Luís Guilherme Nascimento de Araujo; Clovis Gorczevski
com base na totalidade ontológica historicamente em desenvolvimento (“natureza”) à qual ele,
em última instância, pertence”. Em consequência disso, a fim de obter maior dimensão e clareza
quanto ao “fator antropológico”, quanto àquilo que ontologicamente caracteriza a instância
social do ser, Mészáros (2016), no mesmo sentido de Lukács (2013), faz referência à
centralidade e à especificidade da relação que o ser humano trava com a natureza, mediada por
uma autêntica atividade produtiva e autoprodutiva, isto é, pelo trabalho.
É com essa tônica que se torna possível uma aproximação, sempre cuidadosa, de uma
ideia de essência ou natureza humana desde Marx (2010) e da tradição marxista,
destacadamente a partir de Lukács (2013) e Mészáros (2016). Ainda que inserta num contexto
categorial bastante rico e que não seja utilizada de maneira peremptória pelos autores, pode-se
ponderar que o traço ontológico determinante do ser social, algo como natureza propriamente
humana, para estes, reside na tripla relação, dialeticamente determinada, composta pelo o
homem, a natureza e a sua atividade produtiva (o trabalho). Dessa forma, tem forma a ideia do
trabalho como atividade de mediação entre o homem e a natureza, e, também, de automediação
para o próprio homem, como aquela constitutivamente humana. Sobre isso, Mészáros (2016, p.
135) sustenta:
Ele (Marx) nega que o ser humano seja um ser essencialmente egoísta, pois
não aceita algo como natureza humana fixa (ou, de fato, qualquer coisa fixa).
Na visão de Marx, o ser humano por natureza não é nem egoísta nem altruísta.
Ele é feito, por sua própria atividade, naquilo que ele é a qualquer tempo.
Assim sendo, se essa atividade for transformada, a natureza humana egoísta
de hoje mudará no devido tempo.
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Nessa toada, ainda seguindo Mészáros (2016, p. 102), “O conceito mesmo de “natureza
própria do homem” necessariamente implica a automediação ontologicamente fundamental do
ser humano com a natureza por meio de sua própria atividade produtiva (e autoprodutiva)”. Isto
é, a atividade teleológica automediadora, o trabalho, como canalização de forças vitais físicas
e mentais dos indivíduos para se alcançar determinado fim ligado à satisfação de necessidades,
coloca-se como um substrato de toda a interação humana, como a categoria que funda o ser
social.
Em razão disso, a transformação da natureza passa a ser considerada um processo de
constante de objetivação. Significa dizer que o que é objetivado no mundo concreto pela ação
teleológica não é algo espontaneamente natural, mas uma inovação do pôr teleológico, uma
nova essência que assinala o fato de que a reprodução social é a reprodução incessante do novo
a partir do recém criado. Tem-se, pois, inéditos elementos no campo da individualidade,
produtora e produzida, e um novo campo da totalidade social do gênero humano, em constante
reprodução que sempre aponta para o social.
Libertas, Juiz de Fora, v. 24, n. 1, p. 251-263, jan./jun. 2024. ISSN 1980-8518