Conflitos socioambientais envolvendo água e mineração no Brasil: sujeitos políticos e suas lutas
como constituintes das lutas, cinco deles conformam a pauta dos principais minérios produzidos
e exportados pelo Brasil: ouro, ferro, cobre, manganês e níquel.
As regiões Norte e Nordeste, com suas particularidades, foram e continuam sendo
fortemente castigadas pelas mazelas da exploração capitalista das riquezas naturais. O avanço
atual do capitalismo nestas regiões está marcado pela instalação de grandes empreendimentos
que provocam alteração na dinâmica de vida das populações inseridas nesses territórios.
Especialmente a partir dos anos 1990, com as gestões psdbistas, enfatiza-se o lugar do Brasil
como país de grande potencial agro e minero-exportador na divisão internacional do trabalho,
como parte daquelas estratégias, resgatadas anteriormente, de acumulação por despossessão.
Essa tendência atualiza o imperialismo traduzido pelo agronegócio e pela megamineração, duas
das principais atividades econômicas brasileiras da atualidade, tendência que aprofunda as
velhas relações de dominação e exploração colonizadoras da força de trabalho e os usos
perdulários dos recursos naturais.
Esta tendência também se aplica à água e explica que os conflitos que a envolvem
tenham como atividades deflagradoras os megaempreendimentos governamentais (26,3%), o
agronegócio (18,4%) e a mineração, que comparece com 14,4%. A essas atividades seguem-se:
especulação imobiliária, madeireira e turismo. No tocante aos megaempreendimentos
governamentais prevalecem as usinas hidrelétricas para produção de energia, as barragens, com
vistas à agricultura de irrigação, obras de infraestrutura em geral, a construção ou ampliação de
Complexos Industriais e Portuários e terminais marítimos, além dos Programas de Cooperação
Internacional, a exemplo do Programa de Cooperação Nipo-Brasileiro para o Desenvolvimento
Agrícola dos Cerrados (PRODECER)6 e o MATOPIBA7.
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Quando se destaca a temporalidade dos conflitos, nota-se que o surgimento da maioria
destes concentra-se na última década do século XX e primeiras décadas do século XXI, tanto
naqueles relativos à água quanto aos minérios. Nos conflitos por água, é possível observar a
sua distribuição temporal: são da primeira década do século atual o surgimento da maioria dos
conflitos em análise (18 conflitos), sendo encontrados apenas 2 (dois) na década seguinte. Os
6 Para efeitos teóricos neste trabalho, sujeitos políticos são aqueles afetados pelas atividades produtivas, seja por
meio de empreendimentos privados e/ou estatais e que se lançam numa miríade de formas de contestação aos
impactos destas atividades sobre seus modos de vida e trabalho.
7 No que diz respeito às pautas em presença destaca-se que 14,8% referem-se à questão fundiária, mais diretamente
a demarcação e regularização de terras. Segue-se um conjunto de reivindicações voltadas ao uso e controle das
águas: proteção dos rios e das águas (9,8%), saneamento básico (7,4%), contra a construção de hidrelétricas
(7,4%), contra a poluição por curtumes e pela mineração (2,4%), contra o assoreamento (1,2%), pela revitalização
das águas poluídas (1,2%) e paralisação imediata da atividade poluente (1,2%).Ainda tem-se a exigência de
cumprimento de política pública (9,88%), genericamente e, em particular, a defesa de serviços de saúde aparece
com 4,9%. Por fim, constata-se a exigência de indenizações (7,4%) e de punição às empresas (2,4%).
Posicionamento contrário ao agronegócio e à mineração marcam 4,9%.
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 23, n. 2, p. 521-538, jul./dez. 2023. ISSN 1980-8518