DOI 10.34019/1980-8518.2021.v22.38271
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 22, n.1, p. XI-XVIII, jan. / jun. 2022 ISSN 1980-8518
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Editorial
Apresentamos ao público um novo número da Revista Libertas, que tem como tema
central o Serviço Social internacional. Mas, antes de adentrarmos na apresentação da Revista,
não poderíamos deixar de mencionar alguns dados sobre o Brasil, onde a publicamos, ainda no
contexto de pandemia. Queríamos chamar a atenção para os últimos dados sobre o crescimento
da fome. Conforme os dados da ONG Brasil sem fome
1
, mais de 33 milhões de pessoas passam
fome, hoje, no país. Pesquisa realizada pelo Observatório Brasileiro de políticas públicas com
a população em situação de rua, da UFMG
2
, mostram que no Brasil, em maio de 2022, 47
milhões de pessoas vivem em situação de extrema pobreza e 75 milhões de brasileiros vivem
com meio salário-mínimo ou menos. Seguindo a lógica do capitalismo depredador e de lei geral
da acumulação capitalista, há tantos anos desvendada por Marx
3
, temos que, ao mesmo tempo
em que cresce de maneira exponencial a pobreza, cresce a acumulação da riqueza em “poucas
mãos”. Os dados oficiais mostram que os ganhos do agronegócio cresceram exorbitantemente
nos últimos anos. Conforme os dados do governo
4
, o agronegócio teve saldo positivo de US$
43,7 bilhões no acumulado do ano de 2022. Na mesma linha, temos o desmatamento no Brasil
que vem crescendo nos últimos anos em uma escala sem precedentes, produzindo queimadas e
amplificando ainda mais a violência em torno da terra. O Brasil é considerado o quarto país
mais violento e perigoso para ambientalistas. No momento em que escrevemos este editorial, o
mundo está consternado pelo brutal assassinato do jornalista inglês Dom Phillips e do
indigenista e funcionário da FUNAI Bruno Pereira, reconhecidos defensores da Amazônia e de
seus habitantes originários. Do outro lado do mundo, a Guerra na Ucrânia, iniciada em fevereiro
de 2022 e sem previsão de desfecho. Assim questionamos quanto vale a vida humana? A que
ponto da banalização da vida humana chegamos! O que vem mudando em termos geopolíticos?
Sem dúvida estamos num mundo “globalizado”, “mundializado” e as respostas daqueles que
1
https://www.brasilsemfome.org.br/ acessado 15 de junho de 2022.
2
https://g1.globo.com/jornal-hoje/noticia/2022/06/15/75-milhoes-de-brasileiros-vivem-com-meio-salario-mi
nimo-ou-menos-diz-levantamento.ghtml, acessado no dia 16 de junho de 2022.
3
MARX, K. O Capital. Crítica da economia política. Livro I: O processo de produção do
capital. Cap XXIII. São Paulo: Boitempo, 2013
4
https://www.gov.br/pt-br/noticias/agricultura-e-pecuaria/2022/05/agronegocio-tem-saldo-positivo-de-us-43-7-
bilhoes-no-acumulado-do-ano
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nos importamos com a vida humana, com a exploração, também deverão ser globais ao mesmo
tempo que locais. É necessário ter um olhar atento ao mundo, às transformações em curso, para
poder compreender como se expressa hoje a Questão Social, conforme analisa Iamamoto a
radicalização da Questão Social
5
. A profissão de Serviço Social surge justamente para responder
às expressões da Questão Social, portanto, é o espaço privilegiado de atuação profissional.
Sabemos das diferenças e tensões que existem ao interior do Brasil sobre a compreensão da
profissão e seus fundamentos, mas ainda, muito resta por conhecer, não com relação ao Brasil
“profundo”, mas no diálogo que nossa forma peculiar de vida e existência estabelece com
América Latina e o Caribe, assim como com outros países do mundo.
Desta forma, este número da Revista está destinado justamente ao Serviço Social
internacional, ainda pouco conhecido em todos os seus fundamentos teórico-metodológicos,
ético e políticos pelos assistentes sociais brasileiros. Diversos motivos, que não cabem aqui
debater, levaram historicamente a este “desconhecimento”; a questão da língua portuguesa no
Brasil e espanhola na maioria de América Latina pode ser uma das explicações, mas, sem
dúvida, existiram outros que merecem uma pesquisa aprofundada, no momento em que nos
encontramos em um processo de internacionalização do Serviço Social brasileiro, incentivado
pela própria internacionalização das diversas ações de pós-graduação. Mas é bom explicitar que
o “processo de internacionalização” ou ainda, a integração do Serviço Social de América Latina
não é uma “novidade”, sendo anterior ao movimento indicado: ela vem sendo construída desde
a década de 1960, como expressa o Movimento de Reconceituação de América Latina
6
.
Como é sabido, o Serviço Social surge no Brasil na década de 1930, influenciado pela
doutrina social da igreja católica, especialmente pelas correntes franco-belga (IAMAMOTO,
1986) que, ante o processo de laicização do mundo, e especialmente das classes operárias,
buscavam estratégias para revertê-lo. Conforme a mesma autora, será na década de 1940 que
se processará, no caso do Serviço Social brasileiro, o arranjo teórico-doutrinário com a decisiva
influência do pensamento positivista, sobretudo estadunidense na profissão. Na década de 1950,
5
IAMAMOTO, M. V. Serviço Social em tempo de capital fetiche Capital financeiro,
trabalho e questão social. São Paulo: Cortez Editora, 2007
6
O Primeiro artigo do Dossiê expressa as produções atuais sobre o Movimento de Reconceituação e
as interlocuções internacionais. Conferir IAMAMOTO, M. V.; Santos, Claudia Mônica dos (orgs). A
história pelo avesso a reconceituação na América Latina e interlocuções internacionais. São
Paulo: Cortez Editora, 2021; EIRAS, A A L T S (Org.); MOLJO, C, B (Org.) ; Duriguetto, M L (Org.) .
Perspectivas histórico-críticas no Serviço Social: América Latina, América do Norte e Europa..
1. ed. JUIZ DE FORA: UFJF, 2022. v. 500. 176p . Este último livro pode ser acessado de forma gratuita:
https://www2.ufjf.br/editora/wp-content/uploads/sites/113/2022/03/PERSPECTIVAS-HISTORICO-
CRITICAS_BA04.pdf
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sob os influxos do pós-guerra e o pensamento desenvolvimentista, o Serviço Social
processará no nosso continente um período de maior integração, que pode ser observado nos
congressos pan-americanos
7
, nos encontros Regionais da América do Sul (1965), nas “missões
das Nações Unidas” procurando “modernizar” os Programas das Escolas de Serviço Social no
continente
8
, sendo ainda menor o quase inexistente a integração com os países europeus. Na
década de 1960, fruto do contexto internacional de grande “agitação social e política”, mas
também de um esgotamento de um modelo de acumulação, temos movimentos de resistência e
de contrarrevoluções preventivas pelo mundo todo. Se, por um lado, temos as Revoluções
cubana, chinesa, e os movimentos de libertação do terceiro mundo, também temos a onda de
ditaduras na América do Sul, na Europa entre outros. A realidade tensionava o Serviço Social,
assim como as outras profissões, a compreender o contexto no qual se desenvolviam,
entendendo que as nações imergiam em um mundo “globalizado”, mesmo que dividido pela
Guerra Fria.
O Serviço Social não foi imune a este processo, como sinalizamos no começo deste
editorial. No Brasil, a profissão nasce sobre a influência de várias correntes de pensamento
internacional e é na década de 1960 que começa a construir a sua identidade latino-americana,
influenciada pelo Movimento de Reconceituação de América Latina (1965-1975), que recebeu
os influxos dos marxismos, da teologia da libertação, da teoria da dependência, da pedagogia
de Paulo Freire, dentre outras. A crueldade e a violência das ditaduras na América Latina
acabaram por "atrasar", mas não impedir o processo de integração que vinha se processando
9
.
Com o retorno das democracias no Cone Sul, o Serviço Social da nossa região se fortalece e
continua seu caminho de cooperação. Temos, em 1996, a criação do comi Mercosul de
organizações profissionais de Serviço Social (MANSILLA, 2011), assim como a cooperação
no campo da pós-graduações, no qual o Brasil terá um papel fundamental
10
. Podemos afirmar
que o Serviço Social do nosso continente vem se integrando e construindo uma agenda de
pesquisa, de formação e de organização profissional no campo do Serviço Social Crítico e
7
O Primeiro Congresso Panamericano de Serviço Social foi realizado no Chile em 1945, sobre esta
influência que fundado no Brasil o Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviços Sociais
CBCISS em 1946, que será o responsável pela organização dos famosos encontros de Araxá (1967),
teresópolis (1970), Sumaré (1978) e Alto da Boa vista entre outros.
8
CF ALAYON (2007) MOLJO (2005)
9
Lembremos que o CELATS foi fundado em 1975(Centro Latinoamericano de Trabajo Social,
promovendo linhas de pesquisa, documentação e docência de Serviço Social para toda América Latina,
inclusive o Primeiro Mestrado em Serviço Social da América Latina criado pelo CELATS em 1978 em
Honduras. A Revista Acción Crítica da Alaets-Celats, desde 1979
10
Pensemos nos acordos de cooperação internacional da PUC/SP com a universidade
Nacional de La Plata em 1995 que instauraram o primeiro mestrado em Serviço Social da Argentina.
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comprometido com a classe trabalhadora muitas décadas. O ano de 2012, revela este
processo, quando no encontro realizado no Rio de Janeiro, (Declaração de Rio de Janeiro), é
debatida e defendida a concepção de um Serviço Social Crítico, a ser apresentado no Congresso
Mundial de Serviço Social em Estocolmo; esta foi a definição de profissão defendida na
assembleia mundial realizada no mesmo ano
11
. O Congresso Mundial organizado pela FITS
(Federação Internacional de Serviço Social) propiciou um importante diálogo e articulação
política com diferentes países, especialmente com os de língua inglesa, que vêm defendendo o
Serviço Social Radical, com similitudes e diferenças com o que aqui denominamos Serviço
Social Crítico. Sem dúvida, os anos 2000 foram um período de debates internacionais, que
propiciaram as agendas de pesquisas e cooperação internacionais que temos na atualidade. O
Serviço Social no mundo é muito diferenciado entre si, não no interior da América Latina,
mas também na Europa ou nos Estados Unidos, nos países da África e da Ásia. Ainda pouco
sabemos das experiências de formação e trabalho profissional do Serviço Social em países
como Austrália; portanto, temos um importante caminho a percorrer e este número da Libertas,
busca justamente apresentar, mesmo que de forma inicial esta diversidade.
Como mencionamos, mais de 30 anos vem se processando a integração do Serviço
Social no continente, mas também com o Serviço Social de outros continentes. É com esse
objetivo que a Revista Libertas buscou apresentar ao público brasileiro algumas das
experiências e tendências do Serviço Social internacional. Assim, abrimos a Revista Libertas
com o artigo A História pelo Avesso: uma pesquisa internacional “em rede” de
pesquisadores/as, de autoria das professoras Cláudia Mônica dos Santos e Marilda Villela
Iamamoto. Neste artigo, as autoras apresentam a exitosa experiência de trabalho em rede na
pesquisa denominada “O Movimento de Reconceituação do Serviço Social na América Latina:
determinantes históricos, interlocuções internacionais e memória (1960- 1980)”. Experiência
de cooperação internacional, cujos frutos se expressaram para além das publicações de livros,
artigos, seminários, colóquios e lives: eles se mostram no fortalecimento da pesquisa
internacional, que envolvendo instituições nacionais e internacionais alarga-se para outros
países não contemplados na primeira etapa, dando continuidade ao processo de
internacionalização das pós-graduações
O segundo artigo que compõe o Dossiê, denominado Rede Ibero-Americana de
Investigação em Serviço Social: diálogos, cooperação e produção de conhecimento, de autoria
11
Na entrevista realizada com a professora Silvana Martinez, que consta nesta revista, a entrevistada analisa este
processo.
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das professoras Yolanda Guerra (Brasil), Alcina Martins (Portugal) e Virginia Carrara (Brasil),
apresenta outra experiência de pesquisa expressa na Rede Iberoamericana de Serviço Social. O
Artigo questiona a lógica positivista de pesquisa presente nos órgãos internacionais, que se
contrapõe a rica e fecunda experiência de pesquisa que a rede iberoamericana apresenta. O
artigo, além de fornecer uma análise do que implica hoje a internacionalização, apresenta os
dados sistematizados sobre a Rede Iberoamericana na atualidade e seus desafios.
O terceiro artigo do Dossiê, fruto do processo de internacionalização das pós-
graduações e da realização do estágio pós-doutoral de uma das autoras, denominado Serviço
Social na Espanha: aproximações com a ética profissional, de Tatiana Reidel, Laís Duarte
Corrêa e Maria Luiza Mendo, analisa dimensão da ética profissional no Serviço Social
espanhol, especialmente como se particulariza na formação dos assistentes sociais espanhóis.
A pesquisa analisou os Planos de Ensino de 38 instituições universitárias de Serviço Social,
concluindo que existe um ecletismo no trato da ética profissional na Espanha.
O quarto artigo do Dossiê, denominado Elementos do passado-presente na relação entre
o Serviço Social Estadunidense e o Serviço Social Brasileiro, de autoria de Franqueline Terto
dos Santos e Valéria Coelho de Omena, trata sobre a gênese e desenvolvimento do Serviço
Social estadunidense, assim como seu desenvolvimento posterior e configuração atual.
Finalmente o artigo busca construir um diálogo crítico entre o Serviço Social brasileiro e o
estadunidense.
O quinto artigo do Dossiê, denominado Serviço social internacional e ditaduras: notas
sobre o surgimento e a institucionalização do serviço social no Brasil e na Espanha sob o
contexto ditatorial, de autoria de André Luciano Silva, analisa o Serviço Social nos dois países,
especialmente seus desenvolvimentos em períodos ditatoriais. O autor apresenta elementos que
evidenciam similitude e divergências, permitindo compreender a história da profissão em
ambos os lugares.
O sexto artigo do Dossiê, denominado Trabajo Social no Paraguai: os caminhos da
formação profissional, de autoria de Filipe Silva Neri e Mabel Mascarenhas Torres, traz uma
contribuição inédita sobre a formação profissional naquele país, analisando os Planos de
Estudos, bibliografia e documentos presentes na literatura paraguaia. Os autores apresentam a
perspectiva crítica presente na formação a partir dos anos 2000, subsidiados na legislação,
normativas e código de ética.
O sétimo artigo do dossiê, denominado La posicionalidad geopolítica en la
investigación bajo las exigencias del capitalismo cognitivo: análisis de las trayectorias de
investigación de trabajadoras/es sociales en Chile, de autoria das professoras chilenas
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Gianinna Munoz Arce e Gabriela Rubilar Donoso apresentam a experiência de um grupo de
pesquisa vinculado a uma universidade chilena. O grupo de pesquisa tem como supostos
teóricos de trabalho a teoria crítica, o pensamento decolonial, perspectivas interseccionais,
critical race theory e teorias de posicionamento indígena. As autoras analisam a trajetória de
pesquisa de diversas assistentes sociais e questionam como foram construindo as suas
trajetórias, apresentando a noção de posicionalidade geopolítica.
Finalmente fechando o Dossiê sobre o Serviço Social internacional, temos o artigo A
ABEPSS na internacionalização do Serviço Social do Brasil, de Ramiro Marcos Dulcich
Píccolo, atual coordenador de Relações Internacionais da ABEPSS. O artigo reflete sobre as
linhas de trabalho e os desafios contemporâneos das relações internacionais da ABEPSS, no
contexto caraterizado pela ofensiva do capital que se apoia em setores ultraconservadores,
defensores de doutrinas e valores neofascistas e neonazistas.
Abrindo os artigos de Fluxo Contínuo temos o nono artigo denominado Financiamento
da assistência social em Belém: um estudo sobre fundo municipal entre 2006 e 2017, de Zaraia
Guará Ferreira, que traz uma análise teórica e empírica sobre o financiamento de assistência
social em Belém. Sem dúvida, uma grande contribuição para a análise do financiamento
público.
O décimo artigo denominado A trajetória das políticas sociais para a população idosa
e a imagem social das velhices, de autoria de Melina Sampaio de Ramos Barros e Angela Vieira
Neves, analisa as políticas sociais destinadas à população idosa e a imagem que socialmente
construída sobre essa população. Partindo de análise documental, as autoras concluem que a
sociedade civil trata a velhice a partir de uma lógica assistencialista e familiar. Com relação ao
Estado, as autoras percebem significativo atraso no trato dos direitos.
O décimo primeiro artigo, denominado A morte por Covid-19 bate à porta das/os
assistentes sociais no Brasil, de Fabiola Xavier Leal; Maria Lúcia Garcia, Mylena C.P. Silva e
Nina G. M. Moisés, apresenta um estudo documental embasado nos dados do CFESS e da
ABEPSS sobre a morte de assistentes sociais pelo Covid-19. O artigo conclui que a maioria das
mortes foram de mulheres entre 40 a 61 anos que atuavam no SUS e que não tiveram acesso à
vacina.
O décimo segundo artigo, denominado Reunião multiprofissional na alta complexidade:
perspectiva do usuário em sua integralidade, de autoria de Amanda Caroline da Fe Pereira, Ana
Paula Barboza Dantase e Ilka de Lima Souza, buscou analisar a reunião multiprofissional como
instrumento a ser utilizado na perspectiva de qualificar o cuidado integral aos usuários
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internados num hospital universitário, ainda mostra a necessidade de educação permanente da
equipe multidisciplinar, buscando uma maior capacitação e integração da equipe e desta com
os usuários.
O Décimo terceiro artigo, denominado Trajetórias criminais e reinserção social de ex-
reclusos/as: uma revisão da literatura, de autoria de Eva Raquel Xavier De Melo Gil Chaves,
Clara Maria Rodrigues Cruz Silva Santos e Vera Mónica da Silva Duarte, analisa, a partir da
revisão de bibliografia em bases de dados internacionais, a questão da reincidência criminal,
considerando fatores da trajetória de vida e de trajetória criminal dos indivíduos. As autoras
sinalizam “a necessidade de uma leitura crítica sobre as trajetórias de vida dos indivíduos”, e
salientam a “existência de lacunas no acompanhamento dos reclusos/as em contexto prisional
que podem apresentar-se como um obstáculo à reinserção social destes indivíduos”.
O décimo quarto artigo denominado Contribuições da teologia da libertação para a
reconceituação do serviço social, de Guilherme Costa dos Reis e José Fernando Siqueira da
Silva, apresenta os resultados de uma pesquisa cujo objeto de análise foi a teologia da libertação
na América Latina e a sua influência para o Serviço Social. Trata-se de um estudo teórico
referenciado em diferentes fontes bibliográficas nacionais e internacionais
Finalizando esta sessão, temos o artigo de Vítor Bartoletti Sartori, Karl Marx diante da
miséria e da constituinte alemãs em 1848, onde o autor, com o rigor da leitura imanente, analisa
as diferenças entre o Manifesto Comunista e os artigos da Nova Gazeta Renana, em uma
fecunda proposta de compreensão das elaborações concretas de Marx a respeito da política,
mais precisamente, da situação alemã.
Fechando a revista, temos na seção de entrevistas a importante contribuição da
professora argentina, presidente da FITS, Silvana Martinez, entrevistada pela professora Carina
Berta Moljo, denominada La Federación Internacional de Trabajadores Sociales (FITS) e los
trabajadores sociales en el mundo. Nesta entrevista, a professora analisa a trajetória da FITS,
desde a sua gênese, até os dias atuais, destacando o ano de 2012, no qual se articula uma nova
concepção de Serviço Social internacional, e o ano de 2018, em que, pela primeira vez, a Região
de América Latina e Caribe chegam a presidência da FITS. Finaliza a entrevista apresentando
os desafios atuais. E a seção Tradução dos Clássicos, que traz o texto de Franco Basaglia, A
liberdade comunitária como alternativa ao retrocesso institucional, traduzido por Ronaldo
Vielmi Fortes e com revisão de Alexandre Arbia. Um dos principais expoentes mundiais da luta
antimanicomial, Basaglia atuou ativamente na problematização que levou à reformulação da
política de saúde mental na Itália. O texto em questão, de elevado valor histórico e heurístico,
traz uma pequena amostra da contribuição de Basaglia no “calor da hora” – sua análise crítico-
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positiva sobre as comunidades terapêuticas, seu empedernido combate contra o modelo
manicomial e sua genial compreensão dos vínculos entre o modelo hierárquico dos manicômios
e a própria hierarquia social. Basaglia compreendeu, muito rapidamente, que qualquer
reformulação positiva da saúde mental não poderia ser pensada sem uma problematização mais
ampla, da própria sociedade na qual a relação entre médicos e pacientes estavam inseridos.
Boa leitura!
Os editores
Referências
ALAYÓN, Norberto. Historia del Trabajo Social en Argentina. Espacio Editorial, Buenos
Aires, 5ta. Edición. 2007.
IAMAMOTO, M. V. Serviço Social em tempo de capital fetiche – Capital financeiro, trabalho
e questão social. São Paulo: Cortez Editora, 2007.
IAMAMOTO, Marilda & CARVALHO, Raul. Relações Sociais e Serviço Social no Brasil. 5
ed. São Paulo: Cortez, Lima: CELATS, 1986.
MANSILLA, S. A. Una aproximación crítica e histórica de la organización política de los
trabajadores sociales de argentina y de la provincia de Neuquén. Revista de Trabajo Social
Plaza Pública, Tandil, Argentina, FCH – UNCPBA, n 5 p.7-37, 2011.
MARX, K. O Capital. Crítica da economia política. Livro I: O processo de produção do
capital. Cap XXIII. São Paulo: Boitempo, 2013
MOLJO, C, B.. Considerações sobre o Serviço Social na América Latina. Praia Vermelha
(UFRJ), v. 24, p. 403-421, 2016.
MOLJO, C. B. Trabajadores sociales en la historia. Una perspectiva transformadora. Buenos
Aires: Espacio Editorial, 2005.