(RE)produção social do capital no Brasil: flexibilidade da produção e do acesso à direitos
elege ao poder Executivo, sintetizada na figura de Jair Bolsonaro (PSL - 2019-2022), com apoio
de frações da burguesia nacional e internacional, contando com uma base social caracterizada
pela disseminação do ódio e de ataques à democracia, combinando neofacismo com
ultraneoliberalismo.
Isso aponta como a crise política e econômica vivenciada no país é mais grave e
profunda, indicando expressões da sociedade burguesa em crise e em cenário de decadência
ideológica4. Assim que tanto o fascismo em sua forma clássica no século XX e as expressões
irracionais do neofascismo brasileiro possuem elementos em comum, visto que:
[...] estão articuladas com uma crise econômica do capitalismo; apresentam
uma crise de hegemonia no interior do bloco no poder – disputa entre o grande
e o médio capital, num caso, e disputa entre a grande burguesia interna e
grande burguesia associada ao capital internacional, no outro; comportam uma
aspiração da burguesia por retirar conquistas da classe operária; são agravadas
pela formação abrupta de um movimento político disruptivo de classe média
ou pequeno burguês; comportam uma crise de representação partidária da
burguesia; são marcadas pela incapacidade dos partidos operários e populares
de apresentarem solução própria para a crise política – os socialistas e
comunistas foram derrotados antes da ascensão do fascismo ao poder
(Poulantzas, 1970) e o movimento democrático e popular no Brasil vem
sofrendo uma série de derrotas desde o impeachment de Dilma Rousseff e
revelando incapacidade de reação (Boito Jr., 2020, p. 117).
Nesse sentido, conforme afirma Souza (2016, p. 210), a ideologia conservadora
contemporânea como se apresenta no Brasil em suas tendências ideais, teóricas políticas “é
portadora de uma tendência ao crescimento da intolerância e da agenda de ataques aos direitos
civis, políticos e sociais”.
157
Nesse momento destaca-se a continuidade de realização do superávit primário como
indicador importante para os rentistas e a maior captura e punção do fundo público para o
pagamento da dívida pública. Isso tudo aliado ao congelamento e à redução de gastos sociais
previstos na Emenda Constitucional nº 95/2016 que representa “um draconiano ajuste fiscal,
que impede a expansão do orçamento, em particular, das despesas públicas discricionárias nas
políticas de saúde, educação, ciência e tecnologia, infraestrutura” (Salvador, 2020, p. 4).
4
Podem-se apontar momentos distintos do desenvolvimento da história da filosofia burguesa, em que um dado
momento caracterizava-se pela centralidade da razão, conhecimento científico sem limites a essa produção e outro
marcado pelos limites impostos ao conhecimento que encontre às raízes e questione as bases de legitimação
burguesa. Coutinho (2010) auxilia nessa categorização ao dividir em dois momentos principais: o primeiro abrange
os pensadores renascentistas até Hegel, caracteriza-se por um movimento ascendente, progressista que se orienta
por elaboração racional, humanista e dialética; e o segundo, consiste na radical ruptura dessa tradição humanista
e da modernidade entre 1830-1848 assinalada por uma progressiva decadência ideológica na qual ocorre o
abandono mais ou menos completo das conquistas do período anterior. Isto porque a razão moderna com ascensão
da burguesia é pautada no humanismo, historicismo e na dialética, no entanto ao afirmar-se enquanto classe
dominante e não mais revolucionária, abandona esses três núcleos essenciais para o conhecimento científico,
provocando um período de decadência ideológica, de ascensão de uma filosofia, como destaca Coutinho (2010),
em que se percebe um abandono mais ou menos integral do terreno científico.