Carlos Nelson investe, sobretudo, na importância da discussão e da atuação dos partidos
políticos, reconhecendo-os como o grande intelectual orgânico coletivo, tão necessário a uma
sociedade como a brasileira. Tendo sido protagonista de uma militância partidária ativa durante
toda a vida, Carlos Nelson insistia na função dirigente, organizativa, educativa e intelectual
desses aparelhos “privados de hegemonia”. Enquanto tais, deveriam assumir a tarefa histórica
de tornar sua base de militância “mais culta”, ou seja, mais capaz de fazer a crítica da realidade
em que vive e de forjar alternativas para a construção da vida social. Devem ser capazes de
fazer com que sua base supere primeiramente o senso comum e depois a consciência sindical,
corporativa, alcançando o nível ético político, ou seja, capaz de construir um projeto para uma
sociedade. Aqui nos vem mais uma provocação que, certamente, a obra de Carlos Nelson nos
deixa: qual é o projeto de sociedade que queremos?
Podemos, nesta direção, exemplificar este caminho teórico-metodológico e político de
Carlos Nelson, observando um tema que nos é muito caro: temos muito material de Carlos
Nelson sobre os movimentos sociais e os partidos políticos, mas a verdade é que Carlito nunca
se deteve em estudar, por exemplo, a questão agrária e a reforma agrária no Brasil. Mas isso
não significa dizer, entretanto, que este tema não lhe era importante. Muito pelo contrário, tenho
certeza de que nosso autor acreditava e defendia que a solução da questão agrária no Brasil era
um dos elementos-chave para se pensar a realidade brasileira a partir de uma perspectiva de
superação da sociedade capitalista.
Mais do que isso, Carlos Nelson defendia que era necessário conjugar esta demanda de
uma parte significativa da sociedade com as demandas mais amplas, que apontassem para a
realização de um novo movimento de lutas na sociedade. Certa vez, perguntado porque apoiava
o MST, Carlos Nelson respondeu:
Eu apoio o MST, antes de mais nada, porque o MST é o mais importante
movimento social brasileiro, porque defende causas justas como a distribuição
da propriedade agrária, o fim do monopólio da terra e porque sabe articular
essa luta de setores da população com os interesses gerais da sociedade
brasileira, colocando, no horizonte da sua luta, a necessidade de construir uma
outra ordem social, mais justa, mais solidária, mais humana e mais livre.
Eis aqui, sem dúvidas, a perspectiva dialética do autor ao analisar os diferentes níveis
de luta e articulação em nossa sociedade e, sobretudo, as superações necessárias para que, de
fato, nossa ação política traga resultados efetivos para as lutas pela hegemonia em nossa
sociedade. De forma inquestionável, um outro caminho de análises onde a obra de Carlos
Nelson nos parece imprescindível é na análise sobre a cultura brasileira. Neste caminho de
aprendizados e reavaliações, é importante delimitar mais claramente o que abordaremos dentro
da ampla concepção de cultura. Optamos por analisar, em seu interior, as manifestações