resgata para tratar de sua representação na literatura são as mais diversas, mas que, de modo geral,
são caracterizadas não por analisar o fenômeno coletivo do lazzarettismo em si, mas sim por aferir
uma análise da biografia pessoal dessa figura histórica. São as fontes citadas: artigo de 26 de
agosto de 1928, publicado pela Fiera Letteraria, de Domenico Bulferetti; Davide Lazzaretti, de
Andrea Verga; Pazzi e anormali, de Cesare Lombroso; Storia di Davide Lazzaretti, Profeta di
Arcidosso, de Fillipo Imperiuzzi; Davide Lazzaretti, de Giacomo Barzellotti, ampliada e
modificada pela editora Treves, mais tardiamente, sob o título de Monte Amiata e il suo profeta.
Ademais de se ocupar da análise que Bulferetti realiza da obra de Barzellotti, o problema
de Gramsci está em evidenciar como tais literaturas buscam “patologizar”, “barbarizar”,
“folclorizar” e “reduzir” os movimentos populares, isto é, os movimentos das classes subalternas.
Ao menos duas passagens de Gramsci explicitam este argumento. A primeira se localiza logo
no início da nota:
[...] em vez de estudar as origens de um acontecimento coletivo, e as razões
de sua difusão, de seu ser coletivo, isolava-se o protagonista e só se fazia sua
biografia patológica, muito frequentemente partindo de motivos não
comprovados ou passíveis de interpretação diferente: para uma elite social, os
elementos dos grupos subalternos têm sempre algo bárbaro ou patológico
(GRAMSCI, 2014, Q 25 § 1: 2279, grifo nosso).
A segunda passagem se situa no contexto em que Gramsci está apresentado o julgamento
de Bulferetti sob Barzellotti:
É mais simples pensar, porém, que o livro de Barzellotti, que serviu para
formar a opinião pública sobre Lazzaretti, seja só uma manifestação de
patriotismo literário (como se diz, por amor à pátria!), que levava a tentar
esconder as causas do mal-estar geral que existia na Itália depois de 1870,
dando, para cada episódio de explosão deste mal-estar, explicações
restritivas, individuais, folclóricas, patológicas, etc. (GRAMSCI, 2014, Q 25
§ 1: 2279-2280, grifo nosso).
Ao escolher iniciar o Quaderno 25 expondo o “drama” de Lazzaretti, Gramsci parece
querer, portanto, demonstrar que os intelectuais italianos pretendem reduzir o protagonismo das
classes subalternas. Nesta esteira, a literatura italiana, ao analisar o lazzarettismo, esforçava-se
para mostrar a tendência bizarra de que ele se constituía: uma mescla de republicanismo com
“elemento religioso e profético” (GRAMSCI, 2014, Q 25 § 1: 2280), no lugar de exaltar a sua
tendência subversiva-popular-elementar republicana. Assim, havia um esforço para se ocultar
os movimentos populares de tal caráter, haja vista que alimentavam a resistência popular e,
mais especificamente, o lazzarettismo, acenava o entusiasmo com a Comuna de Paris. Para
Gramsci, os movimentos populares, como foi o próprio movimento liderado por Lazzaretti,
deveria ser estudado a partir de uma análise político-histórica e não julgado como um episódio
patológico e folclórico. Em oposição a esta perspectiva é que Gramsci opta por valorizar do