revolução se ampliasse às demais colônias e plantagens, aumentando o aparato de repressão e
a luta por conservar a estrutura escravista. Externamente, a ascensão do capital industrial,
nascida da pilhagem das colônias, necessitava, ainda mais, que continuassem ser subordinadas
e fornecedoras de matérias primas e alimentos para o desenvolvimento industrial. O próprio
ataque ao escravismo, encampado, posteriormente, pela Inglaterra, não tinha nada a ver com
um humanismo ou a necessidade de libertar milhões de homens e de mulheres da condição de
escravos e, sim, a interesses econômicos.
De acordo com Williams (2012), somente após o capitalismo ser fertilizado com a
riqueza produzida nas colônias, pelo trabalho escravo, é que o sistema escravista, e toda a
estrutura protecionista e monopólica que este pressupõe, tornou-se um empecilho à expansão
capitalista. Derrotada a classe escravista de suas próprias colônias, a burguesia inglesa ainda
conviveria, plenamente, com o escravismo nas colônias de outras nações, desde que houvesse
o livre mercado para as suas manufaturas, em outras palavras, que não houvesse políticas
protecionistas. Disso, decorre as pressões para o fim do tráfico internacional de escravos.
Afinal, inicialmente, “o ataque aos fazendeiros das Índias Ocidentais era mais que um ataque à
escravidão. Era um ataque ao monopólio. Seus adversários não eram somente os humanitaristas,
eram também os capitalistas” (WILLIAMS, 2012, p.193).
Para eles a escravidão era relativa e não absoluta, e dependia da latitude e da
longitude, como provam suas atitudes depois de 1833 [ano da proibição do
tráfico de escravos pela Inglaterra] diante da escravidão em Cuba, no Brasil e
nos Estados Unidos. Escarneciam de seus adversários por verem escravidão
onde eles viam apenas açúcar e por limitarem sua visão à circunferência de
um barril. Não iriam moldar suas tarifas segundo critérios morais, não
ergueriam uma tribuna em cada posto da alfândega e não obrigariam os
funcionários aduaneiros a fiscalizar o cumprimento das doutrinas
abolicionistas (WILLIAMS, 2012, p. 234).
No Brasil, por exemplo, o livre comércio com a Inglaterra foi estabelecido em 1808, em
meio à disputa entre França e Inglaterra, pelo domínio dos mercados. Apenas oitenta anos mais
tarde, foi realizada a abolição da escravidão, em um momento em que o capital industrial dos
centros já assumia formas imperialistas, baseada na concentração e na centralização do capital,
e para a qual o colonialismo, nas múltiplas formas que assume ao longo da história, continuaria
sendo o mecanismo fundamental de domínio e de base de sua existência. Prova disso, é a
partilha da África entre os países imperialistas em fins do século XIX - com o estabelecimento
de um neocolonialismo (N’KRUMA, 1967; RODNEY, 1975); e toda a política de subordinação
da América Latina e do Caribe pelos Estados Unidos, desenhada desde a Doutrina Monroe, sob
a qual a dependência e a subordinação conformam a condição particular do desenvolvimento
do capital.