DOI 10.34019/1980-8518.2021.v21.30924
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 21, n.1, p. 283-302, jan. / jun. 2021 ISSN 1980-8518
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O caráter educativo na formação acadêmica
dos/as assistentes sociais
The educational character in the academic training of social workers
Taciane Couto Gonçalves
*
Resumo: O presente artigo contou com uma
pesquisa documental e trata do cater
educativo do trabalho dos/as assistentes sociais
a partir de uma análise da formação
profissional. Acredita-se que uma das razões
pelas quais o tema não vem sendo o de maior
preocupação e investimento intelectual entre
os/as profissionais deve-se a sua ausência nas
orientações gerais, construídas pelas entidades
da própria profissão, para a formação acadêmica
e atuação profissional. A leitura de alguns
documentos de cursos situados na região leste
da ABEPSS possibilitou identificar que o tema
está subsumido nos próprios documentos
normativos do Serviço Social (no caso, nas
diretrizes curriculares e currículos plenos).
Palavras chave: Serviço Social; caráter
educativo; formação profissional.
Abstract: This article counts on a documentary
research and deals with the educational
character of the work of the social workers from
an analysis of the professional formation. It is
believed that one of the reasons why the subject
is not of the greatest concern and intellectual
investment among professionals is due to its
absence in the general guidelines, built by the
entities of the profession itself, for academic
training and professional performance. The
reading of some documents from courses
located in the eastern region of ABEPSS made
it possible to identify that the subject is
subsumed in the normative documents of the
Social Service (in this case, in the curriculum
guidelines and full curricula).
Keywords: Social Service; educational
character; professional qualification.
Recebido em: 16/06/2020
Aprovado em: 17/01/2021
*
Doutoranda no Programa de Pós-graduação em Serviço Social pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Mestra
em Serviço Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Taciane Couto Gonçalves
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Introdução
O presente artigo tece algumas reflees sobre como o Serviço Social brasileiro, a partir
da proposta pedagógica para seus cursos, tem tratado do caráter educativo do trabalho do/a
assistente social. A pertinência de tal reflexão justifica-se na compreensão de que tal aspecto
do nosso trabalho profissional foi descoberto graças a influências de cunho teórico (com a
aproximação da teoria social ctica) como tamm político e social (aproximação das lutas e
organizações sociais das classes subalternas). Além de ser um elemento de grande potencial
quando se pretende defender uma formação em consonância com os interesses da classe
trabalhadora.
Optou-se por estrutu-lo em três partes em que, num primeiro momento, o/a leitor/a
podese aproximar da compreensão, da qual compartilha a autora, sobre educar e sobre o
caráter educativo do trabalho de assistentes sociais. Destacamos se tratar de um tema
conhecido no universo da produção intelectual do Serviço Social, apesar de pouco explorado,
e de relevância, como defenderemos no texto.
A seguir, será feita uma retomada da elaboração das diretrizes curriculares para o curso
de Serviço Social nos documentos de 1996, 1999 (de autoria, totalmente autônoma, da própria
categoria profissional) e na resolução oficial de 2002 (resolução do Ministério da Educação).
Além desse resgate ser importante para apresentar os elementos constituintes principais desses
documentos, permite retomar algumas disputas que permearam a consolidação das diretrizes da
ABEPSS (Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social).
Por fim, busca-se identificar se o caráter educativo do exercício profissional é um
elemento abordado nestes documentos e, caso seja, de que forma aparece definido e/ou
caracterizado nos mesmos. À alise se soma os currículos plenos dos cursos de algumas
instituições públicas de ensino superior dos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito
Santo (região leste da ABEPSS)
1
. É um recurso do qual se lançou mão para trazer mais
elementos à discussão, afinal, os currículos dos cursos o, geralmente, mais detalhados,
contendo as ementas das disciplinas e a bibliografia utilizada nas mesmas.
1
Por questões metodológicas foram eleitas algumas das instituições de ensino superior que oferecem o curso de
Serviço Social, minimamente estruturados e filiados à ABEPSS, e que disponibilizam o projeto pedagógico e/ou
a grade curricular do curso em seus respectivos sites. A expectativa era a de que pelo currículo pleno das
Escolas/Faculdades de Serviço Social destas universidades se perceberia se é um tema presente, estimulado ou o
a ser debatido desde a graduação.
ARTIG0
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Sobre o chamado caráter educativo do trabalho profissional
A consciência é intrínseca a toda ão humana, esteja esta ão empenhada na
transformação de algo tangível ou intangível (como o é a própria consciência). Não é diferente
quando se pensa o trabalho desenvolvido por assistentes sociais (uma ação consciente de
alguém que atua junto a outro alguém manipulando, para isso, recursos, meios e instrumentos
sob orientação de um fim) e mesmo sabendo o quanto isso pode soar obvio ao/à leitor/a pretendo
apenas reforçar o quanto interessa àqueles/as que historicamente contratam nossa força de
trabalho o potencial que o uso do nosso saber e fazer profissional tem ao incindir sobre o modo
de agir e pensar daqueles/as com os/as quais nos relacionaremos ao prestar e implementar
determinados serviços e orientações sociais em nosso cotidiano de trabalho.
As pessoas educam-se a todo momento afinal, entendemos aqui ser a educação “uma
atividade mediadora no seio da prática social global”
2
(SAVIANI, 1985: 77), experiência
cotidiana de troca, de diálogo, de transmissão de saber, que não se limita a um período estrito
de letramento ou ilustração e que mesmo tendo no ensino formal escolarizado sua principal
referência e local privilegiado, vai muito além do mesmo.
3
Ainda que carregue, contraditoriamente, o potencial da negação e superação (no sentido
de construir tanto uma leitura crítica da realidade social como uma proposta de transformação
da mesma), nos marcos da sociedade de classes, a educação tente a cumprir o papel de
internalizar valores e ideias que legitimam o status quo. Em termos de hegemonia, uma
internalização bem sucedida e que garante uma aceitação ativa, principalmente dos indivíduos
que integram as classes subalternizadas, é estrategicamente pertinente a ponto de relegar a
segundo plano o uso da violência (relegar sem nunca abandonar, afinal, persuasão e repressão
caminham juntas em relações hegemônicas
4
).
2
Enquanto mediadora, não se justifica por si mesma. Sua rao estaria muito mais na sua finalidade e,
principalmente, no como se desdobra no conjunto das práticas sociais. Ou seja, no efeito que tem para além da
atividade educativa (Saviani, 1985).
3
“No início do processo histórico de humanização do homem pelo trabalho, a educação realizava-se como
decorrência imediata da produção material e da apropriação coletiva dos meios de existência humana. Nesse
período, anterior à divisão social do trabalho, a produção e reprodução da vida social se realizava em veis tão
pouco desenvolvidos que não exigia outras formas de educação que não a do simples convívio” (SAVIANI;
DUARTE, 2015: 41). Isso muda à medida que se complexificam a divisão social do trabalho e a sociedade de
classes, demandando a existência de instituições especializadas na elaboração e transmissão de saberes que, por
sua vez, expressarão as contradições próprias das relações sociais em que se inscrevem. Mas o fato é que se torna
necessário considerar e analisar a organização do trabalho para compreender a forma assumida pela educação em
determinado contexto histórico. Para entender como o trabalho orienta e determina as demais esferas da vida social,
conferir a obra de Marx e Engels “A ideologia Alemã”.
4
Cf.: LIGUORI; VOZA (2017: 365-368).
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Em Abreu (2011)
5
aparece que o Serviço Social situa-se nas “relações de hegemonia”,
mais especificamente, “nos processos de organização da cultura”. E, compreendendo
hegemonia como direção e domínio, pode-se inferir que as atribuições conferidas aos/às
assistentes sociais caberiam mais na primeira dimensão, referente à busca por consenso, por
cooptação, por controle ideológico.
Cabe frisar que existe hoje um amadurecimento teórico no bojo da profissão que
demonstra o cuidado dispendido ao tratar, nesse caso específico, da dimensão política do
trabalho dos/as assistentes sociais no sentido de não supervalorizá-la em detrimentos de tantos
outros aspectos e dimenes. Tanto que, constatando sua existência, indica-se também que seria
mais propriamente “auxiliar” e “subsidiária” a contribuição da profissão no exercício da
dominação e o por ser inferior, mas por desenvolver-se junto à instituições sociais que
exercem tal controle por excelência na sociedade (escolas, instituições religiosas, a grande
mídia e partidos políticos seriam alguns exemplos).
A funcionalidade do trabalho de agentes como os/as assistentes sociais que atuam na
“organização da cultura” mostrou-se relevante desde que a classe dominante percebeu que o
controle sobre o conjunto da classe trabalhadora não deveria se restringir ao chão da brica,
mas que alcançaria maior eficiência abrangendo o cotidiano da vida social, tutelando a vida
privada do conjunto dos/as trabalhadores/as.
Por isso, diz muito o vínculo que a profissão estabelece com as classes sociais, pois,
determina política e ideologicamente o caráter educativo do seu trabalho, materializando-se nos
efeitos que as ões profissionais provocam na forma de pensar e agir da população atendida.
O exercício profissional do/a assistente social demanda uma bagagem técnico-científica capaz
de subsidiar-lhe nos atendimentos às requisições institucionais e às demandas do blico
atendido pelas políticas e programas sociais. Como vem sendo analisado e debatido no seio
da profissão, tais atendimentos sempre o tensionados por interesses de classe existentes na
própria dinâmica da vida social, que polarizam esta última tanto quanto o próprio trabalho
profissional.
A particularidade do Serviço Social estaria então no fato de ser uma dentre as várias
atividades caracterizadas por se dedicarem, especialmente, à criação de bases
para o exercício do poder de classe, que tem sua expressão máxima no Estado.
São atividades diretamente vinculadas ao controle político-ideológico e/ou
repressivo e à modernização do aparato burocrático do Estado. [...], funções
5
Os aspectos assumidos pelo caráter educativo do trabalho de assistentes sociais foi matéria de estudo da autora
que em sua obra inclusive defendeu a existência e constituição do que a mesma chamou de perfis pedagógicos no
decorrer da trajetória profissional. Os principais foram nomeados de: pedagogia da ajuda, pedagogia da
participação e pedagogia emancipatória.
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cujo significado econômico está subordinado a seu caráter político
determinante (IAMAMOTO; CARVALHO, 2008: 86).
Temos então que, ao compreenderem esta dinâmica social e seus impactos sobre o
Serviço Social, estudiosas/os da área defenderam a existência de uma dimeno político-
ideológica do exercício profissional que o vincula a um projeto societário e imprime uma
direção ao trabalho. A relevância dessa tese está, principalmente, no fato de que se na aparência
este trabalho desenvolvido ganha tangibilidade ao mediar o acesso a recursos materiais, seu
diferencial mais relevante estaria no impacto causado sobre a subjetividade dos indivíduos
atendidos, na sua contribuão em organizar a vida social visto seu caráter marcadamente
educativo. A ciência desse fato, mais do que nunca, deveria convidar os/as profissionais a
exercitarem a capacidade de análise crítica da realidade social, bem como do seu saber e fazer
profissional.
Todavia, a existência de uma função educativa não quer dizer que o conjunto dos/as
profissionais a reconheça ou lhe atribua a devida importância em seu cotidiano de trabalho. O/a
profissional pode realizar seus atendimentos sociais sem, no entanto, dar-se conta ou
problematizar o conteúdo de sua intervenção, os valores ou objetivos aos quais vincula sua
ação.
O caráter educativo de trabalho profissional talvez seja o aspecto que se expressa com
maior frequência, manifestado desde o simples compartilhar de informações (referentes a
serviços, programas, políticas ou qualquer outro conteúdo de sua atribuição e compencia) até
o estímulo à reflexão (sobre uma dada situação ou realidade social). Transmitindo saber ou
contribuindo com a leitura do mundo, tem o potencial de reforçar ou desconstruir estereótipos,
moralizar e naturalizar as inúmeras mazelas sociais ou apontar a mobilização e organização
coletiva como possibilidades legítimas de enfrentamento às probleticas concernentes ao
ordenamento capitalista.
Isso nos faz acreditar que a sistematização do caráter educativo é importante por ser mais
uma possibilidade de racionalização, um momento em que o/a profissional reflete sobre o meio
no qual se insere, sobre os problemas e contradições da realidade com as quais lida, sobre as
finalidades de sua intervenção, etc. E conformando o processo permanente de agir-refletir-agir,
apontaríamos como imprescindível:
a) que se conheça profundamente o fim que se pretende atingir, pois, ter clareza do
objetivo torna mais fácil identificar o caminho mais adequado para alcançá-lo. Há sempre uma
maior ou menor margem de manobra que permite ao/a profissional estruturar programas;
selecionar conteúdos enfatizando ou não determinados aspectos; escolher materiais; eleger um
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método e metodologia de ão; dentre outras coisas que são fortemente influenciadas pelo
objetivo que se busca alcançar.
b) que acompanhado à definição do fim, deve-se ter uma compreensão do momento
histórico e das reais condições em que se inscreve o trabalho profissional e seu papel educativo,
buscando subsídios para uma melhor compreensão sobre as determinações mais gerais do modo
de produção vigente e as particularidades da sua fase mais recente.
c) que a formão permanente é outro aspecto importante, pois, ajuda a compreender as
contradições sobre as quais incide nosso trabalho e nos possibilita democratizar aqueles
elementos da cultura profissional que mais possam contribuir com a construção de um projeto
societário contra-hegemônico.
d) que a prática educativa crítica deve estar, necessariamente, articulada com as lutas
sociais desenvolvidas pelo conjunto da classe trabalhadora. Ainda que se desempenhe um papel
importante na conformação de formas de pensar o mundo, a profissão deve estar sempre atenta
ao movimento real das lutas sociais. Pautar-se pelos movimentos progressistas da classe
trabalhadora é ainda a melhor maneira de garantir a coesão entre a direção dada a própria
intervenção e a defesa dos direitos e aprofundamento da democracia.
A construção das diretrizes curriculares em meio às disputas na educação superior
Tendo tratado de aspectos sobre a educão que, por um lado, nos ajudaria a compreendê-
la como uma mediadora da prática social e, por outro, nos ajudaria a percebê-la como um
aspecto que caracteriza o trabalho desenvolvido por assistentes sociais, neste momento do texto
voltamos o olhar para outra faceta dessa esfera da vida social.
Educação também se apresenta na realidade concreta como um dentre os serviços sociais
organizados e oferecidos como política social. E tamm nessa condição a educação é
perpassada pelos interesses antagônicos das classes sociais, expressando a contraditória relação
de atender aos interesses dos/as trabalhadores/as de forma geral considerando-se a dimensão
social de fomentar e compartilhar o conhecimento construído coletivamente e historicamente
acumulado ao mesmo tempo em que é incorporada à lógica de valorização e acumulação do
capital.
No âmbito do Serviço Social, o debate feito pelos segmentos críticos reforçam a
necessária defesa de um ensino público, gratuito, de qualidade, acessível, principalmente, à
classe trabalhadora, na condição de direito universal e voltado para as reais necessidades do
desenvolvimento humano, social e político. Valores e objetivos radicalmente opostos ao que se
presencia na atualidade em que prevalece um projeto em que interessa aos grupos econômicos
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e frações da classe dominante subordinar a produção do conhecimento ao mercado,
incorporando as descobertas e avanços científicos na prodão numa corrida constante atrás da
obtenção de superlucros.
A mercantilização do ensino cresce exponencialmente comprometendo a qualidade do
mesmo (desvalorização e desqualificação docente, desarticulação e mesmo abandono da
pesquisa e extensão, predomínio da tecnificação e adestramento em detrimento do
aprofundamento teórico científico, etc.). Nesse cerio, uma das mais novas modalidades de
ensino é o chamado EAD (ensino à distância) que vem sendo ofertado tanto em universidades
blicas como, e majoritariamente, pelo ensino privado, sob um discurso de democratização
mas que se num movimento que compromete a formação de profissionais com competência
crítica e compromisso social e político.
A educação torna-se um nicho de mercado, deslocando-se cada vez mais da esfera do
direito para a de serviço prestado pelo mercado.
6
E esse quadro de alterações no ensino superior
atinge, necessariamente, a formação acadêmica e o próprio exercício profissional dos/as
assistentes sociais.
Na história da profissão no Brasil, as um processo de debate e construção coletiva no
interior da categoria profissional, em 1996 foram aprovadas as diretrizes gerais para os cursos
de Serviço Social
7
. Enquanto as ditas diretrizes curriculares expressavam o fortalecimento da
perspectiva crítica entre os/as assistentes sociais (em especial, entre os/as intelectuais e os/as
dirigentes políticos/as das entidades representativas da profissão), configurando-se como uma
das formas de objetivação do atual projeto ético-político feito hegenico em seu interior, a
correlação de forças nos âmbitos econômico, político e social, em movimento contrário,
impunha desafios aos setores progressistas da sociedade civil visto o avao do projeto
neoliberal e o ataque desferido aos direitos trabalhistas e sociais.
Houve um processo de mobilização e articulação da categoria profissional para que se
garantisse a proposta original da ABEPSS. Forjaram-se espaços no MEC a serem ocupados por
agentes profissionais cujo objetivo central era o de apreciar e levar aos órgãos competentes
6
Todas estas informações são sistematizadas e apresentadas por Iamamoto (2015) com base em dados publicados
pelo MEC, ABEPSS, CFESS, Bird e outros.
7
Segundo o documento de 1996, entre 1994 e 1996, nas oficinas realizadas pela ABEPSS os/as profissionais
preocuparam-se em analisar a realidade e identificar os possíveis impedimentos e desafios para a formação
acadêmico-profissional. A primeira síntese desse processo foi aprovada numa Convenção em Recife, 1995,
contendo já um esboço das metas, princípios e conteúdos centrais elegidos pela categoria profissional. O segundo
documento veio no ano seguinte, trazendo mais elementos para o debate e, na fase conclusiva, os seis documentos
sistematizados pelas unidades de ensino das diversas regiões foram recolhidos pelas representações das entidades
do Serviço Social (ENESSO, ABEPSS, CFESS e assessores/as) que então sintetizaram a atual proposta de
diretrizes curriculares.
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propostas que coubessem nas exigências da política educacional do Estado mantendo, no
entanto, ao máximo a essência e coerência com o projeto profissional crítico. Um processo de
resistência importantíssimo, pois, em se tratando da política de educação, é também de 1996 a
aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), expressão da agenda neoliberal e
da contrarreforma da educação que, dentre outros fatores previa a abertura e incentivo à
iniciativa privada às custas da precarização do ensino público.
Como era esperado, o Serviço Social não passou ileso a tais processos sofrendo inflexões
no âmbito da formação acadêmico-profissional. As diretrizes curriculares de 1996 foram
reconhecidas e aprovadas pelo MEC em 2002
8
, as alterações e adequações que custaram certa
descaracterização do projeto original de formação.
No âmbito restrito do Serviço Social, excluiu-se o currículo mínimo que até então previa
e garantia a aplicação de uma mesma grade curricular para os cursos da área oferecidos em todo
território nacional, de maneira que a única normativa que os cursos se tornam obrigados a
cumprir são as LDB do Ministério da Educação. Havia um detalhamento dos conteúdos que
compunham os núcleos de formação presentes na proposta curricular da ABEPSS que foi
excluído da versão oficial. O reflexo disto na prática é que, ainda que se preservassem os
cleos de formação, ficaria livre às instituições de ensino uma adequação dos currículos em
maior ou menor consonância com as exincias do mercado.
Todavia, é importante que se reafirme que nas duas cadas que se seguiram a aprovação
das diretrizes da ABEPSS, a categoria profissional tamm empreendeu ações de resistência à
contrarreforma do ensino: regulamentou a supervisão direta de estágio (resolução 533/08) e
elaborou um plano nacional de estágio
9
; realizou ações e campanhas contra a oferta do EAD no
Serviço Social e contra a precarização do ensino em geral; laou a campanha nacional de
defesa da jornada de trabalho de 30 horas semanais (lei 12.317/10) para os/as assistentes sociais;
etc.
É fato tamm que em meio as disputas políticas e econômicas na Educação, registra-se
que o Serviço Social se beneficiou do amplo movimento de lutas democráticas. Pode-se dizer
que o Serviço Social teve na década de 1980 um marco no debate sobre os fundamentos, o
significado social e a atuação da profissão. O nível de aprofundamento, a qualidade do
8
Em seu artigo, Iamamoto data de 4 de julho de 2001 a homologação das diretrizes pelo MEC. Cf. IAMAMOTO
(2014).
9
Expressões do grande esforço da categoria de avançar na compreensão dos papeis e atribuições dos/as
indivíduos/as envolvidos/as na supervisão do estágio e amadurecimento acerca do estágio curricular, obrigatório
e o obrigatório. Além de ser uma das maneiras de garantir a efetivação e enraizamento das diretrizes curriculares
no âmbito das instituições de ensino superior.
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empreendimento intelectual acumulado nas últimas décadas pela profissão é de tamanha
importância que atribuiu uma face peculiar ao Serviço Social brasileiro na América Latina e
Caribe, bem como no circuito mundial do Serviço Social” (IAMAMOTO, 2014: 615). Graças
ao alinhamento à tradição marxista e às lutas sociais da classe trabalhadora, a profissão
incorporou uma compreensão de história que tem na luta de classes sua força motora e o
reconhecimento do trabalho como fundante do ser social.
As diretrizes curriculares sintetizam um pouco essa realidade e sustentam-se na defesa da
universidade pública; acessível à população na condição de direito universal; com capacidade
de produzir e compartilhar conhecimentos com reconhecida qualidade e que se orientem pelos
interesses da coletividade; que ofereça uma educação de caráter crítico e em sintonia com os
valores humanos universais; que consiga extrair da realidade, local e nacional, o insumo para a
vida acadêmica; etc.
Os núcleos de formação expressam os diferentes níveis de abstração necessários para a
compreensão do Serviço Social (trajetória; elementos constituintes; funções; as restrições
decorrentes da mercantilização da força de trabalho dos/as assistentes sociais; etc.) e,
principalmente, para contribuir na desnaturalização das relações sociais capitalistas. Nestas
diretrizes é incorporada a tese da profissão como uma especialização da divisão social e técnica
do trabalho, geneticamente vinculada às classes sociais fundamentais.
Além do que, resguardadas as particularidades de conteúdo proposto em cada núcleo,
entende-se que sendo a profissão um produto cio-histórico sua compreensão se torna
possível quando se situa a mesma na totalidade da dinâmica social. Este pressuposto é de grande
relevância e representa um grande avanço na trajetória profissional visto que busca superar o
endogenismo que caracterizou a mesma por longos anos.
De acordo com o exposto nas Diretrizes da ABEPSS, o pressupostos que devem
orientar a formação profissional:
1- O Serviço Social se particulariza nas relações sociais de produção e
reprodução da vida social como uma profissão interventiva no âmbito da
questão social, expressa pelas contradições do desenvolvimento do
capitalismo monopolista.
2- A relação do Serviço Social com a questão social - fundamento básico de
sua existência - é mediatizada por um conjunto de processos sócio-históricos
e teórico-metodológicos constitutivos de seu processo de trabalho.
3- O agravamento da questão social em face das particularidades do processo
de reestruturação produtiva no Brasil, nos marcos da ideologia neoliberal,
determina uma inflexão no campo profissional do Serviço Social. Esta
inflexão é resultante de novas requisições postas pelo reordenamento do
capital e do trabalho, pela reforma do Estado e pelo movimento de
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organizão das classes trabalhadoras, com amplas repercussões no mercado
profissional de trabalho.
4- O processo de trabalho do Serviço Social é determinado pelas
configurações estruturais e conjunturais da questão social e pelas formas
históricas de seu enfrentamento, permeadas pela ação dos trabalhadores, do
capital e do Estado, através das políticas e lutas sociais (ABEPSS, 1996: 5-6).
O esperado é que cada unidade de ensino elabore seu projeto pedagógico e seu currículo
pleno incorporando estes mesmos pressupostos. Orienta-se que, respeitando a pluralidade
política e teórica no interior do Serviço Social, garanta-se uma formação que adote a perspectiva
histórica, crítica e dialética na análise da realidade social, presando sempre pelo rigor teórico-
metodológico no trato investigativo.
Sugere-se também uma estrutura curricular mais flexível em termos de viabilizar o
aprendizado não exclusivamente pela oferta de disciplinas, mas, incluído oficinas, seminários,
dentre outras modalidades de atividade complementar; a articulação entre ensino, pesquisa e
extensão deve ser um princípio na formão; a oferta de cursos noturnos não deve significar a
queda na qualidade do mesmo; e o estágio curricular deve sempre associar as supervisões
acamicas e de campo.
As diretrizes da ABEPSS propõem ainda que os conteúdos pertinentes à formação dos/as
assistentes sociais se atualizem de acordo com a dinamicidade da própria realidade social. De
maneira didática, esse conjunto de conhecimentos estaria organizado em três “núcleos de
fundamentação”, abarcando os elementos mais indispensáveis à formação: a) núcleo de
fundamentos teórico-metodológicos da vida social; b) núcleo de fundamentos da
particularidade da formação sócio-histórica da sociedade brasileira e c) cleo de fundamentos
do trabalho profissional.
Realizada tal retomada, interessa passar ao momento do artigo em que se analisa como
o caráter educativo do exercício profissional aparece nos documentos da profissão e como isso
indicaria a maneira como vêm sendo tratado em nossa formação.
O cater educativo na formação acadêmico-profissional do Serviço Social no Brasil
Recapitulando o que trouxemos na primeira parte do presente artigo, a tese, muito
defendida, de que o Serviço Social seria uma especialização do trabalho coletivo que se
consolida como uma profissão auxiliar no processo de controle ideológico, contribuindo, a
priori, com a efetivação de um modo de pensar que legitime a ordem social vigente
(IAMAMOTO; CARVALHO, 2008), abriu precedentes para que se identificasse a condição de
intelectual assumida pelos/as profissionais cuja intervenção situa-se nas “relações de
O caráter educativo na formação acadêmica dos/as assistentes sociais
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hegemonia” ou, mais especificamente, nos processos de organização da cultura” (ABREU,
2011). Diante disto, as atribuições conferidas aos/às assistentes sociais caberiam dentro de uma
busca por consenso, de um processo de cooptação e de controle ideológico, tendo como
instrumento básico de trabalho a linguagem.
O desenvolvimento dessa tese, principalmente no que se refere aos estudos sobre o caráter
educativo do exercício profissional, em muito nos interessa nesse artigo pois, ao considerarmos
o sentido de educar como o processo de produzir no indivíduo singular a humanidade produzida
socialmente, entendendo que o/a agente educador/a é aquele/a que se posiciona diante da cultura
e elege os elementos capazes de contribuir para a humanizão do indivíduo (SAVIANI, 1996),
o vemos equívocos em reconhecer, na natureza do Serviço Social, seu caráter de educador/a
social e político/a.
Num sentido amplo, as pessoas educam-se, mesmo não objetivando isso de forma clara e
intencional. No caso do Serviço Social, o mais comum é que tal ão educativa seja
concomitante a implementação (esta sempre intencional) dos servos sociais que, por sua vez,
servem de sustentação material para aquela. Entretanto, se não se reconhece a existência e
importância desse papel educativo que é inerente à prática profissional, não o problematiza, não
o traz para o primeiro plano, corre-se o risco de não se refletir sobre seu potencial, seu conteúdo,
sua forma e, muito menos, para a necessária sistematização do mesmo.
E é por validar sua importância e buscar contribuir com as análises do mesmo que neste
artigo volta-se a ateão para a maneira como o caráter educativo aparece em documentos da
formação profissional em Serviço Social (no caso, nas Diretrizes curriculares e em alguns
currículos acadêmicos), levantando algumas considerões para o debate.
Encerramos o item anterior apresentando os núcleos de fundamentação em que se
organizam as diretrizes da ABEPSS. Olhando para o conteúdo do terceiro núcleo
(“fundamentos do trabalho profissional”) encontram-se os conhecimentos referentes ao
exercício profissional (suas potencialidades, contradições, objeto e procedimentos necessários
à ação, etc.). A descrição e detalhamento de quais seriam as matérias a serem repassadas nos
cursos não fazem nenhuma menção explícita ao caráter educativo, o que é até compreensível,
afinal, o documento da ABEPSS traz as orientações mais gerais, não sendo possível tratar com
detalhes todos os elementos que constituiriam o fazer profissional.
O que mais se aproximaria de uma sinalização do caráter educativo é a indicão feita no
documento elaborado pela comissão de especialista de ensino em Serviço Social do MEC
quando mencionam a prestação de assessoria e consultoria a órgãos da administração pública,
empresas privadas e movimentos sociais em matéria relacionada às políticas sociais e à garantia
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dos direitos civis, políticos e sociais da coletividade(MEC, 1999: 2) ou mesmo a orientação
prestada à população sobre recursos disponíveis seus direitos. Ainda que a palavra “educar” (e
suas derivações) não apareça no texto, acredita-se ser possível uma associação com seu sentido,
pois, infere-se nesse extrato que o/a profissional estaria apto/a a prestar orientações de
determinada espécie e a determinados grupos sociais.
Dando prosseguimento e voltando-se aos currículos plenos de alguns cursos de Serviço
Social no Brasil, tenta-se verificar se ao estruturarem seus próprios currículos as unidades de
ensino incorporaram alguma discussão sobre o caráter educativo. O recorte inicial envolve
apenas os estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo (que, por sua vez, compõem
a região leste da ABEPSS), sendo que das onze instituições públicas de ensino superior em que
são oferecidos os cursos de Serviço Social foram acessados os currículos plenos dos cursos de
seis unidades acadêmicas.
Começando pela Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(ESS-UFRJ), segundo os registros desta unidade de ensino, o currículo vigente foi
implementado orientando-se pelas diretrizes curriculares da ABEPSS, pelas prescrições do
Ministério da Educação e pelas normas internas da própria Universidade. Tratou-se de um
processo de construção coletiva envolvendo representações do corpo docente e discente da
Escola de Serviço Social, além de contar com as contribuições de professores/as convidados/as.
Objetivamente, pela leitura das ementas e bibliografia sica das disciplinas ofertadas,
identificamos que no período diurno e no noturno é oferecida a disciplina de “Técnicas de
intervenção social” em cuja ementa assim registra-se:
Instrumentos e técnicas de intervenção social: implicações políticas.
Principais técnicas de contato individual e grupal. cnicas de educação e
organização populares. Produção de informões. Registro e documentação.
Objetivo: Propiciar o conhecimento do instrumental técnico para a
intervenção profissional no trato com indivíduos, grupos, comunidades e
movimentos populares (2017: 35. Itálicos meus).
Dentre o material indicado para a leitura, são listados textos e obras que tratam da
temática da educação popular, do princípio educativo em Gramsci e de práticas e atividades
educativas na área da saúde. Percebe-se um tratamento mais pontual (ao menos aparentemente,
visto que partimos das informações contidas num documento e o de um relato de experiência,
entrevistas ou algo parecido) e dispendido na segunda metade do curso, antecedendo o ingresso
dos/as estudantes no campo de estágio. Os textos indicados são, exatamente:
Bezerra, Aída. “As atividades em educação popular.” Revista CEI,
Suplemento n.22, out. 1978. Rio de Janeiro, Tempo e Presença, 1978.
O caráter educativo na formação acadêmica dos/as assistentes sociais
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Costa, Beatriz B. “Para analisar uma prática de educação popular.” Revista
CEI, Suplemento. N.17, abr. 1977. Rio de Janeiro, Tempo e Presença, 1977.
Gramsci, A. “Os intelectuais e o princípio educativo”. Cadernos do Cárcere.
Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, vol. 2, 2000.
Vargas, E.P. et all. Práticas de educação em saúde. Rio de Janeiro, FIOCRUZ,
1992 (2017: 35).
O segundo curso do qual conseguimos o projeto pedagógico foi o da Universidade Federal
do Espírito Santo (UFES). Neste projeto foi possível identificar as disciplinas ofertadas em cada
período do curso, contudo, o currículo informava as ementas sem as indicações bibliográficas
de cada disciplina. Pela ementa das disciplinas de “Oficina de trabalho com indivíduos no
serviço social”, “Processos comunitários e mobilização social” e “Política de educação”,
poderíamos inferir um espaço favorável ao debate sobre o caráter educativo do trabalho
profissional. Nas ementas registra-se, respectivamente:
O trabalho do assistente social com indivíduos, famílias, grupos e
coletividades. A dimensão individual e familiar no trabalho profissional. O
trabalho do assistente social e o lugar da: observação, linguagem, escuta,
reflexão, diálogo, visita domiciliar e registro. Teorias e cnicas de entrevista.
Estudos sócio-econômicos com usuários para fins de benefícios e serviços
sociais. Orientação social e encaminhamentos. Vistorias, perícias técnicas e
laudos, informações e pareceres.
[...]
O trabalho do assistente social com indivíduos, famílias, grupos e
coletividades. Os conceitos e experiências de educação popular, pesquisa-
ação e assessoria. Processos comunitários e organizativos de formação da
consciência, mobilização social e formação cultural. O desenvolvimento
integral e sustentável e suas implicações econômicas, sociais e políticas.
Produção de materiais pedagógicos e socialização de informões. Análise de
experiências junto aos movimentos sociais e as estratégias profissionais.
[...]
Papel da escola básica pública para a formação da cidadania popular. Papel do
Estado Democrático frente a cidadania popular. Saber pensar e aprender a
aprender com base na consciência crítica. Aprendizagem de teor reconstrutivo
político. Politicidade da educação. Educação e conhecimento no mundo do
trabalho e da cidadania. Alternativa de educação popular. A atuação do
Serviço Social na política de educação. Contribuição do Serviço Social na
produção e no redimensionamento do conhecimento teórico-prático da
política social da educação (2017: 76, 82. Itálicos meus).
O caráter educativo o aparece em nenhuma ementa como um dos temas centrais das
disciplinas, como dito, trata-se mais de uma suposição de que ao se abordar o tema da educação
popular, dos procedimentos de trabalho e das ações da prática profissional, possa-se
problematizar a função política de cunho educativo que caracteriza o Serviço Social.
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Quanto às unidades acadêmicas de Minas Gerais, verificamos os currículos de quatro
cursos. A começar pela Faculdade de Serviço Social da Universidade Federal de Juiz de Fora
(FSS-UFJF), agica das diretrizes da ABEPSS também foi a grande norteadora do currículo
dessa unidade de ensino. Contudo, ao contrário do que verificamos nos currículos da UFRJ e
da UFES, em nenhum momento fez-se menção ao debate do papel e das ações educativas dos/as
assistentes sociais nem se verificou dentre a bibliografia indicada algum material que abordasse
tal temática.
Já no currículo pleno da Faculdade de Serviço Social da Universidade Federal de
Uberlândia (FSS-UFU) consta uma disciplina optativa de “Educação ambiental” oferecida pelo
curso de Geografia. Sem nenhum outro registro que demonstre o contrário, o curso desta
disciplina parece ser o único momento em que os/as estudantes de Serviço Social poderiam ter
contato com debates sobre algum tipo de prática educativa em seu futuro exercício profissional.
Pela ementa percebe-se a preocupação em construir uma concepção mais progressista do ato de
educar e mesmo da compreensão política sobre a qualidade da relação entre sociedade e
natureza sob o recorte analítico das políticas e programas sociais da área ambiental. Por não se
tratar de uma disciplina do próprio Serviço Social, a bibliografia o inclui nenhum debate mais
específico da área.
A terceira universidade mineira avaliada foi a Universidade Federal do Triângulo Mineiro
(UFTM). No currículo do curso de Serviço Social encontramos disciplinas oferecidas nos
últimos períodos do curso de que, seja pela ementa seja pela bibliografia utilizada, nos
permitiram inferir que a temática em questão receberia algum tratamento no curso. Nas
disciplinas de “Supervisão acadêmica de estágio curricular III” e nos “Seminários temáticos I
e II”, que têm em comum o trato do cotidiano do exercício profissional e a construção das
competências e habilidades, a obra de Abreu, Serviço Social e a organização da cultura: perfis
pedagógicos da prática profissional sobre os perfis pedagógicos”, e a obra de Iasi sobre processo
de consciência e emancipação, Ensaios sobre consciência e emancipação”, compõe a
bibliografia básica, dando a entender que fomentariam as reflexões sobre o papel político de
caráter educativo que caracteriza o trabalho profissional desde sua emergência.
Na grade curricular deste curso consta ainda uma disciplina de “Meio ambiente e Serviço
Social” que, ao contrário do que ocorre no curso de Serviço Social da UFU, é oferecida pelo
próprio Serviço Social e parece ter um recorte mais amplo, no sentido que parece ir um pouco
além da análise da política social:
A influência do sistema capitalista sobre o meio ambiente e o social em uma
perspectiva hisrica. As respostas da natureza às ações humanas, o
O caráter educativo na formação acadêmica dos/as assistentes sociais
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aquecimento global e a proposta de desenvolvimento sustentável e a crítica.
A responsabilidade do homem sobre o seu meio: leis e políticas públicas,
responsabilidade social. A gestão ambiental e a ocupação dos
espaços/território. A formação do sujeito ecológico: a conscientização,
conservação e educação ambiental. O “lixo” na sociedade: o tratamento dos
resíduos sólidos, os catadores e as organizações. O Serviço Social e o meio
ambiente (2017, s/p. Itálicos meus).
Ainda que o indique na bibliografia algum material, a ementa traz elementos
interessantes sobre a problematização da particular relação da profissão numa das
manifestações da questão social, no caso a questão ambiental, e sobre o que poderia ser
considerada uma das formas de organização da cultura, nos termos de Abreu (2011), ou seja,
contribuir no processo de conscientização e educação necessárias à consolidação de sujeitos
ecológicos”.
Finalmente, encontramos a disciplina eletiva A dimensão sócio-educativa do Serviço
Social”, sem indicação de período a ser ofertada, mas que demonstra o reconhecimento por
parte desta unidade acadêmica da importância em se debater com os/as estudantes um dos
elementos que justificam e caracterizam o trabalho dos/as assistentes sociais. Na ementa da
disciplina consta a seguinte redão: “Dimensão Educativa e o Serviço Social. Fundamentos
históricos, teóricos, metodológicos e ideológicos do trabalho sócio-educativo” (2017: 129). As
obras de Abreu e Iasi reaparecem na bibliografia, sendo tamm indicados um texto de Gramsci
e um artigo de Abreu e Cardoso publicados pela Universidade de Brasília.
ABREU, M. M. Serviço Social e a organização da cultura: perfis pedagógicos
da prática profissional. São Paulo: Cortez, 2002.
GRASMCI, A. Cadernos do Cárcere. 3. ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira: 2010.
IASI, M. L. Ensaios sobre Consciência e Emancipação. São Paulo: Expressão
Popular, 2007.
ABREU, M. M.; CARDOSO, F. G. Mobilização social e práticas educativas.
In: Capacitação em Serviço Social e Política Social: Módulo 04: O trabalho
do Assistente Social e as políticas sociais. Brasília: UnB, Centro de Educação
Aberta, Continuada a Distância, 2000 (2017: 129).
O último currículo acessado e verificado foi o da Faculdade de Serviço Social da
Universidade Federal de Ouro Preto (FSS-UFOP). No currículo pleno deste curso encontramos,
apenas, a obra de Abreu (2002) nas referências bibliográficas da disciplina de “Política social
setorial III”, cujo foco é o trabalho dos/as assistentes sociais no judiciário, mais
especificamente, no atendimento às crianças e adolescentes. Ausente da ementa desta disciplina
e das demais, aparentemente, o debate sobre o caráter educativo poderia aparecer de forma
tangencial no curso de forma geral.
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A respeito da bibliografia, no quadro geral, a autora e o autor mais referenciados foram
Abreu (2002), com a obra “Serviço Social e a organização da culturae o artigo escrito em
coautoria com Cardoso (2000) de nome “Mobilização social e práticas educativas” e Iasi (2007)
com a obra “Ensaios sobre Consciência e Emancipão”. Em seguida temos a obra de Gramsci,
“Cadernos do Cárcere”, citada em dois currículos sendo que em um deles especifica-se o texto
“Os intelectuais e o princípio educativo”.
Os outros três textos são citados, exclusivamente, no currículo da ESS-UFRJ sendo dois
artigos cuja temática é a educação popular e um texto sobre práticas educativas na área da saúde.
Os/as autores/as e títulos o, respectivamente: Bezerra (1978), “As atividades em educão
popular”; Costa (1977), “Para analisar uma prática de educação popular” e Vargas (et all. 1992),
“Práticas de educão em saúde”.
Com exceção da FSS-UFTM, cujo currículo pleno do curso oferece ao todo cinco
disciplinas em que o caráter educativo do trabalho profissional pode ser analisado e
problematizado com o conjunto dos/as estudantes é notável a ausência desse debate nos
currículos das demais unidades de ensino. Tendo isso em vista e considerando fatos como o de
que, numericamente, são instituições privadas (em grande parte com modalidades de EAD) as
maiores formadoras desta força de trabalho, além das problematizações históricas que o Serviço
Social acumula sobre os impactos negativos que a precarização e mercantilização do ensino
superior tem sobre a formação e atuação dos/as assistentes sociais, não seria equivocado afirmar
que o debate sobre o caráter educativo tem grandes chances de estar subsumido no Serviço
Social, com uma formação acadêmica que não o tem visto como um tema prioritário.
Contudo, não temos documentos que nos permitam comparar os currículos acima
apresentados com os que precederam a aprovação das diretrizes da ABEPSS de 1996, de
maneira a verificar se o papel educativo chegou a ser um tema de maior relencia no debate
acamico até a cada de 1990. Além de se estar ciente de que se colheu informação de um
pequeno número de currículos plenos e que um recorte como esse estaria aqm da realidade
da formação acadêmica no país como um todo.
Por esta razão, destaca-se que a validade desse levantamento estaria mais em possibilitar
o questionamento sobre o trato teórico, prático e político que o debate sobre o caráter educativo
estaria (ou não) recebendo ao decorrer do processo de formação das recentes gerações de
profissionais.
Reafirmamos a ideia de que o caráter educativo potencializa o trabalho profissional no
sentido de contribuir para que este seja menos burocrático ou menos limitado à mera prestação
de serviços assistenciais. Sem desmerecer o impacto imediato que os serviços sociais têm na
O caráter educativo na formação acadêmica dos/as assistentes sociais
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vida da população atendida por eles, acreditamos que a ação educativa que acompanha a oferta
destes serviços é o grande diferencial da nossa atuação profissional e que precisa ser
problematizado, principalmente, por aqueles/as que se preocupam em exercer seu trabalho
numa perspectiva crítica e transformadora. E isso é dito porque qualquer um dos serviços e
benefícios prestados à população não despertam, por si só, a reflexão crítica da realidade. Está,
ao contrário, na ação educativa que os acompanha a potencial crítica da realidade capaz de
contribuir (ou não) com a elevão do nível de consciência.
Dentre as ões mais atribuídas ao Serviço Social, sejam como competências ou como
atribuições (a depender do conteúdo temático que abordam), temos: informar, socializar,
publicizar, assessorar, denunciar, planejar, etc. Ações típicas do universo profissional que nos
possibilita inferir que ao planejar sua intervenção de forma a reunir e organizar os conteúdos
que lhes compete compartilhar com a população atendida pelos serviços sociais, o/a assistente
social está exercendo sua função política de cunho educativo, assumindo um papel de
educador/a.
Os/as assistentes sociais são chamados/as a intervir na realidade a partir da oferta de
determinada política social. Ao viabilizar o acesso a um determinado serviço, tem a
oportunidade de viabilizar o acesso (e também acessar, já que é, metaforicamente, uma “via de
mão dupla”) a determinados conteúdos, conhecimentos, valores, visões de mundo, etc.
O que dentre este universo de conhecimentos escolherão e a forma como o repassarão
adiante vai depender do fim que pretendam alcançar. E no bojo dessa reflexão, alguns
questionamentos também se tornam pertinentes: os objetivos da ação e da instituição
empregadora se confundem? Os objetivos da ação estão em consonância com algum projeto
social ou profissional? Se o objetivo é contribuir com o processo de emancipação humana, quais
elementos desse conhecimento acumulado deverão aparecer na intervenção? Que instrumentos
devem ser mobilizados para tanto?
Estes são apenas alguns exemplos de questões que deveriam aparecer no cotidiano
profissional. Entretanto, percebe-se que a existência deste caráter educativo no trabalho
exercido pelos/as assistentes sociais não necessariamente tem sido reconhecida ou valorizada
no cotidiano de trabalho, realidade que precisa mudar, afinal, é com a reflexão sobre a qualidade
da própria intervenção que os/as profissionais terão melhores condições de se reconhecerem no
papel de educadores/as sociais e políticos/os.
Estamos sempre compartilhando informões sobre os serviços, políticas e direitos
sociais. Reforçamos e desconstruímos estereótipos e preconceitos. Com todas as limitações
próprias de um trabalho assalariado, ainda podemos estimular um processo reflexivo sobre uma
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dada situação e até mesmo fomentar entre os/as usuários/as dos serviços sociais o interesse pela
mobilização e organização coletiva, contribuindo um pouco para subverter a lógica de
tutelamento da vida privada dos/as trabalhadores/as.
Apesar disso, analisando as diretrizes curriculares da ABEPSS e alguns currículos
acamicos, nota-se a ausência de um debate consistente sobre o caráter educativo do trabalho
dos/as assistentes sociais. O que parece menos resultar de disputas entre perspectivas teóricas
distintas que viriam a negar a existência desse elemento constituinte do Serviço Social e mais
de um não estímulo por parte das Escolas e Faculdades a este debate. Seria esta uma realidade
generalizada da formação acadêmico-profissional no Brasil?
Claro que também não é de menor impacto a realidade imposta à atuação profissional,
com cobranças cotidianas que impedem ou dificultam uma formação continuada e um
planejamento das ações. o dúvidas de este ser um fator preponderante, haja vista que o
cenário econômico, político e social de fato não é o mais favorável para que os/as assistentes
sociais consigam exercer suas atribuições numa contra tendência à lógica dominante. Além dos
desafios impostos pela conjuntura, pelo rearranjo das funções do Estado e pela própria
configuração das políticas sociais, os/as profissionais encontram dificuldades em continuar sua
formação.
Soma-se a este quadro o distanciamento da profissão dos movimentos sociais. Não é
difícil inferir que o refluxo nas lutas sociais e a pouca interlocução do Serviço Social com os
movimentos organizados configura-se como um dos fatores que contribuiu para a profissão
secundarizar o debate sobre seu papel político de cunho educativo.
Considerações Finais
Em resumo, buscamos identificar como a formação do Serviço Social brasileiro, a partir
da proposta pedagógica de alguns cursos, tem tratado do caráter educativo do trabalho do/a
assistente social.
Com a leitura e alise dos currículos plenos de alguns cursos de Serviço Social
percebemos que os/as estudantes não receberiam tantos estímulos para refletirem sobre o
potencial educativo do seu trabalho durante a formação acadêmica. Sendo pouco explorado
na formação, a hipótese é a de que pode vir a ser um tema ainda mais negligenciado na
intervenção, afinal, é comum o relato de profissionais sobre as dificuldades nos mais diferentes
espos de trabalho. Bem como é cada vez mais comum pesquisas que compartilham os
desafios decorrentes das próprias condições de trabalho e exigências do mercado que
profissionais enfrentam no dia-a-dia.
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A oão por buscar elementos para análise nas diretrizes curriculares para os cursos de
Serviço Social e nos currículos plenos de alguns cursos, leva em consideração que tais
documentos, junto aos instrumentos legais como a Lei de Regulamentação da Profissão e o
Código de Ética, expressam um esforço coletivo por parte de profissionais, intelectuais e
entidades representativas do Serviço Social em atribuir uma dimensão política que orienta a
defesa da profissão, a qualidade dos serviços prestados à população usuária e a aliança com a
classe trabalhadora na construção de outra sociedade.
Todavia, como dito anteriormente, é provável que o levantamento e alise aqui
realizados cumpram mais o papel de levantar questionamentos sobre o trato teórico, prático e
político sobre a temática do caráter educativo no âmbito da formão acadêmica do que atestar
algo sobre a mesma que sirva como um rótulo universal para a formação acamica no país
como um todo.
Afinal, há muito a se fazer e, certamente, dois movimentos podem ser imprescindíveis:
garantir a formação permanente do/a profissional, pois, tão importante quanto estar
politicamente ao lado da classe trabalhadora, é colocar a serviço do seu projeto societário nosso
saber técnico (ainda que a tarefa educativa muito além, difundir e democratizar o saber é
também democratizar o poder) e vincular a prática educativa crítica às lutas sociais
desenvolvidas pelo conjunto da classe trabalhadora. Pautar-se pelo projeto da classe
trabalhadora é ainda a melhor garantia de coerir a direção dada à própria interveão e a defesa
dos direitos e aprofundamento da democracia.
Espera-se que as reflexões aqui desenvolvidas contribuam com o desenvolvimento de um
trabalho profissional de orientação crítica e que justamente por buscar ser crítico, sabe-se
condicionado.
Condicionado por buscar construir relações mais democráticas mesmo partindo, tantas
vezes, de relações autoritárias. Por buscar contribuir com a transformação social mesmo
sabendo não ser o “agente da transformão”. Por buscar atender aos interesses das classes
subalternas mesmo sabendo ter que mediar interesses antagônicos. Por buscar materializar o
projeto profissional crítico mesmo diante dos limites concretos impostos pela condição de
assalariamento. Isso porque o se trata, nesse caso, de cruzar os braços” diante de uma
realidade desfavorável, afinal, não ser capaz de transformar direta e imediatamente a realidade
o invalida uma ação mediata que pode trazer em alguma medida contribuir com a construção
de um projeto contra-hegemônico.
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