, tendo como referência uma possível articulação  
institucional entre agentes sociais comprometidos com as transformações estruturais na  
economia política. É preciso que, além de iniciativas espontâneas de grupos informais de  
economia solidária, categorias profissionais possam fomentar, por meio de seus conselhos,  
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Desigualdade e reconhecimento no atual contexto da economia política  
academias, centros operacionais, instituições governamentais e não-governamentais, iniciativas  
e aplicações de políticas emancipatórias de exercício da liberdade social, conforme almeja  
Honneth.  
No que pese seu contexto de análise seja em sociedades mais desenvolvidas  
socialmente, entendemos que a “tentativa de atualização” do socialismo em Honneth – assim  
como a ênfase de Fraser na política de redistribuição possa servir de fundamento teórico-  
conceitual para a ação de agentes sociais, notadamente junto àqueles vinculados ao Serviço  
Social, no contexto brasileiro assim como nos demais países da América Latina.  
Assistentes sociais como categoria profissional protagonista de mudanças  
Ao tratarmos do tema reconhecimento e redistribuição, entende-se que o trabalho ainda  
é o principal fundamento da cidadania e, uma vez liberto da superexploração da economia  
política, pode contribuir para a emancipação dos trabalhadores assalariados e informais  
prestadores eventuais de serviços, desde que se enfrente o fenômeno da alienação, conforme  
detectou Marx. O reconhecimento mútuo não é absolutamente uma relação harmoniosa entre  
indivíduos, sendo o trabalho uma atividade primordial que pode transformar a relação de  
dependência, mas ao mesmo tempo reproduzir a alienação. O triunfo do capitalismo até os dias  
atuais exige dos agentes sociais comprometidos com as transformações sociais novos  
instrumentos de conscientização e luta contra as desigualdades. É neste sentido que a figura do  
agente social torna-se imprescindível nas sociedades contemporâneas, notadamente na África  
e América Latina.  
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Dentre potenciais agentes sociais, comprometidos com o ideário de um novo socialismo,  
conforme propõem Honneth e Fraser, é possível encontrar no assistente social esta referência  
profissional. A profissão surge inicialmente ligada a grupos dominantes e à Igreja Católica,  
como uma forma de ‘amenizar’ as inquietações da classe operária, visando a manutenção da  
ordem e do controle dos detentores dos meios de produção (Santos; Teles; Bezerra, 2013).  
Sobre os primeiros assistentes sociais, Martinelli (2000) afirma que os mesmos  
realizavam a sua prática profissional ainda de acordo com os interesses do capital burguês,  
agindo conforme a doutrina social da Igreja Católica, que também já havia influenciado a  
conduta das damas de caridade e daqueles que podem ser considerados os primeiros agentes  
sociais.  
Na história do serviço social, a primeira escola de filantropia aplicada foi criada por  
Mary Richmond, em 1899, em Nova Iorque. Posteriormente, os cursos se difundiram pela  
Europa e Estados Unidos. Dessa forma, a assistência aos pobres deixou de ser algo voluntário  
Antônio Dimas Cardoso; Máximo Alessandro Mendes Ottoni  
para se tornar uma profissão. Todavia, a ação social ainda não estava voltada aos interesses da  
classe trabalhadora, visto que as questões sociais eram tratadas como um desajuste da pessoa  
ou da família, sendo que os agentes sociais concediam benesses aos pobres, cumprindo  
orientações da Igreja e do Estado. Devido à ligação com a Igreja, moças religiosas se  
interessaram pelo curso (Corrêa Netto, 2010).  
De acordo com o autor, no início do século XX, é criada na Europa a Escola Católica  
de Serviço Social de Paris, vinculada à doutrina social da Igreja, que divulga essa ideologia na  
Europa e na América Latina. Mas na América do Norte, houve um afastamento da religião, o  
que favoreceu o surgimento e crescimento da Associação Nacional de Trabalhadores Sociais,  
em 1920. No pós-Primeira Guerra Mundial, houve a reconstrução econômica, política e social  
da Europa, e enfraquecimento da Igreja, que passou a incentivar leigos na sua ação social.  
Nessa breve introdução referente ao nascimento do serviço social como profissão,  
percebe-se uma forte influência da Igreja e também da burguesia, onde os primeiros assistentes  
sociais, sem um conhecimento holístico da questão social e tudo o que a envolve, realizavam  
um trabalho ditado pelos grupos dominantes, tratando os desfavorecidos de forma moralista e  
caridosa. Nesse contexto, verifica-se uma forte presença feminina, especialmente nas práticas  
caritativas.  
Em relação à questão feminina, Martins (2015) asserta que a caridade não estava restrita  
somente às mulheres, que eram a maioria, pois haviam homens que participavam de ações  
caritativas, como os filantrópicos ricos, que poderiam ser católicos ou protestantes, e que  
destinavam parte das suas riquezas para instituições de caridade, mas também aquelas voltadas  
ao ensino, cultura e arte.  
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Conforme o autor existe um discurso de gênero na sociedade, como se coubesse à  
mulher ocupar o lugar voltado para as questões de caridade e de ajuda aos mais necessitados.  
Mas ele ressalta que esse trabalho foi importante, pois possibilitou que as mulheres saíssem dos  
seus lares e ampliassem as suas vivências. Isso aconteceu tanto no Serviço Social, como na  
Enfermagem.  
Sobre a atuação profissional, Correa Neto (2010) vai dizer que os primeiros assistentes  
sociais eram do sexo feminino e voltados à religiosidade, à caridade e à moral. Utilizavam dos  
seus conhecimentos e técnicas para adaptar as pessoas ao sistema vigente, buscando eliminar  
as manifestações e o conteúdo político no meio dos trabalhadores, e trabalhavam de forma  
caridosa, o que servia para camuflar a miserabilidade deixada pelo sistema capitalista.  
Martins (s/d) afirma que existiam interesses diversos quanto à atuação dos assistentes  
sociais: para a Igreja, o interesse seria a difusão da Doutrina Social da Igreja no meio operário,  
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Desigualdade e reconhecimento no atual contexto da economia política  
como uma estratégia de recristianização. Já para o Estado, seria interessante que os assistentes  
sociais trabalhassem de forma a implementar a moralização e os bons costumes, principalmente  
dentro da família, racionalizando e individualizando a assistência, e ainda formando uma  
consciência nacional.  
Percebe-se no nascedouro do Serviço Social a forte ligação na questão da divisão social  
e técnica do trabalho, e também do pensamento conservador, que foi amplamente difundido e  
até mesmo imposto pela sociedade burguesa. Somando-se a isso, existiu também a influência  
da Doutrina Social da Igreja, além dos componentes técnicos da profissão.  
Tanto a profissão quanto o trabalho dos assistentes sociais vêm se modificando no  
decorrer dos tempos, devido a acontecimentos históricos como a Revolução Russa, a Primeira  
Guerra Mundial e a crise de 1929. As crises, tensões e manifestações operárias se  
intensificavam. Mudanças de pensamentos ocorriam no final do século XIX e início do século  
XX. Novas teorias surgiram, como a teoria liberal de Adam Smith, mas ainda com um estado  
fortemente interventor. Esses e outros acontecimentos foram mudando a forma de pensar e agir  
do serviço social.  
No Brasil, após a criação da primeira escola de Serviço Social, criada em São Paulo em  
1936, ainda com influência européia, formando moças para o trabalho social, mas com  
princípios vinculados à Igreja Católica. E do surgimento da Escola de Serviço Social no Rio de  
Janeiro; do Conselho Nacional de Serviço Social; da Legião Brasileira de Assistência; do  
Serviço Social da Indústria, dentre outras importantes instituições, um importante  
acontecimento para o Serviço Social foi o Movimento de Reconceituação.  
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Conforme Corrêa Netto (2010), o Movimento de Reconceituação, ocorrido nas décadas  
de 1960 e 1980, em plena ditadura militar, questionou os fundamentos teóricos, metodológicos  
e operacionais da profissão, traçando novas diretrizes para a realidade social atual, e recebe  
influências como o da Teoria da Libertação e do marxismo. Ocorrem vários eventos, seminários  
e congressos no país e no exterior voltados à uma nova visão da profissão. Mas foi o III  
Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, conhecido como Congresso da Virada, que se  
tornou um marco para a profissão; pois, em 1979, no período duro da ditadura, ocorreu a  
retirada de oficiais do governo da mesa do congresso, no qual foram substituídos por  
representantes dos movimentos populares e de pessoas que lutavam pela democracia.  
É nessa conjuntura que é preciso situar o movimento de reconceituação, não  
como um projeto isolado e vanguardista, mas como um processo vivo e  
contraditório de mudanças no interior do Serviço Social latino-americano. A  
ruptura com o Serviço Social tradicional se inscreve na dinâmica de  
rompimento das amarras imperialistas, de luta pela libertação nacional e de  
transformações da estrutura capitalista excludente, concentradora,  
Antônio Dimas Cardoso; Máximo Alessandro Mendes Ottoni  
exploradora (Faleiros, 1999, p. 143).  
Posterior ao movimento de reconceituação ocorre um amadurecimento do Serviço  
Social, influenciado pelo pensamento marxista, com uma nova interpretação da realidade  
latino-americana, e com rompimentos com as correntes confessionais e imperialistas. Acontece  
uma aproximação com outras áreas do conhecimento, em especial com as ciências sociais;  
ocorre o pluralismo profissional e os profissionais reivindicam atividades de planejamento e  
pesquisa, e não meramente técnicas e executivas. Além disso, profissionais passaram a ser  
contratados por sindicatos, por grupos católicos ligados à Teoria da Libertação, houve recusa  
por teorias importadas e mudanças nos currículos acadêmicos, no código de ética e na legislação  
profissional.  
Na perspectiva atual do assistente social como trabalhador, Corrêa Netto (2010) verifica  
alguns entraves no exercício profissional, pois apesar do Código de Ética Profissional  
estabelecer o livre exercício das atividades, o profissional é dependente de salário, encontra-se  
em um espaço de contradição, em que há lutas, avanços e retrocessos, e ainda existem as  
diretrizes do empregador.  
Para Iamamoto (2005, p. 22), “o Serviço Social é uma especialização do trabalho, uma  
profissão particular inscrita na divisão social e técnica do trabalho coletivo da sociedade”. Dessa  
maneira, a profissão seria remontada à sua gênese, ou seja, é uma ‘peça’ na divisão do trabalho  
e na reprodução das relações da sociedade do capital, sendo uma parte do modo de produção  
do capital, em que no setor produtivo o profissional vende a sua força de trabalho de forma  
imaterial, visando atender ao interesse do capital com ações para a minimização de conflitos e  
aumento da produção.  
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Corrêa Netto (2010, p. 110) diz que  
(...) o trabalho do assistente social, embora determinado pelo sistema  
econômico vigente, apresenta intrinsecamente as contradições presentes na  
sociedade enquanto totalidade, e por isso contém alternativas de re-produção  
do velho e de produção do novo, mas que necessitam de desvendamento para  
serem apropriadas.  
O autor explana que a profissão está em um momento atual de expansão, seja pela  
implantação das políticas públicas, seja pelas distorções que a questão social assume. Algumas  
dessas distorções seriam representadas pelo elevado número de desempregados, pela  
desproteção social e pelo crescimento da violência. Esse profissional da assistência social pode  
trabalhar em instituições públicas, privadas ou filantrópicas, e também em organizações não  
governamentais sem fins lucrativos.  
Libertas, Juiz de Fora, v. 24, n. 2, p. 661-672, jul./dez. 2024. ISSN 1980-8518  
Desigualdade e reconhecimento no atual contexto da economia política  
Luz (1998) vê na profissão serviço social o assalariamento e a intervenção na questão  
social via técnicas e instrumentos, mas diz que a ação profissional não será somente baseada na  
formação acadêmica, mas também no seu processo de socialização com o mundo. Corrêa Netto  
(2010) percebe que o serviço social é fruto do capitalismo, criado como forma de minimizar os  
efeitos da contradição capital x trabalho, servindo como uma resposta da classe burguesa às  
aspirações proletárias. Inicialmente, esse profissional do serviço social ajudou na reprodução  
das relações sociais dominantes. Posteriormente, há uma descoberta e desconstrução da  
intencionalidade burguesa, o que faz com que a profissão se afaste da classe dominante e se  
aproxime da classe menos favorecida.  
Na questão da liberdade, citada por Honneth, ela terá um valor ético no Serviço Social,  
uma vez que está inserida no Código de Ética do(a) Assistente Social (CFESS, 2012) e, de  
acordo com Lukács (2018), essa liberdade está associada diretamente ao trabalho, que  
transforma a natureza para a criação de construções realizadas para as necessidades humanas.  
No entanto, Barroco (2008) percebe essa liberdade na sociedade burguesa como algo alienante,  
devido à forma como o trabalho está formatado, pois o mesmo reduz a capacidade criativa à  
realização de tarefas que, em muitos casos são repetitivas e/ou não elevam o potencial criativo  
do ser humano.  
Nesse contexto, o profissional do Serviço Social deve pensar o seu fazer profissional  
não como uma simples tarefa ou um mero cumprimento de protocolos, mas como algo que irá  
transformar a sociedade e a consciência dos indivíduos em relação à sua liberdade, em prol de  
um bem estar social coletivo, minimizando as anomalias deixadas por um sistema alienante.  
Na discussão de Honneth sobre desigualdade e injustiça social, Netto (2007) perceberá  
o sistema capitalista como produtor de riqueza para poucos e de pobreza para muitos, e discorda  
da tese que afirma que o crescimento econômico seria a única forma capaz de combater a  
pobreza. Nessa perspectiva, o autor percebe que o Serviço Social é antagônico ao sistema  
capitalista, pois a profissão é comprometida com a igualdade e com a justiça social.  
Na mediação de conflitos, na qual Honneth problematiza sobre a importância dos  
agentes sociais nesse quesito, o assistente social também é chamado para atuar nessa questão,  
juntamente com profissionais da sociologia, da psicologia, do direito, e de outros profissionais.  
No sistema judiciário, por exemplo, o assistente social faz parte da equipe multiprofissional,  
identificando demandas e realizando trabalhos voltados para a mediação, conciliação e litígios  
judiciais e extrajudiciais (Fávero; Mazuelos, 2010). Nas relações familiares, o profissional é  
qualificado para entender, decodificar e concretizar a mediação de conflitos de forma a trazer  
669  
Antônio Dimas Cardoso; Máximo Alessandro Mendes Ottoni  
confiança às partes, buscando informar, esclarecer e ajudar na resolução de conflitos, de forma  
cooperada (Barbosa, 2010; Fiorelli, 2008).  
Em termos de mercado de trabalho, verificou-se que a profissão está atrelada à sua  
história, onde havia a prestação de assistência à classe operária, mas que vem sofrendo  
profundas modificações com o passar dos tempos. Na contemporaneidade, há uma  
diversificação dos espaços ocupacionais, exigindo do profissional um novo olhar, onde são  
exigidas novas competências, habilidades e atribuições, entendimento de áreas, como a política  
e a econômica, além de uma capacitação acadêmica direcionada pelo projeto ético-político e  
técnico do profissional. Isso possibilitou uma inserção do assistente social nos mais diversos  
espaços ocupacionais (Iamamoto, 2009).  
Silva; Santos (2015) verificam que os profissionais do Serviço Social atualmente estão  
inseridos nos mais diversos espaços ocupacionais, como no primeiro, segundo e terceiro setor,  
e isso inclui os Centros de Referência Especializados de Assistência Social, O Instituto Social  
do Seguro Social (INSS), além de creches, hospitais, unidades básicas de saúde, prefeituras,  
sindicatos, sistema judiciário e presidiário, dentre outros. Nas pesquisas, evidenciou-se que o  
projeto ético-político e as atribuições privativas do profissional são pouco conhecidos, o que  
faz com que o seu trabalho se confunda com o de outras profissões. Na área pública, observou-  
se um grande contingente de usuários do serviço social, sendo necessário um aumento do  
número de profissionais.  
670  
Na atualidade, uma grande conquista para a profissão e para o trabalho dos assistentes  
sociais e também para os psicólogos foi a aprovação da Lei nº 13.935/2019, que regulamentou  
a prestação de serviços desses profissionais na rede pública de educação básica do Brasil,  
devendo os mesmos trabalhar de forma multiprofissional visando realizar melhorias no  
processo ensino-aprendizagem, juntamente com a comunidade escolar, mediando relações  
sociais e institucionais. O trabalho desses profissionais deve estar em consonância com o  
projeto político-pedagógico das redes públicas de educação básica e dos seus estabelecimentos  
educacionais (Brasil, 2019).  
Considerações finais  
Por fim, entendemos que, enquanto a teoria da economia de mercado, hoje dominante,  
orientada pela ideologia neoliberal, apoia-se na premissa de que a maioria das transações sociais  
e relações no campo da economia devem permanecer livre de interferências políticas, da  
regulação pública (Polanyi, 2000), a ideia de socialismo no campo do marxismo analítico  
contemporâneo se pauta numa outra chave: a da democracia social em direção à democracia  
Libertas, Juiz de Fora, v. 24, n. 2, p. 661-672, jul./dez. 2024. ISSN 1980-8518  
Desigualdade e reconhecimento no atual contexto da economia política  
total (Honneth, 2017). No entanto, sabemos que este movimento não ocorre naturalmente.  
Depende de forças políticas progressistas, da aderência e ação de agentes sociais engajados em  
políticas públicas substantivas de combate às desigualdades, orçamentos participativos e, por  
consequência, de redistribuição.  
Em se tratando do Serviço Social, observa-se que se refere a uma atividade profissional  
de nível superior orientada para ação na vida cotidiana dos indivíduos, notadamente daqueles  
que estão em situação de vulnerabilidade social. Na realidade, não é uma exclusão pelo mercado  
de trabalho, apenas; é uma exclusão do campo dos direitos daí nossa ênfase na concepção da  
luta por reconhecimento, na atualidade. Sendo assim, exige-se não só tentar construir uma  
alternativa popular, mas primordialmente uma alternativa popular socialista no sentido  
proposto por Honneth que integre um campo mais amplo possível da sociedade de classes no  
Brasil.  
Entende-se que, nos setores progressistas do Serviço Social, socialismo é todo um  
mundo de ideias, de propostas, que vem lá do século XIX, desde Marx e “socialistas utópicos”,  
que se chamava socialismo, mas que, na realidade, era sua negação: tratava-se de estatismo,  
pragmatismo coletivista, não de um socialismo ao alcance da liberdade como  
autodeterminação em coletividade. Atualmente, pode-se voltar a exercitar a “tentativa de  
atualização” do socialismo pautado na cooperação social que baseia-se na instituição de  
vontades individuais e comuns, que Marx tinha proposto na fase inicial de sua obra. No  
entanto, para isso, necessita-se do protagonismo dos assistentes sociais, assim como de outros  
agentes sociais vinculados ao ideário humanista e libertário.  
671  
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Direito da Família. São Paulo, vol. 12, n.61, p. 7-12, ago./set. 2010.  
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