DOI 10.34019/1980-8518.2021.v21. 33412
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 21, n.1, p. 52-70, jan. / jun. 2021 ISSN 1980-8518
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Como estudar o Quaderno 25?
Notas propositivas para uma metodologia de
pesquisa sobre as classes e grupos subalternos
em Antonio Gramsci
How to study Quaderno 25? Propositional notes for a research methodology
on subaltern classes and groups in Antonio Gramsci
Mirele Hashimoto Siqueira
*
Resumo: O artigo problematiza os conceitos de
classes e grupos subalternos em Antonio Gramsci
a partir da obra carcerária e, particularmente, do
Quaderno 25. Objetiva propor uma metodologia de
pesquisa para estes conceitos, haja vista o caráter
dos Quaderni del Carcere, isto é, uma obra não
sistematizada para a publicação. Nesse sentido,
partindo de uma pesquisa bibliográfica na edição
crítica italiana dos Quaderni, organizada por
Valentino Gerratana, evidencia-se a
fundamentação teórica do Quaderno 25, na
medida em que nele Gramsci apresenta as classes
e grupos subalternos, bem como sua história
desagregada e episódica, como submetidos a
iniciativa da classe dominante. Assim, o problema
de como pôr fim a subalternidade está
atravessada pelo estudo destes conceitos, dada a
dedicação de Gramsci em investigar as formas de
superá-la, rompendo com a subalternidade
econômica, mas, sobretudo, cultural que a
estrutura.
Palavras-chave: Gramsci, classes subalternas;
grupos subalternos; serviço social.
Abstract: The article problematizes the concepts
of subaltern classes and groups in Antonio
Gramsci from the prison work and, particularly,
from Quaderno 25. It aims to propose a research
methodology for these concepts, considering the
character of the Quaderni del Carcere, that is, a
work not systematized for publication. In this
sense, starting from a bibliographic research in
the Italian critical edition of Quaderni, organized
by Valentino Gerratana, the theoretical foundation
of Quaderno 25 is evidenced, in that Gramsci
presents the subordinate classes and groups, as
well as their disaggregated and episodic history,
as submitted to the initiative of the ruling class.
Thus, the problem of how to “end” subordination
is crossed by the study of these concepts, given
Gramsci's dedication to investigating ways to
overcome it, breaking with the economic, but,
above all, cultural, subordination of the structure.
Keywords: Gramsci; subaltern classes; subaltern
groups; social work.
Recebido em: 15/02/2021
Aprovado em: 22/03/2021
*
Mestre em Serviço Social pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), campus de Toledo.
Graduada em Serviço Social pela UNIOESTE, campus de Toledo. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação
em Serviço Social (PPGSS) pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); Bolsista da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
Como estudar o
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Introdução
Antonio Gramsci é, certamente, um marxista da virada do século XIX para o século XX
que deixou uma vasta riqueza categorial que pode contribuir para a tarefa de compreensão e
explicação da realidade. Como um militante inserido diretamente na práxis da vida política
italiana, não se ateve a questão da explicação do real, mas, sobretudo, nas possibilidades
concretas de transformá-lo. Afora a sua origem sarda, que se traduz pelas grandes privações que
viveu no sul da Itália durante a infância e a juventude e que, posteriormente, permaneceu a
sentir na carne e osso em Turim, fez com que o grande sentimento de revolta contra os ricos se
transformasse em combustível para alimentar o seu interesse pelas questões políticas do
partido, dos sindicatos, das organizações e movimentos ornicos junto à classe trabalhadora.
Nesse sentido, militante político, ainda que cerceado fisicamente pelo encarceramento,
o cessou sua atividade política no rcere, tendo na redação dos Quaderni uma forma de
resistência. Desenvolvendo muitas das reflexões do período anterior, não existe, nas páginas da
obra carcerária, uma separação entre um Gramsci potico e um Gramsci “homem de cultura”.
Gianni Fresu (2020), em uma recente biografia intelectual sobre o sardo, é quem nos chama a
atenção para essa premissa, afirmando a necessidade de se estabelecer um profundo quadro de
continuidade entre o 1) jovem Gramsci revoluciorio, 2) o dirigente político e 3) o teórico. É
certo que estas fases representam momentos distintos de evolução, haja vista que o pensamento
gramsciano é marcado por novas direções que vai abarcando maior complexidade, mas esta
“tripartição” é meramente metodológica para estabelecermos uma cronologia das fases da vida
de nosso sardo. Como indica Fresu (2020), na prática, o uma ruptura teórico-ideológica na
produção intelectual de Gramsci, de tal modo que os Quaderni se constituem na mesma tentativa
explorada durante toda a sua vida: compreender e dar respostas para um mundo grande e
terrível”.
No universo da refinada retomada das reflexões pré-cárcere, encontramos nos Quaderni
um vasto exercício colocado em movimento por Gramsci: investigar os motivos das sucessivas
derrotas da revolução na Itália. Neste contexto, as categorias gramscianas ali desenvolvidas
para explicar a realidade de seu tempo, ferramentas úteis, inclusive, para uma leitura crítica dos
tempos atuais com as devidas mediações, podem ser compreendidas em sua íntima relação. Por
esse motivo é que, por exemplo, a questão do Estado moderno está em relação direta com a
questão da hegemonia. De modo semelhante, a questão dos intelectuais nos remete ao partido,
a filosofia da práxis, as classes e grupos subalternos. Senso comum, bom senso e ideologia
também estão entre as categorias que o diretamente remetidas a este conjunto sistematizado
por Gramsci.
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Assim é que, no presente trabalho, tendo em vista a continuidade da refleo gramsciana
carcerária e pré-carcerária e afirmando a indissociabilidade dos complexos categoriais, optamos
por realizar uma investigação do Quaderno 25, aquele que trata das classes e grupos subalternos.
Ainda que não possamos isolar uma categoria no pensamento gramsciano, sabe-se que o sardo
estabeleceu Cadernos de natureza especial, que se dedicam ao aprofundamento de temáticas
específicas.
Em particular, o Quaderno 25 foi e é alvo de polêmicas. Este fato está relacionado à
grande recepção e apropriação, em nível internacional, do pensamento de Gramsci e, sobretudo,
da categoria subalterno”, que teve a sua difusão impulsionada pelo coletivo dos Subaltern
Studies na década de 1980. Mussi e Gs (2016) destacam que, este coletivo, teve a sua
representação principal na figura de Ranajit Guha, que passou a empregar o conceito para
realizar uma leitura historiográfica sobre o domínio colonial indiano, atentando para o
predomínio no país de uma dominância sem hegemonia, ou seja, a ausência de uma persuasão
que fosse capaz de se sobrepor a coerção. O coletivo terá uma nova liderança a partir de 1988,
quando Gayatri Spivak e Edward Said passam a assumi-lo, ao passo da aproximação promovida
com a teoria pós-colonial. A partir daí, inicia-se um flerte com Foucault e Derrida e tem-se um
distanciamento cada vez maior com a figura de Gramsci – que jamais poderia ali se reconhecer.
O fato é que os conceitos de classes e grupos subalternos são, hoje, amplamente
utilizados e difundidos. Diversas o as interpretações realizadas, estabelecendo-se uma
verdadeira disputa pelo pertencimento de Gramsci. Neste interim, propomos a retomada da
investigação dos conceitos a partir da obra carcerária, particularmente, do Quaderno 25. Para
encaminhá-la, buscamos evidenciar a estrutura particular dos Quaderni e a composição
orgânica do Quaderno 25. Com isto, certamente espera-se recuperar o ritmo impresso por
Gramsci na elaboração da redação carcerária, ao passo de seu significado para a interpretação
de seu tempo histórico.
Em busca do mapeamento semântico do Quaderno 25
A obra carcerária gramsciana é caracterizada por uma gica que lhe é própria. Não sendo
destinada a publicação, mas antes se constituindo como uma condição para manter a vitalidade do
pensamento e vencer a brutalidade do cárcere, Gramsci foi vítima do fascismo italiano, sendo
detido em 8 de novembro de 1926, após uma expedição oficial que revogava os mandatos
parlamentares, incluindo o de deputados comunistas (FIORI, 1979).
Inicialmente, sendo condenado a cinco anos de confinamento e, depois, a mais que o
triplo da pena inicial, uma vez que era preciso assegurar que aquele cérebro deixasse de
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funcionar por 20 anos, Gramsci passapor diversos cárceres. Sendo recolhido inicialmente em
Regina Coeli, em Roma, o prisioneiro do fascismo terá como destino inicial Ustica, uma ilha
com extensão de oito quilômetros quadrados, aser transferido para San Vittore, em Milão, no
início de 1927. Terá o seu julgamento realizado em maio de 1928, quando seguirá para Roma.
Após a sentença, ficará recluso em Turi, em Bari, uma penitenciária especial, devido uma
inspão médica constatar a debilidade de seu estado de saúde (FIORI, 1979).
Gramsci, portanto, iniciará a redão dos Quaderni em Turi a partir de 1929 quando
lhe é concedida cela individual em agosto de 1928 e permissão para escrever em fevereiro de
1929
1
. Para iniciar, optapor realizar os exercícios de tradução, que servia para destravar as
mãos, ocupando o preenchimento de quatro (04) cadernos escolares. Os vinte e nove (29)
cadernos que preencherá até meados de 1935, totalizando o quantitativo de trinta e três (33)
cadernos quando tepassado pela clínica de Formia, na região do Lazio, e posteriormente
se instalado em Quisisana, em Roma , estão organizados a partir de duas naturezas: 1) os
Cadernos miscelâneos e 2) os Cadernos especiais. Os primeiros o constituídos por notas
inspiradas em variadas temáticas, cumprindo parágrafos que, em geral, são curtos, assinalando
observações e indicações bibliográficas. Os segundos o marcados, ao contrário, por uma
redação mais sistemática e “longa” sobre uma determinada temática.
Em conformidade com a divisão realizada por Valentino Gerratana, organizador da
edição crítica italiana dos Quaderni del Carcere, os Cadernos miscelâneos são compostos por
notas de texto A (primeira redação) e texto B (única redação), enquanto os Cadernos especiais
são constituídos majoritariamente por notas de texto C (segunda redação) e minoritariamente
por notas de texto B, o que significa dizer que, nos Cadernos especiais, Gramsci retoma as
notas dos Cadernos miscelâneos para acrescê-las, revê-las e, mesmo, modificá-las parcial ou
totalmente
2
.
Assim, partindo destas observações preliminares, sumariamente identificadas na
natureza dos Cadernos (miscelâneos e especiais) e na estrutura de suas notas (texto A, texto B
e texto C), é que a tarefa neste presente interim é realizar um mapeamento do Quaderno 25.
1
O pedido advém da solicitação de Gramsci, como demonstra a carta de 13 de agosto de 1928, endereçada ao
irmão Carlo: “É preciso que solicite ao Ministério competente, em nome de minha família (em nome de mamãe e
do seu), que sejam tomadas providências para que eu possa ser posto numa cela sozinho, aqui no cárcere [...] Agora
estou numa cela com outros [...] mas que sofrem de doenças nos brônquios e nos pulmões. [...] No requerimento,
acrescente que meu trabalho passado de intelectual me faz sentir fortemente a dificuldade para estudar e ler que
existe quando se esnum aposento com doentes, e peça que, ficando sozinho, me autorizem a ter papel e tinta
para me dedicar a alguns trabalhos de caráter literário e ao estudo de línguas” (GRAMSCI, 2005: 282).
2
Pela indicação que Coutinho (1999) oferece, inspirado na catalogação de Valentino Gerratana, os Cadernos
miscelâneos são constituídos pelos Cadernos 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 14, 15 e 17, e os Cadernos especiais pelos
Cadernos 10, 11, 12, 13, 16, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28 e 29.
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Mas por onde iniciar esta façanha? Certamente, por algumas anotações de caráter metodológico.
Ao nos determos ao título atribuído por Gramsci ao Quaderno 25, podemos identificar
esta primeira anotação. Intitulado de “Ai margini della storia (Storia dei gruppi sociali
subalterni), o Quaderno 25 se nos apresenta como um Caderno de natureza temática e,
portanto, como um Caderno especial destinado a tratar sobre uma questão já presente na
redação gramsciana, mas que está, agora, agrupada e reorganizada sob a insígnia de um “novo”
Caderno o Quaderno 25. O que isso tem exatamente a nos dizer? Tem a nos dizer duas
premissas centrais.
A primeira delas é que se, como vimos, um Caderno especial, por natureza, geralmente
é composto por uma estrutura de notas de texto C (com maior frequência) e de texto B (com
menor frequência), o Quaderno 25 retoma as notas anteriores presentes em Cadernos
miscelâneos, de tal modo que, ao realizar uma busca na integralidade da obra carcerária
3
,
podemos identificar, por exemplo, que a expressão classes subalternas se repete por cinquenta
e três (53) passagens, grupos subalternos por vinte (20) passagens, grupos sociais subalternos
por oito (09) passagens e subalternos por vinte e cinco (25) passagens. A “família de temas”
correlatos a classes e grupos subalternos é, certamente, mais ampla que a mencionada, que
também envolve expressões como: subalterno em vinte e duas (22) passagens, subalterna em
dezoito passagens (18), subalternas em seis (06) passagens, classe subalterna em quatro (04)
passagens, grupo subalterno em três (03) passagens e grupo social subalterno e subalternidade
em uma (01) passagem. O que pretendemos indicar com este panorama é que, embora o
Quaderno 25 se constitua em um Caderno temático sobre as classes e grupos subalternos, a
reflexão gramsciana sobre estes conceitos vinha sendo desenvolvida no contexto geral da
obra carcerária.
Assim, a segunda premissa que se pode apontar em relação a este Caderno especial de
que se põe em análise, é a necessidade de captar as notas de que é constituído a fim de analisar
a sua estrutura. Metodologicamente, ao observar a composição orgânica do Quaderno 25,
constatamos que este é um Caderno composto por oito (08) notas, com a totalidade de quinze
(15) ginas. Todas as oito (08) notas de que está articulado possuem a estrutura de texto C
(segunda redação). Ademais, a família de temas” presente neste Caderno se constitui a partir
da repetição da expressão classes subalternas e subalternos por uma (01) passagem, grupos
3
Optamos por utilizar como referência para a investigação do Quaderno 25 a edição crítica italiana dos Quaderni
del Carcere (GRAMSCI, 2014), organizada por Valentino Gerratana, pois esta edição reproduz em sua integralidade
a redação gramsciana de textos A, B e C. A edição brasileira organizada por Carlos Nelson Coutinho também
apresenta todas as notas do Quaderno 25 em seu quinto volume, podendo ser utilizada, inclusive, para o estudo, mas
reproduz parcialmente as notas de texto A dos Cadernos miscelâneos.
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subalternos por dezesseis (16) passagens e grupos sociais subalternos por sete (07) passagens.
Essa composição orgânica do Quaderno 25, de natureza especial e estrutura de notas
de segunda redação, fornece a segunda anotação metodológica indispensável para o estudo do
Caderno: a necessidade de rastrear, depois de identificada sua natureza e sua estrutura, as notas
de primeira redação (ou texto A), correspondente a cada nota de segunda redação (ou texto C).
Se assim pudéssemos estabelecer uma gica metodológica para o estudo do Quaderno 25,
diríamos: verificar suas notas constitutivas, identificar e classificá-las segundo o tipo de redão
(primeira, segunda ou única) e buscar nos Cadernos miscelâneos as notas reescritas nos
Cadernos especiais. Realmente aqui é preciso fazer o caminho de ida para refazer o caminho
de volta. Vejamos então como o Quaderno 25 se nos apresenta a partir de seu mapeamento
semântico.
No § 1 do Q 25, intitulado Davide Lazzaretti, temos um único registro da expressão grupos
subalternos, cuja versão é a segunda redação do Q 3 § 12 e do Q 9 § 81. Estas notas originárias,
particularmente, a do Q 3 § 12, não apresenta nenhuma referência à expressão de classes e
grupos subalternos e sua “família de temas”; enquanto a localizada no Q 3 § 12 registra a
expressão de classes subalternas. O balanço destas conjugações nos indica que, na nota de
segunda redação, vemos uma revisão de Gramsci ao substituir a expressão classes por grupos
subalternos.
No § 2 do Q 25, intitulado Criteri metodologici, Gramsci se utiliza uma vez da expressão
grupos sociais subalternos e três (03) vezes de grupos subalternos. Esta nota é a segunda redação
do Q 3 § 14 em que, novamente, a expressão grupos subalternos dá lugar a classes subalternas
nas três passagens em que estão presentes.
O § 3 do mesmo Quaderno consiste em uma breve indicação bibliográfica de Gramsci
que, provavelmente, pretendia desenvolver. Afora ela, o parágrafo seguinte do § 4, intitulada de
Alcune note generali sullo sviluppo storico dei gruppi subalterni nel Medio Evo e a Roma, é
repleta de passagens com as expressões em alise: grupos sociais subalternos aparece em duas
(02) passagens e grupos subalternos em quatro (04). Esta nota é também a segunda redação dos Q
3 § 16 e Q 3 § 18, cuja condição anterior se repete: há seis (06) referências à expressão classes
subalternas e uma à classe subalterna.
O § 5 do Q 25 é intitulado Criteri metodici e apresenta uma longa nota postulando alguns
pontos de estudo que deveriam ser aprofundados sobre a natureza das classes e grupos
subalternos. Há uma vasta presença das expressões nesta nota: oito (08) repetições de grupos
subalternos, duas (02) de grupos sociais subalternos e uma de classes subalternas e
subalternos. As notas originárias deste parágrafo estão dispostas no Q 3 § 90, em que há sete
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(07) passagens com a expressão classes subalternas e uma com classe subalterna.
O § 6, intitulado de Gli schiavi a Roma, e o § 8, Scientismo e postumi del basso
romantismo, ambos do Q 25 o, juntamente com o § 3 já mencionado anteriormente, redações
gramscianas que não fazem referência as expressões de classes e grupos subalternos e sua
“família de temas”. Já o § 7 deste mesmo Quaderno, intitulado de Fonti indirette, Le utopie e i
codetti romanzi filosofici, apresenta uma (01) meão a expressão grupos sociais subalternos,
enquanto suas correspondentes notas de primeira redação, localizadas no Q 3 § 69, Q 3 § 71, Q
3 § 75 e Q 3 § 113, não fazem nenhuma referência às expressões em questão.
Assim é que, sistematizando este conjunto complexo de anotações, poderíamos organizar
a seguinte ilustrão para condensar visualmente o mapeamento semântico do Quaderno 25 e
para, sobretudo, demonstrar a totalidade do campo que, minimamente, se deve trabalhar quando
se está considerando os conceitos de classes e grupos subalternos a partir da obra carcerária
gramsciana e o Caderno temático que os sintetizam. Ilustrando as oito (08) notas de segunda
redação do Quaderno 25, Gramsci está reagrupando uma rie de notas de primeira redação
distribuídas pelos diversos Cadernos miscelâneos, de forma que podemos decompor o complexo
na seguinte síntese:
A partir deste exposto, o que podemos extrair para avançar na análise? Em que medida
este mapeamento semântico do Quaderno 25 nos auxilia no estudo dos conceitos de classes e
grupos subalternos? Poder-se-ia dizer que a sistematização do Quaderno 25 é indispensável
porque deixa Gramsci falar, quer dizer, coloca-o como protagonista (não só porque também o
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é) dos conceitos, recorrendo a fonte direta de seu pensamento. Outrossim, ao buscar as
reflexões, as sistematizações e as indagões que colocam em pauta os conceitos ao longo do
Quaderno 25, faz-se um esforço no sentido de buscar as articulações e os nexos internos da
obra carcerária, evidenciando um todo articulado em que as categorias podem ser
compreendidas em sua inter-relação. Nesse sentido, o mapeamento semântico abre a
possibilidade para realizar interpretações, reconstruindo o pensamento gramsciano a partir da
fonte viva de seu pensamento.
O Quaderno 25: os grupos sociais subalternos às margens da história
Nesta simbiose, o Quaderno 25, exercio de retomada, de revisão e de reagrupamento
das reflexões, é a expressão da segunda redação de quatorze (14) parágrafos, entre os quais: dois
(02) do Q 1, onze (11) do Q 3 e um (01) do Q 9. Mais especificamente, é a condensação dos Q
1 § 27, Q 1 § 95, Q 3 § 12, Q 3 § 14, Q 3 § 16, Q 3 § 18, Q 3 § 69, Q 3 § 71, Q 3 § 75, Q 3 §
90, Q 3 § 99, Q 3 § 100, Q 3 § 113 e Q 9 § 81.
Assim é que, imbuídos da devida apreensão da natureza e da estrutura do Quaderno 25,
quer dizer, de sua composição orgânica, podemos, agora, adentrar na especificidade do conteúdo
de suas oito (08) notas: a partir do mapeamento semântico pode-se estabelecer um ponto de
partida para a análise e munir-se do rigor metodológico que a pesquisa gramsciana na obra
carcerária nos exige.
Como é sabido, Gramsci (2014) abre o Quaderno 25 com uma nota sobre Davide
Lazzaretti, um líder popular do período s-Risorgimento que se torna eremita depois de ter visões
religiosas. Ao fundar uma seita religiosa popular, atuando, sobretudo, na região do Monte
Amiata, na Toscana, se pronunciando pela defesa da República, acabou por alarmar o Estado
italiano e a Igreja Católica, sendo assassinado em 1878 pelo exército régio italiano sob o
pretexto de representar uma “ameaça” (GRAMSCI, 2014).
Mas a indagação que se poderia fazer em relação a esta nota é a seguinte: por que
Gramsci escolhe abrir o Quaderno 25 retomando a figura histórica de Davide Lazzaretti? Qual
é sua relação com as classes e grupos subalternos? Esta resposta pode ser encontrada ao longo
da exposição da nota em questão, quando, ao mostrar a vasta literatura italiana existente sobre
o lazzarettismo, Gramsci põe em relevo as revoltas populares, quer dizer, aquela tendência
subversiva-popular-elementar que identifica no lazzarettismo e, por conseguinte, que
desemboca na valorização da história contada a partir de uma nova perspectiva: a perspectiva
das classes subalternas.
No caso particular de Lazzaretti, Semeraro (2014) nos indica que as fontes a que Gramsci
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resgata para tratar de sua representação na literatura são as mais diversas, mas que, de modo geral,
são caracterizadas o por analisar o fenômeno coletivo do lazzarettismo em si, mas sim por aferir
uma análise da biografia pessoal dessa figura histórica. São as fontes citadas: artigo de 26 de
agosto de 1928, publicado pela Fiera Letteraria, de Domenico Bulferetti; Davide Lazzaretti, de
Andrea Verga; Pazzi e anormali, de Cesare Lombroso; Storia di Davide Lazzaretti, Profeta di
Arcidosso, de Fillipo Imperiuzzi; Davide Lazzaretti, de Giacomo Barzellotti, ampliada e
modificada pela editora Treves, mais tardiamente, sob o título de Monte Amiata e il suo profeta.
Ademais de se ocupar da análise que Bulferetti realiza da obra de Barzellotti, o problema
de Gramsci está em evidenciar como tais literaturas buscam “patologizar”, “barbarizar”,
“folclorizar” e “reduzir” os movimentos populares, isto é, os movimentos das classes subalternas.
Ao menos duas passagens de Gramsci explicitam este argumento. A primeira se localiza logo
no início da nota:
[...] em vez de estudar as origens de um acontecimento coletivo, e as razões
de sua difusão, de seu ser coletivo, isolava-se o protagonista e só se fazia sua
biografia patológica, muito frequentemente partindo de motivos não
comprovados ou passíveis de interpretação diferente: para uma elite social, os
elementos dos grupos subalternos têm sempre algo bárbaro ou patológico
(GRAMSCI, 2014, Q 25 § 1: 2279, grifo nosso).
A segunda passagem se situa no contexto em que Gramsci está apresentado o julgamento
de Bulferetti sob Barzellotti:
É mais simples pensar, porém, que o livro de Barzellotti, que serviu para
formar a opinião pública sobre Lazzaretti, seja só uma manifestação de
patriotismo literário (como se diz, por amor à pátria!), que levava a tentar
esconder as causas do mal-estar geral que existia na Itália depois de 1870,
dando, para cada episódio de explosão deste mal-estar, explicações
restritivas, individuais, folclóricas, patológicas, etc. (GRAMSCI, 2014, Q 25
§ 1: 2279-2280, grifo nosso).
Ao escolher iniciar o Quaderno 25 expondo o “dramade Lazzaretti, Gramsci parece
querer, portanto, demonstrar que os intelectuais italianos pretendem reduzir o protagonismo das
classes subalternas. Nesta esteira, a literatura italiana, ao analisar o lazzarettismo, esforçava-se
para mostrar a tendência bizarra de que ele se constituía: uma mescla de republicanismo com
“elemento religioso e profético” (GRAMSCI, 2014, Q 25 § 1: 2280), no lugar de exaltar a sua
tendência subversiva-popular-elementar republicana. Assim, havia um esforço para se ocultar
os movimentos populares de tal caráter, haja vista que alimentavam a resistência popular e,
mais especificamente, o lazzarettismo, acenava o entusiasmo com a Comuna de Paris. Para
Gramsci, os movimentos populares, como foi o próprio movimento liderado por Lazzaretti,
deveria ser estudado a partir de uma alise político-histórica e não julgado como um episódio
patológico e folclórico. Em oposição a esta perspectiva é que Gramsci opta por valorizar do
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lazzarettismo a tendência subversiva-popular-elementar àquela que destaca o protagonismo
das classes subalternas, politizando social e historicamente o movimento.
Liguori (2016) é quem chama a atenção para este fato quando destaca o relevo adicionado
por Gramsci na segunda redão do Q 3 § 12. Na primeira nota do Q 25, a tendência subversiva-
popular-elementar aparece como expressão de um fenômeno organizativo no interior das
massas rurais devido à situação gestada pelo Vaticano no período, quando vetou a participão
política dos católicos na vida política do novo Estado. Para Liguori (2016), esta tendência
demarca que os grupos sociais subalternos podem se rebelar esporádica e espontaneamente, mas
a auncia de uma direção consciente, representada historicamente pela falta de organicidade
da própria esquerda italiana junto aos movimentos, acaba por dirimir aqueles com potencial
verdadeiramente popular. Isto por que, para Gramsci, os grupos sociais subalternos não podem
sair de sua condição de subalternidade por si mesmos, devendo unificar-se sob a vanguarda dos
cleos mais avaados da classe, combinando espontaneidade com direção consciente como
Gramsci havia indicado em uma nota de redão única com o mesmo título, Spontaneità e
direzione consapevole, no Q 3 § 48.
A segunda nota do Quaderno 25 explicita algumas questões que se abrem com a nota
sobre Davide Lazzaretti: criteri metodologici anuncia 1) as principais características das
classes e grupos subalternos e 2) a necessidade de se (re)fazer sua história de modo integral.
No § 1 do Q 25, Gramsci nos fornece algumas pistas sobre as características das classes
e grupos subalternos quando analisa o lazzarettismo: [...] no movimento, a tenncia republicana
estava bizarramente misturada ao elemento religioso e profético. Mas esta confusão é que
representa a característica principal do acontecimento, porque demonstra sua popularidade e
espontaneidade (GRAMSCI, 2014, Q 25 § 1: 2280, grifo nosso). E acrescenta: “Deve-se
considerar, além disto, que o movimento lazzarettista esteve ligado ao non expedit do Vaticano e
mostrou ao governo a tendência subversivo-elementar-popular [...]” (GRAMSCI, 2014, Q 25
§ 1: 2280, grifo nosso).
Ao iniciar a segunda nota do Q 25, Gramsci demonstra que as classes e grupos
subalternos comportam uma tendência subversivo-elementar-popular como àquela a que se
refere no § 1, no que diz respeito ao caráter do movimento lazzarettista. No entanto, como
adverte na abertura da segunda nota, a história das classes e grupos subalternos é desagregada
e episódica, que estas sofrem sempre a iniciativa da classe dominante. Diante desta
constatação, como então explicar a tendência subversivo-elementar-popular que tais classes
comportam e, ao mesmo tempo, justificar sua história desagregada e episódica?
Pode-se explicar pela seguinte afirmão gramsciana na segunda nota: “É indubitável que,
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na atividade histórica destes grupos, existe tendência à unificação, ainda que em termos
provisórios, mas esta tendência é continuamente rompida pela iniciativa dos grupos
dominantes [...]” (GRAMSCI, 2014, Q 25 § 2: 2283, grifo nosso). Isso significa dizer que,
apesar de comportar uma tendência subversivo-elementar-popular, as classes e grupos
subalternos o forçados pela classe dominante a permanecer no constante estado de
espontaneidade, em que, mesmo naqueles momentos que se manifestam por intermédio de
rebeliões e insurgências, não são capazes de levar até as últimas consequências uma “vitória
permanente” (GRAMSCI, 2014, Q 25 § 2: 2283). A espontaneidade das classes e grupos
subalternos não é aqui, portanto, desenvolvida pela classe dominante, mas, ao contrário, é
reforçada por ela, ou seja, a classe dominante tende a manter as classes e grupos subalternos
em sua condição de espontaneidade e, mesmo, impedir a sua superação. Com isto, Gramsci
o está descartando o elemento espontâneo de tais classes e grupos, mas advertindo a
necessidade de seu encontro com uma direção consciente, como já nos alertou Liguori (2016).
A expressão deste encontro pode ser ilustrada, inclusive, no próprio movimento lazzarettista
ainda que tenha se constituído por uma mescla bizarra entre o republicanismo e o elemento
religioso e profético.
A respeito desta nota, Liguori (2016) também nos indica que, sendo a segunda redação
do § 14 do Q 3, Gramsci substitui o título da primeira da nota de primeira redão (Storia della
classe dominante e delle classi subalterne) por um novo título (Criteri metodologici), advertindo
algumas questões preliminares para seu estudo.
Ademais, ainda como desdobramento da primeira nota do Q 25, o § 2 do mesmo
Caderno é uma advertência para a necessidade de se fazer a história de modo integral. Uma vez
que as classes e grupos subalternos são condicionados pela iniciativa dominante e sofrem com
sua passivão, é preciso que qualquer traço de iniciativa autônoma seja valorizado. Nas palavras
de Gramsci, esta iniciativa autônoma deve ser [...] de valor inestimável para o historiador
integral [...]” (GRAMSCI, 2014, Q 25 § 2: 2284).
Ora, a literatura italiana produzida sobre o lazzarettismo evidencia uma história contada
a partir da perspectiva da classe dominante, pois, como vimos no Q 25 § 1, há uma tentativa
constante em patologizar, barbarizar e marginalizar o movimento. Para Gramsci, era necessário
produzir outro tipo de literatura, aquele tipo que põe em evidência a história das classes e grupos
subalternos, contando sua história de modo integral, ou seja, de modo não desagregado e
episódico. Por esse motivo, o historiador integral é também aquele que reconhece e valoriza as
insurncias das classes subalternas, registrando e evidenciando suas lutas na relação com a
classe dominante e com os fatos históricos, conferindo-lhes um protagonismo real, porque antes
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verdadeiro e concreto.
Numa palavra: seja nas relações sociais concretas, seja na historiografia produzida,
Gramsci parece advertir que as classes e grupos subalternos tendem sempre a ser marginalizados
pela classe dominante. É a partir daí que no § 4 do Q 25 destaca o protagonismo das classes e
grupos subalternos da Idade Média romana, refazendo a história a partir de sua perspectiva e,
portanto, devolvendo-lhe seu protagonismo historicamente negado.
Ao citar o ensaio de Ettore Ciccotti, Elementi di veritàe di certezza” nella tradizione
storica romana, Gramsci quer retomar alguns aspectos do desenvolvimento histórico das classes
populares nas Comunas italianas. Destacando a solidariedade das classes populares na Idade
Média, estas se organizavam coletivamente nos tempos de guerra, mas tamm de paz, como
assinala nosso sardo:
Os combatentes permaneciam unidos até mesmo na paz, seja para a prestação
de serviços, seja, posteriormente, com crescente solidariedade, para a
obtenção de seus próprios fins. Surgem os estatutos das Sociedades de
Armas”, que se constituíram em Bolonha, como parece, por volta de 1230, e
emerge o caráter de sua união e seu modo de constituição. [...] Além de sua
função política de defesa externa da Comuna, tinham o fim de assegurar a
cada homem do povo a proteção necessária contra as agressões dos nobres e
dos poderosos (GRAMSCI, 2014, Q 25 § 4: 2284-5, grifo nosso).
Com esta afirmação, Gramsci indica que, ademais das classes populares da Idade Média
das Comunas italianas se organizarem pelo princípio da solidariedade para combater o inimigo
externo, como é visto por meio da fundação da própria “Sociedade das Armas”, tais classes
também passam a se organizar com o objetivo de defender-se das demais classes dos nobres
e dos poderosos. Isso significa dizer que Gramsci espondo em evidência a capacidade de
unificação das classes e grupos subalternos daquele período histórico na medida em que valoriza
seu protagonismo na constituição da Comuna. Tal hipótese é reforçada ao longo da nota, que
explicita a complexidade com que esta vai se constituindo sob a solidariedade e a organização
das classes populares:
acrescentavam às obrigações civis e sociais, além do juramento, uma
exigência religiosa, com a assistência comum à missa e a celebração de ofícios
divinos, ao mesmo tempo que outras obrigações comuns, como as de socorrer
os membros pobres, sepultar os mortos, etc., próprias das pias congregões,
tornavam a união cada vez mais duradoura e estreita [...] Originalmente, os
milites entram nestas sociedade em pé de igualdade com os pedites, nobres e
homens do povo, ainda que em menor número. Mas progressivamente os
milites, os nobres, tendem a se afastar [...] E, à medida que o movimento de
emancipação se firma, ultrapassando também os limites e a forma destas
sociedades, o elemento popular postula e obtém a participação nas funções
públicas mais relevantes (GRAMSCI, 2014, Q 25 § 4: 2285, grifo nosso).
Quando se afirma a constituição de uma Comuna em que a organização é dada segundo
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os interesses dos pedites, homens do povo, e o dos milites, nobres, como indica Gramsci, e na
medida em que os pedites assumem as funções blicas de administração, pode-se dizer que,
atribui-se ao povo, o papel de verdadeiro partido político (GRAMSCI, 2014).
Para garantir maior eficiência a essa administração, como continua Gramsci, podia-se
eleger um “capitão do povo” (GRAMSCI, 2014, Q 25 § 4: 2285) uma figura centralizada
responsável pelo desenvolvimento das ações na Comuna. Entretanto, na medida em que este
o fosse capaz de colocar em movimento as reformas desejadas pelo povo, se tornava legítimo
a constituição de uma organização coletiva e independente e, por conseguinte, à parte do
“capitão do povo(GRAMSCI, 2014, Q 25 § 4: 2285), para promover uma nova obra legislativa
a partir de uma deliberação por autoridade própria que subordinava e submetia a classe
dominante, como aconteceu em Bolonha, Siena e Florença (GRAMSCI, 2014).
Semeraro (2014) indica que esta nota do § 4 torna explícita a organização de uma
vontade coletiva das classes populares da Idade Média romana, destacando sua centralidade na
composição de suas leis e da própria Comuna em geral. Se conjugarmos esta passagem com o
Quaderno 13, que trata de Maquiavel, a política e o Estado Moderno”, temos que a organização
e a unificação das classes populares realmente se tornou possível porque estas estavam se
constituindo em partido, como havia assinalado Gramsci, quer dizer, temos um povo que,
promovendo uma reforma intelectual e moral, organiza sua vontade coletiva daí que seu
sentido amplo de partido político e d que as ferramentas para a constituição de um poder
político popular, como evidenciou o § 4 sobre o desenvolvimento histórico das Comunas italianas,
protagonizadas pelas classes populares, e resgatado por Gramsci.
Gramsci parece, portanto, realizar esta digressão para evidenciar o que deve estar na base
das associações do Estado moderno: a capacidade de organização, de reivindicação e,
sobretudo, de unificação das classes e grupos subalternos. Assim como valorizou as instituições
dos grupos sociais subalternos da Idade Média romana, sublinha a potencialidade das associações
modernas, mesmo queo se constituam da mesma essência que àquelas do período medievo:
“O Estado moderno substitui o bloco menico dos grupos sociais por uma subordinação destes
à hegemonia ativa do grupo dirigente e dominante; portanto, abole algumas autonomias, que, no
entanto, renascem sob outra forma, como partidos, sindicatos, associações de cultura
(GRAMSCI, 2014, Q 25 § 4: 2287, grifo nosso).
Com isto, o sardo pretende indicar que, apesar do todo de analogia histórica
(GRAMSCI, 2014, Q 25 § 4: 2285-6) ser útil como um critério de intepretação(GRAMSCI,
2014, Q 25 § 4: 2286), deve-se estabelecer as devidas mediações. Para Gramsci, há uma
diferea fundamental entre as instituições das classes e grupos subalternos do período medievo
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e da contemporaneidade. Enquanto os grupos subalternos da Idade Média possuíam instituições
próprias e uma vida a parte que se insubordinava ao Estado, chocando-se, inclusive, com ele,
as instituições modernas e a ditadura contemporânea a que elas servem, abole qualquer
autonomia das classes e grupos subalternos. A tendência é a absorção e/ou incorporação delas
a atividade estatal, fato que elimina, portanto, aquele femeno do duplo governo da Idade
Média, quando, em períodos de crise, abria-se o antagonismo entre o governo dominante e o
governo subalterno com suas respectivas instituições. Na ditadura contemporânea, ao contrário,
a tenncia é a centralização de toda a vida nacional, tornando-a totalitária. Liguori (2016) é
quem destaca o reforço acrescentado por Gramsci a esta anotação, quando evidencia a segunda
redação do Q 3 § 16 e do Q 3 § 18: no § 4 do Q 25, não apenas a ditadura contemporânea passa
a abolir as formas de autonomia das classes e grupos subalternos, mas esta abolição é também
legal, ou seja, para impedir o desenvolvimento do duplo governo, na contemporaneidade, tem-
se o reconhecimento legal de algumas organizações dos trabalhadores, fato que abole a
autonomia das classes e grupos subalternos porque, sendo legal (dentro da ordem), “freiaa
possibilidade de uma transformação revolucionária.
Em sua redação, como assinala Semeraro (2014), Gramsci realiza o movimento de
promover reflexões teóricas a partir de fatos históricos, como fez na nota sobre Davide Lazzaretti.
Assim é que aqui também resgata o desenvolvimento histórico das classes e grupos subalternos
no período comunal italiano para abrir o terreno de sua reflexão teórica sobre as suas
características. O § 2 do Q 25, Criteri metodologici, e o § 5 do Q 25, Criteri metodici, estão em
continuidade direta na síntese de Gramsci.
Certamente, o Q 25 § 5 é a elucidação da necessária “vitória permanente” (GRAMSCI,
2014, Q 25 § 2: 2283), apontada por Gramsci no Q 25 § 2, quando trata da história
desagregada e episódica das classes subalternas. Aqui, somada a constatação de que as classes
e grupos subalternos carecem de unificação, a história dos Estados e de grupos de Estados é
sempre a história das classes dirigentes unificadas historicamente. Mas o que esta afirmação
elucida na refleo gramsciana?
Elucida o fato de que, o Estado, “[...] resultado orgânico das relações orgânicas entre
Estado ou sociedade política e ‘sociedade civil’ [...]” (GRAMSCI, 2014, Q 25 § 5: 2288),
pode se constituir na unidade histórica das classes e grupos subalternos quando estes se
constituírem em Estado, de tal modo que a sua “vitória permanente” (GRAMSCI, 2014, Q 25 §
2: 2283) escondicionada a sua unificão e a conquista de sua autonomia integral. Nas palavras
de Gramsci:
As classes subalternas, por definição, não são unificadas e não podem se
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unificar enquanto não puderem se tornar Estado”: sua história, portanto,
está entrelaçada à da sociedade civil, é uma função “desagregada” e
descontínua da história da sociedade civil e, por este caminho, da história dos
Estados ou grupos de Estados (GRAMSCI, 2014, Q 25 § 5: 2288, grifo nosso).
A história desagregada e episódica das classes e grupos subalternos só pode ser
superada com a superação da subalternidade em direção à unificação de tais grupos no Estado,
daí que o “tornar-se Estado” (GRAMSCI, 2014, Q 25 § 5: 2288), reclamado por Gramsci,
exigindo a organização coletiva e ativa das classes subalternas na práxis política, gestando, por
intermédio de uma direção consciente, sua própria consciência histórica. O tornar-se Estado é,
pois, um movimento das classes e grupos subalternos que, despindo-se do estado desagregado
e episódico de sua atuação, deve unificar-se, deixando de se constituir enquanto subalterno na
medida em que se torna dirigente e dominante pela conquista de sua autonomia integral e funda
um novo Estado.
Neste interim é que Gramsci lista uma série de “critérios” que possibilitaria medir” sua
luta em direção à necessária unificação, tendo em vistar fim a subalternidade:
1) a formação objetiva dos grupos sociais subalternos, através do
desenvolvimento e das transformações que se verificam no mundo da
produção econômica, assim como sua difuo quantitativa e sua origem a
partir de grupos sociais preexistentes, cuja mentalidade, ideologia e fins
conservam por um certo tempo; 2) sua adesão ativa ou passiva às formações
políticas dominantes, as tentativas de influir sobre os programas destas
formações para impor reivindicações próprias e as conseqncias que tais
tentativas têm na determinação de processos de decomposição e de
renovamento ou de nova formação; 3) o nascimento de novos partidos dos
grupos dominantes, para manter o consenso e o controle dos grupos sociais
subalternos; 4) as formações próprias dos grupos subalternos para
reivindicações de caráter restrito e parcial; 5) as novas formações que afirmam
a autonomia dos grupos subalternos, mas nos velhos quadros; 6) as formações
que afirmam a autonomia integral, etc. (GRAMSCI, 2014, Q 25 § 5: 2288).
São estes “critérios” que o historiador integral (retomando o mesmo argumento do Q 25 §
2) deve estar atento na (re)construção da história das classes e grupos subalternos com vista a sua
unidade histórica. Para Gramsci, o Risorgimento italiano poderia servir de exemplo para a
análise da correlação de forças em uma batalha histórica, pois demonstra a capacidade dos grupos
subalternos se elevarem a condição de dirigentes e dominantes:
Podem-se construir muitos cânones de investigação histórica a partir do
exame das forças inovadoras italianas que guiaram o Risorgimento nacional:
estas forças tomaram o poder, unificaram-se no Estado moderno italiano,
lutando contra determinadas outras forças e ajudadas por determinados
auxiliares ou aliados; para se tornarem Estado, deviam subordinar a si ou
eliminar as primeiras e ter o consenso ativo ou passivo das outras. Portanto, o
estudo do desenvolvimento destas foas inovadoras, de grupos subalternos a
grupos dirigentes e dominantes, deve investigar e identificar as fases através
das quais elas adquiriram a autonomia em relação aos inimigos a abater e a
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adesão dos grupos que as ajudaram ativa ou passivamente, uma vez que todo
este processo era necessário historicamente para se unificarem em Estado
(GRAMSCI, 2014, Q 25 § 5: 2289, grifo nosso).
O desafio para conquistar a autonomia integral e promover a unificação das classes e
grupos subalternos, tornando-se Estado é, portanto, duplo: 1) possuir autonomia em relação às
classes e grupos a combater, isto é, ser dominante em relação às classes e grupos adversários,
e; 2) obter o consenso de outras classes e grupos existentes, isto é, ser dirigente das classes e
grupos aliados. Com esta nota, Gramsci certamente declara o interesse em estudar as classes e
grupos subalternos tendo em vista buscar respostas para pôr fim a sua própria subalternidade
categoria que, sendo consenso, estabelece o par conceitual hegemônico/subalterno, terreno fértil
sugerido pelo Quaderno 25.
Na continuidade de sua exposição e seguindo o movimento de resgatar os fatos históricos
e realizar as reflexões teóricas, Gramsci transcreve o § 6 do Q 25, intitulado de Gli schiavi a
Roma. Aoo retomar a história dos grupos subalternos, particularmente do núcleo de escravos
contra Espártaco, a partir do livro de Tenney Frank, Storia economica di Roma, constata que os
revoltosos tiveram uma “[...] sobrevivência provável, uma vez que não foram destruídos: ou se
assimilaram à população nativa ou a substituíram diretamente(GRAMSCI, 2014, Q 25 § 6:
2290).
Mas o destaque que deve ser conferido à referida nota se encontra em seu segundo
parágrafo, quando Gramsci analisa uma proposta realizada por um senador em que sugeria a
utilização de uma vestimenta diferenciada pelo núcleo de escravos de Roma com o objetivo de
identificá-los. Esta proposta foi recusada pelo Senado, pois se temia [...] que eles se tornassem
perigosos, ao se darem conta de seu grande mero (GRAMSCI, 2014, Q 25 § 6: 2290, grifo
nosso).
-se que esta nota em questão não faz nenhuma referência à expressão de classes e
grupos subalternos e a sua família de temas”. No entanto, é possível aqui indicar, como
hipótese levantada, que o § 6 está em articulão direta com as demais notas transcritas por
Gramsci neste Quaderno. De que maneira eno é possível observar esta articulação?
Quando Gramsci ressalta que os escravos se “tornariam perigosos ao se darem conta de
seu mero” (GRAMSCI, 2014, Q 25 § 6: 2290), e quando afirma que, “neste episódio, estão
contidas raes político-psicológicas” (GRAMSCI, 2014, Q 25 § 6: 2290), o sardo parece
evidenciar a potencialidade das classes e grupos subalternos quando estes tomam consciência
de sua capacidade de colocar em xeque o poder exercido pelo grupo dominante. Esta capacidade
se expressa primeiro quantitativamente, porque é quando os escravos se dão conta de seu
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mero, e, posteriormente, qualitativamente, que, por razões político-psicológicas, adquirem
consciência de sua subalternidade, mediada por sua expressão numérica, desencadeando uma
ruptura com a dominação instituída que se inicia por uma [...] série de manifestações públicas:
as procissões religiosas, as passeatas, as assembleias populares, as paradas de todo tipo e
também, em parte, as eleições (a participão nas eleições de alguns grupos) e os plebiscitos”
(GRAMSCI, 2014, Q 25 § 6: 2290).
Finalmente, os dois últimos parágrafos do Q 25, expressos no § 7 e § 8, apresentam
algumas indicações de Gramsci, adquirindo o caráter de registro de observações. No § 7,
intitulado de Fonti indirette. Le Utopie e i così detti romanzi filosofici, Gramsci lista uma série
de literaturas das quais seria interessante torná-la campo exploratório de pesquisa para
desvendar as aspirações das classes e grupos subalternos. A literatura expressa[...] as
aspirações mais elementares e profundas dos grupos sociais subalternos, inclusive os mais baixos
[...]” (GRAMSCI, 2014, Q 25 § 7: 2290). Por outro lado, uma parte desta literatura tamm
“[...] expressa os interesses dos grupos dominantes [...] e tem caráter retrógrado e reacionário
(GRAMSCI, 2014, Q 25 § 7: 2291). A esta “última” parte da literatura, Gramsci a denomina de
utopias. àquela primeiraparte”, que busca as aspirações mais elementares, a denomina de
romances ditos filosóficos, em que [...] livros que atribuem a países longínquos e pouco
conhecidos, mas existentes, determinados costumes e instituições que se querem contrapor aos
do próprio país” (GRAMSCI, 2014, Q 25 § 7: 2291). A esses romances filosóficos, para
Gramsci, está a riqueza de capturar e de registrar as rebeliões das massas populares, sendo, em
suas palavras, os precursores dos jacobinos franceses. Novamente aqui é possível observar a
escolha de Gramsci em valorizar os romances filosóficos, quer dizer, a história contada a partir
“de baixo”, já que expressa a perspectiva das classes subalternas.
O § 8, Scientismo e postumi del basso romanticismo, é composto por apenas um
pagrafo, em que Gramsci menciona a tendência da sociologia de esquerda na Itália. Para a
referida tendência, a criminalidade era explicada naturalisticamente”, sendo considerada
produtora da barbárie. Assim, desqualificando as rebeliões e insurreições das classes subalternas
e apresentando-as comorbaras, decorrente da criminalidade nata de tais classes e grupos, a
sociologia da esquerda atribuía uma explicação considerada científica” a estes fenômenos. Por
isso, Gramsci parece transcrever esta nota para demarcar sua posição divergente em relação a
tendência, haja vista que todo o Quaderno es dedicado a defesa de o patologização e
barbarização dos movimentos das classes subalternas, mas, seo sua valorização enquanto
traço de iniciativa autônoma com valor inestimável.
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Considerações Finais
A popularidade que os conceitos de classes e grupos subalternos adquiriram hoje, bem
como seus usos ou abusos, para lembrar Edmundo Fernandes Dias (1994), no discurso corrente,
por vezes não é capaz de explicar o fundamento teórico implícito a estes conceitos. Seja pela
leitura apressada da obra gramsciana, seja pela mera adaptação dos termos na frase, classes e
grupos subalternos vêm sendo utilizados como sinônimo de “classes baixas”, classes
inferiores” ou ainda “classes à margem da sociedade”.
Recorrer a fonte direta do pensamento gramsciano é urgente para evitar os
reducionismos a que estes conceitos (e outros) vêm sendo empregados, valorizando a
verdadeira tessitura da reflexão de Gramsci fundada no laboratório da experiência real da
práxis política de toda sua vida. Assim é que o Quaderno 25 apresenta a subalternidade como
um estado impulsionado pela classe dominante para manter sua dominação, agora estendida a
dominação cultural, isto é, subjetiva. Esta dominão tende a passivizar e segregar as lutas e
organizações coletivas das classes e grupos subalternos. Pela iniciativa da classe dominante,
procura-se romper com qualquer traço de iniciativa autônoma de tais classes e grupos.
Por esse motivo, analisando o seu estado desagregado e episódico e anotando que lhes
falta uma organicidade e uma direção consciente, Gramsci investiga as classes e grupos
subalternos, suas características e suas representações na literatura italiana para evidenciar a
necessidade de pôr fim a subalternidade motivo pelo qual o sardo também se dedica a sua
investigação.
O estudo destes conceitos e a proposição de uma metodologia de pesquisa do Quaderno
25 teve como objetivo reiterar o necessário retorno a Gramsci, valorizando o conjunto
categorial que oferece nas páginas da sua obra carcerária para a compreensão e explicação da
realidade. Mantendo-se atual por permitir uma leitura aproximativa de nossa realidade, mais
exatamente, dos mecanismos atuais de dominação e exercício do poder, Gramsci inspira-nos a
rebelar quando nos damos conta de nosso constante estado de subalternidade.
Nessa perspectiva, para o Serviço Social brasileiro, estudar Gramsci e, particularmente,
seus conceitos de classes e grupos subalternos, é fundamental para desvelar os mecanismos de
dominação que forçam a reprodução deste estado no contexto das relações sociais atuais.
Despossuídos de uma articulação interna e ausentes de uma organicidade, o desafio que se
coloca é promover a organização de tais classes e grupos, capaz de reivindicar por seus
interesses imediatos e mediatos. A ruptura com a (re)produção da subalternidade na sociedade
capitalista se torna possível na medida em que os subalternos se tornarem Estado, quer dizer,
romper com a imposição dos interesses burgueses que só fazem legitimar, no âmbito do Estado
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Seção
integral, a exploração do trabalho pelo capital.
É assim que, fazendo a oão por um projeto político, particularmente, um projeto
societário, o Serviço Social é profissão que se desenvolveu, bem como se maturou
historicamente, assumindo um compromisso com a classe trabalhadora. Ao construir um projeto
profissional crítico que declara a defesa pelo aprofundamento e ampliação da democracia, pela
liberdade como valor ético central, pela emancipação dos indivíduos sociais e construção de
uma nova ordem social sem explorão e dominação de classe, etnia e nero, torna-se
explícito o compromisso da profissão com uma ordem diversa da sociedade burguesa. Assim é
que, a escolha por um projeto societário alternativo, também perpassa pela luta contra a
subalternidade, visto que o pleno desenvolvimento das potencialidades e o encontro com o
humano gerico de cada um, se torna possível na medida em que toda condição de opressão,
dominação e exploração seja ceifada eis o desafio posto, eis a luta que nos espera.
Referências
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