DOI 10.34019/1980-8518.2023.v23.41184  
Entre os objetivos profissionais e institucionais:  
fortalecendo o Serviço Social  
Among the professional and institutional objectives: to strengthen Social  
Work  
Rodrigo José Teixeira*  
Resumo: O artigo apresenta uma reflexão  
acerca da condição de assalariamento de  
assistentes sociais e explicita que essa condição  
pode, muitas vezes, colocar desafios entre os  
objetivos do Serviço Social, expressos nos  
princípios do código de ética, nas competências  
e atribuições da Lei que Regulamenta a  
Profissão, e os objetivos das instituições que  
empregam assistentes sociais. A partir de  
elementos da pesquisa documental realizada  
para a tese de doutoramento e de reflexões  
posteriores, o artigo apresenta uma revisão  
bibliográfica, indicações para garantir a relativa  
autonomia no trabalho profissional e fortalecer  
a profissão de Serviço Social.  
Abstract: The article presents a reflection on  
the condition of salary of social workers and  
explains that this condition can often pose  
challenges among the objectives of Social  
Work, expressed in the principles of the code of  
ethics, in the competences and attributions of  
the Law that Regulates the Profession, and the  
objectives of the institutions that employ social  
workers. Based on elements of documentary  
research carried out for the doctoral thesis and  
subsequent reflections, the article presents a  
bibliographical review and indications to  
guarantee relative autonomy in professional  
work and strengthen the social work profession.  
Palavras-chaves: Trabalho de assistentes  
sociais; Fundamentos do Serviço Social;  
Conjuntura brasileira e latino-americana.  
Keywords: Work of social workers;  
fundamentals of Social Work; Brazilian and  
Latin American conjuncture.  
Recebido em: 15/03/2023  
Aprovado em: 18/05/2023  
* Assistente Social, doutor em Serviço Social, docente do curso de Serviço Social da UFF - Rio das Ostras.  
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 23, n.1, p. 85-102, jan./jun. 2023. ISSN 1980-8518  
Rodrigo José Teixeira  
Introdução  
Parte-se do Serviço Social inscrito na história, nas tramas das relações entre as classes  
sociais e estas com o Estado, apreender o Serviço Social na história é reconhecer que os sujeitos,  
homens e mulheres, fazem a história, mas não a fazem como querem e sim, segundo condições  
objetivas dadas (MARX, ENGELS; 1982), apreender essas condições é o que permite saltos  
qualitativos na incidência política e profissional, assim, esse artigo tem como objetivo discutir  
elementos que permitem reforçar o/a assistente social como trabalhador/a assalariado/a, que ao  
vender sua força de trabalho, em distintos espaços sócio-ocupacionais, se depara com os  
objetivos da instituição empregadora e os objetivos da profissão. Essas reflexões podem  
reforçar, no cotidiano de trabalho e na formação profissional, a construção de incidências aos  
objetivos construídos pelo Serviço Social, os quais expressam valores, princípios e a direção  
social construída historicamente pela profissão, em detrimento de objetivos ultraneoliberias  
expressos nas políticas sociais.  
Trata-se de uma síntese da pesquisa documental desenvolvida na tese de doutorado e de  
participações em eventos e seminários1, nos quais foi possível avançar em alguns itens de  
análise.  
Nesse sentido, o artigo se desenvolve em três momentos: uma breve análise da dinâmica  
do capitalismo mundial e suas particularidades na américa latina; a apreensão do significado  
social do Serviço Social e as políticas sociais; e, os desafios aos assistentes sociais diante sua  
condição assalariada, os objetivos da instituição que o contrata frente seus objetivos  
profissionais.  
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A pandemia de COVID-192 aprofundou as desigualdades sociais, mostrou nitidamente,  
e mais uma vez, que o capitalismo e a política neoliberal que sustenta o estado burguês,  
permitem acessos diferentes aos direitos sociais entre os mais ricos e os mais pobres, com  
distinção de raça, classe e diferentes identidades de gênero.  
Não se considera a COVID-19 só uma questão ambiental, é social, econômica, política,  
multifacetada, apreende-se que a Covid-19 acentuou as contradições postas no modo de  
produção capitalista, mas não explica o que fundamenta tal contradição. Os fundamentos das  
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1
Tese de doutorado defendida na Escola de Serviço Social da UFRJ, sob orientação da Profa. Dra. Yolanda  
Aparecida Demetrio Guerra, em agosto de 2019, ver em TEIXEIRA(2019); da palestra proferida no VII Seminário  
Internacional da Faculdade de Serviço Social da UFJF, com o tema Serviço Social: lutas e resistências  
internacionais (2022) e da palestra realizada nas comemorações dos 55 anos do Colegio de Trabajadores Sociales  
de Costa Rica (2022), com o tema: Competencias profesionales, exigencias institucionales y las resistencias de  
Trabajo Social en el contexto de la pandemia.  
2 Ao escrever esse artigo a Organização Mundial da Saúde, declarou, no dia 05 de maio de 2023, fim da emergencial  
global de saúde, o que pode ser considerado o fim da pandemia, conduto, seguem recomendações como uso de  
máscaras caso apresente sintomas e ampla campanha mundial de vacinação.  
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desigualdades originadas no capitalismo, seguem assentadas na exploração do trabalho, na não  
distribuição da riqueza socialmente produzida, mas apropriada por uma minoria; e, na estratégia  
de ampliação do desemprego para ampliação das taxas de mais valia.  
Esses elementos são extremamente importantes para a análise acerca da formação e do  
trabalho de assistentes sociais. As demandas que nos chegam cotidianamente são produtos  
dessas contradições. Ou seja, a necessidade da pobreza é proporcionalmente igual a necessidade  
de ampliação da riqueza concentrada nas mãos de uns poucos. As necessidades sociais que  
atendemos trazidas pelas pessoas que buscam os serviços sociais, expressam essa dinâmica  
capitalista nas particularidades do cotidiano de cada sujeito.  
Assim, apreender os elementos macrossociais permite aos assistentes sociais,  
ultrapassar a barreira do imediatismo, buscar os fundamentos que explicam as contradições  
postas na realidade e trazidas pelas pessoas e famílias que atentemos, visando garantir ou,  
minimamente, assegurar as condições básicas de vida da população, afinal, como já indicou  
Marx e Engels (1982), as pessoas precisam estar em condições, estarem vivas, alimentadas,  
abrigadas, com moradia e educação para fazerem história.  
1 - Alguns aspectos socioeconômicos e conjunturais para apreensão do Serviço  
Social na atualidade  
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O capitalismo se metamorfoseia para continuar a acumular e transformar tudo em objeto  
de sua própria valorização, nessas primeiras duas décadas do século XXI, em um mundo não  
mais abertamente “bipolarizado” como no período a guerra fria, o mundo passa por outra grande  
confrontação em nossos tempos, por um lado a OTAN e seu avançar bélico (a necessária e  
histórica produção de guerra, de venda de armas e munição, para recuperação financeira do  
capital) e a Rússia, ampliando seu domínio e disputando o imperialismo, o que desencadeia  
uma guerra na Ucrânia, podendo demonstrar uma possibilidade de construção de uma nova  
geopolítica para o mundo.  
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Alia-se a isso outro elemento dessa quadra histórica, o crescimento econômico da China,  
desde o início do século XXI, sua ampliação no mercado internacional alterou as correlações  
de forças entre os blocos econômicos.  
A China constrói relações comerciais com um amplo hall de países latino americanos.  
Tem-se caracterizado como o principal parceiro comercial do Brasil, em 2022, seguida pelos  
E.U.A. Ao mesmo tempo a Rússia vem construindo sua incidência desse lado do atlântico,  
como por exemplo o seu papel decisivo, sob a ameaça norte americana em invadir militarmente  
a Venezuela em 2019, por meio da tentativa de impor um novo presidente naquele país.  
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Isso não passa ileso as ameaças norte americanas, que tem na américa latina sua  
principal área de influência e tentativa de dominação e implantação de suas necessidades  
econômicas imperialistas. Essas investidas imperialistas dos E.U.A devem ser duramente  
combatidas pela América Latina e se configura como um dos elementos que unifica a luta por  
um continente livre e cheio de possibilidades em suas particularidades sócio-históricas.  
A isso, se acrescenta a visita de Lula da Silva, em abril de 2023 à China e a visita do  
Chanceler Russo Servay Lavrov ao Brasil no mesmo mês. Assim como, a indicação de Dilma  
Rousseff, a presidência do Novo Banco do Desenvolvimento, reforçando o bloco econômico  
do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (BRICS), que somados já acumulam 31,5% do  
Produto Interno Bruto (PIB) Global, enquanto o grupo dos sete países mais ricos do mundo  
somam 30% do PIB Global3. As alterações nas economias globais podem alterar a geopolítica  
atual trazendo novas formas de exploração e novas expressões da questão social.  
A relação de dependência dos países periféricos4, na geopolítica mundial, o mito do  
progresso desenvolvimentista, baseado na livre concorrência se revela ineficaz, sendo  
substituído pela violência entre as potências econômicas que se embatem para reproduzir seu  
domínio.  
Essa dinâmica se expressa em regressão nas particularidades de cada país, trazendo à  
tona uma dinâmica ultraconservadora, ultra neoliberal, que resulta na destruição da natureza,  
em nome do avanço de terras nas mãos de uns poucos, do agronegócio e do agrotóxico que  
envenenam as matas e aos rios em detrimento da agroecologia e da agricultura familiar, assim  
como, expressa valores ultraconservadores, como racismo, violência de gênero e de orientação  
sexual, xenofobia, violência patriarcal. Pesquisas de Marro (2022) diz que o Brasil vem  
apresentando o aumento da violência de gênero e a exploração sexual em áreas extrativistas em  
seu território. Assim como pudemos observar, que a política de Jair Messias Bolsonaro foi de  
devastação das terras indígenas, podendo se caracterizar como genocídio do povo Yanomami,  
no norte do Brasil.  
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Piccolo (2022, p. 147) reflete que  
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os efeitos ambientais e sociais dessa reprodução ‘destrutiva’ do capitalismo  
incluem desde sempre a força de trabalho humana; desemprego crônico e  
precarização generalizada do trabalho assalariado, são realidades nacionais  
mundiais, também acirradas nas periferias. também, a nossa região segue  
sendo uma das fontes de recursos naturais estratégicos mais importantes do  
mundo. Reservas de água doce no Paraguai e no México; de petróleo na  
Venezuela, Brasil, México e Argentina; de gás natural na Bolívia; a  
3
4 Ver mais em Marini (2011) Fernandes (1975) entre outros.  
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biodiversidade da Amazônia são estudados pelas grandes corporações  
internacionais, ramificadas em estados nacionais que integram blocos  
regionais.  
Os dados de desemprego na América Latina também deve ser uma fonte de preocupação  
dos que lutam por uma sociedade igualitária e emancipada, os/as assistentes sociais não podem  
deixar de se atentarem, compreendendo que o desemprego é uma expressão da desigualdade  
que alimenta o capitalismo.  
De acordo com a OIT a região latino-americana perdeu 49,1 milhões de empregos entre  
2019 e 2020, e ainda há um déficit de 4,5 milhões de vagas de trabalho a serem recuperados.  
Para a instituição internacional a recuperação econômica lenta, o aumento na inflação  
dos países da região e pouco espaço fiscal para realocação de verba pública impedem a geração  
de empregos na América Latina e Caribe5.  
A ampliação do desemprego é sentida por nós assistentes sociais sob duas angulações  
analíticas, a primeira é nossa condição de trabalhadores/as assalariados/as, com a redução dos  
nossos postos de trabalho, contração sem vínculos e segurança no trabalho, contratação por  
projetos o que dificulta a criação de vínculo com as pessoas atendidas, diminuição de salários  
e carga horária de trabalho, dificultando nossa condição de sobrevivência e acesso a bens e  
serviços. Em segundo lugar se amplia a demanda que chega aos nossos atendimentos, o  
desemprego – expressão da questão social – faz com que muitas pessoas busquem serviços de  
saúde, habitação, emprego, assistência social públicos mais vezes, e em momentos de ultra  
neoliberalismo diminui-se as funções do Estado, diminuindo os serviços prestados, dificultando  
mais uma vez nosso trabalho profissional, que tem nas políticas sociais sua mediação  
primordial.  
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O desemprego, entre outros elementos, acarreta a ampliação da fome. O brasil em  
particular voltou, no governo de Bolsonaro, a altos índices de fome. A fome no Brasil não é  
produto direto da pandemia, é, também, um resultado da subida do preço do dólar e uma  
priorização de abastecimento do mercado externo, principalmente China, ampliando a  
acumulação de capital a fome no país.  
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A fome e o desemprego não podem ser analisados sob aspectos isolados, ao contrário,  
compõem a totalidade no modo de produção capitalista. O Banco Mundial6 reconhece que o os  
milhoes-de-empregos-com-a-pandemia.htm acessado em 15-05-2023.  
6https://www.ipea.gov.br/cartadeconjuntura/index.php/2022/06/panorama-da-economia-mundial/ Acessado em  
12 de maio de 2023; Estêvão Kopschitz Xavier Bastos. Panorama da economia mundial, em 2 de junho de 2022.  
Cf., também, Política monetária contra a alta dos preços. Evolução das taxas em dois países. Jornal O Globo.  
Economia, 16/06/2022, p.13.  
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Rodrigo José Teixeira  
impactos econômicos da atual guerra, tem sido maior que o da pandemia.  
Esses elementos atingem a todos/as os/as trabalhadores/as, mas não da mesma forma,  
as mulheres são as mais atingidas, uma vez que precisam assumir duplas e/ou triplas jornadas  
de trabalho, a população negra que muitas vezes sem acesso a educação e trabalho com  
dignidade sofrem ainda mais com o peso do racismo que é um dos elementos que estruturam o  
capitalismo.  
O relatório a CEPAL, em 2022, indica que 94,2 milhões de pessoas passam fome na  
américa latina e caribe; a pobreza e a pobreza extrema aumentam, em níveis superiores aos  
observados antes da pandemia. Os índices esperados, em 2022, na região, são de 33,0% de  
pobreza e 14,5% de pobreza extrema, segundo a fonte citada.  
Contudo, uma onda de esperança nos incendeia, a resistência latino-americana volta a  
nos inundar de alegria na esperança de tempos melhores. A eleição de Lula da Silva, sua  
incidência na econômica global, pode ser um suspiro de esperança no sentido de ampliação de  
alguns direitos, contudo, sem ilusões de uma mudança radical na estrutura de poder e de  
exploração da classe trabalhadora.  
1.1 - E o Serviço Social com tudo isso?  
Parte-se de que os anos de 1960 a 1980 permitiram a massa crítica da profissão, em seu  
processo de renovação, apreender o significado social da profissão na sociedade capitalista.  
Processo esse que se inicia com o Movimento de Reconceituação na América Latina e seus VII  
Seminários7, o primeiro ocorre em 1965 em Porto Alegre e os demais em diferentes países do  
continente (GOIN, 2019; ANDER-EGG, 1994) e que impactam fortemente as elaborações  
teóricas e política dos anos subseqüentes.  
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Em meio a uma conjuntura de ditadura nos países da América Latina, o Serviço Social  
no continente, organizou e protagonizou importantes fatos históricos, entre eles alguns avanços  
importantes, como a laicização da profissão, a ampliação da necessidade de investir em  
pesquisas e programas de pós graduação em nossas áreas.  
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O Movimento de Reconceituação do Serviço Social latino-americano caracterizou-se  
como um processo de ininterruptas tentativas de romper com o conservadorismo e apresentou  
conquistas e limites ao Serviço Social. Netto (2005b, p. 11-13) apresenta como conquistas: a)  
a articulação de uma unidade e intercâmbio latino-americano; b) a explicitação da dimensão  
7
O Movimento de Reconceituação do Serviço Social na América Latina caracterizou-se por um período de  
aproximadamente 10 anos, 1965-1975 (ALAYON, 2007; BATISTONI, 2017 entre outros), com forte influência  
dos movimentos contestatórios no continente e visava uma crítica ao Serviço Social tradicional (NETTO, 2010).  
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política da ação profissional; c) a interlocução crítica com as ciências sociais; d) a inauguração  
do pluralismo profissional; e o que, para o autor, parece ser a principal conquista, e) a recusa  
do profissional de Serviço Social de situar-se como agente técnico puramente executivo, como  
executor terminal de políticas sociais, reivindicado espaços de planejamento, avaliação e  
pesquisas.  
Apresenta como limites: a) a confusão entre ação profissional e prática militante; b) o  
rechaço das “teorias importadas”, que culminou num relativismo acadêmico sobrevalorizando  
a produção autônoma; c) o “confusionismo ideológico, que procurava sintetizar [...] a esquerda  
cristã e as novas gerações revolucionárias” (NETTO, 2005b, p. 13)8.  
O Movimento de Reconceituação Latino-Americano teve uma forte participação da  
Asociación Lationamericana de Escuelas del Trabajo Social (ALAETS)9 e seu órgão  
acadêmico, o Centro Latinoamericano del Trabajo Social (CELATS)10, teve como primeiras  
diretoras acadêmicas as brasileiras Consuelo Quiroga e Leila Lima Santos. Lopes (2016, p. 328)  
relata que “é provável que a forte experiência no chamado ‘Método BH’ (que vinha do método  
básico desenvolvido no Chile, anos antes) tenha sido uma referência importante para que as  
duas brasileiras assumissem os cargos de direção”.  
O CELATS teve um papel importantíssimo na América Latina, com destaque as suas  
influências na formação e no trabalho de assistentes sociais. Em depoimento, Leila Lima Santos  
(2009, p. 80) relata:  
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o CELATS insertou os debates no contexto político da época, fazendo com  
que a discussão no âmbito acadêmico e na prática profissional se aproximasse  
dos movimentos políticos e populares em diferentes países da região e às mais  
expressivas entidades das ciências sociais latino-americanas (FLACSO,  
CLACSO, CSUCA). Os resultados dos trabalhos do CELATS foram  
permeabilizando as escolas e faculdades de Serviço Social em toda América  
Latina e muito particularmente no Brasil.  
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O conjunto ALAETS/CELATS teve um papel importante nas décadas de 1970 e 1980,  
com publicações críticas que circulavam a América Latina11; apoiou politicamente  
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8 Essas são alguns elementos, para maiores reflexões, ver Netto (2010), especialmente capítulo 2, item 2.1 e 22.  
9 Los dos primeros objetivos que proclama la asociación: a) promover el acercamiento y la coordinación entre las  
escuelas y asociaciones de escuelas, estudiantes y docentes de Trabajo Social latinoamericano, con fin de logar  
establecer unidad en los aspectos básicos de la formación teórico-práctica; b) promover el acercamiento entre las  
escuelas asociaciones de escuelas, de estudiantes y docentes de Trabajo Social, con las organizaciones de Trabajo  
Social que existen en cada país. (CELATS, 1985, p. 10).  
10  
O CELATS “es un organismo internacional de cooperación técnica que tiene como propósito fundamental  
contribuir, desde la acción de los trabajadores sociales, a las tareas del desarrollo y de la promoción popular. [...]  
El Centro desarrolla cuatro líneas: - investigación; - capacitación; comunicación y; - proyectos de acción.”  
(CELATS, 1985, p. 12-16).  
11 Um exemplo é que “durante 1983, el curso de capacitación por correspondencia llegó a 600 profesionales en 18  
países” (CELATS, 1985, p. 16).  
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Rodrigo José Teixeira  
organizações sindicais e associações profissionais de diferentes países. Tais movimentos  
acadêmicos e políticos tensionavam, a partir da conjuntura do continente, um Serviço Social  
intrinsecamente ligado à luta da classe trabalhadora.  
O CELATS teve um papel importante, também, na pós-graduação em Serviço Social.  
No ano de 1978, construiu o primeiro mestrado em Serviço Social da América Latina –  
Maestría Latinoamericana en Trabajo Social (MLATS). O MLATS foi desenvolvido em  
convênio com a Universidade de Honduras, em Tegucigalpa, “esta universidade tinha um  
considerável grau de autonomia e seu Reitor, Reyna, era um respeitado e democrático  
acadêmico”, segundo relata Leila Lima Santos, (2007a, p. 171) em entrevista à revista Em Pauta  
(UERJ).  
O objetivo do MLATS era lograr a formação de um grupo de profissionais  
altamente qualificados teoricamente, com vocação investigativa  
e
comprometidos com uma nova mirada a respeito do marco institucional e à  
realidade social do continente. O programa de estudos desse mestrado esteve  
orientado ao estudo e à análise das políticas sociais com a ideia de converter  
as instituições em processos de organização favorável à participação social. A  
ideia era criar um significativo programa de formação e investigação latino-  
americano. (SANTOS, 2007a, p. 172).  
A reconceituação possibilitou construir uma tendência no Serviço Social latino-  
americano que se autodenomina de Trabajo Social Critico. Há muitas expressões dela e tem  
crescido a produção de conhecimento dessa temática. O Trabajo Social Critico situa sua analise  
na realidade social com enfoque sócio-histórico, analise o sujeito segundo suas determinações  
econômicas, históricas e sociais, ultrapassa o imediato e busca conhecer os fundamentos da  
realidade social e da profissão, para assim construir estratégias de intervenção na vida das  
pessoas que atendemos.  
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Assim, entendemos o significado social da profissão, construído no seio do movimento  
de reconceituação, com destaque a obra seminal de Iamamoto e Carvalho (1982). Desse modo,  
analisa-se a realidade a partir do concreto, dos processos sociais e históricos12 que permitem  
apreender o significado social da profissão na sociedade capitalista e suas particularidades nas  
distintas formações sociais, econômicas e culturais de cada território, por meio das expressões  
da questão social nesses países.  
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Para melhor apreensão da relação proposta nesse artigo entre os objetivos profissionais  
e os objetivos institucionais, se faz necessário analisar as categorias de totalidade e mediação,  
sem as quais a profissão é tomada de forma isolada, endogenista e acrítica, para depois  
12 A concepção de história pode ser encontrada em Marx e Engels (1982), Marx (1986) entre outros autores da  
mesma verve teórica.  
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entrarmos nas particularidades dos objetivos institucionais e do Serviço Social.  
Segundo Kosik (1969, p. 40), o “princípio metodológico da investigação dialética da  
realidade social é o ponto de vista da totalidade concreta que, antes de tudo, significa que cada  
fenômeno pode ser compreendido como momento do todo”. A totalidade é uma categoria  
concreta, é a essência constitutiva do real. Nesse sentido, a totalidade concreta expressa o  
diferencial do método materialista, histórico e dialético (LUKÁCS, 1981).  
A apreensão da totalidade concreta é possível por meio de inúmeras e complexas  
mediações13, sem as quais a totalidade é uma abstração. A apreensão das mediações desses  
complexos dinâmicos ocorre por meio da relação dialética entre as formas pelas quais o  
fenômeno se expressa, ou seja, sua aparição na realidade social e sua forma de se relacionar  
com a essência, com as legalidades sociais14. Nesse sentido, a totalidade constitui-se de  
mediações complexas apreendidas pela dialética materialista.  
Outro elemento de análise é o significado social da profissão inserida na divisão social  
e técnica do trabalho (IAMAMOTO; CARVALHO, 2011). Considera a necessidade social do  
Serviço Social como uma demanda da classe burguesa, e por seus representantes do Estado para  
intervir junto aos trabalhadores. Para Iamamoto e Carvalho (2011), a profissão é concebida  
como uma atividade que exerce um dado controle social no desenvolvimento da ideologia  
dominante à cada época. Sua atuação assenta-se pela mediação das políticas sociais, na criação  
das condições objetivas da reprodução da força de trabalho junto aos trabalhadores e suas  
famílias, seu trabalho assalariado incide nas expressões da questão social que se torna o objeto  
de intervenção desse profissional.  
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O trabalho da/o assistente social é tensionado pelas contradições próprias da sociedade  
capitalista, e a reproduz  
pela mesma atividade, interesses contrapostos que convivem em tensão.  
Responde tanto as demandas do capital como do trabalho e só pode fortalecer  
a um ou outro polo pela mediação de seu oposto. Participa tanto dos  
mecanismos de dominação e exploração como, ao mesmo tempo e pela mesma  
atividade, da resposta às necessidades de sobrevivência da classe trabalhadora  
e da reprodução do antagonismo nesses interesses sociais, reforçando as  
contradições que constituem o móvel básico da história. (IAMAMOTO;  
CARVALHO, 2011, p. 81).  
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Podemos observar essa contradição, por exemplo, quando inserimos, principalmente as  
mulheres trabalhadoras, chefes de família, em programa de transferência de renda. Ao cadastrá-  
las em uma plataforma eletrônica, seus dados passam a fazer parte do controle das vidas das  
13 “As categorias centrais da dialética de Lukács são os conceitos intimamente inter-relacionados de ‘totalidade’ e  
‘mediação’.” (MÉSZÁROS, 2013, p. 59).  
14 Ver mais em Lukács (1981), Pontes (2009), entre outros.  
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classes trabalhadoras, importante mecanismo para o Estado; ao mesmo tempo, o dinheiro,  
produto do trabalho coletivo, da riqueza socialmente gerada e da extração de mais valia, que se  
transforma em impostos e taxas volta a população, agora por meio desses programas de  
transferência. O que é importante para que as famílias acessem as necessidades sociais básicas,  
por meio de compra de mercadorias, agora subsidiadas pelo Estado. Esse movimento  
econômico permite a ampliação de uma totalidade que engloba: produção, distribuição e  
consumo das mercadorias produzidas pelas grandes empresas. Ou seja, nossas ações atendem  
interesses dos trabalhadores, ao receberem um recurso que poderão comprar: comida, roupa,  
remédios, mas, também atende interesses empresariais: ampliando a produção e fazendo com  
que novas mercadorias circulem, movendo tanto a economia como a extração de mais valia.  
Outro elemento de análise é a questão social que só pode ser analisada e apreendida  
como produto da contradição capital e trabalho, no sentido em que a produção é socializada e  
sua apropriação é privada, sendo, portanto, constituinte do modo de produção capitalista.  
Assim, a questão social ancora-se na “lei geral da acumulação capitalista”, apresentada em  
detalhes por Marx (2010). Nesse cenário, o elemento que se destaca é o pauperismo como  
fenômeno próprio à expansão do capital, é nesse bojo que faz sentido um mercado de trabalho  
que permitirá emergir uma profissão: o Serviço Social.  
É necessário também, captar a questão social nas particularidades sócio-históricas no  
Brasil. Em seu processo de reprodução ampliada do capital que teve como base a violência, a  
escravidão, o coronelismo e o mandonismo como características que não podem ser  
abandonadas na análise da questão social no país.  
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A Política Social é analisada como a mediação estatal no confronto entre capital e  
trabalho incidindo diretamente nas refrações da questão social. Em um momento específico do  
desenvolvimento capitalista (capitalismo monopolista) e das alterações na função do Estado, a  
política social terá seu amadurecimento. Responde ora aos interesses do capital, ora aos  
interesses dos trabalhadores, a depender da correlação de forças entre as classes. Pode  
apresentar algumas melhorias na qualidade de vida dos trabalhadores, mas sem alterar a  
essência exploradora do capitalismo. Cabe destacar que mesmo os países capitalistas que  
consolidaram um sistema de seguridade social baseada no princípio da universalidade, não  
alteraram o estatuto da propriedade privada, estrutura do próprio capitalismo15.  
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O Serviço Social é chamado, então, à operacionalização das políticas sociais, como  
agentes executores de tais intervenções estatais. Não se trata aqui de pensar a profissão como  
15 Para uma análise aprofundada de política social, ver: Behring (2003, 2002); Behring e Boschetti (2006); Motta  
(1995), entre outros.  
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Entre os objetivos profissionais e institucionais: fortalecendo o Serviço Social  
profissionalização da caridade ou evolução da filantropia; mas sim pensar o Serviço Social  
como profissão que se insere no mercado de trabalho especializado e o/a assistente social como  
vendedor da sua força de trabalho (IAMAMOTO, 2011, NETTO, 2005).  
Essa diferenciação faz-se necessária uma vez que há uma tendência contundente, em  
pesquisas recentes16, de uma espécie de mimese entre os objetivos da política social e da  
profissão, sobre isso nos debruçaremos a seguir.  
2 - A condição de classe trabalhadora do/a assistente social e os objetivos das  
instituições empregadoras e do Serviço Social.  
Iamamoto (2009) reflete que o debate acerca do significado social da profissão,  
difundido em sua obra seminal de 1982, foi amplamente divulgado, contudo, cabe refletir  
também sobre o significado do trabalho de assistente social. Tal significado do trabalho exige  
mediações históricas e conjunturais, sem as quais as contradições entre trabalho assalariado e  
resistências no trabalho profissional ficam comprometidas.  
É nesse sentido que as tensões entre trabalho assalariado e a direção social do trabalho  
profissional defrontam-se no cotidiano profissional.  
Segundo a autora, “o significado social do trabalho profissional do assistente social  
depende das relações com os sujeitos sociais que o contratam, os quais personificam funções  
diferenciadas na sociedade” (2009, p. 215). O significado social, por mais que tenha uma  
dimensão qualitativa em todos os espaços sócio-ocupacionais, ele não se identifica diretamente  
“nas diferenciadas condições em que se realiza esse trabalho porquanto envolvido em relações  
sociais distintas” (p. 215).  
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A condição de assalariamento, como funcionário público, em organizações empresariais  
ou organizações sociais, envolve a incorporação de determinantes que compõe o contrato de  
trabalho. Assim como oferecem, em maior ou menor condição, os meios pelos quais o trabalho  
do assistente social se realiza, os recursos financeiros e humanos para a intervenção em uma  
determinada expressão da questão social. As expectativas, exigências e necessidades dos  
empregadores também aparecem e “materializam requisições, estabelecem funções e  
atribuições, impõem regulamentações especificas ao trabalho a ser empreendido”  
(IAMAMOTO, 2009, p. 218).  
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Outro vetor decisivo são as demandas trazidas pelos sujeitos, suas necessidades sociais,  
que chegam ao trabalho profissional como demandas imediatas. O que exige do profissional a  
16 Iamamoto (2009); Raichelis (2018), Teixeira (2019).  
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Rodrigo José Teixeira  
necessidade de reelaboração teórico-prática dessa demanda para que, na particularidade da vida  
social do sujeito, reconstrua-se o objeto de intervenção. Segundo Pontes (2009), é capturando  
as mediações no concreto que se reconstrói, intelectivamente, o objeto de intervenção no  
trabalho de assistente social. Cabe destacar que esse campo de mediações é denso de  
complexidades e tenso de contradições.  
No seu trabalho cotidiano a/o assistente social depara-se com situações concretas  
vividas singularmente pelos sujeitos que utilizam os serviços prestados. Tais situações são  
atravessadas de determinações que expressam as requisições das lutas de classes e das bandeiras  
de luta da organização da classe trabalhadora. É um desafio ao trabalhador/a assistente social,  
envolto/a a essas contradições que também o/a caracteriza como sujeito da classe trabalhadora,  
a passagem das singularidades das vidas dos/as usuários/as às lutas maiores da classe em sua  
universalidade e particularidade. É necessário que o/a assistente social tenha um amplo  
conhecimento teórico-metodológico crítico, mas também e principalmente, de vida prática nos  
movimentos sociais de esquerda para “atribuir visibilidade aos fios que integram o singular no  
coletivo” (IAMAMOTO, 2009, p. 216).  
É nesse sentido que uma dupla determinação é posta: as requisições que chegam por  
meio dos empregadores e a tensão do desvendamento da demanda institucional em demandas  
sociais no trabalho profissional, “a consideração unilateral das imposições do mercado de  
trabalho, conduz a uma mera adequação do trabalho profissional às exigências alheias,  
subordinado a profissão ao mercado e sujeitando a/o assistente social ao trabalho alienado”  
(IAMAMOTO, 2009, p. 219).  
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É no tensionamento entre condição assalariada e a direção social do trabalho  
profissional que a relativa autonomia se coloca para o profissional. Iamamoto (2009) defende  
que a efetividade dessa relativa autonomia é dependente da correlação de forças econômicas,  
políticas e culturais que envolvem diversos sujeitos institucionais que sofrem profundas  
transformações sociais em “tempo de capital fetiche”.  
Nesse sentido que a apreensão da condição de trabalhador/a assalariado/a do/a  
profissional, nas contradições de sua sempre relativa autonomia, das legislações sobre a  
profissão, de um código de ética profissional construído coletivamente com princípios  
vinculada à luta geral dos/as trabalhares/as que podemos entender e fortalecer os objetivos da  
profissão em detrimento dos objetivos da instituição empregadora, que em tempos de retomada  
do conservadorismo, os objetivos institucionais podem referenciar-se mais aos ideários  
neoliberais que as necessidades das pessoas que atendemos.  
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Algumas aproximações para explicitar os motivos que podem expressar que, em alguns  
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Entre os objetivos profissionais e institucionais: fortalecendo o Serviço Social  
momentos, há uma mimese/mescla entre os objetivos da instituição empregadora com os  
objetivos do Serviço Social. Destacamos alguns elementos.  
Reflexionemos quando o/a profissional foca seu exercício em, somente, cumprir as  
metas estabelecidas institucionalmente; em somente inserir ou não o/a usuário/a em programas  
e projetos sociais; em se restringir ao requisitado pela instituição; quando inserimos critérios  
mais rigorosos dos que já estão postos na política, em momentos de parcos recursos, benefícios  
ou programas sociais; quando captamos as expressões da questão social, somente pelo viés  
restrito dos problemas individuais; ao não refletir se nossos laudos, pareceres, relatórios sociais  
podem ser instrumentos garantidores de direitos, ou se somente explicitamos se estão ou não  
dentro dos critérios estabelecidos pela política social, e não expressamos nossas análises  
vinculadas as atribuições privativas e competências profissionais.  
A/O profissional de Serviço Social tem a capacidade teórico-metodológica, técnico-  
operativa e ético-política de ultrapassar a análise imediata, se o profissional se limita a informar  
se há ou não recurso, se pode ou não ser incluído em programas e projetos, o/a assistente social  
tende a somente reproduzir os objetivos institucionais e da política social e não os objetivos do  
Serviço Social em seu cotidiano de trabalho.  
Somente quando consideramos a totalidade em que o/a usuário/a está inserido/a, quando  
a/o consideramos sujeito da classe trabalhadora, que tudo produz, mas não acessa a riqueza  
produzida, é que podemos nos aproximar dos objetivos profissionais e construir respostas  
condizentes com uma direção social crítica. Nesse sentido, que não podemos perder no  
horizonte as interações entre raça, classe e gênero, nas particularidades do país e do território  
de nossa atuação, sem tais determinações não se pode captar as expressões da questão social  
que chegam no nosso cotidiano de trabalho.  
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Para isso, é preciso construir resistência, Teixeira (2020) exemplifica que o/a  
profissional deve conhecer a realidade concreta em que está inserido, o território em que a  
política social está sendo executada; produzir dados de quantos usuários/as estão sem recursos;  
quais alternativas concretas de organização coletiva é possível naquele espaço; realizar grupos  
de discussão com os/as usuários/as que não acessam seus direitos para discutir as expressões  
da questão social naquele território; conhecer e participar da organização coletiva, dos  
movimentos sociais, das frentes pela defesa da saúde, da assistência social que lutam por  
melhores condições para os usuários/as atendidos/as; realizar seu exercício profissional em  
consonância com os movimentos sociais, politizando as expressões da questão social junto à  
população, assim, pode conseguir ultrapassar o imediato, analisar aquela demanda singular no  
conjunto das particularidades da vida social, tendo a universalidade como horizonte estratégico  
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Rodrigo José Teixeira  
de busca da totalidade social.  
Analisamos que não se trata somente de uma vontade individual em trazer à tona os  
objetivos da profissão, mas das condições objetivas que colocam desafios cotidianos a  
efetividade de tal direção. As diferentes formas de contratação, por exemplo, é um desafio posto  
a essa efetividade, mas não uma barreira. Podem colocar desafios a objetivação da direção  
social da profissão em detrimento dos valores das instituições empregadoras. Muitas  
organizações sociais apresentam Missão, Visão e Valores totalmente atrelados mais à lógica  
neoliberal do que à emancipação humana e a plena expansão dos indivíduos sociais.  
O burocratismo em que as instituições se reafirmam, quer nas inúmeras formas de  
tecnologia da informação que se configura mais como mecanismo de controle da classe em  
detrimento dos direitos sociais. Ao ficar mais voltados ao burocratismo e ao sistema de  
informação do que o reconhecimento das expressões da questão social, o/a profissional reforça  
mais os objetivos institucionais em detrimento dos objetivos do Serviço Social.  
Há uma tendência nas instituições e nas organizações sociais que gestam a política social  
uma transferência da lógica de gestão das empresas privadas para a lógica da gestão da política  
pública, com metas de atendimento a serem cumpridas, quantidade de relatórios, laudos e  
pareceres por mês, entre outros. Os processos seletivos para contração de assistentes sociais,  
algumas vezes, voltam-se mais para a especialização e conhecimentos relativos ao domínio  
instrumental da política social em detrimento dos referenciais teóricos que sustentam o projeto  
de profissão. Isso muitas vezes leva aos profissionais a especializarem-se nas políticas em  
detrimento da reflexão sobre os valores e princípios do código de ética e das atribuições e  
competências expressas na Lei que Regulamenta a Profissão.  
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Em algumas vezes, a educação permanente de assistentes sociais, muitas vezes, ocorre  
somente nas capacitações oferecidas pelos órgãos de Estado em detrimento da educação  
permanente oferecida em espaços de debate da categoria profissional, como lives do CFESS e  
da ABEPSS, e debates oferecidos pelos CRESS.  
Participar somente da capacitação para implantação, gestão e execução das políticas  
sociais pode ocasionar que os objetivos da política social sobressaiam aos objetivos da  
intervenção profissional17. Os objetivos das políticas sociais continuam sendo necessários à  
garantia de necessidades básicas da população usuária dos serviços, expressam as lutas sociais  
da classe trabalhadora, mas não podem ser confundidos com as respostas construídas pela  
profissão.  
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17 Uma excelente reflexão pode ser encontrada em Guerra (2018), a autora reflete se a capacitação é nas políticas  
ou para as políticas.  
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Entre os objetivos profissionais e institucionais: fortalecendo o Serviço Social  
Tais capacitações podem incidir que muitas vezes, a linguagem18 profissional da/o  
assistente social está encharcada dos determinantes teóricos que sustentam a política social em  
detrimento dos Fundamentos do Serviço Social. Expressões como os “níveis de vulnerabilidade  
social” postos na política de assistência social no Brasil, por exemplo, encobertam o pauperismo  
e seus desdobramentos nas expressões da questão social, sem perceber a matriz teórica que  
sustenta aquele termo.  
Dessa forma, a incidência das práticas mecanicistas em detrimento do rigoroso trato  
teórico-metodológico na análise da realidade para intervenção profissional pode permitir que  
a ação profissional desenvolva-se mais direcionada à execução das políticas sociais do que  
nas respostas construídas a partir da análise da realidade realizada pelo Serviço Social. Se a  
questão social e suas refrações não se configuram como objeto de trabalho do/a assistente  
social, a política social ganha centralidade na ação profissional. A condição de classe  
trabalhadora, a precarização dos espaços de trabalho, aliadas a uma formação profissional  
também precária, fortalece a incidência da centralidade dos objetivos da política social na  
intervenção profissional em detrimento das respostas profissionais.  
Considerações Finais  
O artigo apresentou alguns elementos para refletir sobre como garantir os objetivos do  
Serviço Social, profissão inscrita na divisão social e sexual do trabalho no Brasil, em detrimento  
dos objetivos das instituições empregadoras e das políticas sociais, que muitas vezes,  
reproduzem valores e princípios ultraneoliberais.  
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Se nossa ação cotidiana não se realizar com a orientação das entidades da categoria, na  
defesa do Código de Ética, da Lei que Regulamenta a Profissão e do conjunto dos conteúdos  
das Diretrizes Curriculares, há uma tendência em reproduzir valores das instituições  
empregadoras.  
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Apresentar elementos da conjuntura nacional e latino-americana, assim como revisar a  
bibliografia do movimento de reconceituação permite à assistentes sociais se comprometerem  
com a realidade social, com os movimentos sociais e com o legado histórico da profissão.  
Assim, pode-se verificar no artigo alguns tensionamentos entre a relação dos objetivos  
da instituição empregadora e do Serviço Social. O que pode apontar a necessidade da retomada  
de um trabalho na direção da politização da população usuária, da ação pedagógica em nosso  
trabalho profissional, importante referência deixada pelo movimento de reconceituação com  
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Linguagem aqui analisada como materialização da consciência, segundo Marx e Engels (1982), na obra A  
Ideologia Alemã.  
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Rodrigo José Teixeira  
grande influência de Paulo Freire e sua pedagogia emancipatória, e das ações que efetivem a  
dimensão político-organizativa a serem construídas com os/as usuários/a dos serviços.  
A politização das demandas não está posta nas políticas sociais, ao contrário, é a direção  
social na defesa dos reais interesses das pessoas atendidas pelo Assistente social, que se  
configura como opção individual da/do assistente social que quer ultrapassar o “imediatismo  
da prática profissional” (COELHO, 2010) é que garante esse trabalho.  
Alguns pontos sumariados para garantir os objetivos do Serviço Social em espaços de  
trabalho de assistentes sociais:  
1 – Fortalecimento coletivo da profissão, da organização coletiva de assistentes sociais,  
e da reafirmação da Lei 8.662/93 e do Código de Ética do/a Assistente Social;  
2 – A apreensão teórica crítica acerca da totalidade da vida social, nas particularidades  
do território que se ocupa. Sem tal apreensão o exercício profissional pode ocorrer de forma  
mecanicista, somente respondendo aos objetivos institucionais;  
3 – A luta constante por uma formação profissional de qualidade, com rigoroso trato  
teórico-metodológico, nas particularidades das distintas formações sociais, e com qualidade  
técnico-operativa para construir respostas profissionais, reafirmando as Diretrizes Curriculares  
da ABEPSS, de 1996;  
4 – Reforço da análise crítica da questão social no Brasil e das suas expressões históricas  
como objeto de intervenção do Serviço Social;  
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5 – A reflexão constante e cotidiana se nossas ações expressam a direção social crítica;  
6 – Disputar política e teoricamente a direção social das políticas sociais, participando  
dos espaços de controle e planejamento de tais políticas. Assim, como das frentes em defesa da  
qualidade, gratuidade, universalidade das políticas sociais, entre outras ações.  
A direção social do Serviço Social é uma construção coletiva, sua opção política nas  
ações estratégicas requer um movimento individual e coletivo dos profissionais envolvidos no  
trabalho. A politização das demandas trazidas pela população é, muitas vezes, a alternativa a  
uma ausência expressiva de políticas sociais que atendam às reais necessidades das/os  
usuários/as dos serviços.  
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