Ofensiva ultraneoliberal no capitalismo em crise no Brasil e no mundo
capitais e constituir os mecanismos de exploração da força de trabalho (BEHRING, 2021).
Num contexto de crise combinada de superprodução e superacumulação, com
gigantesca concentração de riqueza na forma líquida/monetária, a busca por nichos de
valorização e de punção de valor, em tempos de curto-circuito nas metamorfoses do capital, é
frenética. Neste passo, é que se colocam duas das questões mais candentes do nosso tempo: a
questão ambiental e a da dívida pública. Sobre a primeira, a busca de petróleo, água, lítio,
nióbio etc., bem como a produção de alimentos à base de agrotóxicos e pastos em grandes
extensões de terras – o que no Brasil tem centralidade – é fortemente destrutiva do futuro. Há
nexos importantes já apontados pela ciência entre a crise sanitária de Covid 19, iniciada em
2020 e da qual mal saímos, e a destruição ambiental, o que por sua vez acirra a crise climática,
abrindo espaços para a proliferação dos vírus, pelo que muitos cientistas apontam para a
possibilidade de novas pandemias e epidemias letais nos anos vindouros. A ciência mostrou
uma capacidade de resposta bastante grande e rápida, mas ainda assim nós tivemos cerca de 5
milhões de mortos dos quais mais de 700 mil são brasileiros(as), números subnotificados, como
indicam várias pesquisas e assume a OMS.
A outra questão candente é a regência do processo como um todo pelo capital portador
de juros, cujas instituições reúnem enormes massas monetárias, buscando nichos de valorização
ou de punção de valor, neste caso, pela esfera financeira – a dos “papeizinhos” da “moderna
bancocracia”, tal como ironizava Marx. Nessa esfera, destacam-se as dívidas públicas
titularizadas, que vem se constituindo num mecanismo de forte chantagem sobre os países e
seus Estados nacionais, obrigados na hierarquia da economia mundo e com aquiescências
internas, a realizarem ajustes fiscais draconianos, tendo em vista pagar regularmente juros
encargos e amortizações de dívidas todos os anos, pelo que arcam com um custo social
altíssimo. Evidentemente, isso ocorre de forma mediada pela hierarquia da economia mundo,
pois que não acontece da mesma forma na França, por exemplo, e no Brasil, este último
obrigado a realizar ajustes fiscais draconianos tendo em vista pagar regularmente juros,
encargos e amortizações da dívida pública todos os anos, com um custo social e ambiental
gravíssimo (BEHRING, 2013).
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Os mecanismos de punção de valor pelo endividamento público são parte fundamental
da tragédia contemporânea, e se articulam com a ofensiva sobre os trabalhadores, já que pela
via tributária, vem crescendo os mecanismos de tributação indireta que incidem sobre suas
rendas, cumprindo um papel regressivo, bem como vem se impondo gasto financeiro sobre o
gasto social, com o ataque aos direitos sociais já apontado antes. Se observamos a crise de
2008/2009 e seu efeito contágio mundial, ela inicia exatamente pelas cadeias de endividamento
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 23, n.1, p. 10-22, jan./jun. 2023. ISSN 1980-8518