esclareceu, no entanto, que a hegemonia deve incidir na esfera política, social e cultural, mas
em ligação indispensável à econômica, escrevendo entre outras coisas: “se a hegemonia é ético-
política, não pode deixar de ser também econômica, não pode deixar de ter o seu fundamento
na função decisiva que o grupo dirigente exerce no núcleo decisivo da atividade econômica”
(Q 13, § 18). Em segundo lugar, porque nos Quaderni existem elementos de análise econômica,
no que diz respeito às categorias de "mercado determinado", "Homo oeconomicus", "queda
tendencial da taxa de lucro" etc. (para aprofundar todos estes conceitos, remeto ao Dicionário
Gramsciano 1926-1937, editado com Pasquale Voza e traduzido para o Brasil pela editora
Boitempo). Por fim, mas não menos importante, é preciso lembrar que a partir da década de
1970 foi revelado que Gramsci havia dedicado uma análise muito mais aprofundada à dimensão
política que outros marxistas e que o próprio Marx, pelo menos no que diz respeito aos países
mais desenvolvidos, preenchendo de certa forma um vazio. Eric Hobsbawm disse, na
Convenção de Florença de 1977 sobre "Política e História em Gramsci", que Gramsci
finalmente preenchera uma lacuna que existia em Marx e no marxismo, ou seja, uma análise
escassa da política e do Estado. Portanto, este aprofundamento das formas de política que há
em Gramsci representa algo a ser apreciado e valorizado, não um limite.
E- Muitos estudos culturalistas utilizam o pensamento de Gramsci como aliado na luta
contra o "determinismo" econômico, na defesa da celebração das diferenças culturais e
subjetivas, na defesa de que as classes sociais não seriam organizadas segundo a mesma
posição na estrutura produtiva, mas por indivíduos e por seus particularismos étnicos,
culturais, sexuais etc. Para o professor, como Gramsci responderia a esses "usos" de seu
pensamento?
GL - Gramsci é um defensor de um marxismo anti-determinista. Essa impostação veio a ele
desde sua formação cultural juvenil, que ocorreu nos anos de reação ao positivismo e o
renascimento do tema da subjetividade, graças à afirmação do bergsonismo, do pragmatismo,
do neo-idealismo, todas as filosofias "do sujeito" em contraste com o "objetivismo" positivista.
Tais influências, que levaram o jovem Gramsci a momentos de hipersubjetivismo idealista,
foram então reduzidas, relativizadas, a partir da Revolução Russa e do estudo da obra de Lênin,
graças aos quais Gramsci se tornou verdadeiramente um marxista. Mas não desapareceram, e o
sujeito, a cultura, a política continuaram a desempenhar um papel importante em seu marxismo,
ainda mais na época da redação dos Quaderni del carcere. Hoje, os estudos culturais muitas
vezes erram ao acreditar que veem em Gramsci o abandono total de uma ótica tipicamente