DOI 10.34019/1980-8518.2021.v23.42522  
– Tradução –  
A crítica ecológica marxista de Henri Lefebvre:  
recuperando uma contribuição fundamental para a  
sociologia ambiental*  
John Bellamy Foster  
Brian M. Napoletano  
Brett Clark  
Pedro S. Urquijo  
Resumo  
Henri Lefebvre, sociólogo marxista francês, foi um dos principais teóricos sociais do século XX, famoso  
por suas críticas à vida cotidiana, à revolução urbana e à produção do espaço. Nesse artigo,  
argumentamos que seus trabalhos mais maduros abrangeram também uma teoria da crise ecológica,  
baseando-se diretamente na teoria da ruptura metabólica de Marx. Nessa concepção, a dialética da  
natureza e da sociedade estava sujeita à acumulação capitalista alienada, dando origem a rupturas  
metabólicas, crises históricas e novos momentos históricos de práxis revolucionária voltados para a  
metamorfose da vida cotidiana. Assim, Lefebvre, em sua contribuição para a sociologia ambiental, é um  
dos pensadores fundamentais, cuja rica análise teórica oferece a possibilidade de uma síntese social e  
ecológica mais ampla.  
Palavras-chave  
Henri Lefebvre; Karl Marx; Dialética da natureza; Ruptura metabólica; Crise ecológica; Crítica da vida  
cotidiana; Marxismo ocidental.  
Henri Lefebvre é hoje amplamente reconhecido como um dos principais sociólogos,  
filósofos e geógrafos do mundo no período pós-Segunda Guerra Mundial. Na França, sua  
reputação como um dos principais colaboradores do pensamento marxista o coloca ao lado de  
personalidades como Jean-Paul Sartre e Louis Althusser. Lefebvre também foi um dos grandes  
sociólogos ambientais do final do século XX, cujo trabalho a esse respeito e sua integração com  
o que ele chamou de “a crítica da vida cotidiana” (Lefebvre, 2014a) e “a produção do espaço”  
(Lefebvre, [1974] 1991) são fundamentais para a compreensão da dialética natureza-sociedade  
em nosso tempo. Até agora, entretanto, esse aspecto do pensamento de Lefebvre, característico  
de todas as suas obras maduras, tem sido amplamente negligenciado.1  
* Henri Lefebvre’s Marxian ecological critique: recovering a foundational contribution to environmental sociology.  
Texto publicado originalmente em: Environmental Sociology, v. 6, n. 1, issue 1, p. 31–41, 2020. DOI:  
<https://doi.org/10.1080/23251042.2019.1670892. Tradução por Lígia Cabral Caruso Rufino.  
Revista Libertas, Juiz de Fora, 23, n. 2, p. 604-626, jul./dez. 2023. ISSN 1980-8518  
A crítica ecológica marxista de Henri Lefebvre: recuperando uma contribuição fundamental para a  
sociologia ambiental  
Lefebvre recebeu seu Diplôme d'études supérieures em filosofia na Sorbonne em 1919,  
aos dezoito anos de idade (Shields, 1999, p. 11). Se filiou ao Partido Comunista Francês (PCF)  
em 1929 e participou da Resistência Francesa durante a Segunda Guerra Mundial. Na iminência  
da guerra, publicou o ainda altamente respeitado Materialismo Dialético (Lefebvre, [1939]  
1968a), que desafiava as interpretações rígidas e mecanicistas do materialismo dialético que  
então constituíam a doutrina oficial soviética. Como disse Anderson (1976a, p. 51), o  
Materialismo Dialético de Lefebvre foi “o primeiro trabalho teórico importante a promover  
uma nova reconstrução da obra de Marx como um todo à luz dos Manuscritos de 1844”. Em  
1957-1958, Lefebvre foi suspenso e depois expulso (ou renunciou; ver Kolakowski e Lefebvre,  
1974, p. 209-211) do PCF em um conflito sobre o stalinismo (Elden, 2016, xii; Shields, 1999,  
p. 87). No entanto, ele continuou sendo um intelectual marxista dedicado.  
Em 1947, ele publicou o primeiro volume e, em 1962, o segundo volume (o terceiro foi  
publicado em 1981) de sua enorme Crítica da vida cotidiana (Lefebvre, 2014a). Essa obra  
ajudou a inaugurar os estudos culturais e foi o cerne da visão geral de Lefebvre (Elden, 2004,  
p. 110-120). Alcançou o cargo de professor de sociologia na Universidade de Estrasburgo em  
1961 e foi nomeado professor na recém-criada Universidade de Nanterre, em Paris, em 1965,  
onde atuou como presidente do departamento de sociologia. Foi em Nanterre que Lefebvre  
(1968c) emergiu como um dos mais formidáveis intelectuais marxistas franceses no centro dos  
acontecimentos de maio de 1968.  
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Evitando tanto o estruturalismo de Althusser quanto o existencialismo de Sartre e  
criticando a Escola de Frankfurt, incluindo Max Horkheimer, Theodor Adorno e Herbert  
Marcuse, Lefebvre ([1965] 2016a) gerou uma “metafilosofia” altamente original, com base em  
G. W. F. Hegel, Karl Marx e Friedrich Nietzsche (Lefebvre, 2003a, p. 31-36). Seus trabalhos  
posteriores foram direcionados especialmente para o desenvolvimento de uma análise dos  
grandes campos espaço-temporais para sua crítica da vida cotidiana, analisando “a produção do  
espaço” (Lefebvre, [1974] 1991), “ritmanálise” (ou a temporalidade do espaço [Lefebvre,  
2013]), “a revolução urbana” (Lefebvre, [1970] 2003b) e a tendência à “urbanização planetária”  
(Lefebvre, 2014b). Lefebvre manteve uma concepção clara da interpenetração contraditória da  
natureza e da sociedade, incorporando um profundo entendimento da teoria da ruptura  
metabólica de Marx, que ele empregou como um tropo filosófico em seus escritos posteriores.  
É a “promiscuidade disciplinar” de Lefebvre, sua preocupação com as “escalas espaciais e  
temporais” e sua insistência de que a sociedade não “transcendeu totalmente suas raízes  
ecológicas” (Lockie, 2015), juntamente com seu marxismo aberto, dialético e revolucionário,  
que tornam sua obra tão importante para o desenvolvimento da sociologia ambiental atual.  
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John Bellamy Foster; Brian M. Napoletano; Brett Clark; Pedro S. Urquijo  
Dialética e a natureza: a guinada de Lefebvre  
Há pouco mais de um quarto de século, o geógrafo marxista Peet (1991, p. 178) escreveu  
que “o marxismo tem pouco a dizer sobre as relações com a natureza”. Hoje em dia, essa  
declaração com relação à história do pensamento marxista sobre o meio ambiente, embora  
bastante comum em sua época, seria pouco compreensível. Isso se deve ao fato de que agora  
sabemos muito mais sobre as discussões detalhadas de Marx e Frederick Engels sobre a  
natureza e a ecologia principalmente sobre a teoria da ruptura metabólica de Marx (Burkett,  
2014; Foster, 2000; Malm, 2016; Saito, 2017; Slater, 2019; Weston, 2015). Com a recente  
publicação dos enormes cadernos ecológicos/agrícolas de Marx e Engels (Marx e Engels, 2019;  
Saito, 2017), a profunda natureza crítica de suas pesquisas sobre a dialética da natureza e da  
sociedade agora está disponível para todos.  
Hoje também sabemos mais devido às recentes investigações críticas (por exemplo,  
Foster e Burkett, 2016; Foster, Clark e York, 2010; Longo, Clausen e Clark, 2015; MacDonald,  
2004; Wallace, 2016; York e Clark, 2011) sobre as contribuições ecológicas dos pensadores  
socialistas, de Morris ([1890] 2003), Bernal (1949) e Haldane (1939) a Gould (1977), Williams  
(1980) e Levins e Lewontin (1985). O livro de Schmidt ([1962] 1971), O conceito de natureza  
em Marx, foi escrito no mesmo ano em que Rachel Carson escreveu Primavera Silenciosa. Os  
pensadores neomarxianos Anderson (1976b) e Schnaiberg (1980) ajudaram de forma crucial a  
estabelecer as bases da sociologia ambiental como disciplina. A New Left Review publicou  
escritos pioneiros sobre ecossocialismo na década de 1980 por Benton (1996) e Grundmann  
(1991). Ao contrário do que Peet pensava, hoje está claro que o marxismo sempre teve muito a  
dizer sobre as relações com a natureza.  
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No entanto, a declaração de Peet é perfeitamente compreensível quando vista em seu  
próprio contexto histórico e teórico. Desde a famosa nota de rodapé de Lukács ([1922] 1971,  
p. 24) sobre Engels em História e consciência de classe, a rejeição da dialética da natureza tem  
sido uma proposição determinante do que veio a ser conhecido como “marxismo ocidental”,  
entendido como uma tradição filosófica específica (Bhaskar, 2011, p. 122-24; Jacoby, 1981,  
1983; Jameson, 2009, p. 6-7; Jay, 1973, p. 267-73). Assim, o abismo neokantiano entre natureza  
e sociedade justificando um abismo dentro do próprio pensamento foi replicado no  
marxismo ocidental, de modo que o raciocínio dialético era visto como restrito à sociedade e às  
ciências humanas (o domínio do círculo hermenêutico), enquanto as ciências naturais eram  
frequentemente percebidas como inevitavelmente mecanicistas/positivistas (veja Ilyenkov,  
2008, p. 289-319). Essa concepção, característica do marxismo ocidental, como uma tradição  
filosófica definida, representou uma ruptura com a maior parte do pensamento marxista, não  
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sociologia ambiental  
apenas o da Terceira Internacional, mas também o da Primeira e o da Segunda Internacional  
(Bhaskar, 2011, p. 122-24; Sheehan, 1985; Stanley, 2002).2  
Na União Soviética, uma versão oficial do materialismo dialético surgiu em meados da  
década de 1930 sob o comando de Joseph Stalin, que foi reduzido a uma variante do  
materialismo mecânico ou positivismo. Vários dos principais pensadores ecológicos da URSS,  
inclusive Nikolai Bukharin, N.I. Vavilov, Boris Hessen e B. Zavadovsky, foram vítimas dos  
expurgos de Stalin (Foster, 2015). Influenciados pelo crescimento do neokantismo e reagindo  
negativamente ao marxismo oficial, os filósofos “marxistas ocidentais” rejeitaram a dialética  
da natureza proposta por Engels e outros.3 Frequentemente, a ideia de o marxismo ter qualquer  
relação com as ciências naturais era simplesmente negada, chegando ao ponto de efetivamente  
apagar esses elementos do materialismo histórico clássico de Marx e Engels. Anderson (1983,  
p. 83) chegou ao ponto de afirmar em seu Considerações sobre o marxismo ocidental: nas  
Trilhas do Materialismo Histórico apesar das enormes evidências em contrário – que “os  
problemas da interação da espécie humana com seu ambiente terrestre [eram] essencialmente  
ausentes do marxismo clássico”.  
Cientistas naturais mundialmente famosos que haviam adotado uma perspectiva  
materialista dialética, como Bernal e Haldane, foram sumariamente descartados pelos  
“marxistas ocidentais” como “stalinistas”, a ponto de algumas das contribuições mais influentes  
para o pensamento marxiano (e para a ciência materialista) nas décadas de 1930 e 1940 terem  
sido deixadas de lado e esquecidas. Até mesmo os intensos debates na França entre o marxismo  
existencialista de Sartre e o marxismo estruturalista de Althusser raramente discutiam a  
dialética da natureza, menosprezada por ambos os lados (Anderson, 1976a, p. 60).  
Os teóricos da Escola de Frankfurt há muito tempo questionavam a noção de “dominação  
da natureza”, como o tropo central da ciência decorrente do Iluminismo. Desse ponto de vista,  
o caráter repressivo da ciência e da tecnologia era visto como a chave para as relações sociais  
repressivas em geral (Marcuse, 1964). Schmidt, em O conceito de natureza em Marx, seguindo  
Horkheimer e Adorno ([1944] 1972), rejeitou tanto o conceito de dominação da natureza do  
Iluminismo quanto o conceito de dialética da natureza do marxismo ortodoxo. Na visão de  
Schmidt, a visão pessimista de Horkheimer e Adorno triunfou sobre essa de Marx. “Devemos  
nos perguntar”, afirmou retoricamente Schmidt ([1962] 1971, p. 156; ver também Jay, 1973, p.  
259, p. 347)  
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se a sociedade futura [o socialismo] não será uma máquina gigantesca, se a  
profecia de Dialektik der Aufläurng [Dialética do Esclarecimento, de  
Horkheimer e Adorno] não será cumprida em vez do sonho do jovem Marx de  
uma humanização da natureza, que ao mesmo tempo incluiria a naturalização  
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do homem.  
De acordo com Lefebvre (1976a, p. 114-15), a obra A ideologia da sociedade industrial  
(1964) era um exemplo do fatalismo tecnológico que caracterizava a Escola de Frankfurt como  
um todo, compartilhando algumas das mesmas deficiências ainda que de forma inversa que  
haviam atormentado o marxismo oficial. Foi se afastando dessas várias posições unilaterais  
insustentáveis e retornando à própria dialética materialista de Marx e Engels que Lefebvre  
procurou construir uma abordagem diferente, totalmente aberta à crítica ecológica que surgiu  
no final do século XX. Assim, em seu Materialismo Dialético, ele argumentou em oposição  
ao paradigma do “marxismo ocidental”, por um lado, e ao marxismo soviético oficial, por outro  
que  
É perfeitamente possível aceitar e sustentar a tese da dialética na Natureza; o  
que é inadmissível é atribuir-lhe uma importância tão grande [como era então  
o caso na doutrina soviética] e fazer dela o critério e a base do pensamento  
dialético. (Lefebvre, [1939] 1968a, p. 16)  
Da mesma forma, em Metafilosofia, Lefebvre ([1965] 2016a, p. 77) criticou duramente  
Sartre, argumentando que  
Como Sartre quer evitar uma filosofia sistematizada da natureza (dialética da  
natureza), mas ainda pensa em termos de sistematização filosófica, ele acaba  
pura e simplesmente apagando a existência da natureza. Ela não tem lugar em  
sua filosofia... A natureza se manifesta, de acordo com sua razão dialética,  
como o setor ontológico da antidialética: o inerte, o prático-inerte.  
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Lefebvre ([1939] 1968a, p. 116) seguiria o jovem Marx ([1844] 1974, p. 390) ao insistir  
que os seres humanos eram seres objetivos que encontravam a base de sua existência fora de si  
mesmos. Ele se opôs explicitamente àqueles que viam os seres humanos como isentos da  
natureza e àqueles que subsumiam as leis da natureza às da sociedade. A natureza representava  
“um imenso setor fora do controle do homem (...) O setor não controlado ainda inclui,  
infelizmente, quase toda a vida natural e biológica do homem, quase toda a sua vida psicológica  
e social” (Lefebvre, [1939] 1968a, p. 137).  
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O que os seres humanos, no entanto, criaram por meio de sua produção foi um novo  
reino emergente, relativamente independente da natureza, operando sob suas próprias leis  
sociais que não eram redutíveis à physis ou à primeira natureza. “Necessidade”, escreveu  
Lefebvre ([1966] 1968b, p. 41) em Sociologia de Marx,  
é ao mesmo tempo um ato ou atividade e um relacionamento complexo com  
a natureza, com outros seres humanos e com objetos. Por meio de seu próprio  
trabalho, o homem controla a natureza e se apropria dela em parte. O trabalho  
não é uma atividade natural; ele é até mesmo “antinatural” em dois sentidos:  
como trabalho, ele exige esforço e disciplina e modifica a natureza tanto  
externa quanto internamente. O trabalho se torna uma necessidade. Os  
sentidos se desenvolvem e são refinados no trabalho e por meio dele. As  
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sociologia ambiental  
necessidades mudam e se tornam mais sofisticadas, pois o trabalho as  
modifica ao produzir novos bens ou posses. Assim, o homem emerge da  
natureza e, ainda assim, permanece incapaz de romper com ela.5  
Baseando-se explicitamente na análise dialética da emergência, fornecida pelo  
matemático e cientista marxista escocês Hyman Levy (1938) em seu A Philosophy for a Modern  
Man, Lefebvre ([1939] 1968a, p. 142) insistiu que  
O mundo do homem, portanto, aparece como feito de emergências, de formas  
(no sentido plástico da palavra) e de ritmos que nascem na Natureza e se  
consolidam nela relativamente, mesmo que pressuponham o devir na  
Natureza. Há um espaço humano e um tempo humano, um lado que está na  
Natureza e o outro lado que é independente dela.  
Foi essa visão complexa, materialista e dialética da natureza, incorporando o conceito de  
emergência e alinhada com a ciência moderna, bem como com a própria filosofia materialista  
de Marx, que serviu de base para as explorações posteriores de Lefebvre sobre espaço, tempo,  
ruptura ecológica e sua crítica da vida cotidiana. Isso também torna a análise de Lefebvre  
compatível com a ecologia dialética crítica dentro da ciência natural (por exemplo, Levins e  
Lewontin, 1985). Sem rejeitar a dialética da natureza nem reduzir a sociedade a ela, mas  
insistindo em uma coevolução dinâmica e interdependente da natureza-sociedade, completa  
com níveis emergentes, Lefebvre desenvolveu uma estrutura analítica que lhe permitiu abordar  
os dilemas ecológicos modernos à medida que surgiam, com base em uma compreensão da  
crítica clássica de Marx e Engels. Isso também forneceu ao seu pensamento ambiental uma  
relação concreta com a ciência natural crítica, que se tornou cada vez mais dialética ao lidar  
com questões integrativas da ecologia e da ciência do sistema terrestre. Essa era uma relação  
com a ciência natural que faltava em grande parte do marxismo ocidental, que deliberadamente  
confinou a dialética marxiana às ciências sociais e humanas a dominação do sujeito-objeto  
idêntico.  
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Para Lefebvre ([1962] 2011, p. 138, p. 143), a natureza, além do reino humano  
emergente, foi definida em termos dialéticos como uma “ausência” (ver também Bhaskar, 1993,  
p. 152, p. 393), ou como physis (utilizando o termo grego antigo), representando o poder  
elementar, que nunca poderia ser totalmente superado. Essa ausência significava que a  
natureza, no sentido de physis (o reino intransitivo [Bhaskar 1993, p. 399-400]), só poderia ser  
conhecida, epistemologicamente, indiretamente por meio de sinais (Lefebvre, [1962] 2011, p.  
139) no contexto da práxis humana. Assim, a humanidade se deparou com uma dialética  
permanente de primeira e segunda natureza, mediada pela práxis:  
Em toda a sua obra [de Marx], o trabalho, a indústria e a tecnologia agem  
como mediadores entre o homem, tal como ele é enquadrado por si mesmo, e  
a natureza que ele controla. Essas mediações começam a criar um “mundo  
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humano” e uma “natureza humana” que é humanizada, subordinada, e  
integrada ao humano – em uma palavra, apropriada. (Lefebvre [1962] 2011,  
p. 142)  
No entanto, Lefebvre defende que as contradições reais e materiais entre a sociedade e a  
physis permaneciam. A ciência e a sociedade ocidentais surgiram com o conceito de domínio  
da natureza como sua premissa. Nenhum pensador havia sido mais crítico do que Engels  
([1874-80] 1940, p. 291-295) e Marx em relação à ilusão da “conquista da natureza” e  
consciente da necessidade de superar a alienação da natureza. “Marx estava sozinho”, enfatizou  
Lefebvre ([1965] 2016a, p. 293), “ao proclamar uma reconciliação entre o homem e a natureza”.  
Com as conquistas da era industrial, a sociedade humana tinha o potencial de forjar uma  
“relação com a natureza [que] não seria instrumental, mas de co-substancialidade e co-  
pertencimento”. Essa reconciliação era necessária por causa da “ruptura” que o capitalismo  
criou na natureza (physis), minando destrutivamente a base material da própria sociedade.  
A crítica ecológica de Lefebvre surgiu inicialmente no contexto das lutas lideradas por  
cientistas nas décadas de 1950 e 1960 contra a radiação nuclear e a ameaça de destruição nuclear  
da Terra (Lefebvre, [1968] 1996, p. 149). No entanto, a noção de destruição planetária em sua  
análise foi gradualmente ampliada para abranger os efeitos da poluição global e a destruição do  
ambiente natural de forma mais geral. Já na década de 1960 e no início da década de 1970, ele  
estava levantando a questão do desenvolvimento versus crescimento (Lefebvre, 1976a, p. 102-  
119). No segundo volume de Crítica da Vida Cotidiana, Lefebvre (2014a, p. 622) fez a  
distinção entre sociedades “acumulativas (prometeicas)” e não acumulativas. Para ele, Marx  
estava do lado das últimas, mas em um nível mais alto, transcendendo a acumulação, a fim de  
alcançar uma reconciliação com a terra. Surpreendentemente, Lefebvre ([1970] 2003b, p. 26)  
escreveu há cerca de meio século em A Revolução Urbana:  
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A industrialização e a urbanização, juntas ou em concorrência, devastam a  
natureza. A água, a terra, o ar, o fogo – os elementos – estão ameaçados de  
destruição. Até o ano 2000, com ou sem guerra nuclear, nossa água e nosso ar  
estarão tão poluídos que será difícil manter a vida na Terra.  
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Nesse ponto, Lefebvre foi claramente presciente. Foi em 1992, não muito tempo depois  
de sua morte, que ocorreu a primeira Cúpula da Terra, com foco na ameaça que o aquecimento  
global provocado pelas emissões antropogênicas de carbono e também a ultrapassagem de  
outros limites planetários representavam para a Terra como um local humanamente habitável.  
Esse ano também foi marcado pela introdução do Protocolo de Kyoto. No entanto, 10 anos  
depois, em 2002, na época da segunda Cúpula da Terra, ou Cúpula Mundial sobre  
Desenvolvimento Sustentável, já estava ficando claro que as nações capitalistas ricas estavam  
se afastando de qualquer compromisso firme para lidar com as mudanças climáticas e outros  
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A crítica ecológica marxista de Henri Lefebvre: recuperando uma contribuição fundamental para a  
sociologia ambiental  
perigos ecológicos globais (Foster, 1994, 2002, p. 9-25, 2009, p. 129-140). O resultado foi que  
o mundo entrou no novo milênio com uma espada de Dâmocles pendurada sobre sua cabeça.  
Em menos de duas décadas do século XXI, a comunidade científica mundial já estava se  
preparando para a mudança climática.  
O consenso é que, se tudo continuar como está, a humanidade está caminhando para um  
desastre ecológico planetário quase inimaginável, incluindo a maior extinção em massa de  
espécies em 65 milhões de anos (Ceballos, Ehrlich e Dirzo, 2017; Painel Intergovernamental  
sobre Mudanças Climáticas, 2018).  
No entanto, se a natureza dialética abrangente do tratamento de Lefebvre da natureza-  
sociedade é evidente em todo o seu pensamento, foi somente com a adoção de elementos da  
teoria da ruptura metabólica de Marx que ele conseguiu integrar totalmente sua crítica ecológica  
à sua crítica da vida cotidiana.  
Lefebvre e a ruptura metabólica  
Após a publicação de Os Limites do Crescimento do Clube de Roma (Meadows et al.,  
1972), o problema ecológico surgiu como uma preocupação proeminente no trabalho de  
Lefebvre. Naquele ano, ele escreveu O pensamento marxista e a cidade (Lefebvre, [1972]  
2016b), que representou um salto significativo em sua crítica ecológica. Nesse trabalho,  
Lefebvre se concentrou nos escritos clássicos de Marx e Engels sobre a cidade, começando com  
a obra de Engels ([1845] 1993) A situação da classe trabalhadora na Inglaterra, continuando  
com a obra de Engels ([1872] 1975) Sobre a questão da moradia, e terminando com a obra de  
Marx ([1867] 1976), O Capital. No capítulo sobre A questão da moradia, Lefebvre ([1972]  
2016b, p. 98) se baseou na discussão de Engels sobre a análise de Justus von Liebig acerca dos  
efeitos da oposição cidade-campo no ciclo de nutrientes. Ele escreveu que Engels “nos lembra  
que as condições reais [dessa conjuntura] impedem (em vez de simplesmente dificultarem) a  
superação da oposição [cidade-campo]”. De acordo com Engels ([1872] 1975, p. 92) como  
Lefebvre ([1972] 2016b, p. 98) observou –  
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todos os dias, Londres descarta, com grande custo, mais fertilizante natural do  
que a Saxônia produz, de modo que um ilustre sábio chamado Liebig pede que  
o homem devolva à terra o que retira dela.  
Esse entendimento tornou-se então na argumentação de Engels, conforme relatado por  
Lefebvre ([1972] 2016b, p. 98) – a base para um “utopismo revolucionário” no qual a supressão  
da oposição entre cidade e campo não é mais uma utopia (abstrata) do que a supressão do  
antagonismo entre capital e salários. De fato, ela se torna cada vez mais uma “necessidade  
prática” (Engels, [1872] 1975, p. 92), apontando desde o capitalismo para o socialismo. Essa  
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análise, com certeza, atualmente é reconhecida como uma representação do problema da ruptura  
metabólica, abordada de forma mais completa por Marx.  
No capítulo seguinte sobre “Capital e propriedade da terra”, Lefebvre ([1972] 2016b, p.  
121) voltou-se para a análise de Marx sobre a própria ruptura metabólica, explicando que os  
novos desenvolvimentos urbanos representam o roubo do solo e dos trabalhadores, de tal forma  
“que perturba as trocas orgânicas (metabolismo) entre o homem e a natureza”. Lefebvre citou  
favoravelmente a afirmação de Marx ([1867] 1976, p. 637-638) “de que o metabolismo [da  
humanidade e da terra], que se originou de forma meramente natural e espontânea”, estava  
sendo rompido pelo capitalismo, exigindo sua “restauração como lei reguladora da produção  
social”. Isso significa, sugeriu Lefebvre, que o capitalismo tem “seu lado negativo, que o  
empurra para frente, mas tende à destruição e à autodestruição. O capital destrói a natureza e  
arruína suas próprias condições, preparando e anunciando seu desaparecimento revolucionário”  
(Lefebvre, [1972] 2016b, p. 122; veja também Elden, 2004, p. 133). Na crítica de Marx, como  
observou Lefebvre ([1972] 2016b, p. 134), “o cordão umbilical que ligava a sociedade à  
natureza foi gravemente cortado”. A “conexão metabólica havia acabado” com o surgimento  
da cidade industrial, “mas a troca vital entre a comunidade e a terra não foi substituída por uma  
regulamentação racional”. Em vez disso, as relações de propriedade capitalistas subordinaram  
a terra ao mercado, convertendo o antigo cordão umbilical em “uma corda, um cordão duro e  
seco” como a “restrição final” ao desenvolvimento da comunidade. Portanto, para Lefebvre  
([1972] 2016b, p. 149), as implicações da teoria de Marx da ruptura metabólica foram  
profundas:  
612  
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O domínio sobre a natureza, associado à tecnologia e ao crescimento das  
forças produtivas, e sujeito às demandas de lucro (mais-valia), culminou na  
destruição da natureza. O fluxo de troca orgânica [metabolismo] entre a  
sociedade e a terra, um fluxo cuja importância Marx apontou em sua discussão  
sobre a cidade, está, se não quebrado, pelo menos perigosamente modificado.  
Com o risco de resultados graves e até catastróficos. Podemos muito bem  
perguntar se a destruição da natureza não é uma parte “integral” da  
autodestruição da sociedade, uma volta contra si mesma, enquanto mantém o  
modo de produção capitalista, suas forças e seu poder.  
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Embora o próprio Lefebvre não tenha explorado concretamente a ciência ecológica em  
nenhuma medida, o significado geral da noção de Marx da ruptura metabólica foi incorporado  
ao seu pensamento como um princípio dialético geral, com repetidas referências à destruição  
da natureza, rupturas dos ciclos naturais, quebra da simbiose entre natureza e sociedade e a  
catástrofe das relações entre natureza e sociedade. As alusões a crises ecológicas nesse sentido  
foram um tema subjacente, aparecendo com frequência em todos os seus trabalhos posteriores.  
Assim, na conclusão de Crítica da Vida Cotidiana, Lefebvre (2014a, p. 838) argumentou que  
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A crítica ecológica marxista de Henri Lefebvre: recuperando uma contribuição fundamental para a  
sociologia ambiental  
a segunda natureza alienada promovida pelo capitalismo corre o “risco de destruir a primeira  
natureza e cortar o vínculo nutritivo cada vez mais frágil que liga as duas”, ou seja, o  
metabolismo da natureza e da sociedade. Em seu magistral A produção do Espaço (The  
Production of Space), Lefebvre ([1974] 1991, p. 326) observou que “a simbiose – no sentido  
de energias e materiais entre a natureza e a sociedade passou recentemente por uma  
modificação, sem dúvida até o ponto de ruptura”. Em seus escritos sobre o Estado, ele abordou  
o “espaço da catástrofe” associado a várias “rupturas” que englobam “as ruínas, o caos, o  
desperdício, a poluição (que eventualmente causa a morte dos mares, o Mediterrâneo, por  
exemplo, e até mesmo o Oceano Atlântico!)” (Lefebvre, 2009, p. 250-251). Assim, Lefebvre  
reconheceu desde o início que, na concepção marxiana central, a crise ecológica era  
caracterizada principalmente pela “ruptura” dos ciclos naturais, biogeoquímicos e do ambiente  
planetário como um todo (Tsuru, 1970, p. 325).  
Na concepção de Marx, de acordo com Lefebvre (2014a, p. 92), o esforço humano para  
dominar a natureza foi sistematizado e ampliado sob o capitalismo de maneiras que levaram à  
totalização da alienação e da destruição, resultando na “degradação recíproca” tanto da natureza  
quanto da sociedade – também se manifestando como “fragmentação, dispersão, externalização  
e exclusão” em relação aos reinos natural (physis) e social. A humanidade era “um ser que  
emergia da natureza e dominava a natureza”, mas de tal forma que “suas raízes se aprofundavam  
cada vez mais”, resultando em uma “dilaceração”. Portanto, “no crescente controle que o  
homem tem sobre a natureza, a natureza como tal mantém o controle sobre o homem”. O  
resultado desse desenvolvimento capitalista cego, no qual “as coisas progridem (...) com seu  
lado ruim à frente”, é a extensão, e não a superação, das “contradições da natureza” (Lefebvre,  
2014a, p. 92-93).  
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Com base na concepção de crise ecológica que ele descobriu em Marx, Lefebvre também  
criticou fortemente o que era então a interpretação dominante de que Marx havia avançado em  
uma abordagem prometeica ou produtivista do meio ambiente (Benton, 1989). Lefebvre ([1972]  
2016b, p. 125) argumentou, em vez disso, que Marx havia rejeitado de forma deliberada o  
“produtivismo” de Adam Smith. Em vez de promover uma abordagem prometeica ou  
acumulativa do desenvolvimento, “Marx”, argumentou Lefebvre (2014a, p. 618, p. 622),  
“estava preocupado não tanto em transformar o mundo exterior, mas em metamorfosear a vida  
cotidiana”.  
Lefebvre ([1972] 2016b, p. 131, [1962] 2011, p. 138, p. 143) encapsulou a crítica  
ecológica de Marx, incluindo sua ênfase na sustentabilidade, da seguinte forma:  
A organização racional da produção inclui trocas orgânicas [metabólicas]  
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John Bellamy Foster; Brian M. Napoletano; Brett Clark; Pedro S. Urquijo  
entre a sociedade e a natureza, trocas de matérias-primas e energia que apoiam  
a troca de bens materiais dentro da sociedade. No entanto, nosso autor [Marx]  
sabe que, dada a exploração implacável de todas as fontes de riqueza pelo  
capitalismo, a própria natureza está ameaçada. A regulamentação das trocas  
orgânicas deve se tornar uma “lei regente” da nova sociedade.6  
O rolo compressor capitalista, se for permitido que prossiga sem ser derrotado, levará,  
portanto, a uma catástrofe ecológica. Isso foi destacado no livro final de Lefebvre (2013, p. 62-  
65), Elementos de Ritmanálise e Outros Ensaios Sobre Temporalidades, onde ele argumentou  
que o regime do capital exibe “um desprezo pela vida (...) Ele mata a natureza. Mata a cidade”,  
ameaçando a vida natural e social cotidiana, ciclos e ritmos. Ela representa uma “capacidade  
destrutiva que chega ao seu auge e é elevada à escala mundial”.  
Por trás do entendimento de Lefebvre sobre a ruptura metabólica estava uma profunda  
apreciação da estrutura da crítica de Marx à economia política. Assim, seguindo o exemplo de  
Marx, Lefebvre apontou para a contradição intransponível entre os valores de uso de materiais  
naturais e os valores de troca mercantilizados, aos quais as crises econômicas e ecológicas do  
capitalismo poderiam ser atribuídas. O argumento de Lefebvre (2014c, p. 93-94, p. 128-135) a  
esse respeito foi desenvolvido de forma mais completa em sua obra Toward an Architecture of  
Enjoyment, onde ele argumentou que, sob a sociedade acumulativa do capitalismo, o “sequestro  
do valor de uso [material natural]” pelo valor de troca assume uma relação destrutiva que  
impede a apropriação humana sustentável da terra.  
614  
Um reflexo concreto dessa poderosa crítica ecológica foi a análise de Lefebvre (1976a,  
p. 102-119) em The Survival of Capitalism, na qual ele examinou as “ideologias do  
crescimento”. O que Marx havia chamado de “reprodução ampliada”, referindo-se à  
acumulação líquida, era para Lefebvre (1976a, p. 102) “o único termo científico para  
‘crescimento’” no capitalismo. A tendência do sistema de “manter o crescimento” ou a  
reprodução ampliada a todo custo significava que “a destruição se torna inerente ao  
capitalismo”. Isso pode ser visto na poluição global, no desperdício, na obsolescência dos  
produtos e na ruptura da relação com as condições naturais de produção, características do  
capitalismo monopolista. “O lado destrutivo do capitalismo se acentua e assume o controle,  
destruindo a natureza e, em sua forma mais extrema, o planeta”. Entretanto, por trás disso, para  
Lefebvre, estava a realidade de “uma crise na reprodução das relações de produção”, uma vez  
que as relações sociais capitalistas não eram mais compatíveis nem com as condições naturais  
de produção nem com o avanço humano (Lefebvre, 1976a, p. 109, p. 117; consulte também  
[1974] 1991, p. 329, 1976b).  
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A crítica ecológica marxista de Henri Lefebvre: recuperando uma contribuição fundamental para a  
sociologia ambiental  
A “automobilização” da sociedade (Baran e Sweezy, 1966; Sweezy, 1973) foi  
emblemática do caminho destrutivo tomado pelo capitalismo contemporâneo. “Nos grandes  
países modernos”, observou Lefebvre, de maneira semelhante a Schnaiberg (1980),  
cerca de 20% da produção e da população trabalhadora são dedicados ao  
automóvel e ao seu uso. Tudo está sendo sacrificado para essa forma de  
crescimento: o passado histórico, a conveniência, a diversão, a “cultura”. A  
cidade histórica é reconstruída de acordo com as demandas de crescimento  
“impulsionadas” pelo automóvel. Os lobbies do setor automobilístico e da  
construção civil unem forças com a tecnoestrutura estatal. Trabalhando juntos,  
eles acabam contornando a oposição popular ao tráfego, à poluição, à retirada  
do transporte público etc. (Lefebvre, 2009, 237, 1976a, p. 102-119)  
Tudo isso apontava para o surgimento de um “espaço de catástrofe” decorrente de  
“condições de (...) ruptura” e fratura/fragmentação. Lefebvre argumentou que tudo relacionado  
à vida cotidiana não acumulativa e aos ciclos rítmicos da natureza estava ameaçado de ser  
destruído por essa nova hierarquia destrutiva.7  
As tendências destrutivas que culminaram com o capitalismo também podem ser vistas  
no tratamento dado aos animais não humanos, que foram reduzidos a meras máquinas  
manipuláveis e que passaram a exemplificar uma abordagem geral de aniquilação da natureza  
e até mesmo dos próprios seres humanos. “A dominação-exploração dos seres humanos”,  
sugeriu Lefebvre (2013, p. 62), “começa com os animais”. As espécies animais não humanas  
eram objeto de “matanças, criação de gado, abates, sacrifícios (e, para melhor se submeter), 615  
castração (...) [constituindo] uma matéria-prima, uma substância primária que cada sociedade  
tratava à sua maneira” – mas que (aparentemente) justificava uma brutalidade mais generalizada  
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e a mercantilização de toda a vida.  
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Em sua última declaração importante, Dissolving City, Planetary Metamorphosis,  
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dedicada ao conceito de “urbanização planetária”, Lefebvre ([1989] 2014b, p. 205) ressaltou a  
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fissura ecológica na relação humana com a natureza:  
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Outra ameaça é a planetarização do urbano. Em breve, apenas as ilhas de  
produção agrícola e os desertos de concreto permanecerão na superfície da  
Terra. Daí a importância das questões ecológicas: é correto afirmar que o meio  
de vida e a qualidade do meio ambiente adquiriram um status urgente e  
politicamente central.  
A resposta histórica a essa ameaça planetária, para Lefebvre, estava, como sempre, no  
potencial radical embutido na vida cotidiana. Dada a destruição do planeta, essa era cada vez  
mais uma questão de “revolução ou morte” (Kolakowski e Lefebvre, 1974, p. 264-265). A  
morte aqui se referia à ameaça ecológica; a revolução significava a possibilidade de uma  
transformação qualitativa nas relações sociais (e ecológicas) de produção (e reprodução).  
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A teoria das sociedades/processos acumulativos/não acumulativos  
A chave para a crítica de Lefebvre (2014a) sobre a vida cotidiana, no centro de sua visão  
sociológica do mundo, foi a distinção que ele fez de Marx entre sociedades/processos  
acumulativos e não acumulativos. As formações econômicas pré-capitalistas (ou seja,  
sociedades caracterizadas pelo modo de produção tributário [Amin, 2009]), embora quase  
invariavelmente produzissem um excedente econômico, eram principalmente não  
acumulativas, voltadas para a reprodução simples. Essas sociedades se dedicavam  
principalmente à produção agrícola e artesanal e se integravam aos ritmos naturais e cíclicos.  
Em contraste, o capitalismo, como uma sociedade de acumulação, sistematicamente  
voltada para a reprodução ampliada com base na exploração da força de trabalho formalmente  
livre, era um animal de uma cor completamente diferente. Entre as contradições da ordem  
capitalista, como uma sociedade acumulativa, estavam “a ideia [ilusão] de progresso”, a  
realidade do desenvolvimento desigual e uma tendência expansiva incontrolável que  
“despedaça e subordina o que quer que lhe resista” – tanto a humanidade quanto a natureza  
(Lefebvre, 2014a, p. 623). No entanto, nos próprios processos de “progresso” e  
desenvolvimento desigual, o capitalismo gera descartes ou resíduos que, no entanto, persistem  
e constituem a base (parcial) para sua negação em um nível superior com o ressurgimento da  
práxis social revolucionária.  
616  
De fato, a distinção entre sociedades acumulativas e não acumulativas poderia ser  
estendida, argumentou Lefebvre, a uma distinção entre processos acumulativos e não  
acumulativos, uma visão que ele acreditava ser parte integrante da crítica marxiana clássica. Se  
o capitalismo era um sistema de acumulação de capital, ele também promovia outros processos  
acumulativos relacionados, em áreas como conhecimento e tecnologia (Lefebvre, 2014a, p.  
621), muitas vezes vistos sob o mantra da dominação da natureza. Em contraste, “entre as  
atividades não cumulativas” estavam “a percepção sensorial, a sensibilidade, a sensualidade, a  
espontaneidade, a arte em geral, a moralidade (subjetiva ou advinda do cliente, diferente da  
moralidade objetiva que depende da lei e do Estado) e, finalmente, a civilização no sentido mais  
amplo (em oposição à cultura)” (Lefebvre, 2014a, p. 628). Os processos acumulativos e não  
acumulativos interagem constantemente, com a “vida cotidiana” situada precisamente “na  
borda [fronteira] mal definida, onde o acumulativo e o não acumulativo interagem” (Lefebvre,  
2014a, p. 629). A luta pela metamorfose da vida cotidiana era, então, uma luta para transcender  
a dominação estreita e destrutiva dos processos acumulativos, particularmente a acumulação de  
capital, a fim de criar um espaço e um ritmo para a metamorfose da vida cotidiana, em um  
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A crítica ecológica marxista de Henri Lefebvre: recuperando uma contribuição fundamental para a  
sociologia ambiental  
contexto de estruturas não hierárquicas, um espaço para viver, para se ter espontaneidade e  
cultura humanas.  
Talvez mais do que qualquer outro pensador do final do século XX, Lefebvre, portanto,  
viu o estágio sócio-histórico como uma luta pela criação de um espaço para a cultura-ecologia  
independente e transcendente à força motriz da acumulação concebendo isso como uma  
questão não apenas de vida, mas de sobrevivência. “Tudo (...) afetado pela escassez”, observou  
Lefebvre ([1974] 1991, p. 329),  
tem uma relação estreita com a Terra: os recursos da terra, os que estão sob a  
terra (petróleo) e os que estão acima dela (ar, luz, volumes de espaço etc.),  
juntamente com as coisas que dependem desses recursos, como produtos  
vegetais e animais e energias de vários tipos.  
O capitalismo, como uma sociedade alienada e acumulativa, no entanto, coloca tudo isso  
em risco.  
Lefebvre e o futuro da sociologia ambiental  
A crítica de Lefebvre à sociedade acumulativa, que se sobrepunha à sua crítica ecológica,  
estava totalmente de acordo com as perspectivas subjacentes e fundamentais que historicamente  
definiram a sociologia ambiental. Isso é menos surpreendente quando reconhecemos que  
Lefebvre era sociólogo de profissão, construindo sua análise nessa área fundada diretamente  
sobre Marx e a tradição marxiana, e uma figura crítica importante que influenciou o crescimento  
do movimento verde na Europa.  
617  
A sociologia ambiental foi formalmente organizada pela primeira vez como disciplina  
nos Estados Unidos, principalmente em torno da distinção de Dunlap e Catton (1994) entre o  
paradigma da excepcionalidade humana, no qual a sociedade humana era vista como uma  
transgressão completa das leis naturais, a ponto de os limites naturais não terem mais nenhuma  
importância real, e o novo paradigma ambiental, surgido do próprio movimento ambientalista,  
que desafiava a noção de excepcionalidade humana. Em sua articulação mais avançada, o novo  
paradigma ecológico era visto como tendo cinco componentes: (1) limites ao crescimento, (2)  
não antropocentrismo, (3) fragilidade do equilíbrio da natureza (definindo um espaço seguro  
para a humanidade), (4) insustentabilidade da excepcionalidade humana e (5) a realidade das  
crises ecológicas desde o nível micro até o planetário (Dunlap et al., 2000).  
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Lefebvre (1976a, [1972] 2016b, [1974] 1991, 2014a, p. 12-35) havia articulado  
explicitamente todos esses elementos, integrando-os ao seu pensamento como um todo, na  
década de 1970, se não antes. Como ele escreveu em Everyday Life in the Modern World, era  
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necessário, de acordo com Marx, “subordinar o domínio da natureza à adaptação do homem  
ao seu próprio ser natural e social” (Lefebvre, [1968] 1984, p. 195).  
Da mesma forma, as críticas de Lefebvre às “ideologias do crescimento” e da sociedade  
acumulativa, e sua adoção da noção de Marx de rupturas na troca orgânica, anteciparam as  
tradições da sociologia ambiental marxiana (e neomarxiana) que se concentram na esteira da  
produção (Schnaiberg, 1980) e na ruptura metabólica (Angus, 2016; Burkett, 2014; Foster,  
1999; Foster, Clark e York, 2010; Saito, 2017).  
Mas o que torna o trabalho de Lefebvre crucial para a sociologia ambiental é o grau em  
que uma crítica ecológica está profundamente incorporada em seu trabalho, amplamente  
considerado como uma das principais elaborações críticas da teoria marxista no século XX.  
Aqui temos uma visão sintética, como a de Marx, em que a crítica do capitalismo é feita de  
forma integral, igualmente ecológica e econômica, cultural e sociológica; uma visão dialética  
que engloba tanto uma metafilosofia crítica quanto uma filosofia da práxis.  
Além disso, o caráter ecológico como um todo vem cada vez mais à tona à medida que  
a visão de mundo de Lefebvre se desenvolve. Assim temos, talvez pela primeira vez, uma crítica  
da vida cotidiana que reconhece tanto a alienação da existência urbana quanto a ruptura  
metabólica na mediação da natureza-sociedade. A dialética em constante mudança da cidade e  
do campo nunca desaparece na análise de Lefebvre ([1974] 1991, p. 421-22; ver também Elden,  
2004, p. 151) do capitalismo, assim como a dialética da natureza (physis) e da sociedade. Ao  
mesmo tempo, sua compreensão de que as lutas contemporâneas da classe trabalhadora são  
cada vez mais filtradas pela cidade e pela urbanização em geral permitiu que ele percebesse o  
que hoje chamaríamos de lutas por justiça ambiental. Sua concepção de estética, representada  
em sua análise pelo conceito oeuvre, representava o potencial da vida cotidiana em sua forma  
artística não alienada, constituindo novas sementes para a revolta.  
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Lefebvre se baseou em Epicuro (1994) e Nietzsche (1999) para defender o prazer real,  
divorciado da cultura de consumo, como a base da criação de momentos revolucionários, como  
em maio de 1968 (Lefebvre, 1968c, 2014a, p. 66), antecipando, assim, a noção de que  
decrescimento exige abundância (Hickel, 2019). Ele destacou as contradições históricas entre  
as sociedades não acumulativas (não capitalistas) e acumulativas (capitalistas). Como Gramsci,  
ele apontou para as lutas pela hegemonia cultural, manifestada no “direito à cidade” e no poder  
criativo da poiesis humana (Lefebvre, [1968] 1996, Lefebvre, [1965] 2016a, p. 8). A partir das  
noções de habitat e moradia de Heidegger (1993, p. 343-64), Lefebvre ([1972] 2016b, p. 135)  
adotou a ideia de “a terra como um lugar de moradia”.  
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A crítica ecológica marxista de Henri Lefebvre: recuperando uma contribuição fundamental para a  
sociologia ambiental  
Lefebvre foi um dos primeiros teóricos marxistas do período pós-Segunda Guerra  
Mundial a se concentrar na questão da reprodução social. Um aspecto fundamental da análise  
de Lefebvre ([1974] 1991, p. 71, 2013, p. 84) foi uma análise da “destituição” do corpo, ou a  
expropriação da vida corporativa uma visão que precisa ser enfatizada de forma mais  
completa dentro da crítica ecológica geral e que é crucial para a teoria feminista contemporânea  
(Fraser, 2014; Foster e Clark, 2018). Por esse motivo, juntamente com sua crítica da vida  
cotidiana, ele se tornou extremamente influente no pensamento feminista contemporâneo (de  
Simoni, 2015; Rendell, 2018) na verdade, em nenhuma outra área fora da geografia sua  
influência se estende tanto.  
Assim como acontece com outros grandes teóricos sociais, é a escala e o escopo da  
análise e dos compromissos de Lefebvre, nos quais sua crítica ecológica desempenhou um papel  
fundamental, que dá ao seu trabalho tanto potencial (no sentido de poiesis) com relação à teoria  
e à práxis. Aqui, a sociologia ambiental é colocada no centro do projeto social crítico como um  
todo, não mais à margem seja teoricamente ou em termos de práxis. Integrando a teoria de  
Marx sobre a ruptura metabólica com sua crítica à vida cotidiana, Lefebvre foi capaz de  
desenvolver o que David Harvey (2010) chamou de visão “co-revolucionária”, reunindo os  
vários movimentos antissistêmicos em um campo unificado de práxis. Assim, a pesquisa no  
vasto corpus de Lefebvre oferece a oportunidade de desenvolver uma crítica ambiental-  
sociológica mais revolucionária e sistêmica. Uma de suas conquistas não menos importantes  
foi a retenção crítica de uma dialética da natureza e da sociedade, construída com base na noção  
de metabolismo de Marx, bem como nos conceitos de mimesis e poiésis (Lefebvre, [1965]  
2016a, p. 161-244), o que lhe permitiu promover um materialismo revolucionário, de acordo  
tanto com a práxis quanto com o realismo crítico/ciência natural.8  
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Ao olhar para o futuro, Lefebvre não deu motivos para a equanimidade. Em vez disso,  
ele traçou consistentemente o caminho capitalista atual para a catástrofe. Como a “ecologia do  
medo” de Mike Davis (1998), Lefebvre (2009, p. 98, p. 278) alertou repetidamente sobre “a  
Terra, ameaçada pelo terricídio” com base na “utopia de crescimento ilimitado” do capitalismo  
e, “como tal, a aposta de um jogo terrível”. Falando sobre como o “ambiente natural” havia  
sido “devastado e ameaçado de destruição”, ele enfatizou: “Estamos agora à beira de uma  
destruição aterrorizante, cuja gravidade só agora está sendo compreendida” (Lefebvre, 1976a,  
p. 32-33). O capitalismo é um sistema alienante que gera “dualidades conflitantes de produção  
e destruição, com prioridade crescente para a capacidade destrutiva que chega ao seu auge e é  
elevada a uma escala mundial” (Lefebvre 2013, p. 65).  
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No entanto, nem tudo está perdido. Uma revolução ecológica, enraizada no potencial  
radical da vida cotidiana e que envolve a sociedade mundial de hoje, nos diz Lefebvre, é  
necessária para reorganizar a relação humana com a Terra. Nesse sentido, Lefebvre pode ser  
considerado um sociólogo ambiental revolucionário para o século XXI.  
Notas  
1. Embora a análise de Lefebvre sobre as relações natureza-sociedade tenha recebido  
alguma atenção, principalmente dentro da geografia (Loftus, 2012; Smith, 1998, 2003, [1984]  
2008), sua abordagem tem sido frequentemente descartada erroneamente, acreditamos como  
dualista, refletindo a virada pós-humanista e hibridista (consulte Malm, 2019; Napoletano et  
al., 2019 para críticas a essas visões). No entanto, faltam tratamentos sistemáticos e  
aprofundados de sua concepção da dialética da natureza e sua relação com o marxismo clássico.  
2. O papel central desempenhado pela dialética da natureza no marxismo clássico da  
Primeira Internacional, tanto de Engels quanto de Marx, foi firmemente estabelecido em  
pesquisas recentes sobre ecologia marxiana. Veja especialmente Foster (2020).  
3. Seria um erro atribuir a crítica à dialética da natureza pelo marxismo ocidental  
simplesmente à sua rejeição ao marxismo soviético oficial. Em vez disso, ela teve suas bases  
mais profundas no desenvolvimento do neokantismo na Alemanha, que estabeleceu a  
epistemologia como a rainha da filosofia, relegando a lógica a um papel muito mais secundário  
do que aquele que ela desempenhava no idealismo alemão e consagrando o princípio de que o  
conceito kantiano da “coisa em si” retirou as ciências naturais do domínio do conhecimento  
reflexivo ou dialético. Foi a partir dessa tradição que surgiram as principais figuras da teoria  
crítica, de Georg Lukács à Escola de Frankfurt (Ilyenkov, 2008, p. 289-319).  
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4. A interpretação da Escola de Frankfurt e do marxismo ocidental sobre natureza e  
sociedade oferecida aqui está firmemente calcada na literatura. Consulte Foster e Clark (2016),  
Bhaskar (2011), Jacoby (1983), Sheehan (1985), Dickens (2004), Jameson (2009), Jay (1973),  
Leiss (1974), Timpanaro (1975) e Napoletano et al. (2019). No entanto, algumas interpretações  
recentes notáveis adotaram uma visão muito mais positiva da Escola de Frankfurt sobre o  
ambiente. Veja, em particular, o trabalho de Gunderson (2015a, 2015b) e Cook (2014). Em  
nosso argumento, Lefebvre deve ser visto como um representante genuíno da “teoria da práxis”  
(Hoffman, 1975), que também se apega à noção da dialética da natureza. Ele representa,  
portanto, uma ponte crucial entre o marxismo ortodoxo/oficial/materialismo histórico e o  
marxismo ocidental (incluindo a Escola de Frankfurt) uma ponte necessária ainda mais em  
nossa era de crise ecológica planetária.  
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A crítica ecológica marxista de Henri Lefebvre: recuperando uma contribuição fundamental para a  
sociologia ambiental  
5. Lefebvre se refere aqui ao “controle da natureza”, embora reconheça que a natureza é  
apropriada apenas em parte e que os seres humanos não conseguem se livrar dela. Ainda assim,  
sua ênfase no controle é unilateral em comparação com seu trabalho posterior. O argumento de  
Lefebvre aqui reflete, portanto, o fato de que Sociologia de Marx foi escrito em 1966, antes de  
ele começar a incorporar pressupostos ecológicos de forma central em sua análise no início da  
década de 1970. No entanto, sua ênfase no surgimento humano-social a partir da natureza e a  
dependência contínua da natureza refletem a natureza dialética de seu pensamento.  
6. Lefebvre está se referindo aqui a Marx ([1864-65] 1981, p. 959).  
7. O tratamento dado por Lefebvre aos “espaços de catástrofe”, à ruptura ecológica, à  
ruptura metabólica etc., juntamente com sua crítica às ideologias de crescimento, colocam seu  
trabalho em sintonia com o que hoje é conhecido como a ruptura metabólica e a esteira das  
tradições de produção na sociologia ambiental, teoricamente opostas à teoria da modernização  
ecológica capitalista.  
8. A análise de Lefebvre é totalmente compatível com a do realismo crítico dialético,  
conforme exemplificado por Bhaskar (1993, 2011).  
Declaração de divulgação  
Nenhum conflito de interesses em potencial foi relatado pelos autores.  
621  
Sobre os autores  
John Bellamy Foster é professor de Sociologia na Universidade de Oregon, Eugene,  
OR 97403. E-mail: jfoster@uoregon.edu, e editor da Monthly Review (Nova York). Escreveu  
extensivamente sobre Marx e ecologia e sobre a economia política do meio ambiente. Recebeu  
o Fred Buttel Distinguished Contribution Award da Enviornmental Sociology Section of the  
American Sociological Association e é membro do Conselho Consultivo Internacional da  
Foundation for Environmental Sociology.  
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Brian M. Napoletano é professor assistente no Centro de Investigações em Geografia  
Ambiental da Universidad Nacional Autónoma de México, Antigua Carretera a Pátzcuaro,  
Morelia, Michoacán, México 58087. E-mail: brian@ciga.unam.mx. Sua pesquisa se concentra  
nas expressões geográficas da ruptura metabólica, com ênfase especial nas rupturas geográficas  
da urbanização capitalista e da conservação.  
Brett Clark é professor de Sociologia e Estudos de Sustentabilidade no Departamento  
de Sociologia da Universidade de Utah, Salt Lake City, UT 84112. E-mail:  
Revista Libertas, Juiz de Fora, 23, n. 2, p. 604-626, jul./dez. 2023. ISSN 1980-8518  
John Bellamy Foster; Brian M. Napoletano; Brett Clark; Pedro S. Urquijo  
brett.clark@soc.utah.edu. Sua pesquisa se concentra na economia política da mudança  
ambiental global e na filosofia, história e sociologia da ciência.  
Pedro S. Urquijo é professor assistente no Centro de Investigações em Geografia  
Ambiental da Universidade Nacional Autônoma do México, Antigua Carretera a Pátzcuaro,  
Morelia, Michoacán, México 58087. E-mail: psurqui- jo@ciga.unam.mx. Sua pesquisa se  
concentra em geografia histórica, história ambiental e história da geografia.  
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