DOI 10.34019/1980 - 8518.202 3 .v2 3 . 43067 IX Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 23, n. 2, p. IX - XIII, jul./dez. 2023. ISSN 1980 - 8518 Editorial Com a publicação desta edição, a Libertas apresenta o resultado do trabalho realizado pela comissão editorial atual. Com a permanência das professoras Isaura Aquino e Mônica Grossi, e do Técnico em Assuntos Educacionais Luciano Cardoso de Souza, a comissão posteriormente, chega ao seu formato atual com a vinda da professora Alexandra Eiras. Expressamos nosso reconhecimento ao trabalho realizado por Luciano Cardoso de Souza, sua postura sensível aos temas da r evista e por nos ter brindando com as fotos da capa e da contracapa, nas quais tivemos como "modelo" o nosso muito prezado técnico - administrativo em educação Lucas da Silva Simeão , figura histórica na Faculdade de Serviço Social e na militância sindical da UFJF. É com imensa alegria e satisfação que apresentamos mais um número da Libertas. Esta edição conta com o dossiê temático, a seção de temas livres, seguidos das seções entrevista e traduções, sendo finalizada com uma resenha de livro. O dossiê Estado, Democracia e Serviço Social reúne artigos que refletem sobre o contexto atual de profunda crise do capital, a relação entre Estado e Sociedade Civil, expressando os desafios para a sustentação da democracia em face da luta entre projetos sociais antagônicos e as contribuições da pro fissão de Serviço Social nos processos de resistência. Conta com doze artigos que discutem questões relacionadas ao Estado capitalista, às relações de poder, ao racismo, às desigualdades, à democracia, às disputas de projetos antagônicos, à questão da eman cipação humana, do associativismo e da educação popular. Conta ainda com análises relacionadas às condições de emergência do neofascismo no Brasil e, especificamente, sobre o governo Bolsonaro, ressaltando questões como a degradação dos direitos do trabalho e a crítica das políticas de emprego e renda. O artigo que abre o dossiê, "Estado capitalista e democracia: disputa de projetos políticos - ideológicos", de Paula Raquel da Silva Jales (UECE) e de Solange Maria Teixeira (UFPI) discute, a partir da crítica à democracia burguesa e dos processos de partici pação e de resistência, as contradições e sentidos da democracia, apontando seus usos restritivos e práticas de desmantelamento da participação deliberativa de um governo de direita, como o governo Bolsonaro.
Editorial Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 23, n. 2, p. IX - XIII, jul./dez. 2023. ISSN 1980 - 8518 X E d i t o r i a l Já o segundo texto, "Estado, capitalismo dependente e racismo no Brasil: considerações teórico - metodológicas", de Ana Paula Ornellas Mauriel (UFF), nos traz os temas do Estado e da dependência, tomando a categoria capitalismo dependente e a Questão Social. Parte do debate marxista do Estado, o caráter dependente dos Estados Latino - americanos, destacando as principais determinações econômico - sociais da realidade brasileira, na constituição do Estado e das formas de dominação, afirmando a centralidade do racismo na ação do Estado para a manutenção da dependência. O terceiro artigo, "Estado, Burocracia e Poder”, de Patrícia da Silva Coutinho (UFJF), completa o primeiro bloco de trabalhos dedicados à análise do Estado Capitalista destacando a obra de Charles Wright Mills. Em seu texto, a autora busca pôr em relev o os aportes de Mills sobre o poder, para a compreensão da organização social e da ideologia norte - americana. Os três artigos seguintes tratam da questão da democracia e das desigualdades, o problema da emancipação humana e da universalização da democracia como tarefa da revolução proletária. O artigo de Jairo de Carvalho Guimarães (UFPI) "Democracia com desigualdades: sinais de vulnerabilidade social em ambientes politicamente ideologizados" discute os sinais de vulnerabilidade social na realidade brasileira, principalmente no período da pande mia de COVID - 19, destacando as perdas de considerável parcela da população em relação à proteção social, diante de estruturas ideológicas implementadas por agentes políticos que detém o poder decisório. O texto "O problema da emancipação humana na obra de Marx de 1843 - 1844: atualidade e desafios", de João Paulo Galhardo Brun (UFJF) e de Luiza Miranda Furtuoso (UFJF) traz contribuições fundadas, especialmente, em três obras de Marx escritas entre 1843 e 1844 sobre o papel da emancipação humana como objetivo final da revolução proletária. Destaca - se a importância deste estudo na compreensão de questões atuais, como a luta pela democracia e a emancipação política, nas transformações necessárias em nossa sociedade, buscando contribuir na compreensão dos limites das lutas sociais contemporâneas. "A universalização da democracia como tarefa da revolução proletária: as lições de Marx e Engels", de autoria de Douglas Ribeiro Barbosa (UFF) busca explicitar que a ampliação e o aprofundamento da democracia nos âmbitos econômico e social se constituem co mo um projeto exclusivamente proletário. O autor afirma que o pensamento revolucionário de Marx e Engels se constitui de forma radicalmente democrática, baseados na crítica e na superação das restrições e limitações do poder do Estado a partir do pensament o liberal.
Editorial Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 23, n. 2, p. IX - XIII, jul./dez. 2023. ISSN 1980 - 8518 XI E d i t o r i a l Na sequência, o artigo “Associativismo migrante nas encruzilhadas da gestão das políticas sociais”, de autoria de João Ricardo Lemes e de Líria Maria Bettiol Lanza, ambos da UEL, “problematiza a relação entre o associativismo migrante e as tendências da g estão das políticas sociais, no contexto de reorganização do Estado sob os ditames do neoliberalismo”. Fundamentados em pesquisa bibliográfica e de campo junto a Associações de migrantes do Paraná, analisam as contradições e os limites dessas organizações. O artigo “Educação Popular no Brasil: uma sistematização de processos e experiências desenvolvidas nos anos 1940 a 1964”, dos autores Juliano Zancanelo Rezende e Maria Lúcia Duriguetto, ambos da UFJF, analisa as práticas e experiências de educação popular desenvolvidas no Brasil pelos Comitês Populares Democráticos (1945 - 1947), Universidade do Povo (1946 - 1957) e pelos Movimentos de Educação e Cultura Popular (1958 - 1964). Para os autores, a criação de práticas de educação e cultura popular e sua conversão pa ra perspectivas pedagógicas vinculadas aos anseios das classes subalternas, nesta conjuntura histórica, potencializam a construção da mobilização, organização e conscientização em torno da luta e defesa de direitos e de um processo de democratização do paí s. Os três últimos artigos do dossiê têm em comum a análise crítica do Governo Bolsonaro. O artigo de Liana França Dourado Barradas (UFPE) e de Gabriel Magalhães Beltrão (UFAL), “Condições para a emergência do neofascismo no Brasil: da crise política ao gover no Bolsonaro” discute o aprofundamento do neoliberalismo num contexto de crise do capital e o avanço da extrema direita em muitos países, com traços diversos de fascistização. Evidenciam uma afinidade eletiva entre o neoliberalismo e o neofascismo. Particu larizam no Brasil a crise política iniciada em 2013 e radicalizada em 2015, com a crise econômica que deflagrou o processo de fascistização. Além disso, analisam questões políticas que contribuiram para a eleição de Jair Bolsonaro. O artigo "Concepção de estado em Marx, degradação dos direitos do trabalho e o governo Bolsonaro”, de Laryssa Gabriella Gonçalves dos Santos (GEPEM/SE), busca refletir sobre a concepção de Estado em Marx e sobre a relação entre Estado e direitos trabalhis tas. Destaca no neoliberalismo e na reestruturação produtiva, a ampliação o processo de precarização do trabalho que, no Brasil, se expressa através de algumas normativas elaboradas no governo Bolsonaro para degradar ainda mais os direitos do trabalho. Encerrando o dossiê, o artigo “Políticas de emprego e renda do governo Bolsonaro: mãe hostil dos filhos do Brasil”, de Ednéia Alves de Oliveira e Monalisa Aparecida Santos, ambas da UFJF, apresenta as principais medidas adotadas pelo governo Bolsonaro para geração de emprego e renda, para minimizar as consequências da pandemia de covid - 19 e do
Editorial Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 23, n. 2, p. IX - XIII, jul./dez. 2023. ISSN 1980 - 8518 XII E d i t o r i a l aprofundamento da crise econômica pós retomada das atividades econômicas. Consideram a ineficácia das políticas implementadas durante e após a pandemia, tendo em conta o aumento da informalidade, do desemprego e da pobreza no país, refletindo a histórica p olítica residual, focalizada e pobre no trato da questão social. Na seção de fluxo contínuo, com temas livres, contamos com 4 artigos. O primeiro, “Conflitos socioambientais envolvendo água e mineração no Brasil: sujeitos políticos e suas lutas” de Maria das Graças e Silva (UFPE), Nailsa Maria Souza Araújo (UFSE) e Ped ro Gabriel Silva (Universidade de Trás - os - Montes e Alto Douro - Portugal) se dedica a identificar os principais conflitos e analisar as inter - relações entre mineração e água como partes do modelo de exploração de recursos naturais. Estes conflitos socioamb ientais destacam a posição histórica do país como produtor/exportador de commodities e afirmam uma realidade punjantemente conflitiva no país, com múltiplos sujeitos envolvidos. Na mesma linha de estudos ambientais, temos o artigo “Ruptura metabólica no capitalismo: a urgência do proletariado ambiental no enfrentamento à crise ecológica”, de Nicole Alves E. Pontes (UFPE), que busca evidenciar a destrutividade ambiental pelo capita lismo, partindo de uma pesquisa teórica e documental, que recupera contribuições de Marx, sobretudo no aprofundamento da categoria de ruptura metabólica. Embasada em dados de documentos e relatórios, busca situar esse debate na concreticidade, ao relaciona r e evidenciar problemáticas ambientais contemporâneas e as contribuições do que Foster (2020) denominou de “proletariado ambiental”. O terceiro artigo desta seção, intitulado “Serviço social e trabalho: mapeando o debate no âmbito do CBAS”, de Hiago Trindade (UFCG) e de Ana Beatriz Bandeira dos Santos (UFPE), se baseia em uma pesquisa de tipo quali - quantitativa, identificando e analisan do 113 artigos, publicizados no eixo “Trabalho, Questão Social e Serviço Social” do Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, realizado em 2019. Identifica os principais temas e discussões sobre o mundo do trabalho e sua relação com o Serviço Social, tr azendo apontamentos e desafios à continuidade desse debate na área. Fechando esta seção, o artigo “Depoimento de crianças e implicações da Lei 13.431/2017 no trabalho de assistentes sociais” de Rita de Cássia Pereira Farias e Mariana Costa Carvalho, professoras da UFV, traz um debate sobre depoimento especial de crianças e adolescentes vítimas ou testemunhas de situações de violência. A partir do relato de assistentes sociais que atuam nos serviços de assistência social de um município de médio porte da zona da mata mineira, realiza uma crítica aos retrocessos que a Lei 13. 431/2017 imprime para o
Editorial Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 23, n. 2, p. IX - XIII, jul./dez. 2023. ISSN 1980 - 8518 XIII E d i t o r i a l trabalho de assistentes sociais na escuta especializada de crianças e adolescentes. As próximas seções, que finalizam este número, comportam uma entrevista, uma tradução e uma resenha. A entrevista foi realizada pela professora Carina Berta Moljo com a professora Annamaria Campanini, atual presidente da Asociación Internacional de Escuelas de Trabajo Social - AIETS, abordando o histórico de constituição desta organização, suas relações com a Asociación Latinoamericana de Escuelas de Trabajo Social - ALAEITS, a situação do Serviço Social internacional e suas contribuições. Finalizamos a edição com a resenha do livro “O Serviço Social na previdência social brasileira: as ofensivas do capital e as resistências coletivas”, de autoria de Júlio César Lopes de Jesus, realizada por Arnaldo Fernandes Pinto Júnior (Faculdade Novos Horizontes) . Desejamos uma boa leitura. Mônica Aparecida Grossi Isaura Gomes de Carvalho Aquino Alexandra Aparecida Leite Toffanetto Seabra Eiras