defender a tese de que na América Latina há uma superexploração da força de trabalho.
Além disso, importa ressaltar que, nos três mecanismos considerados, a
característica essencial está dada pelo fato de que são negadas ao trabalhador
as condições necessárias para repor o desgaste de sua força de trabalho: nos
dois primeiros casos, porque lhe é obrigado um dispêndio de força de trabalho
superior ao que deveria proporcionar normalmente, provocando assim seu
esgotamento prematuro; no último, porque lhe é retirada, inclusive, a
possibilidade de consumo do estritamente indispensável para conservar sua
força de trabalho em estado normal. Em termos capitalistas, esses mecanismos
[...] significam que o trabalho é remunerado abaixo de seu valor (MARINI,
2011, p. 149-50).
Para exemplificarmos essa situação de maior exploração do trabalhador latino-
americano, recorremos a Galeano (2019), quando este trata da estrutura da espoliação na
América Latina.
Para ganhar o que um operário francês recebe em uma hora, o brasileiro tem
que trabalhar, atualmente, dois dias e meio. Com pouco mais de dez horas de
serviço, o trabalhador norte-americano ganha, em equivalência, um mês de
trabalho do carioca. E, para receber um salário superior ao correspondente a
uma jornada de oito horas do operário do Rio de Janeiro, é suficiente que o
inglês e o alemão trabalhem menos de trinta minutos (GALEANO, 2019, p.
352).
Segundo Teles (2018), a combinação desses mecanismos de compensação da troca
desigual, citados por Marini (2011), perpetua o baixo nível de desenvolvimento da força de
trabalho na região e impacta na diversificação de suas atividades, limitando a capacidade dos
trabalhadores de satisfazer suas necessidades sociais e, consequentemente, ampliando os
padrões de desigualdade devido aos altos índices de concentração e centralização dos
excedentes socialmente produzidos.
Apenas quando o sistema capitalista mundial atinge certo grau de desenvolvimento é
que a América Latina inicia seu processo de industrialização, ainda assim, em países localizados
(Brasil, Argentina e México) e, a partir das bases criadas pela economia agroexportadora, de
modo que a indústria continuou a ser, nesses países, uma atividade subordinada à exportação
de bens primários. É, somente, a partir da crise capitalista internacional do início do século XX,
a qual limitou a acumulação baseada na produção para o mercado externo, que o eixo da
acumulação se desloca para a indústria, originando a economia industrial que prevalece na
região (MARINI, 2011). Por isso, verifica-se que,
O crescimento fabril da América Latina fora iluminado, em nosso século, de
fora. Não foi gerado por uma política planificada em direção ao
desenvolvimento nacional, nem coroou a maturação das forças produtivas,
nem resultou da explosão dos conflitos internos, já superados, entre os
latifundiários e um artesanato nacional, que morrera pouco depois de nascer.
A indústria latino-americana nasceu do próprio ventre do sistema
agroexportador, para dar resposta ao agudo desequilíbrio provocado pela