DOI 10.34019/1980-8518.2021.v21.33464
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 21, n.2, p. 513-532, jul. / dez. 2021 ISSN 1980-8518
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“Por uma formação antirracista!”:
contribuições fanonianas para o Serviço Social
“For an anti-racist education!”: Fanonian contributions to Social Work
Giselle Moraes de Souza*
Rachel Gouveia Passos**
Resumo: O presente artigo objetiva apresentar
elementos históricos, teóricos e políticos que
possibilitem maior apreensão das contribuições
fanonianas para uma formação antirracista no
Serviço Social brasileiro. O texto está dividido em
três picos: no primeiro momento, expomos a vida
e obra do autor; no segundo, apresentamos as
elaborações teóricas fanonianas sobre colonialismo e
racismo; e, por fim, no terceiro, anunciamos
elementos para a viabilização de uma formação
profissional antirracista no Serviço Social. Nesse
caminho, destacamos a importância da apreensão do
racismo como um dos componentes estruturantes do
sistema capitalista.
Palavras-chave: Serviço Social; Formação
Profissional; Racismo; Frantz Fanon.
Abstract: This article aims to present historical,
theoretical and political elements that make it
possible to apprehend Fanonian contributions to an
anti-racist education in Brazilian Social Work.
Thereby, the text is divided into three topics: in the
first moment, we expose the author's life and work;
second, we present Fanonian theoretical elaborations
on colonialism and racism and, finally, we announce
elements for the viability of anti-racist professional
education in Social Work. Along this path, we
emphasize the importance of apprehending racism as
one of the structuring components of the capitalist
system.
Keywords: Social Work; Professional Education;
Racism; Frantz Fanon.
Recebido em: 24/01/2021
Aprovado em: 08/07/2021
* Economista e Assistente Social. Mestranda em Serviço Social pelo Programa de s-Graduação em Serviço
Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Pesquisadora do Projeto de Pesquisa e Extensão Encruzilhadas:
diálogos antirracistas. Bolsista CNPq.
** Assistente Social. Pós-doutora em Serviço Social e Políticas Sociais pela Universidade Federal de São Paulo.
Doutora em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Professora Adjunta da Escola de
Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Colaboradora do Programa de Pós-Graduação em
Política Social da Universidade Federal Fluminense. Co-coordenadora do Projeto de Pesquisa e Extensão
Encruzilhadas: diálogos antirracistas.
Giselle Moraes de Souza; Rachel Gouveia Passos
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Introdução
O compromisso com o enfrentamento do racismo e de outras opressões/explorações está
explícito no Código de Ética profissional da/o Assistente Social, publicado em 1993, e
especificamente nos princípios fundamentais V; VI; VIII e XI (BRASIL, 2012). Em
consonância com o Código de Ética da categoria, sinalizamos que a formação profissional
sofreu mudanças há quase 25 anos.
A Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS),
responsável pela coordenação dos projetos de formação profissional na graduação e na pós-
graduação, aprovou, em 1996, o documento que dá as diretrizes gerais para o curso de Serviço
Social (DGSS). De acordo com a ABEPSS, as diretrizes aprovadas nessa ocasião se
materializaram como um avanço para a profissão, sendo resultado de um processo histórico,
iniciado em 1979, no contexto do III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS).
Nesse sentido, “defender as Diretrizes Curriculares da ABEPSS de 1996 é um compromisso na
defesa do projeto ético político profissional” (ABEPSS, [s.d.], p. 1).
De acordo com Rocha (2014), a questão étnico-racial se faz presente nas Diretrizes
Curriculares de 1996, em destaque “no tópico de fundamentos da formação sócio-histórica da
sociedade brasileira” (ROCHA, 2014, p. 96), e ao consultarmos o documento das diretrizes
curriculares, destacamos os pressupostos norteadores da formação profissional, a saber:
1- O Serviço Social se particulariza nas relações sociais de produção e
reprodução da vida social como uma profissão interventiva no âmbito da
questão social, expressa pelas contradições do desenvolvimento do
capitalismo monopolista. 2- A relação do Serviço Social com a questão social
- fundamento básico de sua existência - é mediatizada por um conjunto de
processos sócio-históricos e teórico-metodológicos constitutivos de seu
processo de trabalho. 3- O agravamento da questão social em face das
particularidades do processo de reestruturação produtiva no Brasil, nos
marcos da ideologia neoliberal, determina uma inflexão no campo profissional
do Serviço Social. Esta inflexão é resultante de novas requisições postas pelo
reordenamento do capital e do trabalho, pela reforma do Estado e pelo
movimento de organização das classes trabalhadoras, com amplas
repercussões no mercado profissional de trabalho. 4- O processo de trabalho
do Serviço Social é determinado pelas configurações estruturais e conjunturais
da questão social e pelas formas históricas de seu enfrentamento, permeadas
pela ação dos trabalhadores, do capital e do Estado, através das políticas e
lutas sociais (ABEPSS,1996, p. 5).
Nestes pressupostos está evidenciada a questão social como matéria e fundamento da
profissão, a relação da profissão com as “relações sociais de produção e reprodução da vida
social” e com as “configurações estruturais e conjunturais da questão social” no contexto de
desenvolvimento do capitalismo e da configuração do Estado capitalista.
o racismo é um elemento produto processo do colonialismo, num primeiro
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momento, e do capitalismo, posteriormente, que atua nas diversas dimensões da vida para
garantir a reprodução do colonialismo e do capitalismo que se funda não só, mas também a
partir da diferenciação racial entre pessoas e povos (FANON, 1968; FAUSTINO, 2015; 2018).
Desse modo, o debate da questão étnico-racial não pode ser uma dimensão negociável da
formação profissional. Do contrário, as diretrizes não estão sendo apreendidas em sua
integralidade.
Passemos a dois dos onze princípios que fundamentam a formação profissional.
2. Rigoroso trato teórico, histórico e metodológico da realidade social e do
Serviço Social, que possibilite a compreensão dos problemas e desafios com
os quais o profissional se defronta no universo da produção; e reprodução da
vida social.
3. Adoção de uma teoria social crítica que possibilite a apreensão da totalidade
social em suas dimensões de universalidade, particularidade e singularidade
(ABEPSS, 1996, p. 6).
E dois dos cinco princípios que definem as diretrizes curriculares da formação profissional.
1. Apreensão crítica do processo histórico como totalidade;
2.Investigação sobre a formação histórica e os processos sociais
contemporâneos que conformam a sociedade brasileira, no sentido de
apreender as particularidades da constituição e desenvolvimento do
capitalismo e do Serviço Social no país. (ABEPSS, 1996, p. 7)
Os princípios acima versam necessariamente sobre a investigação histórica “inteira” e
não a partir de uma determinada fatia que permita identificar a formação social brasileira com
os mesmos processos históricos nos países europeus. Como veremos, são todas peças de um
mesmo quebra-cabeça, na verdade, tornaram-se, a partir da aventura do espírito europeu, como
nos apresenta Fanon (1968). Portanto, ressaltamos que as diretrizes curriculares subsidiam a
investigação da formação social brasileira, o que implica analisar um processo histórico que se
inicia em 1500.
Nesse sentido, trazemos Frantz Fanon, autor, psiquiatra e revolucionário que se engajou
na luta contra o colonialismo europeu e nos deixou um legado importante. Legado este que nos
ajuda a refletir sobre as bases da formação profissional em Serviço Social, ou melhor, contribui
consistentemente para pensarmos sobre e agirmos para a consolidação de uma formação
profissional antirracista. Para tanto, o presente texto está dividido em três tópicos: no primeiro
momento expomos sobre a vida e obra do autor; no segundo, apresentamos as elaborações
teóricas fanonianas sobre colonialismo e racismo; e, por fim, anunciamos elementos para a
viabilização de uma formação profissional antirracista em Serviço Social. Assim, destacamos a
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importância da apreensão do racismo como um dos componentes estruturantes do sistema
capitalista.
Entre a profissão e a revolução: Frantz Fanon e sua obra
A breve vida, obra e práxis revolucionária de Frantz Fanon são admiráveis. Frantz Omar
Fanon foi autor de estudos importantes e fundamentais. Nascido na Martinica, uma colônia
francesa, em 20 de julho de 1925, um dos oito filhos de uma família negra de classe média, de
Forte de France, formada por Eléanore Médélice Fanon (1891-1981) e Felix Casimir Fanon
(1891-1947) (FAUSTINO, 2015; PASSOS, 2019).
Fanon permaneceu na Ilha Caribenha até os 15 anos de idade, quando, no contexto da
Segunda Guerra Mundial, alistou-se no exército francês e se somou à luta contra o nazismo
alemão. No exército, prestou serviço nas frentes de guerra na África do Norte e na Europa e
retornou para a Martinica em 1945, como veterano (FAUSTINO, 2015). Quando retorna à
Martinica, Fanon engaja-se na campanha política de seu ex-professor Aimé Césaire, que
concorria, pelo Partido Comunista, ao cargo de prefeito de Forte de France. Essa foi a primeira
experiência política do nosso autor (PASSOS, 2019).
Em 1946, Fanon ingressou no curso de psiquiatria forense na Faculté Mixte de
Médecine et de Pharmacie d'Université, em Lyon, foi quando teve contato com as ideias de
pensadores importantes como Sartre, Lacan, Marx e Hegel. O autor também escreveu peças
teatrais, algumas divulgadas apenas após sua morte (FANON, 2020). Em 1950, terminou seu
curso de psiquiatria forense para o qual apresentou um primeiro trabalho que foi rejeitado por
não contemplar as ideias positivistas predominantes naquele contexto (FAUSTINO, 2015, p.
33).
Em pouco tempo, Fanon apresentou um segundo trabalho intitulado Transtornos
mentais e síndromes psiquiátricas em degeneração espino-cerebelar-hereditária. Um caso de
doença de Friereich com delírio de possessão, que, atendendo às expectativas do pensamento
positivista daquele momento, não sem críticas, foi aprovado com louvor em 1951. o primeiro
trabalho de conclusão foi revisado e, no contexto de nascimento de sua primeira filha, saiu a
primeira edição de Pele negra, máscaras brancas (Peau noire, masques blancs) (FAUSTINO,
2015, p. 35).
Com a conclusão do curso, iniciou sua residência médica em Saint Alban, com o médico
psiquiatra espanhol François Tosquelles, ficando até 1953, após dois anos de residência, do qual
permaneceu próximo. Além disso, as perspectivas revolucionárias do médico influenciaram
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seus trabalhos posteriores (FAUSTINO, 2015).
Fanon havia se deparado com as faces do colonialismo e do racismo na Martinica,
no período em que esteve no front de guerra na Europa, na África do Norte e na França, como
nos demonstra a profunda investigação sobre sua vida e obra realizada por Faustino (2015). Foi
um longo processo percorrido até o entendimento de que, para os franceses da França, o
martinicano francês não tinha nada e na hierarquização racial, estes eram relegados ao estatuto
de desumanidade. Mas é com a experiência em Blida que Fanon ficou diante de práticas
colonialistas na saúde, quando ele no cotidiano o impacto do colonialismo nos serviços de
saúde mental (FAUSTINO, 2015).
O acúmulo de experiências vividas com o racismo e o colonialismo, juntamente ao
arcabouço teórico que adquiriu ao longo de sua formação, fez com que a prática psiquiátrica de
Fanon, bastante influenciada por Tosquelles, fosse revolucionária desde o início, como
podemos observar a partir das reformas realizadas no hospital psiquiátrico de Blida, com o
objetivo de “(...) desenvolver novas formas democráticas na convivência dos enfermos (...)” e
“procurar estabelecer uma estreita conexão entre a psicoterapia e a educação política”
(ZAHAR, 1972, p. 3-4, tradução livre)
1
. Fanon implementou a liberdade de circulação para os
pacientes, deixando a camisa de força apenas para casos extremos, aboliu a divisão de alas pela
raça e adotou a classificação por grau de sofrimento psíquico (FAUSTINO, 2015).
A década de 1950 foi marcada pelos diversos debates entre nações sobre colonialismo e
pelos processos de independência na África e na Ásia. Nesse contexto, as ideias de Fanon
ganharam terreno a partir do início da guerrilha em 1954, adotada pelos nacionalistas após os
fracassados caminhos de conciliação. Assim, além de tomar partido em favor da Argélia
contra a França –, tornou-se colaborador ativo da Frente de Libertação Nacional da Argélia
(FLN). De acordo com Zahar (1972, p. 5. tradução livre)
2
, a posição de Fanon facilitava que
ele agisse na clandestinidade em prol da FLN, realizando as seguintes tarefas: escondia
“integrantes da FLN, treina[va] enfermeiras para a guerrilha, disponibiliza[va] salas para
sessões secretas e repassa[va] informações, armas e outros materiais”.
Com a eclosão da guerra e o aumento das tensões sociais, a situação de Fanon também
se complicou. O desconforto com os funcionários do hospital psiquiátrico que estavam
1
“(…) em el tratamiento intenta desarollar nuevas formas democráticas em la convivência de los enfermos, para
poner em marcha procesos de socialización que permiten a los enfermos orirentarse nuevamente em la sociedad”
(ZAHAR, 1972, p. 3-4).
2
“Fanon se encuentra en una situación ventajosa para el trabajo clandestino: oculta miembros del FLN, forma
enfermeras para la guerrilla, pone a disposición locales para sesiones secretas y pasa informaciones, armas y otros
materiales” (ZAHAR, 1972, p. 5).
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insatisfeitos com as reformas realizadas – ficava ainda maior e a vigilância da polícia francesa
representava o risco de ser preso (PASSOS, 2019, p. 79). Assim, muda-se para a Tunísia.
De acordo com Faustino (2015), Fanon, além de ter se tornado embaixador da FLN,
tornou-se correspondente do El Moudjahid, que era uma ferramenta de destaque na mobilização
política da organização, e “se empenhou bravamente, a partir desse cargo, para criar parcerias
políticas que viabilizassem o abastecimento da guerrilha, o fortalecimento da luta de libertação
e seu representante internacional no diálogo com os demais países africanos” (FAUSTINO,
2015, p. 43).
Na Tunísia, trabalhou – por um pouco mais que um ano – como psiquiatra no Hospital
Charles Nicole, onde novamente provocou mudanças importantes, como transformar um
“manicômio judiciário em serviço aberto e hospital-dia” (LOYELLO, 1983, p. 22 apud
PASSOS, 2019, p. 79). No auge de sua atuação política e profissional, recebeu o diagnóstico de
uma doença para a qual o tratamento era pouco evoluído àquela altura: a leucemia. Pouco antes,
em 1959, escreveu Sociologia de uma revolução: O ano V da Revolução da Argélia
(FAUSTINO, 2015, p. 47).
Diante de um diagnóstico tão difícil, se concentrou na escrita do livro Os condenados
da terra como algo que precisava fazer antes de sua morte. Tendo sido bem-sucedido nesse
feito, Fanon nos deixou um trabalho de extrema relevância que “além de abordar o colonialismo
e a luta antirracista também aborda a perspectiva psiquiátrica racista, ou seja, a psiquiatria
colonizada” (PASSOS, 2019, p. 79).
Fanon iniciou o tratamento na Rússia, e depois de finalizar seu último livro, aceitou ir
para os Estados Unidos da América (EUA), com a intenção de postergar o avanço da doença,
pois tinha consciência de que não ficaria curado. Teve tempo de receber os primeiros
exemplares de Os condenados da terra. Alguns dias depois, já bastante debilitado, faleceu aos
36 anos, em 06 de dezembro de 1961 (FAUSTINO, 2015, p. 50).
A recepção do seu pensamento e obra passou por diversos momentos na realidade
brasileira. Ao olharmos rapidamente para os debates realizados por autores negros e brancos
até – é possível que tenhamos a impressão de que tem sido um autor lido há muito na academia
e nos movimentos sociais e políticos brasileiros. Fato é que como nos demonstra Guimarães
(2008) não foi uma “explosão” quase que imediata como na Europa, EUA e países do
continente africano. O autor sinaliza “um silêncio impactante, em revistas culturais ou
acadêmicas, que perdurou até meados da década de 1960” (GUIMARÃES, 2008, p. 99).
De acordo com Guimarães (2008), é de se estranhar que a obra Pele negra, máscaras
brancas tenha ficado invisível no Brasil durante a década de 1950. A obra, lançada em 1952,
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não teve a mesma atenção das Revistas Anhembi e Brasiliense, mesmo sendo os seus principais
autores bastante conectados com a cena acadêmica europeia, especialmente a francesa. Nesse
sentido, apenas na segunda metade de 1960, as ideias de Fanon começaram a ser introduzidas
no Brasil, e isso se deu no contexto da vinda de Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir, que
estavam em “campanha” militante anticolonialista.
Aquele momento (décadas de 1950-1960) não era fecundo para as ideias de Fanon, pois
foram consideradas como um “pensamento explosivo tanto para a luta de classes quanto para o
projeto de democracia racial” (GUIMARÃES, 2008, p. 105). Para Guimarães (...) foram os
jovens estudantes negros dos anos 1970 e 1980 que, no Brasil, leram e viveram Fanon, de corpo
e alma, fazendo dele um instrumento de consciência de raça e de resistência à opressão (...)”
(GUIMARÃES, 2008, p. 110).
Guimarães (2008, p. 114) considerava que, apesar dessa primeira apropriação nos anos
1970 e 1980, estávamos “engatinhando nas investigações sobre Fanon”, e as fontes
bibliográficas que embasaram este trabalho são uma quase confirmação da aposta de Antônio
Sérgio: a presença negra na universidade que transformaria esse cenário.
Silva (2013) indica que nos anos 1980 as elaborações de Fanon estão presentes em obras
ligadas ao ativismo político e/ou cultural negros e, ao mesmo tempo, esse fenômeno parece ter
começado no fim dos anos 1970, vislumbradas as possibilidades de apropriação das suas
reflexões mais vinculadas ao movimento político-cultural no Brasil.
Já Faustino (2015, p. 192) sistematizou três momentos da recepção de Fanon no Brasil,
são eles: primeiro, a tendência ligada à questão nacional, que chega a Fanon pelo interesse no
debate da identidade nacional; uma segunda tendência ligada à questão racial, à qual os autores
se aproximam em virtude do debate da questão negra; e uma terceira conectada ao crescimento
dos estudos sobre Fanon a partir da introdução dos estudos decoloniais no Brasil.
Dialogando com Mario Augusto Silva, Renato Ortiz e Antônio Sérgio Guimarães,
Faustino traz diversos elementos das ocasiões como os Congressos de Escritores e Artistas
Negros, realizados em 1956 e 1959, os quais tiveram tanto a presença de Fanon como a de
representantes da Associação Cultural dos Negros (ACN), e dos diálogos estabelecidos através
da Revista Présence Africaine. Foram nesses eventos que pode ter ocorrido um contato mais
amplo do que se tem documentado, “nesse cenário, é plausível supor que os intelectuais afro-
brasileiros presentes no mencionado congresso pudessem ter tido contato e, eventualmente,
se interessado pelas ideias de Fanon” (FAUSTINO, 2020, p. 316).
No entanto, o autor sinaliza que, nesse período, a intelectualidade e a militância negra
brasileira encontravam-se muito vinculadas ao Movimento de Negritude, de Aimé Césaire e
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, pois consideravam que o caminho para a libertação negra seria a descolonização
da cultura e um resgate/valorização da cultura negra-africana em termos estéticos e políticos
(FAUSTINO, 2020, p. 317). No entanto, para Fanon, a única forma de libertação negra era a
revolução por uma nação livre do colonialismo, implicando necessariamente na mudança do
Estado e passava sim pela cultura, mas sendo essa um elemento de mobilização do povo
oprimido (FAUSTINO, 2020).
Por fim, o autor indica que elementos como a forte repressão política direcionada à
Frente Negra Brasileira são considerados um dos motivos para uma estratégia de não
enfrentamento, pelo viés cultural e, portanto, mais negociadora. Assim, Faustino (2020, p. 323)
indica “que foram as frações hegemônicas do movimento de negritude, e não Fanon
(revolucionário), com suas críticas ao movimento, que se aproximavam mais das perspectivas
buscadas pela ACN”. O autor conclui que “[...] mesmo que os membros da ACN tenham tido
algum contato com as ideias de Fanon, estas ainda não ofereciam, nesse momento, alguma
utilidade ao debate afro-brasileiro” (FAUSTINO, 2020, p. 323).
Elaborações fanonianas: colonialismo e racismo
A apreensão da realidade e a práxis revolucionária são os caminhos pelos quais o autor
desenvolve suas elaborações sobre o colonialismo e o racismo. Através da experiência vivida
como um homem negro, nascido em um país colonizado, entendeu que o racismo é componente
de uma estrutura com um objetivo constituído e definido (FANON, 1980). Assim, o racismo é
parte do colonialismo, e o colonialismo não se desenvolveria enquanto uma forma particular de
exploração e opressão sem o racismo, pois “quando se observa em sua imediatidade o contexto
colonial, verifica-se que o que retalha o mundo é antes de mais nada o fato de pertencer ou não
a tal espécie, a tal raça” (FANON, 1968, p. 29).
O colonialismo é um instrumento de um sistema imposto aos povos negros, árabes,
indígenas e amarelos com o objetivo de ocupação e exploração completa: expropriação da terra
e exploração da força de trabalho da população dominada. O principal meio utilizado para tanto
é a violência. O racismo opera na esfera da justificativa primeira de que a colonização é a
salvação do atraso, do mal e a oportunidade de evolução para um povo (não branco) que “não
3
Sobre o Movimento de negritude e a revista Présence Africaine, Faustino (2020, p. 320) diz: “(...) as ideias
hegemônicas estavam entre o movimento de negritude cultural, de Léon Damas, Aimé Césaire, Léopold Senghor
e Alione Diop, e o faraonismo, de Cheikh Anta Diop. O primeiro buscava ‘reabilitar a raça negra a partir da
estética, em especial a ideologia e a poesia, enquanto o segundo almejava ser uma forma ‘científica de negritude’,
voltada à exaltação de um passado negro glorioso”.
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tem resistência ontológica” (FANON, 1983, p. 92). Nesse sentido, esse povo outro, não europeu
sequer possui um estatuto de humanidade, não possui cultura ou civilização. Assim, os
brancos europeus se auto- hierarquizam em um sistema por eles mesmos criado e se autorizam
a cometer todo o tipo de barbárie na ocupação e dominação das outras nações. “A expropriação,
o despojamento, a razia, o assassínio objetivo, desdobram-se numa pilhagem dos esquemas
culturais ou, pelo menos, condicionam essa pilhagem” (FANON, 1980, p. 37).
Faustino (2018) analisa a sociogênese do colonialismo em Fanon e destaca que esse
conceito estrutura toda a produção do martinicano, mesmo tendo sido um termo cunhado uma
única vez no seu primeiro livro. Veremos adiante que, como nos foi sinalizado, Fanon está
sempre mediando a estrutura material e objetiva e os avanços sobre as subjetividades das
pessoas negras. Logo, o colonialismo não pode ser explicado apenas pela dimensão econômica,
mas pelos estragos causados a uma subjetividade coletiva.
(...) Os processos pelos quais o colonialismo se constitui, bem como as suas
implicações traumáticas para a subjetividade do colonizado, se tornam
inteligíveis quando tomados em suas determinações historicamente concretas:
a modernidade capitalista e a sua necessidade de converter o que é
genuinamente humano em objeto de sua acumulação (...) (FAUSTINO, 2018,
p. 151).
A insaciedade do colonizador, de fato, parece algo interminável quando analisamos as
descrições de Fanon, segundo o qual, além de segregar, violentar e desumanizar a população
colonizada, o colonizador lança a desqualificação de negros, amarelos e indígenas. Para Fanon,
“o mundo colonial é um mundo maniqueísta” (FANON, 1968, p. 30).
A respeito do racismo, nosso autor trabalha com a situação do colonizado dentro e fora
da sua nação no país do colonizador ou em outro país colonizado - e sinaliza que, mesmo
abolidas as relações escravistas, o estatuto de outridade
4
do negro não se modificou. Precisamos
colocar de antemão que, aos olhos do branco, “o negro não é um homem”, mas um homem
negro, situado na “zona do não-ser” (FANON, 1983, p. 10). A constituição do eu não se dá a
partir da experiência do ser, porque não se é, e a elaboração corporal vai se dar a partir da
experiência do eu branco, que a partir de si mesmo define o outro. “Então, o esquema corporal,
atingido em vários pontos, desabou, cedendo lugar a um esquema epidérmico racial” (FANON,
1983, p. 93).
4
Grada Kilomba (2019), profundamente influenciada pela obra fanoniana, cunhou o termo referindo-se ao
processo pelo qual pessoas brancas projetam para pessoas negras aquilo que não querem ser. A branquitude fica
com a parte boa do ego e a negritude com a parte má. “Dentro dessa infeliz dinâmica, o sujeito negro torna-se não
apenas a/o “Outra/o” o diferente, em relação ao qual o “eu” da pessoa branca é medido –, mas também
“outridade” – a personificação de aspectos repressores do “eu” do sujeito branco” (Ibidem, p. 37. grifo da autora).
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Nesse sentido, entendemos que Fanon considera o negro como uma invenção do homem
branco (FANON, 1983, p. 14). Aqui reside a relação entre racismo e colonialismo. Apenas a
partir da invenção de um povo outro e inferior, o colonialismo poderia justificar-se, pois, de
acordo com o autor, o complexo de inferioridade se a partir de um “processo duplo:
econômico, inicialmente; em seguida, pela interiorização, ou melhor epidermização dessa
inferioridade” (FANON, 1983, p. 12). Portanto, a invenção da raça atrelada a uma ideia de
evolução e civilidade serviu aos propósitos de um sistema capitalista organizado para a
espoliação dos povos não brancos. Faustino (2018, p. 152), aponta que Fanon “(...) ressalta o
quanto o racismo e a racialização implícitos à situação colonial são partes de um processo
maior de dominação: a violenta e desigual expansão das relações capitalista de produção para
o mundo não europeu”. O sujeito negro passa a ser um sujeito “sem lugar”, seja na sua nação
após a invasão dos brancos, na nação “dos brancos”
5
ou em outra nação colonizada.
Fanon (1980) aprofunda esse debate da assimilação em diferentes obras e nos situa na
noção de que a saída da tragédia negra era tornar-se branco, em destaque, no caso dos antilhanos
franceses. Os antilhanos aprendiam que eram franceses, principalmente quando adotavam o
francês como idioma, costumes e quem sabe ter uma relação com uma/um parceira/o branca/o
para se relacionar. Tendo então assimilado a perspectiva maniqueísta do colonialismo e
entendendo que eram franceses, ou quase isso, o africano estaria nessa hierarquia racial abaixo
do francês, ao mesmo tempo que os antilhanos viam os africanos como selvagens. Ou seja,
como verdadeiros negros (FANON, 1980).
É a partir do contato com o Movimento de Negritude, do qual Aimeé Césaire fazia parte
e começou a disseminar pelas Antilhas, que as condições para uma transformação começaram
a se forjar. Inicia-se assim um movimento de autorressignificação e valorização do ser negro e
sua “primeira experiência metafísica” coincide com uma tomada de “consciência políticacom
o início do movimento de libertação, em 1943, o qual o autor associa ao nascimento do
proletariado. Nessa esteira, e com o fim da Guerra, o antilhano se descobre negro e filho de
África (FANON, 1980).
Toda essa situação corrobora as elaborações que Fanon (1980) desenvolveu no artigo
“Racismo e cultura”. O autor coloca que o racismo é um elemento cultural, uma vez que a
cultura é “resultante” da experiência entre seres humanos e destes com a natureza. Nesta
ocasião, Fanon ressalta que o objetivo primeiro do colonialismo, tendo o racismo como um
5
Colocamos entre aspas aproveitando-nos de uma passagem de Fanon com a qual concordamos: “A riqueza dos
países imperialistas é também nossa riqueza. (...) A Europa é literalmente a criação do Terceiro Mundo. As riquezas
que a sufocam são as que foram roubadas aos povos subdesenvolvidos” (FANON, 1968, p. 81).
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elemento, não era a destruição da cultura, mas a escravização. Assim, a destruição do esquema
cultural de um povo é um meio, mas não o fim em si mesmo.
De acordo com Fanon, os comportamentos esquematizados pelo racismo atravessam
ambas as partes nessa relação de dominação. Num primeiro momento, os argumentos
científicos são utilizados para uma autojustificação das atrocidades por parte do colonizador. O
colonizado, por sua vez, rendido pela violência sofrida, internaliza o argumento do colonizador
num processo de alienação/assimilação e negação de sua raça. Num segundo momento, o
colonizador impõe outra cultura ao colonizado, que reconhece a maldição de sua existência
(FANON, 1980).
Porém, a cultura não é totalmente sepultada, a alienação também não é total, de modo
que não seja possível sair do estado de quase imersão dessa assimilação. Nesse sentido, em um
dado momento, tendo aceitado os ditames da cultura imposta, e mesmo assim perseguido pelo
racismo, “apercebe-se de que a atmosfera racista impregna todos os elementos da vida social”
(FANON, 1980, p. 45). Assim, em um momento de desencantamento com a cultura imposta
pelo colonizador e a tentativa de assimilação, o colonizado parece acordar de um sono profundo.
Inicia-se um processo de resgate e reconhecimento de sua cultura que o conduzirá à luta.
Para o martinicano, o “começo da história” das nações independentes significa,
necessariamente, sem alternativa outra, o fim da história do colonizador. Apenas o povo
colonizado, num processo de “práxis totalizante”
6
, na luta pela terra e pelo alimento poderia
pôr fim à “aventura colonial”, à “aventura do espírito europeu” que promoveu a pilhagem, o
desterro e o genocídio. Desse modo, a solução para a situação colonial – e para o problema do
racismo é a luta pela libertação total. É a luta contra o sistema de exploração e opressão
capitalista (FANON, 1980).
As contribuições de Frantz Fanon para uma formação profissional antirracista em
Serviço Social
Nesse terceiro tópico pretendemos demostrar a imprescindibilidade de uma formação
profissional antirracista. Além de indicar para uma atuação que não perpetue mecanismos de
opressão, como comportamentos racistas, o que deve ser condizente com um trabalho
profissional direcionado para o combate ao racismo
7
.
6
“Essa práxis violenta é totalizante, visto que cada um se transforma em elo violento da grande cadeia, do grande
organismo surgido como reação à violência primordial do colonialista. Os grupos se reconhecem entre si e a futura
nação está indivisa. A luta armada mobiliza o povo, isto é, lança-o numa única direção, num sentido único”
(FANON, 1968, p. 73).
7
Primeiramente é necessário sinalizar que não estamos inaugurando o debate sobre a formação profissional e a
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Podemos dizer que a primeira contribuição de Frantz Fanon para o Serviço Social diz
respeito às suas reflexões acerca do racismo como um componente crucial e necessário ao
colonialismo e ao capitalismo. O racismo é parte de uma estrutura cujo objetivo é a exploração.
O saque das riquezas, a escravização humana e o escoamento de mercadorias produzidas nas
metrópoles para as colônias estão nas franjas da acumulação primitiva. Como sinaliza nosso
autor,
O capitalismo, em seu período de desenvolvimento, via nas colônias uma
fonte de matéria-prima que, manufaturadas, podiam espalhar-se no mercado
europeu. Depois de uma fase de acumulação do capital, impõe-se hoje
modificar a concepção da rentabilidade de um negócio. As colônias
converteram-se num mercado. (FANON, 1968, p. 49).
O objeto de intervenção da/o assistente social é a “questão social” que é produzida pela
contradição capital x trabalho, própria da exploração capitalista, portanto, nada menos relevante
do que entender a formação da sociedade capitalista e suas contradições na perspectiva do
materialismo histórico dialético, o que nos permite apreender a aparência e a essência da
realidade social.
Gonçalves (2018) traça um breve percurso da situação da população negra no pré e pós-
abolição. A partir de diversas autoras, sustenta e explicita a relação questão racial e “questão
social”, uma vez que no pós-abolição a população negra foi atravessada pela repressão,
higienização, caridade e educação moral e ideológica, resultado de uma fusão macabra entre
ideais eugenistas, nacionalismo e catolicismo. O Estado esteve e talvez ainda esteja
8
concentrado em fazer desaparecer a massa negra da nação ou, na impossibilidade, pelo menos
controlar a um lugar de resíduo social, enfrentando um processo penoso para se constituir
como classe laboriosa. A transição do trabalho escravo para o trabalho livre está no cerne da
ausência do estudo da questão étnico-racial. Não apenas relacionado à formação, mas à produção e à atuação
profissional, esse debate vem sendo travado, como sinalizou Rocha (2014, p. 149): “Como foi dito
anteriormente, a demanda pela incorporação da temática étnico-racial não é recente no âmbito do Serviço Social.
Estudos como os de Pinto (2003), Ribeiro (2004), Silva Filho (2006), Ferreira (2010) e registros como os realizados
nos ANAIS do VI CBAS (1989) apontam como esse desafio esteve e ainda está posto ao Serviço Social”. Nesse
sentido, ao mesmo tempo em que debateremos as contribuições de Fanon para o Serviço Social e, uma vez que
autoras(es) importante sinalizar, negras(os) vêm discutindo a formação profissional na mesma perspectiva
deste trabalho, pretendemos igualmente, convocá-las para o debate.
8
Souza e Barbosa (2019) argumentam que, diante de todo um histórico de ações que produzem múltiplas mortes
da população negra, a política de embranquecimento, tendo como uma das suas principais estratégias o genocídio
produzido por mortes negras por ação direta ou indireta do Estado, segue em voga na contemporaneidade.
Conforme as autoras, “Diante do histórico das políticas promovidas pelo Estado que se implantam no Brasil contra
a existência de homens e mulheres negros que levantamos brevemente neste trabalho, nos questionamos
novamente os motivos desta política de morte. Estamos sugerindo que estas políticas seguem como reatualizações,
de acordo com os contextos nacionais e internacionais, de um projeto de nação baseado no etnocídio das
populações não brancas, através da miscigenação física e cultural, no ocultamento das desigualdades e tensões
raciais pelo mito da democracia racial, pela esterilização de mulheres negras ou pela execução direta desta
população pelo braço armado do Estado” (SOUZA; BARBOSA, 2019, p. 10).
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constituição da sociedade burguesa e da “questão social” (ALMEIDA, 2016 apud
GONÇALVES, 2018). É nesse sentido que Gonçalves (2018) traça o nó da “questão social”.
Ainda de acordo com a autora, nos anos 1930, década da gênese do Serviço Social,
estava colocada a situação de marginalização, controle e eugenia direcionada para a população
negra. O Serviço Social amparado nos ideais conservadores respondia as demandas da
burguesia dominante. Assim, a compreensão de seu processo constitutivo passa
necessariamente pelo desvendamento da questão étnico-racial (GONÇALVES, 2018). É sobre
essas bases que precisamos olhar para a sociedade capitalista em busca de reproduzir o
movimento da realidade no campo da abstração. Conforme Netto,
(...) além da aparência fenomênica, imediata e empírica por onde
necessariamente se inicia o conhecimento, sendo essa aparência um nível da
realidade e, portanto, algo importante e não descartável –, é apreender a
essência (ou seja: a estrutura e a dinâmica) do objeto (NETTO, 2011, p. 22,
grifo do autor).
O capitalismo se funda, não apenas, a partir da colonização e do racismo. Como
sinalizado, um país colonial é necessariamente racista, assim, o debate sobre a hierarquização
racial da existência deveria estar presente nas análises sobre a formação social brasileira. O que
queremos dizer com isso é que a “questão social” no Brasil, nas Américas, nos países africanos
não pode ser analisada a partir da importação crua da experiência dos países colonizadores, uma
vez que as populações dessas nações não foram/são subjugadas enquanto colonizados, mas sim
enaltecidas a partir do mesmo esquema de hierarquização racial que estrutura as relações sociais
no interior dos países e entre países. O Brasil é marcado por uma profunda desigualdade racial
e social produzida historicamente desde a invasão colonialista. Não é possível entender essas
desigualdades sem uma análise cuidadosa do passado-presente colonial.
Uma vez que trabalhamos com a noção de racismo estrutural, precisamos reforçar que
este está, sobretudo, nas bases da “questão social” e, consequentemente, em suas expressões
(ABEPSS, 2018). Nesse sentido, deixá-lo de fora como elemento estrutural e estruturante é um
erro de análise e talvez de apreensão do método do materialismo histórico dialético
(ALMEIDA, 2019) – algo que não temos a pretensão de discutir nesse momento.
A ausência de estudos que tratam da centralidade da questão étnico-racial proporcionou
uma análise fragmentada/parcial da história brasileira, obviamente, com impactos
profundamente negativos para apreensão e intervenção na contemporaneidade. O documento
Subsídios para o Debate sobre a Questão Étnico-Racial na Formação em Serviço Social,
elaborado pela ABEPSS (2018), engrossa o caldo das nossas argumentações quando sinaliza
que “a apropriação das categorias raça e etnia para as análises e reflexões nas ciências sociais
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é fundamental, sobretudo, no Serviço Social (...)” (ABEPSS, 2018, p. 15).
A segunda contribuição de Fanon que queremos destacar é a desumanização das pessoas
negras, como demonstram análises feitas por autoras como Passos (2018; 2020) e diversos
institutos e laboratórios de pesquisa
9
. Passos (2020), que tece reflexões sobre o conceito de
cuidado colonial, sinaliza as diversas violações de direitos e as violências que permaneceram
como uma herança para as mulheres negras. A autora destaca três formas principais de
expressão do cuidado colonial no tempo atual. A primeira delas é a negação da vivência da
maternidade plena; a segunda, é o extermínio de pessoas negras e, consequentemente, das
mulheres negras que representam a maioria do contingente de vítimas de feminicídio; e a
terceira é o imaginário de que mulheres negras são mais resistentes e, por isso, produzem “(...)
processos de subjetivação que são marcados por essa fantasia e que resultam em intenso
sofrimento psíquico, que têm, na maioria das vezes, a medicalização da subjetividade como
resposta” (PASSOS, 2020, p. 122).
O retrato da realidade da população negra, constatado por diferentes pesquisas
10
, ilustra
a sociedade estruturalmente racista de raízes coloniais preservadas por uma estrutura política e
um aparato ideológico
11
que se coloca como barreira para a percepção do privilégio das pessoas
brancas, da desumanização e do genocídio das pessoas negras, do mesmo modo que Fanon
(1968, 1980,1983), em diversos momentos, sinalizou em suas obras, seja em seu país ou no país
estrangeiro. É uma contribuição no sentido de oferecer elementos para que se olhe com mais
atenção para o público com o qual a categoria profissional trabalha.
O Serviço Social tem na questão social a base de sua fundação enquanto
especialização do trabalho. Os assistentes sociais, por meio da prestação de
serviços sócio-assistenciais indissociáveis de uma dimensão educativa (ou
político ideológica) realizados nas instituições públicas e organizações
privadas, interferem nas relações sociais cotidianas, no atendimento às
9
Diversas pesquisas de análise quantitativa e qualitativa, como as do IBGE, por exemplo, demonstram que as
“minorias” – população negra (e mulheres negras) e indígena – são maioria nos piores índices relacionados à renda,
moradia, educação, trabalho, vitimização/homicídios etc. Ver: Retrato das desigualdades de gênero e raça
(INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA et. al., 2011; 2015); E Atlas da violência
(CERQUEIRA; BUENO, 2020). No contexto da Pandemia de COVID-19, o Núcleo de Operações e Inteligência
em Saúde (NOIS) demonstrou o componente racial e social das pessoas mais vulneráveis em relação ao vírus no
que tange a contaminação, agravo do quadro e letalidade. Novamente, a população negra, periférica e pobre é a
que performa as primeiras colocações na corrida da morte (BATISTA et. al., 2020). No estudo, foram realizados
diferentes cruzamentos e análises com variáveis como idade, escolaridade e tipo de “internação” (enfermaria ou
UTI). Em todos os cruzamentos dentro de cada faixa etária, comparando os mesmos níveis de escolaridade o
óbito de pessoas pretas e pardas foi maior que o de pessoas brancas e, em contrapartida, o índice de recuperação
das pessoas brancas foi maior do que das pessoas negras.
10
Idem nota de rodapé n° 9.
11
Conforme Almeida (2019, p. 87), “Uma vez que o Estado é a forma política do mundo contemporâneo, o racismo
não poderia se reproduzir se, ao mesmo tempo, não alimentasse e fosse também alimentado pelas estruturas
estatais. (...) O Estado moderno é ou Estado racista (...) ou Estado racial determinados estruturalmente pela
classificação racial –, não havendo uma terceira opção”.
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variadas expressões da questão social, tais como experimentadas pelos
indivíduos sociais no trabalho, na família, na luta pela moradia e pela terra, na
saúde, na assistência social pública, entre outras dimensões. (IAMAMOTO,
2010, p.63)
A ausência de reflexões sobre essa questão, sem considerar elementos imprescindíveis
da realidade concreta dos sujeitos, pode nos levar ao questionamento da “qualidade” dos
serviços socioassistenciais apontados por Iamamoto (2010).
Para Rocha (2014, p. 143), a incorporação dos marcadores raciais das(os) usuárias(os)
se constitui por si em uma razão para atenção a essa realidade. Martins (2015) chama
atenção para a necessidade de uma análise não genérica da “questão social”, ao contrário da
que se centra apenas na contradição fundante das sociedades capitalistas e secundariza outras
medições necessárias em determinado contexto de formação social, como a brasileira
(MARTINS, 2015). A pesquisadora destaca o impacto negativo na formação profissional, que
não se forja na análise da realidade concreta e histórica dos processos sociais que conformam a
contemporaneidade, na medida em que reduz o campo de referenciais teórico-metodológicos
que nos possibilitam intervenção na realidade concreta (MARTINS, 2015).
A última contribuição, não menos importante, que queremos destacar é o debate sobre
assimilação/alienação e desalienação realizado por Fanon. Estabeleceremos esses dois
momentos como duas dimensões que se relacionam dialeticamente. A primeira dimensão
refere-se ao quanto na colonização a ideia de inferioridade é internalizada pelas pessoas negras
e o de superioridade por pessoas brancas, caracterizando-se como um “duplo narcisismo”
(FANON, 1983, p. 11).
Olhando para a contemporaneidade, para discursos públicos de ódio racial, não no
Brasil, é fácil deduzir que esses imaginários se reproduzem em todas as dimensões das relações
humanas. Conforme assinala Almeida (2019, p. 67), “nossa relação com a vida social é mediada
pela ideologia, ou seja, pelo imaginário que é reproduzido pelos meios de comunicação, pelo
sistema educacional e pelo sistema de justiça em consonância com a realidade”.
A relação que queremos estabelecer é do reflexo dessa subjetividade moldada por um
esquema racial caso não seja “desarticulada” ao longo da formação na relação das
assistentes socias com as usuárias, na coordenação de projetos e programas e na elaboração de
políticas públicas. Não se trata de responsabilizar única e exclusivamente nesse caso específico,
a universidade ou os cursos de Serviço Social, mas de sinalizar que formar profissionais com
conhecimento das relações raciais pode e deve ser uma tarefa revolucionária das unidades
de formação acadêmica. Além de oferecer elementos para uma atuação profissional que não
reproduza o racismo em sua prática, pode ir além, na formação de profissionais antirracistas.
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Mais uma vez dialogando com Almeida (2019, p. 47), “as instituições são racistas
porque a sociedade é racista”, o autor coloca que “as instituições são hegemonizadas por
determinados grupos raciais que utilizam mecanismos institucionais para impor seus interesses
políticos e econômicos” (ALMEIDA, 2019, p. 40). Nesse sentido, o que faz ser o Serviço Social
uma profissão na qual o projeto ético-político hegemônico está alinhado com a fundação de
outra forma de sociabilidade sem mecanismos de dominação e exploração de um grupo sobre
outro, mas que ainda não traz essa radicalidade materializada nos currículos de formação
profissional? Arriscamos com Fanon sugerir que o motivo é a alienação do branco “escravo de
sua superioridade” (FANON, 1983, p. 51). Perguntamos, existe radicalidade pela metade?
A segunda dimensão refere-se à potencialidade da formação profissional para aquelas
pessoas, sobretudo, negras afetadas pelos constructos racistas que moldam subjetividades
coletivas, como vimos, brancas e negras. Fanon (1968; 1980), demonstrou em sua obra a força
que tem o conhecimento e a valorização de si e de sua história e a desmistificação de
imaginários racistas. O que queremos salientar com isso é que o período de formação
profissional pode ser um espaço que contribua para desalienação do eu.
Em outras palavras, o Negro não deve mais ser colocado diante deste dilema:
tornar-se branco ou desaparecer, mas ele deve poder tomar consciência de uma
possibilidade de existir, ou se a sociedade lhe causa dificuldades, devido à sua
cor, se eu constato em seus sonhos a expressão de um desejo inconsciente de
mudar de cor, meu objetivo não será dissuadi-lo, aconselhando-lhe a “manter
suas distâncias”; meu objetivo, ao contrário será, uma vez as causas
determinantes esclarecidas, torná-lo capaz de escolher a ação (ou a
passividade) a respeito da verdadeira origem do conflito, isto é, a respeito das
estruturas sociais (FANON, 1983, p. 84).
Nas relações cotidianas percebemos os conflitos de identidade racial
12
bem como as
subjetividades atravessadas pelos “complexos e comportamentos neuróticos” analisadas na
obra Pele negra, máscaras brancas. insegurança, medo e baixa autoestima que vêm sendo
moldados desde o primeiro contato com a sociedade racista e são reforçados na família, pela
cultura e pela escola (ALMEIDA, 2019). Conforme Fanon demonstrou, a luta revolucionária
contra a estrutura e superestrutura capitalista tem muito mais a se fortalecer com a contribuição
de grande relevância na desorganização desses esquemas de inferiorização e desalienação
das/dos estudantes em formação, uma vez que “nenhum neologismo pode mascarar a nova
12
As questões que se colocam para autodeclaração racial no Brasil têm raízes na política de embranquecimento
iniciada no século XIX que fortalecerá a mestiçagem, àquela altura verificável pelos frutos de relações não
consensuais entre colonos brancos e mulheres negras escravizadas. A assimilação epidérmica é incutida na
população negra como uma forma de salvação, assim como apresentou Fanon (1983). Aquelas pessoas negras mais
claras, com opção de não se declararem negras, criativamente encontram os mais diversos adjetivos de
identificação racial (NASCIMENTO, 1978; MOURA, 1988).
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evidência: o mergulho no abismo do passado é condição e fonte de liberdade” (FANON, 1980,
p.47).
O que estamos propondo seria uma espécie de inversão no movimento ou
comportamento neurótico que Fanon (1983, p. 78) ressalta quando diz que “a inferiorização
é o correlato nativo da superiorização europeia. Tenhamos coragem de dizer: É o racista que
cria o inferiorizado”. Assim, é também responsabilidade das pessoas brancas a luta antirracista
que reverbera nas diferentes dimensões da vida, sobretudo a ético-política.
O destaque para essas três contribuições de Frantz Fanon para o Serviço Social de forma
mais ampla e para a formação profissional mais especificamente, nem de longe esgota os
subsídios que a produção teórica do autor oferece para refletirmos sobre a sociedade capitalista,
o racismo e os caminhos para a refundação dessa sociabilidade que deteriorou as relações
humanas e o próprio humano.
Considerações finais
A localização de Fanon no tempo está marcada pelo contexto no qual ele escreve. Apesar
de seu último livro ter sido publicado em vida, em 1961, a obra fanoniana nos ajuda a interpretar
(e intervir) na contemporaneidade, e não é à toa que existem disputas em torno do pensamento
do autor (FAUSTINO, 2015).
Nesse sentido, nossa busca identificou três contribuições de Fanon para o Serviço
Social. A primeira é que suas reflexões revelam o racismo enquanto um componente crucial e
necessário ao colonialismo e ao capitalismo; a segunda se refere ao desnudamento da
desumanização das pessoas negras; e a terceira contribuição, não menos importante é o debate
sobre assimilação/alienação e desalienação realizado por Fanon. Essas contribuições se
constituem como elementos para olhar a formação social brasileira, a questão étnico-racial e o
racismo sem as lentes do eurocentrismo, na direção de uma epistemologia decolonizada e
forjada na análise da realidade concreta.
A terceira contribuição, especificamente, além desses elementos citados, fornece
subsídios para a práxis política. Para a ação mais direta sobre si mesmo, no caso do corpo
docente e discente, de modo que propõe movimentos que contribuam para o processo de
desalienação dos sujeitos negros inferiorizados pelo racismo e dos sujeitos brancos
supervalorizados pela branquitude.
A categoria profissional de assistentes sociais, por seu compromisso com a luta contra
o capitalismo e as opressões/explorações, inscrito em diversos instrumentos legítimos do
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Serviço Social, está diante de uma crescente pressão política iniciada na década de 1980
(ALMEIDA, 2013) e cada vez mais se avoluma. A virada contra o conservadorismo completou
quatro décadas, no entanto, espantosamente, os grupos taxados de identitários ainda lutam pela
radicalidade que não se concretizou, até este tempo, por completo.
Entendemos que a virada que o Serviço Social precisa para se consolidar como uma
categoria de profissionais antirracistas – que começou a ser forjada no século passado e isso se
deve à luta que as profissionais majoritariamente negras vêm travando ocorreu nos diferentes
espaços ocupados pela profissão: na docência, na pesquisa, na atuação profissional, na
extensão, no estágio. Portanto, é com a concretização de estratégias e projetos de formação
profissional antirracista que será viável efetivar uma parcela significativa dos elementos
necessários para alcançar a radicalidade que a categoria se comprometeu a exercer. A formação
é o início do ciclo. Sem perder de vista o meio e o fim, por ela devemos começar.
A concretização de projetos de formação profissional antirracistas, agora menos
intangível, depende da luta e resistência política das/dos profissionais comprometidas/os com
o projeto ético-político e do corpo discente que, na luta política dentro (e fora) da comunidade
acadêmica, têm provocado, minimamente, o desconforto diante dos culos de silenciamento
do povo negro.
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