DOI 10.34019/1980-8518.2023.v23.39287  
Violência sem véu: uma reflexão inspirada na  
experiência como Assistente Social  
Violence without veil: a reflection inspired by the experience as a Social  
Worker  
Alexandra Aparecida Leite Toffanetto Seabra Eiras*  
Joyce Queiroga Resende**  
Resumo: O presente artigo analisa o fenômeno  
da violência por meio das reflexões suscitadas  
no exercício profissional do Serviço Social, em  
nossa experiência como Assistente Social,  
trazendo elementos para entender as expressões  
da violência na sociedade brasileira e sua  
particularidade na totalidade da vida social, na  
sociedade capitalista. Utilizamos como  
referência teórica sobre o tema produções de  
Marilena Chaui, Octávio Ianni, Mione  
Apolinário Sales e José Fernando Silva.  
Abstract:  
This  
article  
analyzes  
the  
phenomenon of violence through the reflections  
raised in the professional practice of Social  
Work, in our experience as a Social Worker,  
bringing elements to understand the expressions  
of violence in Brazilian society and its  
particularity in the totality of social life, in  
capitalist society. We used productions by  
Marilena Chaui, Octávio Ianni, Mione  
Apolinário Sales and José Fernando Silva as a  
theoretical reference on the subject.  
Palavras-chaves: Violência; Serviço Social;  
Keywords: Violence; Social Work; Cotidian;  
Cotidiano; Capitalismo.  
Capitalism.  
Recebido em: 21/10/2022  
Aprovado em: 07/02/2023  
*
Assistente social, doutora em Serviço Social, professora titular na Faculdade de Serviço Social da Universidade  
Federal de Juiz de Fora. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4095-7950  
** Assistente social, mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Universidade Federal de Juiz  
de Fora.  
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 23, n.1, p. 103-121, jan./jun. 2023. ISSN 1980-8518  
Alexandra Aparecida Leite Toffanetto Seabra Eiras; Joyce Queiroga Resende  
Introdução  
Este artigo trata da violência, cuja expressão na realidade brasileira tem sido  
reconhecida por diferentes estudiosos e cuja visibilidade através das mídias e meios de  
comunicação social contribui para fixar determinados estereótipos em relação àqueles que a  
praticam, reforçando preconceitos sociais que dificultam a compreensão deste fenômeno em  
sua multidimensionalidade. Privilegiamos nesta reflexão sobre este tema, a leitura de produções  
teóricas elaboradas por Chaui, Ianni, Sales e Silva, com as quais estabelecemos um diálogo, a  
partir da experiência no exercício profissional do Serviço Social.  
Em nosso exercício profissional lidamos rotineiramente com as expressões da questão  
social1, dentre as quais se situa a violência. Nesse cotidiano, paradoxalmente, aqueles que  
sofrem a violência de modo mais duro, em seu dia a dia, dificilmente a percebem em sua  
profundidade. Via de regra eles incorporam e aceitam desempenhar o papel social que lhes é  
“destinado”, “trabalhador”, “pobre”, “subordinado”, “vítima”, “criminoso”, resignando-se à  
dura realidade.  
Por sua vez, as concepções ainda vigentes no imaginário social evidenciam a presença  
de conteúdos próprios do autoritarismo social (CHAUI, 2021) no cotidiano, tão característico  
da formação sócio-histórica brasileira, que reproduzem estigmas e preconceitos sobre quem  
pode ou não ser violento.  
104  
Entretanto, o que não ocorre com frequência é uma explicação capaz de revelar a  
processualidade histórica-econômica-sociocultural constituinte e constitutiva, presente nas  
expressões da violência, e este artigo visa contribuir nesta direção.  
A
R
T
I
G
O
A esse respeito, em nossa cultura e no imaginário brasileiro, acostumamo-nos a lidar  
com a violência como algo individualizado. Como argumenta Chaui (2021), no Brasil,  
construímos o mito de uma sociedade pacífica e não violenta. E a autora destaca cinco  
mecanismos ideológicos sobre a violência presentes na cultura brasileira: a “exclusão”, a  
“distinção”, “o jurídico”, “o sociológico” e a “inversão do real”. Pela exclusão afirma-se que a  
sociedade brasileira não é violenta e quando ela ocorre é praticada por pessoas que não são  
desta nação. Pela distinção entre essencial e acidental, a violência não é reconhecida como  
inerente ao brasileiro, mas como ação episódica, acidental e sua prática não altera a nossa  
1 De acordo com Ianni (2004 b: p. 103) a questão social está presente na história da sociedade brasileira nas “várias  
repúblicas formadas desde a Abolição da Escravatura e fim da monarquia”. Ela se apresenta como “um elo básico  
da problemática nacional, dos impasses dos regimes políticos ou dilemas dos governantes. Reflete disparidades  
econômicas, políticas e culturais, envolvendo classes sociais, grupos raciais e formações regionais. Sempre põe  
em causa as relações entre amplos segmentos da sociedade civil e o poder estatal”. “As várias modalidades do  
poder estatal [autoritário ou democrático] defrontam-se com ela”.  
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 23, n.1, p. 103-121, jan./jun. 2023. ISSN 1980-8518  
Violência sem véu: uma reflexão inspirada na experiência como Assistente Social  
essência pacífica. No mecanismo jurídico, a violência é compreendida como restrita ao meio  
da delinquência e da criminalidade e legitima-se a ação policial na proteção dos “cidadãos de  
bem”. No mecanismo sociológico, a violência foi explicada como um momento na história de  
transição para a modernidade, com intensa migração para as cidades, causando,  
temporariamente, atos isolados de violência das “classes mais pobres”. E a inversão do real  
está posta na existência e disseminação de concepções que justificam a “dominação natural do  
homem” que protege a mulher, em sua “fragilidade feminina”, e/ou o paternalismo branco  
“civilizatório” em relação aos povos não brancos ("inferiores”); e a repressão e violência direta  
e indireta contra a população LGBTQIA+ diante dos “valores sagrados” e da preservação da  
“família”.  
Esse mito da sociedade não violenta tem sido interiorizado como forma de explicação,  
produzindo valores, ideias, comportamentos e práticas, manifestando-se, ainda, em ações  
concretas na realidade. A permanência desse mito propaga a ideia de que a violência existe,  
porém, de maneira factual localizada em determinados grupos que seriam, segundo Chaui, os  
“portadores da violência”, em suas palavras,  
A sociedade brasileira não percebe que as próprias explicações oferecidas são  
violentas porque está cega para o lugar efetivo da produção da violência, isto  
é, a estrutura da sociedade brasileira. Dessa maneira, as desigualdades  
econômicas, sociais e culturais, as exclusões econômicas, políticas e sociais,  
a corrupção como forma de funcionamento das instituições, o racismo, o  
machismo, a intolerância religiosa, sexual e política não são consideradas  
formas de violência, isto é, a sociedade brasileira não é percebida como  
estruturalmente violenta e a violência aparece como um fato esporádico da  
superfície. (CHAUI, 2021, p. 41).  
105  
A
R
T
I
G
O
Desse modo, quando realizamos a análise da violência no âmbito da totalidade da vida  
social, apreendemos nitidamente sua transversalidade no cotidiano de milhões de pessoas. E  
quando nos deparamos com as violências presentes na vida individual daqueles que procuram  
os serviços sociais, fica difícil negar a sua relação com os processos histórico-econômico-sócio-  
culturais e é quase impossível não nos indignarmos diante do que testemunhamos.  
No entanto, também nós, assistentes sociais, estamos imersas(os) no imaginário da  
sociedade pacífica, e ainda é necessário explicitar o fenômeno da violência em sua  
complexidade para compreendermos os processos com os quais nos deparamos,  
cotidianamente, em nosso exercício profissional.  
Assim, este texto foi elaborado como um exercício de reflexão, a partir de referências  
teóricas que questionam o fenômeno da violência e intentam analisá-la em sua complexidade e  
amplitude, evitando sua redução à dimensão individual.  
Neste artigo, apresentamos referências teóricas através do diálogo com Marilena Chaui  
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 23, n.1, p. 103-121, jan./jun. 2023. ISSN 1980-8518  
Alexandra Aparecida Leite Toffanetto Seabra Eiras; Joyce Queiroga Resende  
(2021) e Octávio Ianni (2004) para a compreensão da violência, a partir de análises suscitadas  
pela nossa experiência como assistente social, em diferentes contextos, e pela incorporação de  
produções em nossa área, como as de Sales (2007) e Silva (2007, 2008). Indicamos, ainda,  
algumas das condições postas pelo pertencimento à classe trabalhadora, no Brasil, na  
atualidade, que reproduzem processos de subordinação e dominação, estruturalmente  
associados ao fenômeno da violência. Evidenciamos, assim, essa dimensão da violência  
estrutural cuja apreensão torna-se necessária para o (a) assistente social em seu cotidiano  
profissional.  
Na redação deste artigo, descobrimos nuances e perspectivas, que a nosso ver, ao serem  
compartilhadas, contribuem para o trabalho dos(as) assistentes sociais, profissionais  
diariamente expostos(as) às diferentes formas de expressão da violência na sociedade  
capitalista.  
Sobre a violência  
Inspiradas, sobretudo, na leitura de Marilena Chaui (2021) e Octávio Ianni (2004)  
propomos algumas formulações que são transversais nesta reflexão sobre a violência.  
A primeira delas é que explicar o fenômeno da violência é algo complexo e exige uma  
perspectiva multidimensional, evitando o equívoco de reduzir o seu entendimento a um único  
condicionante. A sua elucidação está associada às noções de força e de poder em relação a  
outrem e à necessária compreensão da particularidade histórica, a qual evidencia nas relações  
sociais, o exercício do poder pela coerção e, pela submissão de indivíduos e de grupos aos  
interesses de uma classe dominante.  
106  
A
R
T
I
G
O
Na apreensão de sua particularidade histórica os processos econômicos e socioculturais  
destacados por Ianni (2004) evidenciam a dominação pela concentração da riqueza e  
configuração das classes sociais, que reproduzem o lugar e o papel social dos indivíduos, e a  
relação assimétrica de poder entre eles. Na definição de tais lugares e papéis sociais impõem-  
se diferenças de gênero, raça e etnia, construídas historicamente, e assimetrias entre homens e  
mulheres, brancos e não-brancos.  
Inspiradas em Chaui (2021), pensamos que essa dimensão assimétrica nas relações de  
poder é um aspecto central para compreender o fenômeno da violência, e distingue lugares de  
domínio e de subordinação, embora permanentemente em movimento, sendo alvo de disputa e  
contestação. Por sua vez, o aparato repressivo envolvido na manutenção do status quo e da  
ordem dominante, obstaculiza as possibilidades de alteração e regulamenta e/ou justifica os atos  
de violência propriamente ditos, praticados nas ações de dominação, como castigos físicos,  
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 23, n.1, p. 103-121, jan./jun. 2023. ISSN 1980-8518  
Violência sem véu: uma reflexão inspirada na experiência como Assistente Social  
punições, assassinatos e extermínio, conforme nos lembra o excelente texto de Sales (2007).  
Desse modo, no processo de colonização da América em sua particularidade histórica  
predominou a exploração econômica, a conquista de territórios e submissão de inúmeras  
pessoas que foram colocadas em situação de servidão, escravizadas e vitimadas pelo morticínio,  
vidas vilipendiadas e violentamente subordinadas ou anuladas pelo assassinato. Concordamos  
com Aimé Césaire (1978) que o processo de colonização foi constituído de atos de violência,  
crueldade e pilhagem, justificado pela racionalidade europeia de conquista e submissão de  
povos e terras.  
Esta violência presente desde os atos de colonização se expressa em suas múltiplas  
manifestações na história desses países, objetiva e subjetivamente. A “invenção do racismo”,  
na relação do homem branco com as diferentes etnias dos povos originários e africanos, trazidos  
para o continente americano, foi uma das formas de dominação violenta mais bem sucedidas,  
desde o século XV e que, infelizmente, permanece na contemporaneidade atravessando todas  
as nossas relações em sociedade. Essa violência está associada à destruição do que é diferente,  
do que é estranho a um padrão instituído como correto, belo ou moralmente aceito pela classe  
e interesses sociais dominantes, na idealização almejada de criar uma sociedade equilibrada e  
perfeita (IANNI, 2004). Na América Latina esses padrões foram historicamente instituídos a  
partir de uma perspectiva eurocêntrica consolidando formas de dominação e violência.  
Assim,  
107  
Sobre vários aspectos, a violência é um evento heurístico de excepcional  
significação, revela o visível e o invisível, o objetivo e o subjetivo, no que se  
refere ao social, econômico, político e cultural, compreendendo o individual  
e o coletivo, a biografia e a história. Desdobra-se pervasivamente pelos polos  
da sociedade e do indivíduo. (...) Nasce como técnica de poder, exercita-se  
também como modo de preservar, ampliar ou conquistar a propriedade,  
adquire desdobramentos psicológicos surpreendentes no que se refere aos  
agentes e as vítimas. Entra como elemento importante da cultura política com  
o qual se ordenam, modificam ou transformam as relações entre os donos do  
poder e os setores sociais subalternos, os governantes e a população, as elites  
e as massas. (IANNI, 2004, p. 169).  
A
R
T
I
G
O
Nas sociedades capitalistas, a violência está intimamente relacionada à concentração  
dos meios de produção e do capital nas mãos de poucos possuidores e à distribuição desigual  
da riqueza socialmente produzida.  
A contradição entre capital e trabalho (MARX, 2017), entre as condições de vida do  
conjunto dos trabalhadores e daqueles que concentram a riqueza, pode gerar reivindicações,  
lutas, manifestações e movimentos sociais e, ainda, atos de desespero mediante uma realidade  
de exclusão e violação.  
Nestas sociedades, as marcas das desigualdades estão presentes na realidade cotidiana  
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 23, n.1, p. 103-121, jan./jun. 2023. ISSN 1980-8518  
Alexandra Aparecida Leite Toffanetto Seabra Eiras; Joyce Queiroga Resende  
da maioria da população, no conjunto de pessoas que vivem nas periferias urbanas, privadas de  
direitos fundamentais, como: trabalho, moradia, educação, saúde e acesso aos equipamentos  
culturais.  
Por sua vez, o sistema coercitivo do Estado é estrategicamente direcionado às pessoas  
que vivem nas periferias, discriminando-as como se fossem a causa e não como parte da  
violência da qual são alvos há muitos anos. Essas formas de violência, que são invisibilizadas  
e/ou individualizadas,  
(...) torna evidente, explícito e transparente o nexo essencial entre riqueza e  
pobreza, emprego e desemprego, prosperidade e miséria, a fluência e carência,  
lei e injustiça, ordem e desordem, monopólio da violência pelas elites  
governantes e classes dominantes simultaneamente à invenção da violência  
pelos grupos sociais e classes sociais subalternos, pelos humilhados e  
ofendidos, pelos famélicos da terra. (IANNI, 2004, p. 207).  
Nesse sentido, a realidade de “apartheid dos jovens pobres [...] não será uma  
prerrogativa brasileira ou latino-americana: ela se dá nos guetos étnicos americanos  
(hispânicos, negros, italianos, irlandeses, etc.)” e na Europa, “com destaque para França e  
Inglaterra, e seu crônico problema cultural-imigratório, ligado, por vezes, à condição de  
juventude operária” (SALES, 2007, p. 127).  
A diferença entre a violência legal e a ilegal, atribuída de forma recorrente aos pobres e  
trabalhadores, decorre muitas vezes do perigo político que essa classe oferece para o poder  
dominante, e à construção ideológica (o imaginário veiculado sobre quem pratica a violência)  
somam-se os recursos de coerção e manipulação pelo medo para garantia da ordem social.  
De acordo com Sales (2007) a visibilidade punitiva na contemporaneidade perpassa  
significativamente as mídias televisiva e impressa, e a indústria cultural, com a divulgação de  
situações e processos criminais que ganham grandes espaços nos noticiários, principalmente,  
para discorrer sobre a ineficiência do sistema judiciário em punir os chamamos “criminosos”.  
Assim, há o reforço de práticas punitivas e a ênfase em reformas penais, com forte apoio  
das camadas mais conservadoras da sociedade que clamam pela instituição e legalização da  
pena de morte, como uma forma de anular o crime com a execução do “meliante” e/ou bradam  
pela redução da idade penal, como acontece atualmente no Brasil.  
108  
A
R
T
I
G
O
Esse imaginário e essa estigmatização afeta, sobretudo, a juventude pobre associada,  
indiscriminadamente, à prática da violência, ensejando reclames de punição e indiferença à sua  
condição de vida e existência. Por isso, “tudo o que os jovens pobres questionam e produzem  
irreverentemente, aqui e alhures, e a tudo o que reagem é concebido, invariavelmente, como  
violência, mesmo se tratando de meras transgressões ou incivilidades” (SALES, 2007, p. 127).  
No Brasil, Chaui (2021) destaca o estigma das classes subalternas e da população  
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 23, n.1, p. 103-121, jan./jun. 2023. ISSN 1980-8518  
Violência sem véu: uma reflexão inspirada na experiência como Assistente Social  
identificada como “classe perigosa”. A autora afirma que as classes dominantes têm medo dos  
de baixo e receiam a perda de poder, de controle e privilégio, já as classes subalternas têm medo  
de sofrer violência, coerção e injustiça. Pelo medo de perder o poder da violência as classes  
dominantes afirmam que as classes populares são violentas e perigosas.  
A visibilidade negativa e a disciplina coercitiva sobre as classes subalternas contribuem  
para a fabricação dos sujeitos criminalizados. Criam-se imagens ilusórias sobre a realidade  
concreta, individualiza-se o olhar sobre determinados grupos sociais, traduzindo-os como seres  
criminosos ou potencialmente criminosos; reafirma-se o poder das leis punitivas, a obediência,  
submissão e a exclusão. Esses sujeitos tornam-se perversamente visíveis, objeto constante de  
vigilância, repressão e punição (SALES, 2007).  
Todavia, quem são esses sujeitos criminalizados? Conforme dados estatísticos e estudos  
existentes, sabemos que esses possuem classe, raça e gênero bem determinados. “Em 2019, os  
negros representaram 77% das vítimas de homicídios (...) as mulheres negras representaram  
66% do total de mulheres assassinadas no Brasil” (IBGE, p. 49, 2021). Já o Anuário Brasileiro  
de Segurança Pública do ano de 2022 reforça a informação de que a população que reside ou  
circula pelas periferias são as vítimas frequentes da letalidade da violência.  
Assim, a juventude negra, pobre e periférica é a que mais sofre os impactos de uma  
sociedade violenta e racista. São visibilizados pela mídia como adolescentes e jovens infratores,  
como geradores da violência na sociedade devido ao local onde nascem e/ou vivem, clivados  
como descendência da criminalidade, reforçando ideologias geneticistas; afirma-se também, os  
estereótipos de que são sujeitos desocupados, vivendo na vagabundagem por vontade própria e  
sem interesse em trabalho.  
109  
A
R
T
I
G
O
De acordo com Sales (2007), observamos que há uma dimensão de  
visibilidade/invisibilidade da violência no decorrer da história. Inspirada nas teorias de Foucault  
em “Vigiar e Punir” (1996), a autora evidencia a vigilância dos corpos de forma a criar pontes  
entre a razão e a violência, entre o saber e o poder, a visibilidade de verdades parciais a favor  
de uma universalidade de dominação dos indivíduos. A disciplina dos corpos vigiados, a  
disciplina imposta com base em uma política de medo e coerção articula-se a um tipo seletivo  
de liberdade e democracia, que, quando confrontadas com o cotidiano dessas pessoas, são  
referências formais e não reais.  
Essa legalização e normalização da violência fazem parte da despolitização do cotidiano  
e alienação em relação à realidade concreta, focando a explicação da sua complexidade em  
motivos parciais, reiteram-se práticas discursivas/teóricas organizadas de forma política,  
administrativa, burocrática e cultural por um poder dominante ou classe dominante que “molda”  
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 23, n.1, p. 103-121, jan./jun. 2023. ISSN 1980-8518  
Alexandra Aparecida Leite Toffanetto Seabra Eiras; Joyce Queiroga Resende  
o pensamento e ações de sujeitos sociais, visando controlar a vida das pessoas conforme a  
necessidade do sistema (SALES, 2007).  
Segundo Sales (2007, p. 175), as técnicas de dominação se “nutrem da força, da  
legitimidade e da autoridade do conhecimento e da racionalidade, sendo acionadas, segundo as  
táticas e objetivos do poder, argumentos teóricos, enunciados científicos e saberes muitas vezes  
alegados como inquestionáveis”.  
Assim, a prática institucionalizada da violência, como a criminalização de grupos e de  
movimentos sociais, por exemplo, se opõe à prática da democracia política, por não reconhecer  
o conjunto da população como sujeitos de direitos, que podem lutar por direitos e serem contra  
os privilégios de uma classe dominante, sendo o poder de dominação exercido através de  
opressão, força, intimidação e medo, inclusive pelo próprio Estado.  
Entretanto, a violência também precisa ser pensada a partir dos atos praticados pelos  
sujeitos. Desse modo, Chaui (2021) imprime o seguinte sentido à violência:  
Etimologicamente, "violência" vem do latim vis, força e significa: 1. Tudo o  
que age usando a força para ir contra a natureza de algum ser (é desnaturar);  
2. todo ato de força contra a espontaneidade, a vontade e a liberdade de alguém  
(é coagir, constranger, torturar, brutalizar); 3. todo ato de violação da natureza  
de alguém ou de alguma coisa valorizada positivamente por uma sociedade (é  
violar); 4. todo ato de transgressão contra aquelas coisas e ações de alguém ou  
uma sociedade definem como justas e como um direito (é espoliar ou a  
injustiça deliberada); 5. consequentemente, violência é um ato de brutalidade,  
sevícia e abuso físico e/ou psíquico contra alguém e caracteriza relações  
intersubjetivas e sociais definidas pela opressão e pela intimidação, pelo medo  
e pelo terror. A violência é a presença da ferocidade nas relações com o outro  
enquanto outro ou por ser um outro, sua manifestação mais evidente se  
encontra na prática do genocídio e na do apartheid. É o oposto da coragem e  
da valentia porque é o exercício da crueldade. (CHAUI, 2021, p. 35-36, grifos  
da autora).  
110  
A
R
T
I
G
O
A autora indica, ainda, a oposição entre violência e ética. A ética relaciona-se a um  
sujeito ético, enquanto ser racional, consciente, um ser livre que detêm conhecimento, domínio  
da linguagem e é responsável pelo que faz. Aqueles que praticam a violência deliberadamente  
tratam os seres como irracionais, passivos, inertes e insensíveis, como mera mercadoria e  
instrumento para uso de terceiros. Tratar os seres dessa forma, retirando sua humanidade,  
destituindo-os de liberdade, razão, vontade e responsabilidade, como “coisas”, isso é violentar.  
Chaui (2021) destaca que a ideologia neoliberal alargou o espaço privado em detrimento  
do espaço público, com a recusa de instâncias regulatórias das leis e dos direitos sociais,  
levando ao entendimento de que seres humanos são descartáveis em prol da maximização dos  
lucros. Redimensionando, com isso, as condições para o exercício da violência, ampliando as  
possibilidades de aumento do crime organizado com capacidade de deteriorar e corromper o  
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 23, n.1, p. 103-121, jan./jun. 2023. ISSN 1980-8518  
Violência sem véu: uma reflexão inspirada na experiência como Assistente Social  
sistema judiciário e político, levando à impunidade de líderes governamentais, administradores  
públicos e demais representações públicas.  
A esse respeito, Ianni (2004, p. 142) afirma que no novo ciclo de globalização do  
capitalismo, desenvolvem-se as classes sociais e os “grupos sociais-mundiais", gestando-se  
“estruturas mundiais de poder nas quais predominam total ou amplamente os interesses das  
elites governantes e das classes dominantes mundiais”. A violência se expressa objetiva e  
subjetivamente no “(...) narcotráfico, sequestro e tráfico de órgãos, terrorismo niilista e  
terrorismo nazista, esquadrões da morte e lógica da destruição criativa, desemprego estrutural  
e lumpenização generalizada, terrorismo de Estado e geopolítica de guerra, racismos e  
fundamentalismo” (IANNI, 2004, p. 143). A violência causa danos físicos, sociais e  
psicológicos interferindo de forma significativa no desenvolvimento dos sujeitos sociais e/ou  
coletividades.  
Assim, o “capitalismo é um vasto, complexo e sempre expansivo processo político,  
econômico e sociocultural que leva consigo a vocação de produzir e reproduzir, criar e recriar,  
inovar e substituir, engendrar e destruir” (IANNI, 2004, p. 144). Nesse contexto, a violência  
pode levar não somente à morte do corpo, mas também do espírito.  
Na próxima seção dedicamo-nos a compreender alguns aspectos da violência no Brasil,  
na atualidade, na dimensão da totalidade social e nas condições postas pela sociedade  
capitalista.  
111  
A violência na totalidade da vida social  
A objetividade da sociedade capitalista, incluindo seus valores e o que é esperado da  
realização individual, articula-se subjetivamente com a perspectiva de obter trabalho e renda  
para usufruir do que é produzido coletivamente. Espera-se que cada indivíduo trabalhe e seja  
capaz de suprir suas necessidades pela renda auferida e que o trabalho realizado lhes confira  
dignidade, valorizando seu caráter.  
A
R
T
I
G
O
Como lidar, então, com o desemprego e a impossibilidade de que todos alcancem  
simultaneamente um bom emprego? Como enfrentar a frustração de milhões de indivíduos que  
não logram êxito no mercado de trabalho, justamente, pela impossibilidade na realidade de que  
isso ocorra, de fato, para todos?  
No Brasil, a taxa de desocupação no trimestre de junho a agosto caiu a 8,9%, segundo  
dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, divulgados pelo Instituto  
Brasileiro de Geografia e Estatística, em 30/09/2022, o que representa 9,7 milhões de pessoas.  
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 23, n.1, p. 103-121, jan./jun. 2023. ISSN 1980-8518  
Alexandra Aparecida Leite Toffanetto Seabra Eiras; Joyce Queiroga Resende  
É o menor patamar desde o trimestre encerrado em julho de 2015, quando foi de 8,7%2.  
Esses dados foram comemorados positivamente. Contudo, quase dez milhões de  
pessoas estão “desocupadas”, ou seja, não auferem renda mediante uma ocupação formal ou  
informal no mercado de trabalho. Por sua vez, a renda per capta foi de R$1.353,00, em 2021,  
recuo de 6,9% em relação à 2020, menor valor em uma década3.  
Entretanto, para o mês de setembro de 2022, o DIEESE (Departamento Intersindical de  
Estatística e Estudos Socioeconômicos) calculou o valor do salário mínimo necessário para uma  
família de quatro pessoas, dois adultos e duas crianças, em R$6.306,97, para suprir as  
necessidades básicas, sobretudo as de alimentação4.  
No ano de 2022, o salário-mínimo nominal no Brasil é de R$1.212,00. Assim, mesmo  
que dois adultos trabalhem em um domicílio e tenham duas crianças, estes possuirão, de acordo  
com o cálculo do DIEESE, um terço do valor necessário para suprir suas necessidades básicas.  
Ou seja, em 2022, 38,22% do total da força de trabalho, 36.414 milhões de indivíduos com e  
sem carteira assinada e que recebem um salário-mínimo, não teriam como satisfazer suas  
necessidades básicas e nem as de seus filhos e/ou familiares5.  
Não é de se estranhar que a pauta da classe trabalhadora elaborada pela CONCLAT  
(Conferência Nacional da Classe Trabalhadora) em abril de 2022, tenha as seguintes  
reivindicações (2022)6: política de valorização do salário mínimo, programa de renda básica,  
políticas ativas de geração de trabalho e renda, marco regulatório de ampla proteção social,  
trabalhista e previdenciária, promover para mulheres, população negra, juventude, LGBTQIA+  
e pessoas com deficiência, políticas ativas de geração de trabalho e renda, proteção aos  
desempregados, eliminação da fome, combate da carestia e segurança alimentar, dentre outros.  
Em outros termos, defende-se:  
112  
A
R
T
I
G
O
O Trabalho Decente, nos termos da OIT (Organização Internacional do  
Trabalho), como princípio de trabalho produtivo e de qualidade, com proteção  
social, liberdade sindical, equidade, segurança, dignidade, direito de  
negociação coletiva, eliminação de todas as formas de discriminação e  
erradicação de todas as formas de trabalho forçado e do trabalho infantil.  
(CONCLAT, 2022, p. 10).  
Desemprego, pobreza e fome são vivenciados cotidianamente e pesam na vida de  
milhões de indivíduos, agora, neste exato momento em que redigimos este artigo.  
Contudo, no cotidiano, os meios de comunicação e as mídias sociais focalizam as  
2 Desemprego cai a 8,9%, atinge 9,7 milhões de pessoas e é o menor desde 2015 - 30/09/2022 - UOL Economia  
3 Renda per capita cai a R$ 1.353 e atinge menor valor em dez anos | Economia | O Globo  
4 DIEESE - análise cesta básica - Salário mínimo nominal e necessário - outubro/2022  
5 Trabalhadores que ganham até um salário mínimo chegam a 38% (uol.com.br)  
6 https://www.dieese.org.br/documentossindicais/2022/CONCLAT-pautas-centrais-sindicais-07-abril.html  
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 23, n.1, p. 103-121, jan./jun. 2023. ISSN 1980-8518  
Violência sem véu: uma reflexão inspirada na experiência como Assistente Social  
situações excepcionais, tanto para exaltar aqueles bem-sucedidos quanto para enfatizar que  
existem possibilidades em algumas áreas e novas oportunidades, mas nunca para mostrar o  
tamanho do problema, qual seja: não há possibilidades para todos! E a maioria está na “corda  
bamba”, equilibrando-se para continuar vivo e assistindo ao banquete do lado de fora da festa.  
Nesta sociedade em que a produção da riqueza alcança níveis inimagináveis (medida  
em trilhões de reais e de dólares), a pobreza e a fome são um fenômeno de extrema violência e  
condicionam a vida de inúmeras pessoas à instabilidade e à insegurança, bem como às situações  
vexatórias e indignas.  
Esta dimensão estrutural e condicionante é violenta e submete o conjunto dos  
trabalhadores às concepções dominantes e hegemônicas. É também o solo que opõe os  
trabalhadores entre si, na luta pela sobrevivência, seja na disputa pelas melhores condições de  
trabalho e renda, inclusive no nível da formação profissional e acadêmica.  
A ideologia meritocrática assenta-se nesta realidade de oportunidades restritas e advoga  
em prol da competitividade e da lógica de que o melhor vencerá. Contudo, as exigências  
crescentes colocam o “sarrafo” sempre mais alto e este mecanismo pode se virar contra aqueles  
que se acreditam vencedores. Além disso, em uma sociedade estruturalmente vinculada à  
competição ninguém se sente, de fato, seguro. A instabilidade instiga todos a temerem um ao  
outro e instiga à intolerância ao diferente e àqueles que podem constituir ameaça ao que foi  
“conquistado” até aqui.  
113  
Esse fenômeno é em si mesmo extremamente violento e se reproduz cotidianamente  
com particularidades na corporeidade de cada indivíduo. O gênero, a cor da pele e a  
sexualidade, atravessados pela condição de classe, intensificam os estigmas, criando uma escala  
de violações que tende a se manifestar na vida individual.  
A
R
T
I
G
O
Expressões da violência observadas no cotidiano do Serviço Social  
O Brasil conserva traços de uma sociedade colonial escravista, com predomínio do  
espaço privado sobre o público e de uma hierarquia familiar patriarcal e machista, em que,  
simbolicamente, o homem branco, líder da família, “deve mandar e ser obedecido” pelos demais  
integrantes. O outro “inferior sem poder de mando”, não é reconhecido como sujeito autônomo  
eticamente, nem politicamente, tampouco como cidadão. Essa relação assume a forma de  
opressão, de mando e obediência, marcada pela tutela e clientelismo, normalizada  
historicamente, como signo de prestígio, privilégio e poder. Este campo cultural-simbólico  
expressa-se em um “autoritarismo social” (CHAUI, 2021) que se apresenta para nós, assistentes  
sociais, nas situações de vida das pessoas que buscam e utilizam os serviços sociais.  
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 23, n.1, p. 103-121, jan./jun. 2023. ISSN 1980-8518  
Alexandra Aparecida Leite Toffanetto Seabra Eiras; Joyce Queiroga Resende  
Se prestarmos atenção observaremos que as definições macroeconômicas que impactam  
nos negócios, seja na agricultura, pecuária, indústria ou serviços, são realizadas de modo  
fechado ao escrutínio da sociedade e ao conhecimento do amplo conjunto de indivíduos, que  
não participam dessas decisões, em tese, de caráter privado, e sob a lógica do mercado. Tais  
definições condicionam a vida de muitas pessoas, que se descobrem envolvidas em fluxos  
migratórios para manutenção das condições de vida e sobrevivência.  
Hoje em dia, a partir da atuação como Assistente Social, escutamos relatos quanto à  
necessidade de migração na busca de melhores condições de vida e trabalho. Porém, o que  
muitos encontram após longas e constantes mudanças é uma nova situação de dificuldade e  
precariedade. Relatam a dificuldade de conseguir um emprego, a falta de informações e  
orientação nos equipamentos públicos de cidadania, como por exemplo, a retirada de segunda  
via de documentos, não raras vezes perdidos durante a mudança; dificuldade de inserção nas  
escolas. Dificuldade de acesso a benefícios sociais, como exemplo, o Auxílio Brasil  
(anteriormente chamado Bolsa Família), um dos programas de transferência de renda da política  
deAssistência Social para pessoas e conjuntos familiares em situação de “vulnerabilidade social  
e econômica”.  
Nesse sentido, a divisão do espaço urbano entre centro e periferia, não expressa somente  
um aspecto geográfico, são demarcações de acesso ou não à infraestrutura urbana, aos serviços  
de saneamento básico, energia elétrica, água encanada e tratada, atendimento de qualidade da  
saúde, escolas, lazer etc.  
114  
A grande maioria da população usuária do Serviço Social situa-se nas regiões  
periféricas, território onde se investe menos em infraestrutura, serviços e equipamentos  
públicos.  
A
R
T
I
G
O
Nas visitas domiciliares realizadas pelos assistentes sociais podemos presenciar de  
forma empírica o quanto a população se encontra em situação precarizada e insalubre, ao  
mesmo tempo em que nos encontramos limitados para viabilizarmos o acesso às políticas  
sociais, pois os aparatos existentes são insuficientes para suprir essas necessidades básicas.  
Conforme alerta Chaui  
uma sociedade é democrática quando institui algo mais profundo que é  
condição do próprio regime político, ou seja, quando institui direitos e que  
essa instituição é uma criação social, de tal maneira que a atividade  
democrática social se realiza como luta social e, politicamente, como um  
contrapoder social que determina, dirige, controla, limita e modifica a ação  
estatal e o poder dos governantes. (CHAUI, 2005, p. 352).  
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 23, n.1, p. 103-121, jan./jun. 2023. ISSN 1980-8518  
Violência sem véu: uma reflexão inspirada na experiência como Assistente Social  
A luta social é o mecanismo de contestação e de busca pela efetivação das referências  
jurídico-normativas dos “direitos socialmente conquistados”, mas, ela tem sido utilizada como  
estratégia frequente no cotidiano desses trabalhadores? Diante de realidades tão duras, como  
seria possível evitar a alienação de pessoas que tem ocupação tão imediata com a sobrevivência  
física? Indagamos até que ponto as lutas sociais têm sido desacreditadas pela população  
empobrecida, inclusive pela dificuldade de resultados concretos a partir delas, reforçando as  
“saídas” individuais?  
No campo simbólico-cultural que sustenta tais ideologias, Chaui (2021) destaca  
algumas concepções que reforçam o autoritarismo social. Dentre elas, a concepção do “núcleo  
tradicional familiar” que recusa a igualdade real, naturalizando a inferioridade de mulheres,  
trabalhadores, negros, indígenas, idosos, imigrantes ou estigmatizando como anormalidade a  
homossexualidade, em detrimento das desigualdades econômicas, sociais, raciais e de gênero,  
invisibilizando a violência contra essas pessoas e grupos.  
No cotidiano do trabalho com famílias, observamos a reprodução de discursos e  
posturas arraigadas nas pessoas, como a delegação de trabalhos domésticos e cuidados dos  
filhos às mulheres e a busca de “bom casamento”, com atribuição de fragilidade natural que  
engendra a proteção masculina; o homem (proprietário) como detentor da força e alicerce da  
família; a correção da desobediência (entendida como desvio do que é instituído socialmente  
como correto) por meio da violência física; a reprodução de falas homofóbicas, racistas,  
xenófobas, expressadas como opiniões/valores individuais e/ou religiosos.  
115  
Na concepção de “mando e obediência'' não há espaço para o princípio da igualdade  
jurídica e a luta contra a opressão social e econômica das classes subalternas não é aceita, sendo  
tratada com repressão e, desse modo, as leis são percebidas como inúteis no sentido de assegurar  
e proteger uma igualdade jurídica entre os diferentes sujeitos.  
A
R
T
I
G
O
No cotidiano, ainda que os direitos sejam reconhecidos legalmente, não se encontra a  
sua efetivação para o conjunto da classe trabalhadora e subalterna.  
No que tange a saúde, ainda que o Sistema Único de Saúde (SUS) seja universal, sem  
necessidade de contribuição prévia, o que vivenciamos é a ausência de investimento na  
amplitude exigida e o consequente sucateamento na oferta dos serviços, que causa longas  
esperas por tratamentos, consultas, exames, além do fantasma da falta de vagas, nas internações  
de emergência.  
Na educação, sujeitos e famílias encontram obstáculos para o acesso a creches e escolas  
públicas de qualidade, pois não há vagas e/ou estrutura suficientes para atender a todos que  
necessitam, o Estado deixa de investir em educação pública de qualidade em prol da lógica de  
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 23, n.1, p. 103-121, jan./jun. 2023. ISSN 1980-8518  
Alexandra Aparecida Leite Toffanetto Seabra Eiras; Joyce Queiroga Resende  
mercado e da educação privada, porém a maioria da classe trabalhadora não pode pagar pelo  
ensino privado.  
O acesso à habitação digna é direito de poucos e grande parcela da classe trabalhadora  
encontra-se em condições precárias de moradia, vivendo em locais insalubres, sem saneamento  
básico, sem conseguir adquirir sua casa própria despendendo sua escassa renda em aluguéis.  
Não obstante os programas sociais como o “Minha Casa Minha Vida” criado em 2009, durante  
o Governo Lula, hoje renomeado e subdimensionado no “Casa Verde e Amarela”, tenham  
beneficiado muitas famílias de baixa renda, eles não resolveram a questão habitacional e nem  
promoveram o acesso à infraestrutura e serviços básicos.  
Em relação à cultura e ao lazer, não se reconhecem as diferentes formas de expressão  
artísticas periféricas, e, via de regra, “muito” do que é de origem da classe trabalhadora,  
periférica e não-branca é tido como inferior; mesmo que as manifestações artísticas consigam  
sair desses territórios têm dificuldade de adentrar outros locais mais privilegiados devido a  
preconceitos e discriminações; o investimento em lazer e arte na periferia é subdimensionado,  
e aparece de modo residual nas ações de algumas instituições.  
Por sua vez, nesse autoritarismo social, de acordo com Chaui (2021) o “reconhecimento  
da cidadania a partir da perspectiva cultural do senhor de escravos” faz com que hoje em dia  
ainda não se entenda a conquista de direitos como fruto das lutas da classe trabalhadora, e sim  
como concessões da classe dominante.  
116  
Observamos que as conquistas jurídico-legais ainda são percebidas como concessão de  
um governante, obra da vontade pessoal e, por isso, podem ser retiradas, dependendo da vontade  
dele ou da necessidade econômica. O discurso da benevolência e caridade do Estado ainda é  
muito presente no cotidiano de trabalho do assistente social. Há pouco reconhecimento do dever  
do Estado e isso favorece a alienação das pessoas quanto à luta por afirmação do acesso aos  
direitos conquistados, por melhores condições de vida, pelo voto em representantes nos quais  
se vejam reconhecidos como iguais. Pois o voto acaba sendo utilizado como moeda de troca  
por benefícios particulares. Além, no contraponto disso, que é a presença de uma visão  
messiânica de representantes políticos como possíveis salvadores do povo e da nação. A falta  
de investimento em educação de qualidade reitera essa alienação, pelo desconhecimento da  
própria história, das lutas da classe trabalhadora e subalterna pela conquista de direitos e, de  
sua saga, ainda que sob pressão e coerção por parte do Estado.  
A
R
T
I
G
O
Para manter o controle dos conflitos na sociedade, difunde-se uma ideia de sociedade  
pacífica e não violenta e, ignoram-se os conflitos. Assim, qualquer prática que ofereça algum  
risco à acumulação capitalista é considerada perigo à manutenção da ordem, sendo enfrentada  
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 23, n.1, p. 103-121, jan./jun. 2023. ISSN 1980-8518  
Violência sem véu: uma reflexão inspirada na experiência como Assistente Social  
com repressão violenta, policial e militar.  
Em nosso cotidiano, observamos que a população mais afetada pela ideologia de uma  
sociedade não violenta e ao mesmo tempo alvo da violência estrutural e direta é a população  
pobre e não-branca. No exercício profissional é comum escutar, principalmente das mães,  
relatos sobre a sua preocupação com a vida de seus filhos e suas filhas, expondo o medo da  
inserção destes na criminalidade, bem como sobre a dificuldade de criar seus filhos como bons  
cidadãos diante das dificuldades sociais e financeiras, ou de como enfrentar situações de  
violência direta cometida por policiais, ou de como devem se comportar em espaços públicos  
para evitar situações vexatórias por sua condição de classe e raça. Contudo, o que realmente se  
destaca é o medo da repressão institucionalizada por agentes da polícia e outras instituições de  
garantias de direitos, demonstrando também aflições quanto a sua segurança enquanto  
mulheres, trabalhadoras e na sua maioria pretas e pardas, no sentido de serem culpabilizadas  
por qualquer tipo de violência que venham a sofrer. É contraditório que os equipamentos que  
deveriam assegurar proteção a toda população se apresentem tão seletivamente a quem devem  
ou não proteger, a quem devem ou não repreender.  
Chaui (2021) ressalta a composição majoritária das classes subalternas que carregam  
historicamente estigmas sociais, suspeição e culpa. A população negra considerada como  
inferior em todos os âmbitos, devido ao racismo, também é percebida como “a raça perigosa”;  
os indígenas são considerados irresponsáveis, preguiçosos e devendo ser exterminados ou  
civilizados; os trabalhadores rurais e urbanos, são ignorantes, atrasados e perigosos, sendo  
autorizadas ações policiais contra os mesmos, caso esses sujeitos apresentem algum tipo de  
insubordinação; a criança então descendente da classe trabalhadora já é vista como pessoa com  
tendência natural à criminalidade; mulheres não são ouvidas nos casos de violência sexual e  
outras formas de violação dos seus direitos, sendo julgadas e novamente violentadas ao procurar  
ajuda nas instituições de direito, culpabilizadas pela ocorrência, os homossexuais, sobretudo as  
e os trasvestis, são alvos de violência e assassinato, e frequentemente, sofrem prisões.  
Esta sociedade opera no sentido de silenciar opiniões antagônicas de grupos e classe  
sociais e de evitar conflitos e risco para o poder dominante e os meios de comunicação  
contribuem para isso, quando monopolizam as informações que evidenciam proposições tidas  
como verdade absoluta, sem apresentar questionamentos ou as contradições presentes neste  
processo. As mídias (rádio e televisão) ainda são uma referência para grande parte das pessoas  
e influenciam na manutenção do “senso comum” em relação às concepções e práticas de  
violência e nelas o espaço para diversidade de ideias ainda é limitado.  
117  
A
R
T
I
G
O
Esse cotidiano permeado, como evidenciamos, pelo autoritarismo social descrito por  
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 23, n.1, p. 103-121, jan./jun. 2023. ISSN 1980-8518  
Alexandra Aparecida Leite Toffanetto Seabra Eiras; Joyce Queiroga Resende  
Chaui (2021), explicita um conjunto de limitações para o trabalho do assistente social, desde à  
compreensão da própria violência estrutural que perpassa a vida das pessoas que buscam os  
serviços sociais, até as constantes frustrações face aos impactos pífios das políticas existentes  
para alteração das condições de vida, superação da pobreza, a saída da miséria e da insegurança  
alimentar.  
Considerações finais: reflexões para o enfrentamento da violência  
No decorrer deste artigo, enfatizamos a necessidade de uma perspectiva de totalidade  
para apreender o fenômeno da violência, em suas mais diversas manifestações cotidianas no  
Brasil, no intuito de desvelar como parte de sua complexidade, sua estrutura e enraizamento em  
processos históricos, que guardam a sua particularidade e combinam-se no campo simbólico-  
cultural evidenciando os traços de um autoritarismo social, reiterado nas práticas individuais e  
coletivas.  
Desvelar a violência, torná-la visível, retirar o véu sobre os componentes simbólicos e  
ideológicos que a mascaram, é uma tarefa que só pode ser realizada pela conexão com a  
totalidade da vida social, principalmente, com os processos históricos, econômicos,  
socioculturais que a engendram.  
Nesta perspectiva, a violência revela-se associada às desigualdades sociais fruto da  
questão social própria da sociedade capitalista. Nesta sociedade, as condições da produção da  
riqueza e do acúmulo de capital tornam-se indissociáveis da reprodução da pobreza  
(IAMAMOTO, 2007; NETTO, 2001).  
118  
A
R
T
I
G
O
As expressões da questão social materializam diferentes formas de violência na vida da  
classe trabalhadora, e, a violência  
(...) é uma categoria que se realiza como complexo social, que pertence às  
relações humano-sociais (longe de qualquer paradigma biologicista) e que  
carece, para seu enfrentamento, de reconstrução crítica apoiada na razão que  
se debruça sobre o mundo e, a partir dele, formula conceitos e propõe  
alternativas práticas. (SILVA, 2008, p. 268).  
Os assistentes sociais trabalham cotidianamente com as manifestações da violência e  
podem reproduzir em sua prática ações estereotipadas, preconceituosas e discriminatórias  
reforçando o autoritarismo social. Isso pode acontecer se o profissional não estiver atento à  
realidade concreta e pode ser evitado se insistir em decifrá-la em sua processualidade histórica.  
Silva (2008) afirma que o profissional do Serviço Social tem uma posição privilegiada  
pois atua diretamente com os usuários, o que pode contribuir para apropriação dessa realidade,  
para a reflexão crítica e produção de novos conhecimentos dentro e fora da academia.  
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 23, n.1, p. 103-121, jan./jun. 2023. ISSN 1980-8518  
Violência sem véu: uma reflexão inspirada na experiência como Assistente Social  
Entretanto, muitos assistentes sociais apresentam dificuldade de decifrar as  
particularidades da violência a partir de suas manifestações cotidianas.  
Isso pode ser explicado pela expressão e organização do trabalho na sociedade  
capitalista e os processos de alienação que lhe são pertinentes (MARX, 2017), bem como pelas  
requisições imediatistas e burocráticas da própria instituição empregadora. Além das  
fragilidades na formação teórica, por vezes fragmentada, sobretudo, com a proliferação do  
Ensino à distância (EAD), de baixo custo e aligeirado. Segundo Silva,  
Cria-se, então, um cenário perverso: o mesmo ingrediente necessário para uma  
densa apropriação do movimento do real (a vivência de experiências  
concretas), quando tomado isoladamente, consome a força, o potencial  
criativo do assistente social na divisão do trabalho, atribuindo-lhe a  
responsabilidade de ‘gerenciar praticamente’ mazelas sociais, oriundas da  
violência estrutural, implícita no próprio metabolismo do capitalismo  
contemporâneo, que é objetivada, com certa independência, por meio de ações  
violentas, também potencializadas por individualidades e suas respectivas  
subjetividades. (SILVA, 2008, p.267).  
Por sua vez, os elementos que levam à normalização da violência expressa na  
desigualdade social e econômica neste estágio perpassam a análise de Chaui, Ianni, Sales e  
Silva, destacando-se o modo como essa violência estrutural é transmutada atribuindo-se aos  
indivíduos a incompetência e responsabilidade pela situação de pobreza e/ou miserabilidade em  
que vivem.  
119  
Ao adotarmos essa perspectiva da violência estrutural compreendemos sua  
complexidade e capilaridade na totalidade da vida social, e a necessidade de desvelar os  
processos pelos quais ela se manifesta na vida individual e coletiva. Trata-se, assim, de um  
componente transversal, com distinções de lugares e poderes construídos historicamente.  
Assim, não é possível separar a violência estrutural de suas marcas na construção social  
dos indivíduos. Na particularidade da sociedade capitalista, seja pela concentração dos meios  
de produção e da riqueza socialmente produzida, que opõem, contraditoriamente, trabalhadores  
e capitalistas, empregados e patrões, seja pela designação de territórios e daqueles que os  
habitam ou pela segregação e discriminação da pobreza, seja pela histórica construção do  
racismo, do machismo e da homofobia, a violência ramifica-se conforme a corporeidade dessas  
pessoas, alijadas dos meios de produção e na maioria das vezes, do mercado de trabalho.  
Na imediaticidade desta sociabilidade invertem-se os nexos e quem sofre a violência  
cotidiana, pela invisibilidade e pelo estigma da pobreza e da periculosidade, são justamente  
aqueles que são alvo da repressão e acusados de violentos.  
A
R
T
I
G
O
É claro que esse estigma encontra razões na realidade concreta, porque são também os  
indivíduos que compõem a classe trabalhadora e subalterna aqueles que estão expostos a aceitar  
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 23, n.1, p. 103-121, jan./jun. 2023. ISSN 1980-8518  
Alexandra Aparecida Leite Toffanetto Seabra Eiras; Joyce Queiroga Resende  
soluções vexatórias e/ou perigosas para a manutenção da sobrevivência.  
Ariano Suassuna foi muito perspicaz ao representar o “cangaceiro”, pessoa cruel e  
violenta, em sua construção como indivíduo, criança pobre e imersa em um contexto violento,  
em que ele “elege” a prática da violência como ato de sobrevivência. No “Auto da  
Compadecida”, esse cangaceiro foi absolvido pela “Mãe Maria”, “advogada dos pecadores”,  
mas na vida, frequentemente, eles continuam sendo miseravelmente punidos.  
As vítimas da violência certamente merecem cuidado e atenção do Estado e da  
sociedade, elas são, em sua maioria, oriundas da classe trabalhadora e subalterna.  
Provavelmente e talvez, por razões diferentes, a violência seja um consenso na indignação de  
todos, na atualidade. Em “sã consciência”, nenhum de nós aceita a prática da violência e a todos  
ela continua escandalizando.  
Essa complexidade posta pelo fenômeno da violência convoca-nos a explicitá-la e a  
buscar caminhos para sua superação, afinal, a história é construída coletivamente e cada ação  
praticada e reflexão realizada constituem momentos de disputa no plano sociopolítico e cultural  
para construção de algo diferente do que está posto.  
O desvelamento da violência em conexão com a totalidade da vida social expõe sua  
relação com a particularidade da sociedade capitalista e promove a percepção das condições  
objetivas postas pelo desenvolvimento histórico do ser social (LUCÁKS, 2012). Essas indicam  
avanços no desenvolvimento das forças produtivas e da tecnologia; colocam, ainda, recursos e  
possibilidades de agenciar, coletivamente, melhores condições de vida para o conjunto dos  
indivíduos. Tal constatação nos faz vislumbrar perspectivas de objetivação de novas bases  
materiais que alterem os processos de produção da subalternização. Porém, é necessário que  
nos dediquemos a projetar novos horizontes para a vida social, o que queremos concretamente,  
em termos do exercício da cidadania, e que nos lancemos a disputar os rumos desta sociedade.  
O caminho para explicar o fenômeno da violência exige tratamento no plano  
econômico-sociocultural, envolve disputas na arena política, inclui lutas e movimentos que  
promovam o acesso aos direitos sociais e garantam as condições concretas para o efetivo  
exercício da cidadania.  
120  
A
R
T
I
G
O
Na atualidade, é preciso usar a riqueza socialmente produzida em prol de todos os  
indivíduos e do exercício efetivo e universal da cidadania, o que constitui a possibilidade de  
agir para a redução das desigualdades sociais, acumular forças e fundar novas bases para  
construção de novas relações de poder, mais simétricas e menos violentas.  
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 23, n.1, p. 103-121, jan./jun. 2023. ISSN 1980-8518  
Violência sem véu: uma reflexão inspirada na experiência como Assistente Social  
Referências bibliográficas  
BRASIL VOLTA AO MAPA DA FOME. TV SENADO, 13 de agosto de 2022. Disponível  
da-fome>. Acesso em 07/10/22.  
CASTILHO, Daniela Ribeiro; LEMOS, Esther Luíza de Souza. Necropolítica e governo Jair  
Bolsonaro: repercussões na seguridade social brasileira. Katálysis, Florianópolis, v.24, n. 2,  
p.  
269-279,  
maio/ago.  
2021.  
Disponível  
em  
Acesso em 31/03/22.  
CÉSAIRE, Aimé. Discurso Sobre o Colonialismo. Tradução do francês por Noémia de Sousa.  
Livraria Sá da Costa Editora. 1ª edição, 1978  
CHAUI, Marilena; ITOKAZU, Ericka Marie. Sobre a violência. Belo Horizonte: Editora  
Autêntica, 2021.  
CHAUI, Marilena. Cultura e democracia: o discurso competente e outras falas. São Paulo:  
Cortez, 2005.  
COHN, Amélia. As Políticas de Abate Social no Brasil Contemporâneo. Lua Nova, São Paulo,  
n.  
109:  
129-160,  
2020.  
Disponível  
em  
FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA - Anuário Brasileiro de Segurança  
Pública  
2022.  
Disponível  
em  
IAMAMOTO, Marilda Villela. Serviço Social em tempo de capital fetiche. SP: Cortez, 2007.  
IANNI, Octávio. A cultura da violência. Capitalismo, violência e terrorismo. Rio de Janeiro:  
Civilização Brasileira, 2004.  
_____. Pensamento Social no Brasil. São Paulo: EDUSC/ANPOCS, 2004 b.  
IBGE INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E PESQUISA. Desemprego  
Disponível em <https://www.ibge.gov.br/explica/desemprego.php>. Acesso em 22/03/22.  
IPEA - Instituto Brasileiro De Geografia E Pesquisa; Atlas da Violência 2021. Daniel Cerqueira  
et al., São Paulo: FBSP, 2021. Disponível em <https://forumseguranca.org.br/atlas-da-  
%20Neves%20(IJSN)>. Acesso em 01/04/2021.  
LUKÁCS, György. Para uma ontologia do ser social. São Paulo: Boitempo, 2012.  
MARX, Karl. O capital. São Paulo: Boitempo, 2017.  
NETTO, José Paulo. Capitalismo Monopolista e Serviço Social. São Paulo: Cortez, 2001.  
SALES, Mione A. S. (In)Visibilidade perversa: adolescentes infratores como metáfora da  
violência. São Paulo: Cortez, 2007.  
121  
A
R
T
I
G
O
SILVA, José Fernando S. O recrudescimento da violência nos espaços urbanos: desafios para  
o Serviço Social. Serviço Social & Sociedade, São Paulo, n. 89, p. 130-154, mar. 2007.  
_____. Violência e Serviço Social: notas críticas. Rev. Katál. Florianópolis v. 11 n. 2 p. 265-  
273  
jul./dez.  
2008.  
Disponível  
em  
11/02/22.  
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 23, n.1, p. 103-121, jan./jun. 2023. ISSN 1980-8518