DOI 10.34019/1980-8518.2021.v21. 33497
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 21, n.1, p. 71-88, jan. / jun. 2021 ISSN 1980-8518
71
Carta ao comunista sardo
Letter to the Sardinian communist
Ana Lívia Adriano
*
Resumo: Na diversidade que compõe a tradição
marxista cujo ponto de conexão parece residir na
perspectiva totalizante de compreensão da vida
social e da história como um constructo humano
atravessado por antagonismos e possibilidades
concretas de transformação o pensamento de
Antônio Gramsci parece atestar atualidade e
significativa relevância, na depuração destes tempos
brutos, brutalmente desigual e exigente de lucidez,
firmeza e organicidade teórica e política. Muitos
estudiosos, jovens e mais experientes, no Brasil e no
mundo, dedicam-se a compreender o pensamento e a
vida deste autor e, a partir destas incursões,
contestando as armadilhas dos dogmatismos e dos
revisionismos, desvelar o presente, em sua
dinamicidade e processualidade histórica. Para tanto,
é necessário estabelecer como núcleo medular – mas
não exclusivo – destas reflexões, a obra gramsciana;
o tempo de Gramsci. Este texto de natureza
propedêutica ao estudo da obra gramsciana é um
esforço de síntese da apreensão das potencialidades
e asperezas que peculiarizam os diálogos que
construímos – enquanto sociedade e profissão – com
o comunista sardo, os quais parecem conservar como
fio de unidade, a conexão vital e necessária que a
obra deste autor tem com os de baixo, na crítica
radical e contumaz a este mundo terrível. Exatamente
por procurar enfrentar tal esforço via apreeno do
estabelecimento dos referidos diálogos, então
travados por dentro da obra gramsciana, o presente
texto assume a forma de uma carta afinal, cartas
costumam dizer muito sobre quem as recebe.
Palavras-chave: Antonio Gramsci; marxismo;
tradutibilidade
Abstract: In the diversity that makes up the
Marxist tradition - whose point of connection
seems to reside in the totalizing perspective of
understanding social life and history as a
human construct traversed by antagonisms
and concrete possibilities for transformation -
Antonio Gramsci's thought seems to attest to
the present and to link, in the purification of
these rough times, brutally unequal and
demanding of lucidity, firmness and
theoretical and political organicity. Many
scholars, young and more experienced, in
Brazil and in the world, dedicate themselves to
understand the thought and the life of this
author and, from these incursions, contesting
as traps of dogmatism and revisionism, unveil
the present, in its dynamism and historical
procedurality. Therefore, it is necessary to
establish these reflections as the medullary
nucleus - but not exclusive - the grammatic
work; Gramsci's time. This text - of a
propaedeutic nature to the study of the
grammatic work - is an effort to synthesize the
apprehension of the potentialities and
harshness that characterize the dialogues that
we have built - as a society and profession -
with the Sardinian communist, which seem to
preserve as a thread of unity, vital and
necessary connection that the work of this
author has as the ones below, in the radical and
persistent criticism of this terrible world.
Keywords: Antonio Gramsci; marxism;
translatability
Recebido em: 28/02/2021
Aprovado em: 13/05/2021
*
Doutora em Serviço Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professora da Escola de Serviço
Social da Universidade Federal Fluminense (UFF/ Niterói).
Ana Lívia Adriano
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 21, n.1, p. 71-88, jan. / jun. 2021 ISSN 1980-8518
72
DOSSIÊ
Seção
Camarada Antonio Gramsci,
Te escrevo de um tempo sombrio, em que barrie anda de os dadas com a estupidez,
caucionando a morte e a indiferença como suas principais insígnias. A crise sanitária que
mais de um ano atravessa vários países do mundo contabilizando aproximadamente 120
milhões de pessoas infectadas no mundo pelo novo Coronavírus (SARS-CoV-2) e um
crescimento vertiginoso de óbitos (2 milhões e 600 mil mortes)associa-se ao recrudescimento
da crise do capital e de um dos seus componentes essenciais, a desigualdade
social. Evidenciando um ordenamento político-econômico marcado por uma assombrosa
exponenciação do capitalismo financeiro nos moldes ultraliberal, a pandemia amplificou o
metabolismo antissocial do capital (ANTUNES, 2020) e, por conseguinte, o seu potencial
destrutivo. “Nestes tempos de crise estrutural e destruição, a melhor imagem dessa formação
societal é de uma totalidade completamente deformada” (ANTUNES, 2020: 12). As condições
de vida e trabalho alteraram-se brutalmente nos últimos meses e as manifestações da questão
social receberam novos contornos, aprofundando as velhas estruturas que a sustentam. À fome,
pobreza, desemprego, informalidade e adoecimento associa-se o esgotamento dos sistemas de
saúde no mundo, o distanciamento social, o adoecimento físico e psíquico, o aumento da
violência dostica, a inserção do home office em todas as esferas produtivas, um processo de
precarização da vida dos trabalhadores que tem como protótipo maior a uberizão”
. O
crescente trabalho intermitente e as relações de trabalho individualizada e invisibilizada
travestem-se de prestação de serviços e obliteram as relações de assalariamento e exploração
do trabalho(ANTUNES, 2020: 20), de forma que a uberização, atravessa vários segmentos
dos trabalhadores, dentre eles o trabalho docente (cuja face mais premente dessa precarização
é o ensino à distância e, nos contornos mais atuais, o ensino remoto emergencial). Na formão
dos intelectuais e da cultura, a hegemonia do grande capital parece produzir uma regressividade
ideopolítica na realização da política e de outras formas de consciência crítica.
No Brasil, as faces da pandemia o muito mais perversas. Além do extermínio da
juventude negra, das mulheres, dos militantes, dos mais pobres, a morte se instaura
explicitamente como uma estratégia de poder. Morre-se de fome, de desespero, de desamparo.
Os ratos que invadiram a peste de Orã, narrada por Camus, adquirem forma humana e
visibilidade no poder e sentem um certo gozo em continuar matando por asfixia. Diferentes da
“Uberizão do trabalho, distintos modos de ser da informalidade, precarização ilimitada, desemprego estrutural
exacerbado, trabalhos intermitentes em proliferação, acidentes, assédios, mortes e suicídios: eis o mundo do
trabalho que se expande e se desenvolve na era informacional, das plataformas digitais e dos aplicativos”
(ANTUNES, 2020: 09).
Carta ao comunista sardo
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 21, n.1, p. 71-88, jan. / jun. 2021 ISSN 1980-8518
73
DOSSIÊ
Seção
tua narrativa
, os ratos aqui não ascendem à montanha para convencê-la a produzir insumos
para a humanidade; ao contrário, desprezam com escárnio a vida, de forma que falta oxigênio
na natureza; falta oxigênio nos hospitais; falta oxigênio nas relações sociais. A asfixia, cuja
sensação mínima conhecias bem através das crises respiratórias, é uma estratégia genocida e
naturalizada. As configurações de uma burguesia amorfa, que odeia os pobres e alimenta-se
historicamente do autoritarismo, encontra nos ecos antidemocráticos do neoliberalismo o
terreno de expansão de seus tentáculos de extinção de direitos e recrudescimento da intolerância
e da barbárie. A ousadia dos que tentam compreender sua morfologia, suas complexidades e
potencialidades reclama uma certa apreensão dos traços de continuidade e de ruptura que
sincroniza o presente, bem como exige o afastamento de uma espécie de “romantização” do
passado em que o saudosismo ou o presenteísmo fratura a consciência histórica, à medida que
nem sempre nos permite compreender os sentidos que o passado atribui a “uma continuidade
coletiva de experiência” (HOBSBAWM, 2013: 38) que nos possibilite identificar que nos
sentidos deste suporta-se e comporta-se o futuro. Nessa tarefa, a sua obra é atual e
indispensável. Sua atualidade se atesta à medida em que a história em ato, a política, se coloca
como condição para se “chegar a uma justa análise das forças que atuam na história de um
determinado período” (estrutura e superestrutura), como afirmas no Q13.
Há algum tempo desejamos enviar-te notícias, mas só recentemente criamos condições
para escrever-te. Há aproximadamente meio culo, convivemos contigo. Nesse período, teus
escritos, elaborações teóricas, tua trajetória singular vêm se tornando de conhecimento público
e, por conseguinte, apresentados sob diversos matizes. És presente nas maduras ou
propedêuticas reflexões construídas por pesquisadores, educadores e militantes nos vários
espos de possíveis elaborações teórico-políticas: os partidos, os movimentos sociais, os
sindicatos, a universidade, as categorias profissionais. A propósito, como não nos conhecemos,
é necessário e conveniente que circunscrevamos algumas particularidades nossas: somos latino-
americanos. Habitamos as terras brasileiras. Carregamos em nossas veias ainda abertas
o
sangue, as tradições
e as lutas dos povos originários, da floresta, dos indígenas do Peru, da
Bolívia, do México, da Nicarágua, dos mapuches argentinos e chilenos e, principalmente, dos
Guaranis, Tabajaras e Kaiowás brasileiros; em nossos corpos ainda encontram-se fincadas as
Em 1931, Gramsci escreve em uma carta a Giulia, uma história sobre a sua cidadezinha e solicita que esta seja
narrada a lio, seu filho. Esta história ganhou ilustração e foi recentemente publicada pela Editora Boitempo,
com o título o Rato e a Montanha.
Alusão ao livro As veias abertas da América Latina, de Eduardo Galeano (1979).
As tradições vinculam-se, aqui, à compreensão da cultura em sentido amplo, isto é, “como concepção do mundo”;
a linguagem, a produção literária, artística; a forma de viver de um povo (Q16 e 26).
Ana Lívia Adriano
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 21, n.1, p. 71-88, jan. / jun. 2021 ISSN 1980-8518
74
DOSSIÊ
Seção
marcas dos chicotes que açoitaram os negros anos a fio e, da nossa garganta, ecoam os gritos
dos “de baixo”: das mulheres que historicamente o submetidas às mais aviltantes formas de
violações e violências; das criaas que morrem de fome; dos jovens que tem o presente
exterminado; dos que rompem as fronteiras geográficas fugindo da fome, da violência e da falta
de esperança; daqueles que não são livres para lutar e amar; dos que desafiam o poder e a vida,
com seus corpos, corações e mentes. Como canta Neruda, “Somos povo, povo inumerável.
[Temos] em nossa voz a força pura para atravessar o silêncio e germinar nas trevas”. Vimos
atravessando a noite escura, com as dores da opressão e a força dos oprimidos. Nesta, as
nervuras das mãos entrelaçam-se, humanizam-se.
Algumas peculiaridades do teu Mezzogiorno (salvaguardada as diferenças abissais da
formação social dos continentes e países) se fazem presentes entre s. Deste lado dos trópicos,
a queso nacional
vem atravessada por uma modernização que conservou as “pesadas
heranças do escravismo, autoritarismo e clientelismo” (IANNI, 2004: 33), desembocando na
questão do campo, do nordeste, na escravidão, na pobreza extrema, na bil burguesia brasileira
(em relação aos centros do poder capitalista
) e em suas vias não clássicas de ascensão ao poder,
na fragilidade democrática produzida pelo alijamento dos trabalhadores nos processos
decisórios do país, na presença da Igreja Católica como organizadora de um conformismo
conservador (nas mais variadas vezes, reacionário) e no recrudescimento, em forma e conteúdo,
da questão social. Aqui, a luta de classes se faz mediante altos processos de reforma, coerções,
perseguições das organizações dos trabalhadores e a “concessão” de direitos que se organizam
como produtores de consensos, retirando dos trabalhadores, por vezes, uma capacidade
político-organizativa que nem sempre consegue responder com a mesma ferocidade às
ofensivas do capital, mas sempre andou de mãos dadas com a luta pela liberdade. Nas
encruzilhadas da história, Dandara, Zumbi, Marighella, Chico Mendes, Marielle, Margarida,
Apolônio e muitos tantos outros lutaram assim como ti – com corações, corpos e mentes pelo
Num ensaio provocativo, Pereira evoca a questão meridional, problematizada por Gramsci nos escritos juvenis e
atribuída como título de um ensaio incompleto, de 1926, para analisar a obra de Celso Furtado, especificamente o
debate sobre o Nordeste brasileiro. Diz Pereira (2009, p.60): Furtado faz uma leitura similar à que Gramsci fizera
cerca de três décadas atrás. Todavia, os dois autores tiram conclusões distintas do mesmo diagnóstico. O primeiro
conclui que a revolução marxista leninista’ é inviável; o segundo repensa a forma da revolução. Na base do
argumento de Furtado duas premissas: a) o regime de Stálin é o resultado da materialização do projeto marxista:
progresso econômico ao custo da liberdade e b) o marxismo era incapaz de dar respostas democráticas à
problemática social das sociedades ocidentais complexas. São duas simplificações. A primeira parece comum a
um texto engajado, produto e parte constituinte de um tempo de forte agitação política como o Brasil no pré-64.
A segunda seria facilmente evitada com uma leitura dos escritos do pensador italiano. Parece que Furtado nunca
esteve tão perto de Gramsci quanto no exame dessa questão e ao mesmo tempo bem distante quanto às conclusões
que dela extrai”.
Cf. Fernandes (2009).
Carta ao comunista sardo
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 21, n.1, p. 71-88, jan. / jun. 2021 ISSN 1980-8518
75
DOSSIÊ
Seção
direito de sermos livre! Milhares de pessoas em nosso continente escarnam e atualizam
cotidianamente o mito de Antígona, clamando: Onde estão os nossos mortos? Sob quais
condições foram exterminados? São vítimas da violência oficial do capital formalizada por um
Estado que extermina os que sequer tem o direito ao delírio, para aludirmos uma vez mais a
Galeano – pobres, negros, jovens, crianças, militantes políticos. Como s, Camarada Gramsci,
este mundo permanece crescentemente grande e terrível
. E, a tua obra, muito nos ajuda a
decifrá-lo e enfrentá-lo.
Muito vem sendo dito sobre ti e teus escritos, os quais sempre parecem nos dar respostas
e contribuir para formulação de outras tantas perguntas sobre a história, o contemporâneo
.
Graças ao esforço, a dedicação e a qualificada intervenção teórico-política dos teus
companheiros de partido, amigos e familiares, tua obra vem sendo preservada na Itália e no
mundo. Certamente, esta preservação o se sem tensões e equívocos
. Portanto,
intencionando organizar, publicizar e sistematizar teus documentos, dois grandes
projetos/instituições de lego foram construídos: a Fundazione Gramsci
, em 1950, e a
International Gramsci Society
(IGS), em 1989. Ambas possuem ramificações, criadas por
pesquisadores, nas diversas partes do mundo e tem como função precípua afirmar a vitalidade
do teu pensamento neste mundo perverso, desigual e contraditório. Alguns dados parecem
Carta à Tatiana, de 12 de março de 1927 (GRAMSCI, 2005: 125).
Nessa esteira, é significativo o mero de estudos que intentam traduzir conceitos chaves da obra gramsciana
para a análise dos determinantes históricos da formação social brasileira e latino-americana. Estado, sociedade
civil, cultura, intelectuais, hegemonia ganham relevo na agenda dos pesquisadores. Expressa na polêmica síntese
de “ditadura sem hegemonia”, a revolução passiva é tomada como chave analítica para entender as particularidades
assinaladas.
Para compreender as tensões e disputas que se processaram entre o Partido Comunista Italiano (tendo como
expoente Togliatti), as lideranças da União Soviética e a família de Gramsci, sugerimos ler a preciosa apresentação
de Coutinho (1999) à edição brasileira dos Cadernos do Cárcere e a apresentação de Gerratana (1978) à edição
italiana.
Eis o texto de apresentação do site da Fondazione Gramsci: “Em 1950, foi constituída em Roma a Fundação
Antonio Gramsci (denominada, em 1954, de Instituto Gramsci), com o propósito de organizar a obra, os
documentos do pensador italiano Antonio Gramsci e impulsionar a pesquisa sobre a história do movimento
operário na Itália e no mundo. O núcleo original do patrimônio foi constituído, em particular, de livros e revistas
que pertenciam a Gramsci aos quais foram acrescidos, no início dos anos sessenta – momento da constituição do
arquivo os manuscritos originais dos Quaderni del carcere [Cadernos do Cárcere] e das Lettere [Cartas]. Em
1982, nasce a Fondazione Instituto Gramsci que herda e cuida do patrimônio documental e bibliotecário do
Instituto. E, desde 1994, a Fondazione conserva, também, o acervo histórico do Partido Comunista Italiano (PCI),
preservando a documentação desde o ano de sua fundação (1921) até o ano de sua extinção (1991). Em maio de
2016, a Fundação recebeu uma nova denominação: Fondazione Gramsci Onlus”
https://www.fondazionegramsci.org/fondazione/storia/ [livre tradução].
A Sociedade Internacional Gramsci (IGS) foi fundada em outubro de 1989, na Conferência Internacional
Gramsci nel mondo, realizada em Formia, Itália. O objetivo da IGS é facilitar a comunicação e a troca de
informações entre o grande número de pessoas que estão interessadas, em todo o mundo, na vida e obra de Antonio
Gramsci, como também na atualidade de seu pensamento para a cultura contemporânea. (Ver:
http://www.internationalgramscisociety.org/about_igs/index.html). No Brasil, a IGS foi criada em maio de 2015,
num seminário realizado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). http://igsbrasil.org/carta-de-criacao-
igs-brasil/ e vem se apresentando como um catalisador de vontades coletivas, à medida que propicia espaços de
formação e de difusão da obra de Gramsci e de sua vitalidade histórico-analítica.
Ana Lívia Adriano
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 21, n.1, p. 71-88, jan. / jun. 2021 ISSN 1980-8518
76
DOSSIÊ
Seção
atestar a atualidade das tuas ideias: segundo a Bibliografia Gramsciana (1922-1988)
,
catalogada e sistematizada sob a curadoria de Francesco Giasi e Maria Luisa Righi e em
colaboração com a Internacional Gramsci Society, és o autor com a maior bibliografia
catalogada, comportando mais de vinte mil documentos traduzidos em quarenta e um idiomas.
Provocada por essa internacionalização, em 2007, a pesquisa Estudos Gramscianos no
mundo
, realizada e publicada pela Fondazione Gramsci em colaboração com a editora Il
Molino, publica e traduz para o italiano “em volumes antológicos, ensaios retirados da extensa
bibliografia internacional” dedicada a ti nas várias partes do mundo. Com relação aos nossos
dados, o Mapa bibliográfico de Gramsci no Brasil apresenta, “em agosto de 2016, um total de
1.214 (uma mil duzentas e quatorze) obras, compreendendo 706 (setecentos e seis) livros,
capítulos de livros e artigos científicos publicados, e 508 (quinhentas e oito) teses e dissertações
defendidas” (DEL ROIO; GOMES; LOLE, 2017: 25), destacadamente produzidas nas áreas de
educação, saúde e Servo Social (tendo esta última uma apropriação peculiar da tua obra,
demarcada prioritariamente, mas de forma não exclusiva, pelas elaborações teórico-políticas
resultantes de uma possível tradutibilidade).
Os teus escritos juvenis (circunscritos nos artigos para a imprensa operária, nas reflexões
partidárias e nas correspondências com amigos, companheiros e familiares) te contrariaram e
o morreram ao final do dia. A tuas Cartas do rcere
, aliás, ganharam um importante
prêmio de literatura, ainda nos anos 1940. E, sabe aquela experiência revolucionária de ensino,
em Ustica? Foi enredo de um filme, que tem como título Gramsci 44
. Apesar de algumas e
Ver https://www.fondazionegramsci.org/presentazione-studi-gramsciani/
“A produção científica estrangeira não é fácil de acessar para não especialistas, pois é publicada principalmente
em periódicos dedicados aos mais diversos campos disciplinares: história; filosofia; economia política; relações
internacionais; estudo de literatura, cinema ou de cultura em geral; teoria
política; lei; pedagogia; psicologia; antropologia; lingüística; medicina; teoria e organização da informação. As
contribuições m principalmente das Américas e da Europa, mas as contribuições de outras áreas do mundo,
como Índia, Japão, mundo islâmico e China, também são muito substanciais. Nos últimos anos, testemunhamos o
florescimento de uma literatura gramsciana também em países emergentes, como Indonésia, Coréia do Sul ou
África do Sul” [livre tradução].
As Cartas de Gramsci foram publicadas na Itália em 1947, antes da publicação dos Cadernos, os quais viriam
a ser publicados nos anos posteriores, 1948-1951, e ganharam o prêmio Viareggio. Cf. Prefácio às Cartas da edição
brasileira (GRAMSCI, 2005: 13).
Lançado em 2017, o docudrama Gramsci 44, dirigido por Emiliano Barbucci, retrata os 44 dias em que Gramsci
esteve preso na Ilha de Ustica. Lá, junto com outros trinta prisioneiros políticos criaram uma escola aberta para a
comunidade, com cursos sicos de cultura geral. Bordiga dirigia a parte cientifica e, Gramsci, a parte histórico-
literária. Numa carta enviada à Sraffa aos 21 de dezembro de 1926, Gramsci relata a experncia na expectativa de
que ela os ajude apassar o tempo, sem nos embrutecermos e sendo úteis para os outros amigos”. Nos depoimentos
do filme, Gramsci é lembrado por sua generosidade, inteligência e acolhida para com a população e os presos
comuns. Um dos episódios bizarros relatados nas Cartas à Tatiana, com algum humor, é também registrado no
filme. Trata-se da prisão de um porco, que andava solto na vila e havia sido aprisionado por infringir a lei. No
filme, esta história é lembrada e se expande ao tomarmos conhecimento de que não só o porco fora preso, mas,
também, sua dona, que teve como testemunha da prisão, seu filho criança. E é essa criança, hoje com as marcas
de uma longa vida, quem recorda o episódio e o abraço que Gramsci lhe deu naquela ocasião, o qual reverbera em
Carta ao comunista sardo
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 21, n.1, p. 71-88, jan. / jun. 2021 ISSN 1980-8518
77
DOSSIÊ
Seção
esperadas críticas estéticas que recebeu, a película é uma homenagem valiosa a ti e aos teus
companheiros e, certamente, ficarias emocionado com os testemunhos dos que participaram
desse processo e ainda vivem naquelas paragens. Como registra a sinopse italiana do filme,
“Ustica, remota e negligenciada, ainda espera pacientemente no porto, que o barco do
continente chegue”. Aqueles que puderam experienciar aquela escola jamais esqueceram-na;
assim como não esquecemos, também, do inacabado ensaio sobre a Questão Meridional, o qual
tornou-se objeto de grandes debates e reflexões, principalmente para pensar a questão da
hegemonia. Quanto aos Quaderni, estes tiveram uma vida atribulada (BIANCHI, 2008: 297)
,
mas à medida em que são desvelados teórico-politicamente são, também, palco de grandes e
necessárias divergências analítico-interpretativas. Logo após a tua morte, uma mobilização
enorme foi realizada na tentativa de preser-los e publicá-los. Coube a Togliatti a primeira
edição dos teus escritos, nos anos 1940, a qual denominou de edição temática
. Em 1975,
Valentino Gerratana organizou uma nova edição dos Quaderni, denominada de edição crítica,
em que apresenta um cuidado filológico na edição, enumerando e datando os cadernos e
parágrafos e classificando teus textos em A, B e C
.
Na Itália, toda a tua obra vem recebendo um monumental projeto editorial nos últimos
anos, denominado Edizione Nacionale delle opere di Antonio Gramsci
. Esta edição objetiva
preencher as lacunas e controvérsias dos escritos juvenis, das Cartas e dos Cadernos. Adensam-
se, por sua vez, as possibilidades para os estudos filológicos e hermeuticos (LIGUORI;
suas memórias até hoje. Assim eram (são) os fascistas: bestiais e bárbaros; assim é Gramsci: generoso e humano.
Salvos das prisões de Mussolini, os Quaderni foram conduzidos para uma segunda prisão. A operação de
edições dos escritos gramscianos no imediato pós-guerra e a combinação teórica e política de seu autor pelas
lideranças do PCI tiveram um efeito duradouro” (BIANCHI, 2008: 297). Para um maior debate sobre os Cadernos,
sua difusão e edições, sugerimos ver, também, Baratta (2004), Badaloni (1991), Coutinho e Teixeira (2011).
Togliatti agrupou os escritos carcerários por temas, a partir dos seguintes títulos: Il materialismo storico e la
filosofia di Benedetto Croce; Gli intellettuali e l'organizzazione della cultura; Il Risorgimento; Note sul
Machiavelli, sulla politica e sullo Stato moderno; Letteratura e vita nazionale e Passato e presente. Conforme
Coutinho (1998, p.32), no Brasil a radicalização da ditadura militar em dezembro de 1968 impediu o
prosseguimento do projeto originário, que previa ainda a publicação de Il Risorgimento e de Passato e presente”.
Os textos denominados por Valentino Gerratana de A são aqueles de primeira redação, os quais foram transcritos
ou reescritos por Gramsci posteriormente, configurando os denominados textos C, os textos que compõem os
Cadernos Especiais. Todos os textos B, de redação única, estão na nova edição dos Cadernos, cumprindo uma
lacuna da edição temática, que os suprime (COUTINHO, 1998).
“I manoscritti carcerari di Gramsci sono stati pubblicati prima in modo parziale e tematico da Felice Platone e
poi da Valentino Gerratana, in ordine cronologico e in forma completa, a parte l’esclusione delle traduzioni svolte
da Gramsci tra il 1929 e il 1932. A partire da L’officina gramsciana, Gianni Francioni ha proseguito e corretto
il restauro filologico intrapreso da Gerratana, giungendo a formulare i criteri in base ai quali è stata avviata,
nell’ambito dell’Edizione nazionale degli scritti di Gramsci, una nuova pubblicazione dei Quaderni del carcere”.
(https://journals.openedition.org/laboratoireitalien/1049). Já foram publicados dois volumes do Epistolário
(Cartas de 1906 a 1922 e Cartas de 1923), um volume dos escritos pré-carcerários dedicado à Revolução Russa e
à ambiência da III Internacional e quatro Quaderni di Traduzione, sob a responsabilidade de Giuseppe Cospito.
Soma-se a este montante, o Dizionario Gramsciano (1926-1937), organizado por Liguori e Voza, em 1996, e
publicado no Brasil em 2017.
Ana Lívia Adriano
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 21, n.1, p. 71-88, jan. / jun. 2021 ISSN 1980-8518
78
DOSSIÊ
Seção
VOZA, 2017: 35) sobre a tua obra, o que certamente nos daa possibilidade de recompor a
ordem cronológica da escrita, preservando a unidade de cada Caderno e rearranjando os blocos
de parágrafos no interior destes” (BIANCHI, 2019: 11).
Esse universo de substanciosas palavras conserva, ainda, alguns silêncios” entre nós,
os quais estão atrelados à difusão/editoração de tua obra. Ainda não a conhecemos em toda
extensão e intensidade. Os cadernos de tradução que produziste no cárcere para “destravar as
mãos”
ainda o estão disponíveis em sua totalidade ao leitor brasileiro, bem como os
volumes publicados da Edição Nacional. No Brasil, a receão de tuas ideias foi uma
possibilidade
que se desenvolveu com inteireza a partir das décadas de 1960 e 1970.
Curiosamente, aquele, que se transformaria, a partir dos anos setenta, em um dos autores
estrangeiros mais lidos e discutidos no Brasil não somente pelos marxistas –, era, ao final
dos anos cinquenta, um quase desconhecido entre nós” (COUTINHO, 2009: 37). As primeiras
referências a ti foram feitas topicamente em artigos de jornais e livros, entre as décadas de 1920
a 1950, nos quais, trotskistas, imigrantes italianos, antifascistas debatiam sobre a conjuntura
internacional, o fascismo, o Partido Comunista Italiano (PCI), a luta pela liberdade dos presos
políticos da Itália, a Internacional, etc. Conhecíamos tímidos dados acerca de tua trajetória, das
condições de preso político, do vínculo com Croce, das agruras do cárcere, de tua posição de
homem do partido (tão difundida entre nós a partir dos anos 1940) e, das tuas fragilidades
físicas. Te tomávamos, por um “homem franzino e infeliz [...] que resistiu tanto nas cadeias de
Mussolini, verdadeiro túmulo dos vivos”
e a partir dos anos 1960
pudemos conhecer as
Cf. Carta à Tatiana, de 9 de fevereiro de 1929. Após um longo tempo sem poder escrever e tendo sua
correspondência reduzida a uma carta por semana, Gramsci consegue receber autorização para escrever, bem como
cadernos e caneta.
Secco (2002) afirma que esta possibilidade se instaura pela emergência de centros políticos e intelectuais que
difundiam o pensamento de Gramsci, embora a descoberta do Gramsci intelectual só se realize no Brasil nos anos
1960. Quanto à participação do Partido Comunista Brasileiro (PCB), o autor destaca que a ausência do partido na
difusão das ideias gramscianas justifica-se, em grande medida, pelo alinhamento deste à União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas (URSS). Sobre a recepção de Gramsci no Brasil consultar Simionatto (1995), Secco (2002),
Coutinho (2009).
Cf. o artigo de G. Rosini publicado pelo O Homem Livre, que foi o primeiro sobre Gramsci no Brasil e referia-
se “ao martírio do condenado à morte lenta e implacável” (SECCO, 2002: 15).
Coutinho (2009) elenca dois ciclos no processo de recepção das obras de Gramsci no Brasil. O primeiro, localiza-
se nos anos 1960, mediante a ruptura com os manuais soviéticos no PCB e a “[...] ambígua e, a longo prazo,
insustentável coexistência entre ‘marxismo ocidental’ na cultura e ‘marxismo-leninismo’ na política”
(COUTINHO, 2009: 38). O segundo ciclo localiza-se a partir da segunda metade dos anos 1970, ultrapassando as
fronteiras do PCB e inserindo-se nas universidades e nas lutas dos trabalhadores por democracia e contra o arbítrio.
Assim: “Esta difusão, como veremos, superou a linha estreitamente política, manifestando- se, também, no
pensamento social em geral, sobretudo, dentro das universidades. Mas, também como proposta declaradamente
política, o ‘gramsciano’ brasileiro prosseguiu a sua marcha: começou a expandir-se em diversos setores da
esquerda, a qual, talvez pela primeira vez no Brasil, se tornava, finalmente, majoritariamente constituída pelo
menos, desde a fundação do Partido dos Trabalhadores, o PT, em 1980 por personalidades, partidos e movimentos
sociais situados fora do PCB” (COUTINHO, 2009: 40).
Carta ao comunista sardo
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 21, n.1, p. 71-88, jan. / jun. 2021 ISSN 1980-8518
79
DOSSIÊ
Seção
filigranas de tua história, escritos, memórias. Talvez tenhamos tido, ao nos aproximarmos mais
de ti, a mesma reação do amigo de Único
e, assim, ficado como “Mário sobre a ruínas de
Cartago” meditando sobre as ilusões perdidas (o que certamente te arrancaria algum riso). Ou
talvez esse espanto não tenha se consolidado, se recordarmos que nos primeiros artigos sobre
a tua vida publicados no Brasil, como o de Otto Maria Carpeaux, em 1966, te tomam como
indispensável aos que “apreciam a heresia, the right to dissent, em suma: a liberdade”. Como
s, Antonio, compreendemos, desde quando possível, que a liberdade é a tua substância! E
esse vínculo orgânico entre vocês te tornou infinitamente maior do que o cárcere.
Como afirma Aricó (1988: 45), “todos somos, em certo sentido, tributários do seu
pensamento, ainda que alguns não o sejam ou não estejam dispostos a reconhecê-lo”. Em um
continente com determinantes históricos, econômicos e político-culturais diversos te tornaste
rapidamente um de nós, a ponto de muitas vezes esquecermos tuas raízes meridionais pois
sabes bem que quase sempre a intimidade produz excessos, negligências e imprecisões. Na
resistência ao autoritarismo, aos golpes de Estado, bem como na luta pela democracia e no
entendimento desta, tu foste/és indispensável! No debate sobre Estado (e, por conseguinte, das
imbricações entre sociedade política e sociedade civil); na compreensão das vias não clássicas
de poder da burguesia; no debate sobre o revisionismo, o idealismo e o reformismo; na luta
contra o capital; nos vínculos entre democracia e socialismo e, sobretudo, na apropriação dos
fundamentos da filosofia da pxis, o teu pensamento é referenciado. “E se raes para
pensar que as incertezas nas quais se debatem as correntes de esquerda colocam em questão a
atualidade de tais formulações” (ARICÓ, 1988: 175), impossível é conceber que as construções
de novas respostas às perguntas estruturais desta sociedade “possam encontrar-se mais aquém
e não mais além do seu pensamento” (ARICÓ, 1988: 175).
Isso não significa dizer que reproduzimos uma espécie de sacralização das tuas ideias a
ponto de aprisionar-te mais uma vez (estratégia da qual discordarias frontalmente). Significa
“tomá-lo como fonte de problematização. o se trata de reificar sua teoria, de dar a ela o
estatuto de verdade. Pelo contrário. [...] atualizar historicamente essa teoria é evitar sua
declamação” (DIAS, 1996: 112). Nesta perspectiva, destacamos a importância, no final dos
Numa Carta à Tatiana, de 19 de fevereiro de 1927, Gramsci (2005: 118) escreve: “Não sou conhecido fora de
círculo bastante restrito; por isso meu nome é estropiado de todos os modos mais inverossímeis: Gramasci,
Granusci, Grámisci, Granisci, Gramásci e aGaramáscon, com todos os matizes mais bizarros.” Relata ainda que
encontrou um grupo de operários turinenses, do qual, Único, “um formidável tipo de anarquista
ultraindividualista”, por sua vez, apresenta Gramsci a um amigo, preso político e comum, e, este, pergunta:
Gramsci, Antonio? – Sim, Antonio, respondi. – Não pode ser, replicou, porque Antonio deve ser um gigante e não
um homem tão pequeno”.
Ana Lívia Adriano
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 21, n.1, p. 71-88, jan. / jun. 2021 ISSN 1980-8518
80
DOSSIÊ
Seção
anos 1990, da nova edição dos Cadernos do cárcere publicada pela Civilização Brasileira, sob
a coordenação do Prof. Carlos Nelson Coutinho, na qual alarga as possibilidades de conhecer,
problematizar e atualizar historicamente tua obra. Nesta publicização dos Cadernos, fez-se a
opção por uma edição “temático-crítica”
(COUTINHO; TEIXEIRA, 2011) na qual conserva
os Cadernos Especiais da edição de Gerratana, mantém os mesmos critérios de numeração das
notas "miscelâneas" e, após cada "caderno especial", as agrupa de acordo com as temáticas
priorizadas por estes. Essa nova publicização dos Cadernos em língua portuguesa assinala um
indiscutível avanço na apropriação do teu pensamento. No entanto, é importante destacar que
“a supressão dos textos A torna a publicação dos textos originais incompleta, bem como os
limites de seu aparelho crítico, muito além daquele elaborado por Gerratana” (BIANCHI, 2008:
46)
.
O fato é que nos últimos anos é possível perceber “um sensível aumento das
investigações nas quais seu pensamento é o próprio objeto da pesquisa”
(BIANCHI, 2008:
17). Para essa empreitada, reivindica-se a filologia ou, como vem se denominando, uma virada
filológica” marcada por um cuidado analítico que permite “a leitura atenta e em sua
integralidade, não de maneira seletiva e oportunista”, como afirma Buttigieg (2017: 25)
. A
recomposição do “ritmo do pensamento” possibilita um apuramento maior da “história interna
dos Cadernos e instaura necessárias e fecundas reflexões capazes de qualificar cada vez mais
a disputa com as interpretações de tendências liberais, cristãs e social-democratas, que muito te
afastam da filosofia da práxis. Nesse processo, alguns conceitos são redefinidos, interpretações
A nova edição brasileira da obra de Gramsci no Brasil, nos anos 1990-2000, comporta seis volumes dos
Cadernos do cárcere, dois volumes dos Escritos Políticos (1919-1926) e dois volumes das Cartas do Cárcere, sob
a responsabilidade de Carlos Nelson Coutinho, principal organizador deste grande projeto editorial, com a
contribuição de Luiz Sérgio Henriques e Marco Aurélio Nogueira. Afirma Coutinho (1999: 16): “Todos os seis
volumes previstos terão como eixos os “cadernos especiais”, aqueles nos quais Gramsci retomou e reescreveu seus
apontamentos iniciais, agrupando-os segundo temas mais ou menos orgânicos. Todos esses “cadernos especiais”
serão assim reproduzidos tal como se encontram na edição Gerratana, que reproduz os próprios manuscritos
gramscianos. Após cada caderno especial”, o leitor brasileiro encontrará sempre uma parte intitulada ‘Dos
cadernos miscelâneos’ (que são aqueles onde Gramsci reuniu fragmentariamente apontamentos sobre temas
variados), na qual estarão contidas as notas ‘miscelâneas’ relacionadas com o tema do ‘caderno especial’ em
questão. Essas notas ‘miscelâneas’, de resto, serão dispostas em ordem cronológica, com a indicação de sua
proveniência nos respectivos cadernos. O local dessas partes ‘miscelâneas’ (com exceção do uso da ordem
cronológica) não se afastará excessivamente daquele proposto na velha edição temática”.
“Os méritos da presente edição são inegáveis. Os mais evidentes dizem respeito à publicação, pela primeira vez
em português, de boa parte da produção carcerária, notadamente dos textos que compunham o Quaderno 19 sobre
o Risorgimento italiano (...) que permite compreender o conceito de hegemonia no pensamento gramsciano e os
limites da capacidade de direção das classes dominantes” (BIANCHI, 2008: 44).
Cf. Bianchi (2008); Francioni (1984); Frosini (2003), Liguori (1996), entre outros.
Nas palavras do referido autor: “Quanto mais se estudam os escritos de Gramsci de perto particularmente os
escritos carcerários que, por muitas razões, incluindo sua forma única exigem cuidado filológico e hermenêutico
– mais cedo se abandona o mau hábito de procurar nele uma fórmula pronta para interpretar ou explicar situações
políticas e sócio-culturais imediatas” (BUTTIGIEG, 2019: 25).
Carta ao comunista sardo
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 21, n.1, p. 71-88, jan. / jun. 2021 ISSN 1980-8518
81
DOSSIÊ
Seção
são (des)absolutizadas e uma possível aristocracia dos teus intérpretes é tensionada na medida
que a complexidade de tuas reflees, o caráter fragmentário e inconcluso do teu texto e a
universalidade que o mesmo comporta, exigem uma atmosfera radicalmente democrática e com
clara direção teórica e política. O Gramsci comunista, militante, que muito nos ensina sobre a
filosofia da pxis e nos provoca a alargar “as fronteiras do possível”, não pode ser
negligenciado diante de qualquer rigorosidade filológica. Mais ainda: ousamos dizer que o uso
da filologia como recurso aos estudos gramscianos adquire validação se compreendermos
que esta exige como fundamento a política
; a sistematização da “história em ato”, a exposição
do movimento da totalidade.
Nessa perspectiva, o estudo rigoroso dos teus escritos gravita em torno de duas frentes
indissociáveis e desafiadoras: a da tradutibilidade
e a da criticidade. Ambas exigem acuidade
analítica dos diversos determinantes históricos, políticos e culturais que atravessam a tua obra
sob a compreeno de que nenhuma “tradutibilidade é perfeita” e que traduzir é “instituir uma
perspectiva hegemônica” (FROSINI, 2017b). Portanto, uma pertinente questão faz-se
necessária: que tempos são esses que te traduzem e reivindicam as tuas interpretações? Ainda
é o tempo do capital. Como diz Drummond, “tempo de divisas e de gente cortada”. Mas,
também, tempo de resistências; de recompor a história resistindo ao seu componente estrutural
de violência e opressão. Muito se processou na história desde 1937. No Breve culo XX
(HOBSBAWM, 1995), aquele imperialismo clássico se sofisticou. A humanidade conviveu com
as expressões mais aviltantes da barbárie (em que a história parecia estar ameaçada) e, não na
mesma intensidade, testemunhou a (des)romantização das utopias. Uma Segunda Guerra
Mundial que dizimou 85 milhões de pessoas, 6 miles de judeus ; uma Guerra Fria, que
dividiu o mundo e colocou os mais pobres cada vez mais no alvo da luta amesquinhada da
burguesia pela busca incessante de lucros; a URSS que, ao realizar a revolução proletária a
gravitou, posteriormente, no fortalecimento da órbita do capital e da barbárie; as mudaas no
desenvolvimento das forças produtivas que deixam os ricos cada vez mais ricos, com
capacidade de controlar o mundo em seus satélites e robôs, em detrimento da miséria e
precarização das condições de vida dos trabalhadores, nos dizem muito sobre o fortalecimento
do imperialismo.
"A 'experiência' do materialismo histórico é a própria história, o estudo dos fatos particulares, a 'filologia' [...]
A 'filologia' é a expressão metodológica da importância dos fatos particulares entendidos como 'individualidades'
definidas e precisas" (Gramsci apud LIGUORI; VOZA, 2017: 247).
No Q11, § 12, Gramsci afirma: “uma grande cultura pode traduzir-se na língua de outra grande cultura, isto é,
uma grande língua nacional historicamente rica e complexa pode traduzir qualquer outra grande cultura, ou seja,
ser expressão mundial. Mas, com um dialeto não é possível fazer a mesma coisa”.
Ana Lívia Adriano
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 21, n.1, p. 71-88, jan. / jun. 2021 ISSN 1980-8518
82
DOSSIÊ
Seção
Como assinala Hobsbawm (1995: 27), “a destruição do passado é um dos fenômenos
mais característicos do final do nosso século. Há muito não se escreve cartas, muito não se
canta a Internacional e faz alguns anos que o teu partido se dissolveu, dando lugar, o sem
tensões, ao Partido Democrático de Esquerda. Uma nova forma de liberalismo foi encontrada,
produzindo grandes transformações no processo de produção e nas relações sociais. O
capitalismo assumiu feições financeirizadas, as quais exponenciam a capacidade do capital de
acumular lucros, sustentada na processualidade de uma crise estrutural, cuja forma e conteúdo,
atualizam a desigualdade e, nesse mesmo movimento, a necessidade do seu contraditório: a
vitalidade do pensamento marxiano e da tradição marxista, em seus componentes da economia
política, da totalidade e da perspectiva da revolução. A fábrica se complexifica, ganha contornos
difusos e o “fenômeno americanoconstitui-se como resposta à queda tendencial da taxa de
lucro, atualizando as questões assinaladas por ti no Q22, Americanismo e Fordismo. Na esfera
da cultura, a “imediaticidade da vida social planetariamente mercantilizada é proposta
como a realidade e, não por acaso, a distinção epistemológica clássica
entre aparência e essência é desqualificada (NETTO, 2012: 420 grifo no original). No
mundo dos intelectuais, o lorianismo
ainda é uma peculiaridade proeminente, embora o
devamos esquecer a grandiosidade trica e política de muitos companheiros que pensam o
mundo vinculados organicamente com a tua perspectiva de transformação e se apresentam
como referência de texto e de vida, nestas tortas reflexões. Os sons, as palavras, os traços e as
formas acusam que, na arte, assim como na vida, ficou chato ser moderno”. O efêmero, o
molecular e o descontínuo, se convertem na “pedra de toque da nova ‘sensibilidade’: o dado,
na sua singularidade empírica, desloca a totalidade e a universalidade, suspeitas de
‘totalitarismo’” (NETTO, 2012: 420 – grifo no original).
Do lado de cá, morremos aos montes, todos os dias e todas as horas, e a parca e
inconsistente democracia que construímos parece explodir no penhasco do grande capital. A
bestialidade do capital se reveste de uma política reacionária efetivada por uma direita
ultraconservadora que, diante de sua formatação torpe, vem sendo denominada, no Brasil, de
neofascista. Nestas terras viceja um governo que não tem nenhum pudor de matar em nome de
quem quer que seja para confiscar o Estado a seu favor e reproduzir as históricas práticas de
golpes. Tais estratégias parecem corroborar os teus escritos políticos, nos quais afirmas que o
“Todo período tem o seu lorianismo mais ou menos completo e perfeito, e cada país tem o seu”, afirma Gramsci
no Q28 (p.263). Ao que parece, essa afirmação não é atualíssima como preocupante do ponto de vista de sua
concretude. As interpretações da obra de Gramsci também são afetadas pela perspectiva do lorianismo, tendo
expressão, sobretudo, nas abordagens que o vinculam ao liberalismo, ao stalinismo, ao reformismo e até ao
fascismo!
Carta ao comunista sardo
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 21, n.1, p. 71-88, jan. / jun. 2021 ISSN 1980-8518
83
DOSSIÊ
Seção
fascismo é a ilegalidade da violência capitalista, uma profunda decomposição civilizatória.
Derrotá-lo exige a formação e o recrudescimento de uma vontade coletiva direcionada a uma
ampla reforma intelectual e moral. Por isso, resistimos com arte, com humor, com
conhecimento crítico e com o fortalecimento de partidos e movimentos que aglutinam homens
e mulheres que, corajosamente, ocupam as ruas, as terras, os corações e as mentes na tarefa de
transformar o mundo. Nesse conjunto, localiza-se o serviço social.
Enquanto uma profissão octogenária, o Serviço Social construiu em meio as
contradições societárias que a atravessam, elaborações singulares e coletivas dos intelectuais e
das entidades políticas da categoria profissional, com a perspectiva de apreender criticamente
o mundo e as relações sociais. Na medida que nos incursiovamos no marxismo e na tua obra,
construímos recursos teóricos e políticos para compreender o vínculo ornico do Serviço
Social com a história. Tal vínculo nos permite sustentar um projeto de profissão que tem como
distintivo histórico a vinculação com as classes subalternas e a referencialidade da filosofia da
práxis, de forma que o projeto ético-político é a interpretação mais original que o Servo
Social realizou acerca da tua obra, imprimindo tradutibilidade ao conceito de hegemonia.
Certamente essa afirmação necessita de mediações que esse escrito não nos possibilitará
realizar. O importante é demarcar que o projeto profissional representa o esforço de “traduzir”
a filosofia da práxis político-praticamente na profissão, tendo como elemento caucionante a
afirmação da história, em sua substancialidade humana e em seu movimento de afirmação e
negação, circunscrita na organicidade da luta de classe e na temporalidade das últimas quatro
cadas.
Essa referencialidade nos possibilitou, portanto, compreender o Serviço Social como
um intérprete da hegemonia, um elaborador de uma consciência crítica e vontade coletiva, cuja
competência política e teórica criou condições para formular uma interpretação político-prática
desse conceito (validada pela articulação com as lutas dos trabalhadores). Isto é, o projeto ético-
político. O solo histórico que fundamenta essa interpretação tem seu componente seminal nas
construções profissionais, deslindadas a partir da década de 1980, as quais tinham como
finalidade histórica romper o conservadorismo e o tradicionalismo profissional. A busca por
uma redefinição profissional processada no Movimento de Reconceituação e no processo de
renovação do Serviço Social colocou a vinculação com as lutas das classes subalternas como
uma possibilidade à profissão, ao mesmo tempo que introduz a filosofia da práxis como
referência para pensar a história, os seus antagonismos e seus movimentos nela. É com esse
acúmulo e condições históricas que a profissão formula um conjunto de reflexões, ões e
posicionamentos coletivos que a colocam como um dos fermentadores da crítica às relações
Ana Lívia Adriano
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 21, n.1, p. 71-88, jan. / jun. 2021 ISSN 1980-8518
84
DOSSIÊ
Seção
sociais e às forças sociais na sociedade brasileira, ao mesmo tempo em que se apresenta como
um grande interlocutor das classes subalternas, dos movimentos erráticos e fragmentados que
atravessam a sua história e formulação de consciência. A defesa de uma ‘história integral’, como
assinala Gramsci, caucionada na crítica da própria ideia de ‘desenvolvimento histórico’,
porque a história é por ele assimilada à política, isto é, a uma série de dinâmicas que adquirem
‘necessidade’ somente na prática de sua própria afirmação e de seu prevalecer (nunca
definitivo)” (FROSINI, 2013: 36).
O ético-político se opõe, nesse percurso, ao ecomico-corporativo, num processo em
que se coloca como sujeito político de seu tempo através da crítica radical aos antagonismos da
sociedade burguesa e da conexão com as necessidades dos subalternos. Extrapolar a consciência
individual e conectar-se às lutas que ultrapassam a pequena política, isto é, a “política dos
corredores”, que deixam à sombra a potencialidade e necessidade histórica da política, é a
realização do ético-político; realização esta que se revela como fundamental para as vinculações
do Serviço Social com a hegemonia. Nas últimas décadas, o Serviço Social processou, em suas
fronteiras, uma reforma intelectual e moral que tem como sustentação a conexão com as lutas
sociais, a defesa da democracia e de valores emancipatórios e afirmação da crítica e da filosofia
da práxis como referencial principal para a realização desta. Tal processamento ocorre num
país cuja formação social é marcada por componentes históricos característicos das revoluções
passivas, isto é, o alijamento da participão das massas e uma pré-história de nação que, como
analisa Coutinho (2011: 35), não residem na vida das tribos indígenas que habitavam o
território brasileiro antes da chegada de Cabral: situam-se no contraditório processo de
acumulação primitiva do capital, que tinha o seu centro dinâmico na Europa ocidental”.
O desenvolvimento do capital em sua plenitude requer fontes de dominação, controle
de necessidades e de liberdade, bem como o desenvolvimento de um aparato científico e
tecnológico necessários à sua reprodução econômica, política, social e ideológica que eleva o
grave potencial destrutivo do capital, à medida que o monetarismo neoliberal assume a posição
de orientador ideológico da sua reorganização. Um novo estágio do desenvolvimento do
capitalismo anuncia uma nova racionalidade de acumulação e controle que se apresenta como
irracional e perigosa, uma vez que, o que está ameaçado não é uma área, um país ou região do
planeta, “mas o controle de sua totalidade por uma superpotência ecomica e militar
hegemônica, com todos os meios incluindo os mais extremamente autoritários e violentos
à sua disposição (MÉSZÁROS, 2011: 52). A defesa da violência, do terror e da barbárie se
apresenta como expressão máxima do imperialismo hegemônico. O domínio faz-se sob o
discurso de defesa da democracia, dos direitos humanos, da igualdade, da participação social
Carta ao comunista sardo
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 21, n.1, p. 71-88, jan. / jun. 2021 ISSN 1980-8518
85
DOSSIÊ
Seção
e autonomia da sociedade civil (MÉSZÁROS, 2004) associado à retórica de uma democracia
que contempla apenas a escassa socialização da participação política e da garantia das
liberdades necessárias ao fortalecimento da acumulação capitalista.
Tais contradições impactam nas formas de ser do Serviço Social, enquanto profissão
inserida no divisão social e cnica do trabalho, mediante as exigências de produtividade, da
precarização das condições de trabalho (em seus salários, regimes de contratação, requisição de
uma produtividade exacerbada, consequências provocadas pela lógica da financeirização das
políticas sociais), no processo de formação profissional (mercantilização do ensino superior,
ataque frontal aos cursos e professores que fomentam refleo crítica, os cortes nas pesquisas,
desquafificação da atividade científica e o recrudescimento da lógica do auto financiamento das
universidades públicas) e na organização política da categoria (dela requisitando fôlego crítico,
lucidez para analisar o presente e, ao depurar suas contradições, ser presea na história
afirmando a vitalidade das referências teóricas e políticas que a profissão acumulou e que
também atribuem substancialidade à hegemonia profissional. Substancialidade esta que se
concentra na defesa de uma história integral, em que a política e a filosofia se condensam na
história como percurso e fundamento das classes susbalternas.
O grande descompasso entre a produção da riqueza e a sua apropriação altera cada vez
mais e medularmente a luta de classes, exigindo dos trabalhadores de todo o mundo lucidez e
unidade, na luta anticapitalista. Certa vez lembraste que o fascismo e o comunismo o são
fenômenos tipicamente italianos; ao contrário, estão disseminados no mundo (obviamente, a
problematização das condicionalidades contemporâneas que atravessam ambos fascismo e
comunismo não se objeto desta carta, considerando as ltiplas complexidades desse
debate). O aspecto nodal dessa afirmação reside em apontar que, se lutar por uma existência
justa, igual, em que a desumanização não seja o catalisador das relações sociais é uma questão
de sobrevivência histórica, esta luta não prescinde do teu pensamento.
Penso que a leitura desse escrito já tomou considerável tempo, de modo que aborrecer-
te com minha escrita pífia, que empobrece memórias e fatos tão substanciosos da história, não
se coloca nas intencionalidades mais remotas. No entanto, não poderia deixar de escrever-te
depois da intimidade construída com a leitura das tuas Cartas. Cartas estas que, certamente,
contarão com o meu regresso. Ali, um Gramsci absurdamente humano reside nas entranhas de
cada palavra. Choramos diante do teu amor por Giulia e por tua mãe (que te tratavam como
Nino); nos emocionamos profundamente com a saudade de Délio e Giuliano e a preocupação
que tinhas com a forma pela qual serias lembrado por eles; sentíamos raiva quando brigavas
com Tatiana e atribuía a ela incompreensões e exigências; emitíamos sorrisos curtos com as
Ana Lívia Adriano
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 21, n.1, p. 71-88, jan. / jun. 2021 ISSN 1980-8518
86
DOSSIÊ
Seção
narrativas do cultivo de plantas, do teu santo padroeiro e as histórias (em sua maioria não
risíveis) que contavas para alegrar a Tatiana e a ti mesmo. Choramos mais uma vez com o teu
esgotamento físico, a tua lúcida análise do cárcere: a rotina e impactos psíquicos, como a perda
paulatina da capacidade de sorrir ou de ser paciente. Lembramos do testemunho de Graciliano
Ramos (2008) – ao afirmar que no cárcere não é um brinquedo literário; é a vida às avessas ,
bem como da dura análise de Primo Levi (1988: 153), de que “não é humana a experiência de
quem viveu dias nos quais [enquanto homem] foi apenas uma coisa ante os olhos de outro
homem”. E, indignadamente, nos emocionamos. Após a leitura do último adeus, apreendemos
quão humano tu te fazes neste mundo intensamente grande e terrível. Grazie Tantissimo! Em
nome de todos os que estão nas trincheiras das lutas anticapitalistas, de ontem e de hoje. Abraços
intensos nos Camaradas Marx, Lenin, Trotsky, Mariátegui, Lukács, Hobsbawm, Engels,
Marighella, Leandro Konder, Rosa, Flora, Alexandra, Neruda, Carlos Nelson Coutinho,
Edmundo Dias, Octavio Ianni, Florestan, e tantos muitos de s. Nas diverncias que os unem
no diverso, ninguém solta a mão de ninguém “na luta por uma terra sem amos.
Refencias
ABRAMIDES, Maria Beatriz Costa. O projeto ético-político do Serviço Social brasileiro. Tese
(Doutorado). São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2006.
ABREU, Marina Maciel. Serviço Social e a organização da cultura: perfis pedagógicos da
prática profissional. São Paulo: Cortez, 2016.
ARICÓ, José. La cola del diablo: itinerário de Gramsci en América Latina. Buenos Aires: Punto
Sur, 1988.
BARATTA, GIORGIO. As rosas e os cadernos: o pensamento dialógico de Antonio Gramsci.
São Paulo: DP&A, 2004.
BIANCHI, Alvaro. O laboratório de Gramsci: filosofia, história e política. o Paulo: Alameda,
2008.
______. Arqueomarxismo: comentários sobre o pensamento socialista. São Paulo: Alameda,
2013.
BRAZ, Marcelo.(Org.) Carlos Nelson Coutinho e a renovão do marxismo no Brasil. São
Paulo: Expressão Popular, 2012.
BUTTIGIEG, Joseph. Educão e hegemonia. In: COUTINHO, Carlos Nelson; TEIXEIRA,
Andréa de Paula (Orgs.). Ler Gramsci, entender a realidade. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2011.
COSPITO, Giuseppe. Sulla Categoria gramsciana di ‘subalterno’. In: BARATTA, Giorgio;
LIGUORI, Guido (Orgs.). Gramsci da un secolo all’altro. Roma: Riuniti, 1999. p. 27-38.
______. Struttura e sovrastruttura nei “Quaderni” di Gramsci. Crítica Marxista, Roma, n.3-4,
p.98-107, 2000.
COUTINHO, Carlos Nelson. Gramsci. Porto Alegre: L&PM, 1981.
______. Gramsci: um estudo sobre seu pensamento político. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1998.
______. Apresentação à edão brasileira. In: GRAMSCI, Antonio. Cadernos do rcere. Rio
de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999.
Carta ao comunista sardo
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 21, n.1, p. 71-88, jan. / jun. 2021 ISSN 1980-8518
87
DOSSIÊ
Seção
______. A presença de Gramsci no Brasil. Em Pauta, Rio de Janeiro, Universidade do Estado
do Rio de Janeiro, n. 22, p. 17-44, 2009.
______; TEIXEIRA, Andréa de Paula (Orgs.). Ler Gramsci, entender a realidade. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2011.
DEL ROIO, Marcos. Gramsci contra o Ocidente. In: AGGIO, Alberto (Org.). Gramsci: a
vitalidade de um pensamento. São Paulo: Editora da UNESP, 1998a. p. 103-118.
______. O império universal e seus antípodas: a ocidentalização do mundo. São Paulo: Ícone,
1998b.
______. Gramsci e a emancipação do subalterno. São Paulo: Editora da UNESP, 2018.
______. Os prismas de Gramsci: a rmula política da frente única (1919-1926). 2. ed. São
Paulo: Boitempo, 2019.
DIAS, Edmundo Fernandes. O outro Gramsci. São Paulo: Xamã, 1996.
______. Gramsci em Turim: a construção do conceito de hegemonia. São Paulo: Xamã, 2000.
D’ORSI, Angelo. Gramsci: una nuova biografia. Milão: Feltrinelli, 2018.
FERNANDES, Florestan. A revolução burguesa no Brasil: ensaio de interpretação sociológica.
Rio de Janeiro: Globo, 2009.
FRANCIONI, Gianni. L´Officina Gramsciana: ipottesi sulla struttura dei Quaderni del
Carcere”. Nápoles: Bibliopolis, 1984.
FROSINI, Fabio; LIGUORI, Guido. Le Parole di Gramsci: per un lessico dei Quaderni del
Carcere. Roma: Carocci, 2004.
GALEANO, Eduardo. O Livro dos Abraços. São Paulo: L&PM, 1997.
______. As veias abertas da América Latina. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
GERRATANA, Valentino. Apresentação à edição brasileira. In: GRAMSCI, Antonio. Cadernos
do cárcere. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.
GRAMSCI, Antonio. A questão meridional. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
______. Cadernos do cárcere. v. 2. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.
______. Quaderni del Carcere: Edizione crittica dell'Istituto Gramsci a cura di Valentino.
Gerratana. Torino: Einaudi, 2007
______. Cadernos do cárcere. v. 4. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.
HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX (1914-1991). São Paulo: Companhia
das Letras, 1995.
IAMAMOTO, Marilda Villela. Serviço Social em tempo de capital fetiche: capital financeiro,
trabalho e questão social. 9. ed. São Paulo: Cortez, 2015.
IANNI, Octavio. Imperialismo e cultura. Petrópolis: Vozes, 1982.
______. A idéia de Brasil moderno. São Paulo: Brasiliense, 2004.
LIGUORI, Guido; VOZA, Pasquale (Orgs.). Diciorio Gramsciano. São Paulo: Boitempo,
2017.
MARX, Karl. Manuscritos Ecomico-Filosóficos. São Paulo: Martin Claret, 2002.
MÉSZÁROS, István. Filosofia, Ideologia e Ciência Social. São Paulo: Boitempo, 1993.
______. O século XXI: socialismo ou barbárie? São Paulo: Boitempo, 2003.
NETTO, José Paulo. Crise do capital e consequências societárias. Serviço Social & Sociedade,
São Paulo, Cortez, n. 111, p. 413-429, jul./set. 2012.
PEREIRA, Laurindo Mékie. A questão regional no pensamento de Antonio Gramsci e Celso
Furtado. Topoi Revista de História, Rio de Janeiro, Universidade Federal do Rio de Janeiro,
v. 10, n. 18, p. 48-66, jan./jun. 2009.
PORTANTIERO, Juan Carlos. Los usos de Gramsci, Introducción a Antonio Gramsci - Escritos
Políticos (1917-1933). México: Cuadernos Pasado y Presente, 1977.
SCHLESENER, Anita Helena. Gramsci, a Revolução Russa e as estratégias de construção da
hegemonia. In: ARECO, Sabrina; BIANCHI, Alvaro; MUSSI, Daniela (Orgs.). Antonio
Gramsci: filologia e política. Porto Alegre: Zouk, 2019. p. 165-176.
Ana Lívia Adriano
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 21, n.1, p. 71-88, jan. / jun. 2021 ISSN 1980-8518
88
DOSSIÊ
Seção
SECCO, Lincoln. Gramsci e o Brasil: receão e difusão de suas idéias. São Paulo: Cortez,
2002.
SIMIONATTO, Ivete. Gramsci: sua teoria, incidência no Brasil, influência no Serviço Social.
São Paulo: Cortez, 1995.
THOMAS, Peter. The Gramscian Moment: Philosophy, Hegemony and Marxism. Leiden: Brill,
2009.
VACCA, Giuseppe. Vida e pensamento de Antonio Gramsci: 1926-1937. Brasília: Fundação
Astrojildo Pereira; Rio de Janeiro: Contraponto, 2012.
YAZBEK, Maria Carmelita. Classes subalternas e assistência social. São Paulo: Cortez, 1993.