alcançado pela educação – tem por base a visão de mundo formada pela economia burguesa
junto da criação do mito do homo oeconomicus racional. Mas, como questiona Frigotto (1989),
“quem é o homo oeconomicus racional?” (FRIGOTTO, 1989: 57). Produto da economia
capitalista, o homo oeconomicus racional é, antes de mais nada, um maximizador e, de acordo
com o mesmo autor, “no lugar de sua história concreta, das condições concretas de como sua
existência é produzida, temos dele um retrato falado” (FRIGOTTO, 1989: 58). Conforme
afirma Hollis (apud FRIGOTTO, 1989):
Ele é um filho do iluminismo e, portanto, um individualista em busca do
proveito próprio [...] Como produtor, maximiza sua fatia de mercado ou de
lucro. Como consumidor, maximiza a utilidade por meio da comparação
onisciente e improvável entre, por exemplo, morangos e cimento marginal [...]
Da diferença individual, ao comércio internacional, está sempre alcançando
os melhores equilíbrios objetivos entre desincentivos e recompensas.
(HOLLIS apud FRIGOTTO, 1989: 58)
Este seria, portanto, o retrato falado do homo oeconomicus racional, baseado numa
abstração “genérica, indeterminada, a-histórica” do indivíduo humano, “cuja racionalidade e
egoísmo lhe permitem escolher sempre o melhor” (FRIGOTTO, 1989: 58). Tal mistificação
ideológica corresponde à idealizada “sociedade de mercado” e ao mundo fantasioso das
“oportunidades iguais”, em que bastaria a cada um ser racional e hábil o suficiente para sair na
frente dos demais e disputar os mais elevados postos de trabalho ou, sendo ainda mais ousado,
tornar-se um empresário de sucesso. As palavras de Marise Nogueira Ramos (2006) resumem
bem o papel adotado pela pedagogia das competências que, ao incorporar certos traços da teoria
do capital humano, os “redimensiona com base na especificidade das relações sociais
contemporâneas”. Para a autora:
Primeiro, encontra-se uma conformação econômica que fundamenta
originariamente a Teoria do Capital Humano: o capitalismo concorrencial
defendido pela doutrina neoliberal; o aumento da produtividade marginal é
função do adequado desenvolvimento e utilização das competências dos
trabalhadores. Segundo, destaca-se a importância do investimento individual
e social no desenvolvimento de competências, porém não mais como meio de
ascensão social e melhoria da qualidade de vida, mas como resultado e
pressuposto permanente de adaptação à instabilidade da vida. Terceiro,
acredita-se que isso redundaria em bem-estar dos indivíduos e dos grupos
sociais, à medida em que teriam autonomia e liberdade para realizarem suas
escolhas de acordo com suas competências. (RAMOS, 2006: 292)
Sabemos que por trás de toda a retórica trazida contida no discurso dos defensores da
pedagogia das competências ou do “aprender a prender”, há uma realidade extremamente
desigual e desumana que precisa ser ocultada. Neste ponto, a ideologia visa garantir ao sistema
uma estabilidade necessária, porém artificial, já que se trata do sistema do capital que é, por sua
natureza, como bem definiu Mészáros (2011), “erigido sobre toda uma série de antagonismos