VI MINEPS 2017: Esporte, Organismos  
Internacionais e Neoliberalismo  
VI MINEPS 2017: Sport, International Organizations  
and Neoliberalism  
Marcelo Paula de Melo*  
Emanoel Borges Candal**  
Fernando Henrique Carneiro***  
Resumo: Por meio da atuação dos Organismos  
Internacionais em diversos campos é possível  
analisarmos as relações entre as transformações,  
características e estratégias das ações burguesas  
em seus programas e ações políticas. Esse texto  
Abstract: Through the work of International  
Organizations in various fields, it is possible to  
analyze the relationships between the  
transformations, characteristics and strategies  
of bourgeois actions in their programs and  
political actions. This text intends to investigate  
the indications and recommendations of the VI  
Conference of Ministers and Senior Officials of  
EF and Sport (MINEPS), held in Kazan  
(Russia) in 2017. Especially, we intend to  
investigate the relationship of these indications  
and recommendations to public policies of  
Sport, Physical Education and Leisure.  
Throughout the reflections, it was possible to  
perceive an EF focused on the diffusion of  
values in the landmarks of capital, especially  
with characteristics of association with  
neoliberal structural demands due to high  
unemployment and informality.  
pretende  
investigar  
as  
indicações  
e
recomendações da VI Conferência de Ministros  
e Alto Funcionários da EF e do Esporte  
(MINEPS), realizada em Kazan (Rússia) no ano  
de 2017. Especialmente, intentamos investigar a  
relação dessas indicações e recomendações para  
as políticas públicas de Esporte, Educação  
Física e Lazer. Ao longo das reflexões, foi  
possível perceber uma EF voltada à difusão de  
valores nos marcos do capital, em especial com  
características de associação às demandas  
estruturais neoliberais pelo alto desemprego e  
informalidade.  
Palavras-chaves: UNESCO, Educação Física,  
Keywords: UNESCO; Physical Education;  
MINEPS 2017 e Neoliberalismo.  
MINEPS 2017 and Neoliberalism.  
*
Mestre em educação (UFF); doutor em Serviço Social (UFRJ), professor da EEFD-UFRJ. ORCID:  
** Mestre em Educação (UFRJ) e professor da SME-RJ. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3277-0398  
***  
Mestre e doutor em Educação Física (UNB) e professor do Instituto Federal de Goiás. ORCID:  
DOI: 10.34019/1980-8518.2024.v24.43596  
Esta obra está licenciada sob os termos  
Recebido em: 21/02/2024  
Aprovado em: 24/04/2024  
VI MINEPS 2017: Esporte, Organismos Internacionais e Neoliberalismo  
Introdução  
Por meio da atuação dos Organismos Internacionais em diversos campos é possível  
analisarmos as relações entre as transformações, características e estratégias das ações  
burguesas em seus programas e ações políticas. A conformação de organismos supostamente de  
ajuda técnica, compostas seja por indicações governamentais, seja por técnicos contratados por  
esses organismos, acaba conferindo às ações políticas dos Organismos Internacionais uma  
conotação de ação com vistas à solução de problemas de diversas naturezas. Não sendo uma  
intervenção direta de países capitalistas centrais sobre outros capitalistas dependentes ou  
mesmo recém saídos de processos de libertação nacional e\ou colonial, os programas e políticas  
públicas chancelados e\ou diretamente executadas por equipes desses organismos raramente  
recebem alcunha de ação para realizar interesses de classe (burguesa). Essa característica acima  
indicada é mais forte nos programas, políticas e projetos das agências do Sistema das  
Organizações das Nações Unidas. A Educação Física, por sua vez, não fica de fora destas  
indicações e também é fruto de variadas produções por parte destas organizações.  
Esse texto buscará estudar um campo particular de ação da ONU, através de suaAgência  
Especial para a Educação, Ciência e Cultura (ONU-UNESCO). Abarcando suas proposições  
para o campo da Educação Física (EF), Esporte e Lazer, queremos destacar a Conferência de  
Ministros e Alto Funcionários da EF e do esporte (MINEPS). Com edições em 1976 (Montreal,  
Canadá), 1988 (Moscou, URSS), 1999 (Punta del Este, Uruguai), 2004 (Atenas, Grécia), 2013  
(Berlim, Alemanha), tendo sua mais recente versão em 2017 (Kazan, Rússia). A MINEPS é um  
encontro mundial de autoridades e organizações ligadas ao campo para debater e atualizar  
questões pertinentes ao que eles definem como “Educação Física e Esportes”, englobando  
direcionamentos no prisma das políticas públicas em EF fora do espaço escolar e dentro dele.  
Nas palavras da própria apresentação da conferência:  
341  
A MINEPS é a única plataforma global deste tipo no mundo. Os resultados da  
MINEPS não só ajudam a estabelecer a direção geral do programa de  
educação física e esporte da UNESCO, como também norteiam a implantação  
de políticas e práticas efetivas por governos no mundo todo (ONU-UNESCO,  
2013, p. 1).  
Esse texto pretende investigar as indicações e recomendações da VI Conferência de  
Ministros e Alto Funcionários da EF e do Esporte (MINEPS), realizada em Kazan (Rússia) no  
ano de 2017. Especialmente, intentamos investigar a relação dessas indicações e  
recomendações para as políticas públicas de Esporte, Educação Física e Lazer como expressão  
da realização dos embates entre classes sociais que conformam nosso tempo histórico. Ao longo  
do trabalho, refletimos sobre perguntas norteadoras desta pesquisa, que são explicitadas abaixo:  
Marcelo Paula de Melo; Emanoel Borges Candal; Fernando Henrique Carneiro  
1) É possível identificar apontamentos nos documentos da ONU-UNESCO para o campo da  
EF que se relacione com a estruturação neoliberal atual, em especial questões como reforma do  
Estado, as novas configurações do mundo do trabalho, a flexibilização e as ações de tentativa  
de naturalização da precariedade? 2) Como esse elemento se materializa nas políticas  
recomendadas nesse relevante documento?  
A escolha dos documentos chaves da MINEPS 2017 (ONU-UNESCO, 2017a; 2017b)  
se dá pela relevância que ocupam no cenário internacional para o campo e sua não separação  
entre si, sendo pilares de reivindicações deste organismo internacional, além de se relacionarem  
com outros aspectos mais gerais, tais como as Metas de Desenvolvimento do Milênio, aAgenda  
2030 para o Desenvolvimento Sustentável (ONU-UNESCO, 2015) dentre outros. Para maior  
especificidade em relação a forma de análise dos documentos da EF produzidos pela UNESCO  
já citados (ONU-UNESCO, 2017a; 2017b, ONU-UNESCO, 2015), realizaremos análise  
documental.  
A importância dos organismos internacionais tem sido cada vez maior no que diz  
respeito aos encaminhamentos para as políticas mundiais. Essas organizações não somente  
cumprem papel de formulação e indicação das políticas, mas também de produção de relatórios  
e constatações do movimento capitalista que norteiam as possíveis ações futuras e as avaliam.  
Assim, garantem a divisão internacional do trabalho em diferentes prismas, através da  
educação, da ciência e da cultura, como o caso direto da UNESCO (Organização das Nações  
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), fundada em 1946 que centraliza sua atuação,  
em especial no campo da educação, das ciências humanas e sociais, cultura, ciências naturais,  
comunicação e informação. Outros organismos aparecem como centrais e em relação  
indissociável entre eles para a consolidação da organização social nos marcos capitalistas, como  
o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional intimamente ligados à reafirmação do  
fortalecimento do capitalismo em nível global.  
342  
As aproximações das discussões da Educação Física com Serviço Social intensificaram-  
se nas últimas décadas. Foram comuns a realização de estudos de Pós graduação por parte de  
professores e professoras de Educação Física no âmbito de programas de Serviço Social. Os  
debates acerca do esporte e outros elementos da cultura corporal como direitos sociais (Penna,  
2011; Melo, 2011; Athayde, 2014), as relações Estado e Sociedade civil com avanço de projeto  
neoliberal e suas implicações nas Políticas de Esporte e lazer (Melo, 2011; Andrade, 2018), as  
contradições dos grandes eventos esportivos para sociedade Brasileira (Figueiredo, 2017) foram  
objetos de estudos variados de professores e professoras de Educação Física em Programas de  
Pós-graduação em Serviço Social. Tendo como pano de fundo as mudanças nas dinâmicas das  
Libertas, Juiz de Fora, v. 24, n. 1, p. 340-358, jan./jun. 2024. ISSN 1980-8518  
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lutas entre as classes sociais na atual fase da sociedade burguesa, essa bebida da Educação  
Física ao Serviço Social, significou situar seus elementos centrais aos princípios éticos políticos  
de uma bibliografia crítica- com aproximações variadas ao marxismo- que foi pouco presente  
inicialmente na Educação Física. A qualificação ético-política das discussões da Educação  
Física, assumindo a radicalidade do marxismo, deve-se também a essa aproximação.  
Políticas sociais e capitalismo neoliberal  
O capitalismo contemporâneo vem expressando evidências cada vez mais significativas  
sobre sua característica extremamente efetiva de elevar, em larga escala, o nível de expropriação  
e exploração da força de trabalho e da natureza. Faz isso como supostas expressões de liberdade,  
mas com índices humanitários cada vez mais preocupantes. A precarização da vida, a  
desregulamentação e flexibilização do trabalho, altas taxas de desemprego e a informalidade  
em nível mundial são características que podem ser percebidas. É também perceptível um  
aspecto importante em meio a tantos indícios de extrema pauperização, como os discursos de  
romantização destas condições de precariedade estruturados, a partir de uma lógica  
meritocrática e distante da totalidade. Estes são acompanhados da justificativa de características  
meramente individuais, atribuindo o difícil momento do capitalismo à postura dos trabalhadores  
ou ao âmbito “natural” da própria engrenagem produtiva mundial. Com isso, busca-se dificultar  
a associação direta, pelas maiorias populares, de suas difíceis condições de vida, com as  
premissas básicas do projeto neoliberal e ao próprio modo de produção capitalista. É possível  
perceber o avanço de espaços supostamente motivacionais, proposta de caminhos para o  
empreendedorismo e exaltação de exceções- que como nos ensina a matemática apenas  
confirma a regra- que ascenderam socialmente, por meio do trabalho e da vida precária,  
colocando-os como exemplos de postura e de julgamento moral ao restante da população.  
Fontes (2017) alerta para o estratégico e complexo processo educativo a que os  
trabalhadores são submetidos, onde por trás ocorre o aumento da concentração de riqueza e  
controle e, consequentemente, desigualdade e desemprego. Tal processo tenta naturalizar assim  
as retiradas de direitos de forma passiva e quase automática por parte do próprio trabalhador  
com a urgência legítima de atender às suas necessidades materiais imediatas de existência.  
Como afirma Fontes (2017, p. 49):  
343  
Os Estados capitalistas realizaram um duplo movimento: reduziram sua  
intervenção na reprodução da força de trabalho empregada, ampliando a  
contenção da massa crescente de trabalhadores desempregados, preparando-  
os para a subordinação direta ao capital. Isso envolve assumir, de maneira  
mais incisiva, processos educativos elaborados pelo patronato, como o  
empreendedorismo e, sobretudo, apoiar resolutamente o empresariado no  
Marcelo Paula de Melo; Emanoel Borges Candal; Fernando Henrique Carneiro  
disciplinamento de uma força de trabalho para a qual o desemprego tornou-se  
condição normal (e não apenas mais ameaça disciplinadora.  
A crítica ao Estado capitalista não é em absoluta a proposição de uma situação social de  
vida pré ou não estatal. Como mostra Mészaros (2015, p. 16), “apenas os apologistas  
interesseiros do sistema do capital podem acusar os defensores da alternativa socialista de  
pedirem uma “anarquia utópica sem lei”. Nada poderia ser mais longe da verdade”.  
Mais ainda, a reprodução das relações sociais capitalistas não tem predileção a priori  
por qualquer modalidade estatal ou adjetivo acerca de sua lógica de funcionamento. O processo  
histórico mostra que não há nenhuma barreira a priori entre desenvolvimento de relações sociais  
capitalistas e formas abertamente ditatoriais. Não por acaso,  
As formações estatais do sistema do capital nunca poderiam cumprir suas  
funções corretivas e de estabilização exigidas (e, assim, prevalecer sobre as  
tendências potencialmente perturbadoras) sem sobreporem-se a todas as  
resistências encontradas como um corpo alienado par excellence de tomada  
de decisão global. (...) Consequentemente, dada a sua função absolutamente  
crucial no processo de reprodução social global, o tipo de defesa legitimadora  
do Estado próprio do metabolismo social estabelecido não pode assumir  
qualquer outra forma senão a sobreposição a todo custo (Mészáros, 2015, p.  
17/8).  
O neoliberalismo, enquanto expressão da dinâmica de organização societal capitalista  
nos últimos 40 anos, parece apontar para uma suposta pacificação da luta de classes por meio  
da distância estabelecida, por exemplo, na relação patrão x trabalhador, no aguçamento da  
competição entre os próprios trabalhadores (diminuindo sua própria noção enquanto classe) e  
na própria estratégia de diminuir a capacidade de percepção de detenção dos meios de produção  
e do próprio processo produtivo. Por outro lado, as contradições também se acirram. Embora  
tenhamos características específicas deste momento histórico, é importante observar que  
estamos diante de brusca potencialização das relações capitalistas e da extração de mais-valia  
(não de sua supressão realizada pelo avanço tecnológico ou características estruturais outras de  
sociedade). O alerta de Elaine Behring (2023) acerca da ofensiva ultraneoliberal no mundo  
serve com nitidez para definirmos essa época.  
344  
A diminuição do trabalho sindicalizado por meio da expressão da precarização de  
trabalho por aplicativo não é a mesma coisa que dizer que fim da luta de classes. Apenas que  
os trabalhadores e trabalhadoras ultraprecarizados não conseguem mecanismos coletivos de  
defenderem-se da realização dos interesses de classes de seus novos patrões- agora fundos de  
investimento invisíveis a olhos nus em companhias globais. Não existe demonstração mais  
cabal da luta de classes que essa, ainda que os resultados sejam trágicos aos trabalhadores e  
trabalhadoras.  
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VI MINEPS 2017: Esporte, Organismos Internacionais e Neoliberalismo  
A expressão de menor precariedade existencial aos trabalhadores e trabalhadoras na  
segunda metade do século XX - a experiência breve e geograficamente localizada do estado  
social europeu -, justamente onde o movimento sindical, popular e de partidos de esquerdas  
fortíssimos, indica que foi a luta de classes dos de baixo que a viabilizou. Assim como sua  
débâcle e destruição deve ser compreendida como expressão da luta de classe burguesa com  
vistas elevar os níveis de exploração da força de trabalho por diversos mecanismos, incluindo  
a internacionalização extrema da produção capitalista, algo então inédito e em processo de  
aprofundamento. No momento em que senão fim da luta de classes, mas, sobretudo seu  
esvaecimento como elemento da explicação - e também e principalmente - da ação política  
efetiva nas diversas sociedades são celebrados ou tratados com naturalidade vemos que diversas  
expressões da realidade social seguem indicando a existência de interesses objetivos  
antagônicos e inconciliáveis.  
Esses processos são manifestações efetivas da luta de classes. Em muitos casos por não  
haver seja uma classe trabalhadora de tipo industrial- algo impossível em países de então  
recentíssima industrialização- seja um partido comunista com muitos adeptos, as lutas de  
libertação anticolonial não foram tomadas como expressão das lutas de classes.  
Com esses elementos apresentados, podemos refletir sobre algumas características que  
se apresentam atualmente. O conjunto de reformas amplamente difundidas, em especial no  
campo trabalhista, previdenciário, da legislação ambiental e dos direitos sociais de maneira  
geral tem sido reforçado como naturais ao processo de recuperação econômica e ganham  
extrema centralidade na conjuntura político-econômica. Tais reformas se dão com intensidade  
nos países periféricos do capital, mas também se acirram em polos centrais como a Europa e  
EUA. Não são poucos os casos de ações, por parte dos Estados, que vêm estruturando reformas  
em diferentes frentes sociais, em especial desde o início dos anos 1990, parecendo ocorrer com  
maior intensidade nos ataques aos direitos e no avanço da repressão aos movimentos contrários  
nesta segunda década do século XXI com a ascensão, inclusive, de setores de extrema direita  
em escala global.  
345  
Granemam (2017) afirma que as políticas sociais na atualidade, diferente dos anos de  
ouro do capitalismo mundial, deixam de ser centrais à dinâmica de acumulação e realização de  
lucros. Contrariamente tornam-se uma barreira na medida em que exigem direcionamentos do  
fundo público para atender às demandas da classe trabalhadora. É esse quadro explicativo que  
possibilita à compreensão de como uma série de ataques em diversos países à conquistas dos  
trabalhadores são levados adiante, malgrado o cinismo reinante de seus defensores. A  
privatização das políticas sociais, nas suas mais variadas formas e mecanismos, é parte central  
Marcelo Paula de Melo; Emanoel Borges Candal; Fernando Henrique Carneiro  
desse quadro.  
Ao passo em que lidamos com políticas que se apresentam como avanços e se  
estabelecem na esperança salvacionista e com o discurso da utilização da tecnologia, por  
exemplo, para melhora de questões sociais, é possível perceber, por outro lado, fortes  
contradições. Estas se apresentam pelos limites essenciais às relações da divisão internacional  
do trabalho/lugar político-econômico que os países periféricos ocupam, não rompendo,  
portanto, com a estruturação do capitalismo mundial, sequer focalizando a análise nesta origem.  
Pelo contrário, o aparecimento de medidas e ações estatais e/ou empresariais que se apresentam  
como solucionadores de específico problema, tendem a reforçar e reproduzir a lógica de boas  
ações no sentido moral e distanciar a análise crítica ao movimento real do capitalismo mundial  
globalizado que lucra com as desigualdades. Importante destacar as recorrentes ações, em  
diversos campos sociais, que assumem caráter “compensatório” tendo em seus eixos estruturais  
as ações filantrópicas e discursos para o desenvolvimento de países com alto índice de  
desigualdade e pobreza propagandeadas como ações salvadoras de males sociais típicos da  
dinâmica de exploração do capitalismo.  
Com isso, se faz central que não desvinculemos estas medidas com a dinâmica de classes  
no mundo em que se estrutura a sociedade capitalista e a relação de exploração que se intensifica  
em momento de agudização da crise. É importante atentarmos que os organismos internacionais  
estão intrinsecamente ligados às políticas desenvolvidas nos países periféricos, que, por sua  
vez, ocupam lugares na divisão internacional do trabalho e cumprem papéis importantes para a  
sustentação do capitalismo mundial. Papéis estes de serem redutos de grande exploração e de  
expropriações cada vez mais intensas às populações trabalhadoras, embora em muitas vezes  
estas sejam propagandeadas como única solução e/ou com discurso legitimador de mais e mais  
expropriação (como o caso dos variados cortes em gastos públicos).  
346  
VI MINEPS 2017 como materialização da ação  
AMINEPS é um encontro mundial de autoridades e organizações ligadas ao campo para  
debater e atualizar questões pertinentes as políticas públicas de Educação Física, Esportes e  
Lazer, fora do espaço escolar e dentro dele. Na apresentação da conferência, encontramos as  
seguintes informações: A MINEPS como plataforma global; seus resultados não só ajudam a  
estabelecer a direção geral do programa de educação física e esporte da UNESCO, como  
também norteiam a implantação de políticas e práticas efetivas por governos no mundo todo  
(ONU-UNESCO, 2013, p. 1).  
A VI Conferência Internacional de Ministros e Altos Funcionários responsáveis pela  
Libertas, Juiz de Fora, v. 24, n. 1, p. 340-358, jan./jun. 2024. ISSN 1980-8518  
VI MINEPS 2017: Esporte, Organismos Internacionais e Neoliberalismo  
Educação Física e Esportes, realizada em Kazan (Rússia, de 13 a 15 de julho de 2017), foi  
sistematizada em um documento de 62 páginas. Está dividido em “AGRADECIMENTOS”,  
“VISÃO DO CONJUNTO”, “PRINCIPAIS PONTOS DE DEBATE” e as cláusulas  
encaminhadas na conferência. Constam também três anexos. São eles: “PLANO DE AÇÃO”;  
relatoria, falas e programação intitulada “ORDEM DO DIA ANOTADA” e “LISTA DE  
PARTICIPANTES”. Estiveram presentes 97 Estados membros, 1 Estado não membro, 7  
organizações intergovernamentais e 53 organizações não governamentais. É possível  
identificar, no último anexo do documento, empresas e instituições, confederações esportivas  
nacionais, universidades privadas, além de federações internacionais esportivas (ONU-  
UNESCO, 2017a, p.53-57). Está expresso que a VI MINEPS teve como centralidade a análise  
e os apontamentos para materialização dos encaminhamentos realizados na V MINEPS (2013)  
e pela Carta Internacional da Educação Física (2015), como é possível identificar abaixo:  
MINEPS VI se centró en la aplicación de la Declaración de Berlín, que se  
aprobó en MINEPS V, celebrada en Berlín (Alemania) en 2013, y de la Carta  
Internacional de la Educación Física, la Actividad Física y el Deporte. La  
Conferencia tenía cuatro objetivos principales: i) reconocer el marco de  
seguimiento de las políticas de deporte de MINEPS como un instrumento útil  
de carácter voluntario para propiciar la convergencia y la cooperación  
internacionales en la evaluación de los avances alcanzados en la formulación  
de políticas deportivas; ii) reconocer la información concreta recopilada por  
los grupos de trabajo en la que se basará el marco; iii) comprometerse a  
reforzar los vínculos entre la formulación de políticas deportivas y los  
Objetivos de Desarrollo Sostenible; y iv) comprometerse a cooperar a escala  
internacional en iniciativas específicas. Estos objetivos sirvieron de base para  
la aprobación del Plan de Acción de Kazán (ONU-UNESCO, 2017a, p. 4).  
347  
Vale, então, ressaltar os objetivos centrais elencados no documento no tópico citado. No  
item I, o norteamento de reconhecimento das proposições da MINEPS, como instrumento para  
propiciar a convergência nas políticas, revela a preocupação para o desenvolvimento das  
políticas do campo nos países, expressando, assim, a posição de se ter um projeto de difusão  
das mesmas com um determinado direcionamento. No item III, a citação aos objetivos do  
chamado Desenvolvimento Sustentável aparece mais uma vez, assim como na Carta  
Internacional, demonstrando a articulação das ações variadas dos encaminhamentos da  
conferência com o documento geral da ONU, associando o campo da Educação Física ao  
(suposto) cumprimento destes objetivos. São eles:  
1- erradicação da pobreza; 2- fome zero; 3- boa saúde e bem-estar; 4-  
educação de qualidade; 5- igualdade de gênero; 6- água limpa e saneamento;  
7- energia acessível e limpa; 8- emprego digno e crescimento econômico; 9-  
indústria, inovação e infraestrutura; 10- redução das desigualdades; 11-  
cidades e comunidades sustentáveis; 12- consumo e produção responsáveis;  
13- combate às alterações climáticas; 14- vida debaixo d´água; 15- vida sobre  
a terra; 16- paz, justiça e instituições fortes; 17- parcerias em prol das metas  
Marcelo Paula de Melo; Emanoel Borges Candal; Fernando Henrique Carneiro  
(ONU, 2016).  
Os “Objetivos de Desenvolvimento do Milênio” (ONU, 2000), nos anos 1990,  
totalizavam oito. Há um crescimento deste quantitativo de objetivos, a repetição fundamental  
da totalidade dos problemas indicados e o adiamento constante de metas anteriores junto a  
elaboração de novas metas em novas agendas e programas. No site da conferência é possível  
perceber novamente a centralidade dessas relações, conforme podemos observar no trecho  
abaixo, desdobrando em demais ações futuras compromissadas com a relação entre Educação  
Física e tais documentos gerais da ONU. Vejamos:  
Como a UNESCO está comprometida em alinhar seus programas e atividades  
com a Agenda 2030 das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável  
e os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, o MINEPS VI fornecerá  
uma plataforma para discutir educação física, atividade física e esporte, à luz  
de sua contribuição para alcançar os ODS. (..) Os seguintes ODS são  
particularmente relevantes: 3: Garantir uma vida saudável e promover o bem-  
estar para todos, em todasas idades; 4: Garantir uma educação de qualidade  
inclusiva e equitativa e promoveroportunidades de aprendizagem ao longo  
da vida para todos; 5: Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as  
mulheres e meninas;8: Promover crescimento econômico sustentado,  
inclusivo e sustentável,emprego pleno e produtivo e trabalho decente para  
todos; 10: Reduzir a desigualdade dentro e entre países;11: Tornar cidades  
e assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientese sustentáveis;  
assim como 16: Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o  
desenvolvimentosustentável, fornecer acesso à justiça para todos e construir  
instituições efetivas, responsáveis e inclusivas em todos os níveis. Antes e  
durante o MINEPS VI, os Estados Membros e os movimentos esportivos serão  
convidados a compartilhar exemplos de boas práticas. (...) Essa intenção de  
vincular as atividades esportivas à Agenda 2030 reconhece a necessidade de  
um impacto positivo dos investimentos no esporte no desenvolvimento.  
Portanto, será importante que uma estrutura para os formuladores de políticas  
contenha indicadores mensuráveis e um compromisso de todas as partes  
interessadas em operacionalizar intenções de desenvolvimento ao planejar  
programas, projetos e eventos (ONU-UNESCO, 2017b).  
348  
O processo citado, no final do trecho acima, também dialoga com as formulações das  
políticas, indicando de forma ainda mais profunda o interesse de articulação com a efetivação  
dos objetivos de documentos gerais do sistema ONU-UNESCO. Tal questão se confirma no  
próprio documento final da conferência. Temos:  
El CIGEPS decidió que MINEPS VI se centraría en hacer una llamada a la  
acción para llevar a la práctica los compromisos de los ministros asumidos en  
la Declaración de Berlín y las expectativas y normas consagradas en la Carta  
Internacional de la Educación Física, la Actividad Física y el Deporte en el  
marco de los Objetivos de Desarrollo Sostenible y la Agenda 2030. Por lo  
tanto, pareció oportuno adoptar un nuevo marco para vincular los tres  
documentos (ONU-UNESCO, 2017a, p. 12).  
Libertas, Juiz de Fora, v. 24, n. 1, p. 340-358, jan./jun. 2024. ISSN 1980-8518  
VI MINEPS 2017: Esporte, Organismos Internacionais e Neoliberalismo  
Encontramos com mais ênfase questões a serem aprofundadas e discutidas relacionadas  
diretamente aos processos de naturalização das contradições do capitalismo, como indicações  
que acirram as políticas de reformas que vêm sendo tocadas como supostas soluções para a  
crise (em especial para países periféricos); o caráter educativo da Educação Física dentro dos  
marcos hegemônicos e de pacificação da luta de classes como solucionadora de conflitos e para  
o que chamam de “uma cultura de paz a partir do ensino de valores socialmente aceitos” (ONU-  
UNESCO, 2017a, 2017b); o direcionamento para a ação da sociedade civil como garantidora  
dos direitos sociais (inclusive como parceiras das escolas públicas estatais) por meio do  
incentivo das chamadas relações público- privadas; a forte visão salvacionista em relação as  
práticas corporais. O aprofundamento do projeto neoliberal, com seus conhecidos resultados,  
tem na naturalização da privatização da ação estatal por meio de organismos supostamente sem  
fins de lucro um de meios mais expressos de efetivação.  
Abaixo, podemos observar norteamentos que serão desdobrados, posteriormente, no  
documento e que vão demonstrar de forma mais concreta as questões colocadas anteriormente:  
II. Potenciar al máximo la contribución del deporte al desarrollo sostenible y  
la paz II.1 Mejorar la salud y el bienestar de todos a cualquier edad II.2 Lograr  
que las ciudades y los asentamientos sean inclusivos, seguros, resilientes y  
sostenibles II.3 Brindar una educación de calidad y promover el aprendizaje  
permanente para todos y la adquisición de competencias a través del deporte  
II.4 Construir sociedades pacíficas, inclusivas y equitativas II.5 Facilitar el  
crecimiento económico y el empleo pleno y productivo y el trabajo para todos  
II.6 Promover la igualdad entre hombres y mujeres y empoderar a las mujeres  
y a las niñas II.7 Garantizar modalidades de consumo y producción sostenibles  
y adoptar medidas urgentes para combatir el cambio climático y sus efectos  
II.8 Construir a todos los niveles instituciones eficaces e inclusivas que rindan  
cuentas (ONU-UNESCO, 2017a, p. 13).  
349  
No trecho que levanta a percepção relacionada ao tema das contribuições da Educação  
Física para o “desenvolvimento econômico, o emprego pleno e produtivo e o trabalho para  
todos” (citado no tópico II.5 da citação anterior), podemos constatar o deliberado tratamento  
como sinônimos aos conceitos de emprego e trabalho, parte determinante da naturalização da  
flexibilidade, do voluntariado e de uma educação relacionada aos marcos empreendedores  
/empresariais, sendo estes apontamentos para atingir o que chamarão de “emprego pleno” e  
“aumento da produtividade”, se estreitando aos apontamentos realizados anteriormente que  
analisam os aspectos da uberização do trabalho. O trecho abaixo, que analisa a conjuntura para  
as ações relacionadas a essa problemática, expressa este direcionamento:  
El atractivo del deporte para los jóvenes hace de este un marco valioso para  
iniciativas de empleabilidad (meta 4.4), como por ejemplo de formación  
empresarial (metas 8.5 y 8.6). El voluntariado también contribuye de forma  
importante. Puede cosecharse más beneficio económico de las políticas  
deliberadas destinadas a incrementar las contribuciones voluntarias de  
Marcelo Paula de Melo; Emanoel Borges Candal; Fernando Henrique Carneiro  
funcionarios, orientadores, padres y otros grupos que aportan beneficios  
sociales y de salud mediante el apoyo a programas de actividades físicas y  
deportivas eficaces en función de los costes (ONU-UNESCO, 2017a, p. 17).  
Vale ressaltar que as metas estão em diálogo com as metas de desenvolvimento  
sustentável da agenda 2030. Especialmente a meta 4.4. indica: “Até 2030, aumentar  
substancialmente o número de jovens e adultos que tenham habilidades relevantes, inclusive  
competências técnicas e profissionais, para emprego, trabalho decente e empreendedorismo”  
(ONU-UNESCO, 2017a, p. 18). O tópico 4.4 é emblemático na categorização e no apontamento  
de uma educação que se associa diretamente à crise no mercado de trabalho, sobretudo no que  
diz respeito aos jovens. As chamadas “habilidades relevantes” acompanhadas ao  
empreendedorismo demarcam o posicionamento de forma clara, no sentido educativo da  
juventude para naturalização dessas condições de trabalho. Também o movimento da entrada  
na informalidade como alternativa do desemprego deixa como questionamento uma  
duplicidade perversa nos apontamentos das metas de desenvolvimento citadas pelo trecho da  
VI MINEPS trazido. Aponta-se a busca pelo pleno emprego ao mesmo tempo em que o  
empreendedorismo e a construção de habilidades necessárias para a contemporaneidade  
figuram como centrais. Chama atenção também no trecho do documento citado a forte presença  
do voluntariado.  
Há uma contradição entre informalidade e emprego digno na vida material do  
trabalhador. Sendo assim, o trecho citado evidencia-se como contraditório, mas ao mesmo  
tempo como naturalizador da resiliência para a precariedade através dos sentidos pedagógicos  
da Educação Física e seu campo econômico. Tais dados que demonstram sentido inversos às  
metas, revelam também a intrínseca relação entre a pauperização, acirramento da desigualdade  
e da exploração com o capitalismo, sendo estes condicionantes fundamentais de seu modus  
operandis.  
350  
No momento em que a crise sistêmica e estrutural do sistema metabólico do capital não  
dá nenhuma mostra de arrefecimento, com o aprofundar de suas contradições em termos de  
exploração do ser humano e do meio ambiente, seguem aparecendo vãs esperanças que ajustes  
na atuação estatal seria uma possível solução desses problemas. Como mostra Mészaros (2015,  
p. 15),  
As tentativas de medidas corretivas do Estado- desde intervenções militares  
perigosas para enfrentar colapsos financeiros graves em escala monumental,  
incluindo operações de resgate do capitalismo privado realizado pela sempre  
crescente dívida pública da ordem de trilhões de dólares- parecem agravar os  
problemas, apesar das vãs garantias em contrário. (...) Por que as soluções  
tradicionais do Estado não conseguem produzir os resultados esperados? O  
Estado, tal qual constituído historicamente, é mesmo capaz de resolver todos  
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VI MINEPS 2017: Esporte, Organismos Internacionais e Neoliberalismo  
os nossos problemas ou o Estado como tal tornou-se um dos principais  
contribuintes para o agravamento de seus próprios problemas e para sua  
insolubilidade crônica?  
Na parte do documento intitulado “Principais Pontos de Debate” há a presença relatada  
de debates acerca da importância da inclusão de minorias historicamente marginalizadas.  
Também há referência mais freqüente a convenções internacionais relacionadas à temática, com  
a preocupação em estabelecer ações para o acesso de pessoas com deficiência, além da  
necessidade de enfrentamento na disparidade das desigualdades de gênero e de sexo, com o  
apontamento de estreitamento de parcerias entre organizações esportivas e programas geridos  
pelas comunidades com as escolas (ONU-UNESCO, 2017a, p. 6). O segundo tema “Potenciar  
al máximo la contribución del deporte al desarrollo sostenible y la paz” contou com debates da  
articulação direta entre o esporte e os objetivos, em especial traçando princípios.  
(...) El ponente principal destacó cuatro principios que deberían guiar la  
articulación de las políticas. En primer lugar, una política dirigida a potenciar  
al máximo la contribución del deporte debería reflejar datos e investigaciones,  
basándose en una teoría del cambio. En segundo lugar, para potenciar al  
máximo su impacto, el deporte debería integrarse en las políticas y los  
programas en toda una serie de ámbitos políticos. En tercer lugar, las  
contribuciones pueden realizarse a través del deporte y en el deporte. En  
cuarto lugar, es importante determinar con atención los ODS a los que puede  
contribuir el deporte, en lugar de considerarlo como un catalizador general  
(ONU- UNESCO, 2017a, p. 6-7).  
351  
O quarto princípio demonstra uma maior preocupação com a sistematização que  
relacione especificamente os objetivos e metas de desenvolvimento sustentável com o esporte,  
superando a visão de que o mesmo seria um catalizador geral independente do objetivo. Assim,  
esse movimento acaba elevando, de certa forma, o acúmulo, a objetividade e a profundidade  
dos encaminhamentos para o campo da Educação Física e esporte enquanto políticas sociais,  
revelando uma maior preocupação na efetiva implementação do projeto hegemônico de forma  
mais qualitativo. Outro elemento que reforça tal análise de aprofundamento é o ponto de debate  
principal seguinte desta mesma temática, conforme podemos observar abaixo:  
Varios representantes de Estados Miembros se refirieron al hecho de que la  
capacidad que tiene el deporte de contribuir a la consolidación de la paz no  
conduce al cese de los conflictos y del uso de armas de fuego durante  
competiciones deportivas. En cambio, la guerra y los conflictos son un  
obstáculo para los programas de deportes, educación física y actividad física.  
Se propuso la formación de un grupo de trabajo internacional que examine  
116 cómo el deporte puede contribuir verdaderamente a la paz (ONU-  
UNESCO, 2017a, p. 7).  
Outro ponto de destaque é o retorno à articulação com a agenda 2030, a partir,  
principalmente, de dois tópicos. Um se referindo à presença do esporte no preâmbulo do  
documento de metas e o seguinte, reivindicando a citação direta do campo da EF, expressando  
Marcelo Paula de Melo; Emanoel Borges Candal; Fernando Henrique Carneiro  
“preocupação” com sua ausência nas metas e objetivos da agenda. Isso pode ser observado em:  
4. Destacando que en el preámbulo de la Agenda 2030 se reconoce que el  
deporte es un importante facilitador del desarrollo sostenible y la paz, 5.  
Expresando nuestra preocupación por que, salvo el reconocimiento general  
del deporte como facilitador, no se haga mención alguna de la educación  
física, la actividad física o el deporte en ninguno de los objetivos y metas de  
la Agenda 2030 (ONU-UNESCO, 2017a, p. 9).  
No tópico 16, é possível identificar novamente a função do campo esportivo para a  
consolidação da operação nos marcos dominantes da potência de formação valorativa do  
esporte, articulando-o, inclusive, com a facilitação da transição entre escola e trabalho. Afirma  
que:  
Reconociendo la importante función que desempeñan los jóvenes para  
potenciar al máximo la contribución del deporte al desarrollo sostenible y la  
paz, así como la fuerza positiva que puede tener el deporte para conseguir que  
los niños vayan a la escuela, apoyar las posibilidades de empleo de los jóvenes  
y facilitar la transición de la escuela al trabajo (ONU-UNESCO, 2017a, p. 10).  
Tal trecho aponta para uma concepção de esporte nos marcos de funcionamento social  
dominante e podendo se articular às características contemporâneas do capitalismo em intensa  
precariedade das condições de vida e trabalho. Para além de particularidades nacionais, o ponto  
em comum das reformas trabalhistas foi a desproteção social e a precarização da vida.  
Ressaltaremos a parte “Redacción de las esferas políticas principales y específicas” por  
sintetizar as visões de forma mais evidente sobre as principais esferas políticas, revelando com  
maior clareza os posicionamentos que norteiam a organização e os trabalhos da VI MINEPS.  
Primeiramente, podemos citar a descrição da primeira esfera política principal, conforme  
podemos visualizar abaixo:  
352  
Establecer alianzas entre múltiples interesados la gran diversidad de formas y  
contextos de la educación física, la actividad física y el deporte sugiere que  
gran parte de la importancia que revisten para la sociedad civil reside en su  
variedad y adaptabilidad. A fin de materializar por completo su potencial, es  
necesaria la cooperación entre sectores públicos, como la sanidad, la  
educación, el desarrollo urbano, las infraestructuras y el transporte, e  
interesados del sector privado, para elaborar y aplicar legislación, reglamentos  
y planes de acción nacionales. Estas medidas, llevadas a cabo en sinergia,  
promueven la continuidad de la práctica y el acceso a la actividad física a  
cualquier edad. Su objetivo es promover la autonomía, en un contexto tanto  
individual como colectivo, y evitar que se abandone la práctica (debido, por  
ejemplo, a la edad, a circunstancias de la vida, a condiciones sociales y de  
salud, a la discriminación). Es necesario definir, desarrollar y compartir  
conjuntos de herramientas y otros mecanismos de apoyo en pro de esta  
colaboración intersectorial (ONU-UNESCO, 2017a, p. 14).  
Essa descrição demonstra norteamento claro de apontamentos para as políticas, a partir  
dos processos de parcerias público-privadas entre Estado e o setor privado com foco em direitos  
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básicos fundamentais, como o caso da saúde, da educação, desenvolvimento urbano, transporte  
e infraestrutura. Tal direcionamento para materializar estes direitos que se tornam serviços na  
lógica privada, supostamente consolidaria a possibilidade de acesso à atividade física,  
aumentando a autonomia e diminuindo a evasão destas práticas por conta da idade e condições  
materiais da vida.  
Há forte relação entre a idade de trabalho e a evasão e diminuição das práticas corporais.  
Tal afirmativa, no trecho citado, é universalizante para um mundo profundamente desigual e  
cada vez mais precário em condições básicas de vida e de direitos, justamente pelo processo de  
intensificação neoliberal, de enxugamento do Estado e de forte relação entre o mesmo e as  
grandes empresas do setor privado, além da sua intensa desresponsabilização nas mais variadas  
áreas de direitos sociais. Sendo assim, o trecho corrobora o projeto neoliberal, em sua essência,  
e inverte o movimento do real como véu para a justificativa dele mesmo e da solução da  
precariedade com mais precariedade.  
Mais adiante, ainda nas descrições, especificamente na linha cinco da segunda esfera  
política principal denominada “POTENCIAR AL MÁXIMO LA CONTRIBUCIÓN DEL  
DEPORTE AL DESARROLLO SOSTENIBLE Y LA PAZ”, é possível perceber a relação base  
encaminhada pela MINEPS entre educação física, emprego, produção e trabalho, conforme  
podemos observar abaixo:  
353  
II.5 Facilitar el crecimiento económico y el empleo pleno y productivo y el  
trabajo para todos Puede constatarse en diversos contextos la contribución de  
la educación física, la actividad física y el deporte al crecimiento económico,  
el aumento de la productividad y el empleo. Se calcula que la industria del  
deporte contribuye con hasta el 1% del producto interno bruto mundial y  
estimular el desarrollo del sector puede generar más beneficios. Potenciar al  
máximo el turismo deportivo de eventos y el turismo activo de ocio, en  
particular, puede ser de ayuda en este empeño (meta 8.2). El atractivo del  
deporte para los jóvenes hace de este un marco valioso para iniciativas de  
empleabilidad (meta 4.4), como por ejemplo de formación empresarial (metas  
8.5 y 8.6). El voluntariado también contribuye de forma importante. Puede  
cosecharse más beneficio económico de las políticas deliberadas destinadas a  
incrementar las contribuciones voluntarias de funcionarios, orientadores,  
padres y otros grupos que aportan beneficios sociales y de salud mediante el  
apoyo a programas de actividades físicas y deportivas eficaces en función de  
los costes (meta 8.3) (ONU-UNESCO, 2017a, p. 17).  
Salta aos olhos o trecho no qual se associa o atrativo dos jovens para o esporte à  
oportunidade de formação empresarial (em citação às metas 8.5 e 8.6 da agenda 2030). Tal  
relação reforça o entendimento de que há, no esporte, as possibilidades de difusão de valores  
empreendedores e a utilização do mesmo como instrumento de difusão destes. Logo, em  
sequência, novamente, aparece a reafirmação da contribuição do voluntariado para os  
Marcelo Paula de Melo; Emanoel Borges Candal; Fernando Henrique Carneiro  
benefícios econômicos, além de finalizar articulando a EF e os benefícios sociais e de saúde  
com as possibilidades de parcerias também no sentido voluntarista com diferentes grupos  
sociais.  
A substituição de postos de trabalho perdidos via robotização e ou maior maquinização  
do processo produtivo na indústria, agricultura e serviços gerou o fetiche de que esse manancial  
de postos de trabalho perdidos seria reabsorvido em campos novos de atividade capitalista. Os  
trabalhos precarizados em elaboração e entrega de refeições, assim como outras formas de  
trabalhos mediadas por empresas de aplicativos, em hipótese alguma são suficientes para  
garantir a existência de trabalhadores e suas famílias com mínimo de dignidade. De acordo com  
David Harvey (2018, p. 15):  
A criação, por meio do desemprego tecnologicamente induzido, de um  
exército industrial de reserva, põe em foco as adaptações tecnológicas capazes  
de poupar mão de obra. Inovações que melhorar a eficiência e a coordenação,  
ou aceleram os tempos de rotação na produção e na circulação, produzem  
quantidades maiores de mais valor para o capital (...). Novas tecnologias e  
inovação de produtos andam de mãos dadas.  
Não por acaso, o desafio pedagógico dos mantenedores diretos ou indiretos da ordem  
do capital é apresentar soluções mágicas e superficiais para problemas que exigiram soluções  
radicais e antisistêmicas. Mészáros (2015, p. 25) afirma não ser surpresa que, diante da  
impossibilidade de qualquer proposição estruturalmente equitativa, o pensamento e projeto  
liberal de sociedade no máximo defenda uma ordem “mais equitativa, o que sempre significou  
muito menos que equitativa”. Os momentos da apologia indireta da ordem são constantes. A  
defesa de que somente com crescimento econômico é possível minorar a pobreza e  
desigualdade não dizem que isso se deve ao fato de não arranharem estruturalmente a  
desigualdade social, de renda e patrimônio que marcam as sociedades existentes. Como defende  
Mészáros (2015, p. 25-26)  
354  
Não surpreende, portanto, que simultaneamente ao desenrolar da crise  
estrutural do sistema do capital, o então tendencioso liberalismo reformatório  
rapidamente se metamorfosiasse em uma forma mais agressiva do  
neoliberalismo apologético do Estado. (...). Durante muito tempo, a promessa  
gratuita de todos os tipos de apologias do capital- (...)- foi que o bolo a ser  
distribuído crescerá eternamente, trazendo felicidade plena para  
absolutamente todos. A distribuição abundante cuidará de tudo, ninguém  
deveria se preocupar com os problemas da produção. Porém, o bolo  
simplesmente se recusou a crescer, de modo a corresponder a qualquer  
variedade da projetada “maior felicidade”. A crise estrutural do capital tinha  
posto fim a essas fantasias.  
A propaganda deliberada da chamada ESG por parte dos apologistas burgueses (sejam  
entidades empresariais, seus congêneres nas grandes mídias ou suas fundações e prepostos nas  
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VI MINEPS 2017: Esporte, Organismos Internacionais e Neoliberalismo  
universidades) é apenas a mais nova versão de um prato requentado. Uma adaptação de sigla  
em inglês adotada em diversos países, a ESG é o acrônimo para Environmental, Social and  
Corporate Governance. Uma tradução para Governança Ambiental, Social e Corporativa.  
Considerações finais  
Chama atenção, no discurso materializado nos documentos e nas ações destes  
organismos, forte aspecto pacificador e filantrópico, além de uma objetividade nas ações do  
campo da EF no sentido “salvacionista” de aspectos sociais precários que a própria dinâmica  
capitalista apresenta, em essência. Ao longo do documento analisado e de outras produções em  
diálogo, foi possível observar as inúmeras citações ao que chamaram de “valores e habilidades  
intrínsecos à sociedade do século XXI”, a resiliência como objetivo a ser buscado pelas  
populações vítimas de intensa precariedade ou de situações de calamidade ambientais e  
político-econômicas realizadas pelo capital. Além disso, através da aproximação com a  
educação básica e outros espaços da educação não formal, em que a EF possa estar inserida,  
em especial em projetos sociais, há uma busca por difusão do empreendedorismo e,  
consequentemente, a romantização do trabalho precário. Foi possível observar também a  
materialização de algumas ações burguesas, não necessariamente em diálogo direto às  
produções analisadas, mas com claro estreitamento, a partir da utilização do esporte como  
parâmetro para a educação nos marcos neoliberais, explorando suas características de  
superação, meritocracia etc. Sendo assim, demonstra como as novas configurações de um  
mundo do trabalho uberizado, flexível e o aprofundamento da crise estrutural têm também a EF  
como braço de tentativa de pacificação da luta de classes para a coparticipação dos  
trabalhadores ao sistema que os oprime diariamente. Outro elemento marcante são as inúmeras  
indicações que aparecem de forma central nos documentos para as parcerias público-privadas  
com a sociedade civil através de ONGs, mas também com empresas internacionais de diversos  
ramos para a efetivação, com sucesso, de todas as indicações e políticas presentes nos  
documentos, direcionando assim à desresponsabilização do Estado para com os direitos  
fundamentais construídos em luta pelos (as) trabalhadores (as) ao longo de toda a história,  
transformando estes direitos em serviços e colocando-os na lógica privada. Não por acaso, o  
desafio pedagógico dos mantenedores diretos ou indiretos da ordem do capital é apresentar  
soluções mágicas e superficiais para problemas que exigiram soluções radicais e antisistêmicas.  
É possível observar também um avanço qualitativo nas produções no que diz respeito à  
estrutura dos documentos e seus encaminhamentos, em especial através da preocupação da  
análise contínua das ações, do fortalecimento de diagnósticos das políticas e da criação de  
355  
Marcelo Paula de Melo; Emanoel Borges Candal; Fernando Henrique Carneiro  
acompanhamento internacional para as materializações encaminhadas, em especial pela VI  
MINEPS.  
Ao longo das reflexões, foi possível perceber uma EF voltada à difusão de valores nos  
marcos do capital, em especial com características de associação às demandas estruturais  
neoliberais pelo alto desemprego e informalidade. A tentativa de construção do imaginário  
empreendedor pelos valores da EF perpassa, com destaque, todos os documentos da segunda  
década do século XXI, citados ao longo deste trabalho. Apesar do reconhecimento da EF  
tematizar outras produções culturais, são os esportes e os exercícios físicos para a “saúde e  
bem-estar” que balizam fundamentalmente todos os documentos, não tendo concretamente  
políticas de fortalecimento da Cultura Corporal local. Quando acontece, se dão em sentidos da  
mercantilização e apagamento de potenciais críticos que possam romper com a estrutura social  
capitalista. Outra característica que podemos perceber é a reivindicação de uma EF inclusiva,  
mas sem se articular à concretude destas possibilidades, pois não rompe com a exclusão  
intrínseca ao capital, só a reforça ao longo de todas as formulações de diferentes formas, sendo  
construído estes documentos também por atores de interesses privados. Sendo assim, o discurso  
da inclusão nestas linhas, estão a serviço da ordem dominante, apesar de também serem  
elementos da pressão do movimento do real. A partir desses entendimentos, podemos afirmar  
que a EF é também parte de um projeto de classe e atua para sua consolidação, a nível mundial,  
sendo articulada e atualizada junto às demandas contemporâneas do capital.  
356  
Os objetivos de apresentação de crítica à atuação da aparelhagem estatal como  
garantidor das condições objetivas e subjetivas da dominação burguesa e\ou reprodução das  
relações sociais capitalistas não tem a pretensão de um vislumbre de uma sociedade sem formas  
coletivas de gestão da vida social. Como afirma Mészaros (2015) essa mais que necessária  
crítica ao Estado “não pode significar que passaremos a defender a transformação de nossa  
inevitável modalidade de reprodução social em algum tipo de comunidade utópica de vila  
utópica” (p. 89). Pensar no intercâmbio entre produtores livremente associados não é o mesmo  
que paraíso na Terra. Mais que do isso um prenúncio de um futuro, importa aqui reconhecer  
que a  
crítica radical ao Estado no capital em nossa época está diretamente  
relacionada ao seu- cada vez mais perigoso- fracasso histórico em cumprir  
suas funções corretivas vitais que são requisitadas pelo processo reprodutivo  
material antagônico. Como resultado, o agora Estado em falência (a dolorosa  
realidade de nosso tempo, a despeito de quantos trilhões endividados são  
despejados no buraco sem fundo do capital) pode apenas por em perigo o  
processo metabólico social geral, em vez de solucionar a crise (Mészáros,  
2015, p. 94).  
Libertas, Juiz de Fora, v. 24, n. 1, p. 340-358, jan./jun. 2024. ISSN 1980-8518  
VI MINEPS 2017: Esporte, Organismos Internacionais e Neoliberalismo  
Mais ainda, a reprodução das relações sociais capitalistas não tem predileção a priori  
por qualquer modalidade estatal ou adjetivo acerca de sua lógica de funcionamento. O processo  
histórico mostra que não há nenhuma barreira a priori entre desenvolvimento de relações sociais  
capitalistas e formas abertamente ditatoriais.  
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