sociedade capitalista naturalmente engendra a luta de classes, assim como isso naturalmente
engendra o pensamento de classe e o choque entre duas maneiras de pensamento, dois conjuntos
de ideais.
Em razão de sua atividade, "Most Humbly" está convencido de que a oficina não é
suficiente, que a solidariedade de classe (se ela tem efeito ativo e triunfa) deve ser organizada,
disciplinada e limitada. Em outras palavras, ele está convencido de que a natureza, a
necessidade, é apenas na medida em que é transformada, através do pensamento, em uma exata
consciência dos fins e dos meios. Portanto, ele propaga a necessidade de criar órgãos específicos
das lutas econômicas, capazes de articular esta necessidade, de purificá-la de toda obstrução
sentimental e individualista e de formar "proletários" no sentido socialista.
Por que não transferir estes conceitos para a atividade cultural? Porque a "Most
Humbly", assim como a outros neste bom país, falta o hábito de generalização, de síntese, que
é necessário se alguém quer pessoas completas, e não pessoas que tome cada instância
isoladamente, de "agora eu vejo, você agora não", de "amanhã sim, hoje não", de "se" e "mas",
etc. etc.
"Most humbly" tem um conceito de cultura impreciso também. Ele acredita que cultura
é sinônimo de conhecer um pouco de todas as coisas, que é sinônimo de Universidade Popular.
Dou à cultura este significado: exercício de pensamento, aquisição de ideias gerais, hábito de
conectar causas e efeitos. Para mim, todos já são cultos, porque todos pensam, todos conectam
causas e efeitos. Mas o são empiricamente, primordialmente cultos, não organicamente. Eles,
portanto, oscilam, dissolvem, suavizam, ou tornam-se violentos, intolerantes, briguentos, de
acordo com a ocasião e as circunstâncias. Vou me fazer mais claro: tenho uma ideia socrática
de cultura, acredito que significa pensar bem, em tudo que se pensa, e, portanto, fazer bem, tudo
que se faz. E desde que sei que cultura também é um conceito básico do socialismo, porque
integra e torna concreta a vaga concepção de liberdade de pensamento, gostaria de ser animado
pelo outro conceito, aquele da organização. Deixe-nos organizar a cultura da mesma forma que
procuramos organizar qualquer atividade prática. Filantropicamente, a burguesia decidiu
oferecer ao proletariado as Universidades populares. Como uma contraposta à filantropia,
deixe-nos oferecer solidariedade, organização. Deixe-nos dar o sentido de boa vontade, sem o
qual sempre se permanecerá estéril. Não é a leitura que deve nos interessar, mas o trabalho
minucioso de discutir e investigar problemas, trabalho do qual todos participam, para o qual
todos contribuem, no qual todos são, ao mesmo tempo, mestre e discípulo. Naturalmente, para
que isso seja organização e não uma confusão, isso deve representar uma necessidade. Esta
necessidade é generalizada ou apenas de alguns? Os poucos podem começar: nada é mais