Berta Granja; Nuno Pires
científica. No caso do serviço social, o objecto privilegiado são os contextos, processos e
dinâmicas da intervenção do serviço social, com competências, especialização e formação
específica.
O método científico pode produzir conhecimentos partindo da experiência, e os
produtores desse saber legitimam-se pela sua formação, tecnologias, métodos rigorosos,
procedimentos de validação e debate. A legitimação dos saberes provenientes da experiência,
produz-se pelo grau de formalização, pelos métodos de recolha e observação, pelos processos
de validação, pela sua codificação explícita e escrita, pela publicidade e pela organização em
larga escala dos dispositivos de investigação. O serviço social, como disciplina, está a afirmar-
se na comunidade científica, procura a sua autonomia epistemológica e metodológica, por isso,
não pode prescindir da internacionalização, pois disciplinas como o serviço social:
Para se afirmarem como domínios autónomos precisam de teorias próprias.
Necessitam construir unidades novas de conhecimento a partir de outras
matérias como economia, sociologia, educação, administração, etc. Fica claro,
no entanto, que o desenvolvimento de teorias e métodos próprios, em cada
nova área do conhecimento, passa pela transformação de múltiplos
conhecimentos em unidades logicamente fundadas. (PAVIANI, 2004, p. 34).
A reflexão sobre os problemas e os processos operacionais da intervenção social que se
realiza nos fóruns internacionais, é fundamental para consolidar e valorizar os diversos tipos de
saberes: os provenientes da experiência que emergem da acção, os teóricos que se investem
depois de apropriados, os processuais que guiam os processos desencadeados na acção, os
éticos que definem as opções a tomar e os saberes fazer já formalizados. Simultaneamente, esta
reflexão permite desenvolver métodos e esquemas de análise sobre o saber agir para
reorganizar, recriar estes saberes, nomeadamente os teóricos e verificar a sua validade na acção.
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A reflexão internacional desenvolvida nos encontros internacionais, estimula
o desenvolvimento da capacidade argumentativa e conceptual, a partir do
‘quotidiano, como parcela do real, e campo de racionalidade, onde
componentes singulares e universais concretas e abstractas se evidenciam,
imiscuem e combinam com permutas de proximidade e distanciamento’.
(ALBUQUERQUE, 2017, p. 23).
Permite ainda a reorganização dos saberes teóricos a descoberta de novos contributos a
partir da própria acção, num processo de auto-reconhecimento e a explicitação dos esquemas
de pensamento e acção, sob a forma de saberes processuais, procedimentos do serviço social,
que demonstrem a capacidade de articulação fecunda entre os saberes teóricos e a prática.
Garret (2007) propõe que assistentes sociais, usem a sua capacidade reflexiva para
escrutinar os seus habitus pessoais e colectivos, os espaços que ocupam e os seus campos de
autonomia.
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Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 23, n.1, p. 35-48, jan./jun. 2023. ISSN 1980-8518