Depois do vírus
Revista Libertas, Juiz de Fora, v.
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substituíram "a razão pela insensatez", os neoliberais, por sua vez, jogando vidas e vidas nas
"águas gélidas do cálculo egoísta", parecem transformar "a praga em benção", vendo no caos
viral uma inédita oportunidade de resolver, finalmente, a questão da previdência social.
A humanidade está novamente diante de um desafio histórico, e só resta a ela, caso
queira dignamente se perpetuar, tratar de eliminar, de uma vez por todas, o espectro do fascismo,
o que só poderá ser feito se, conjuntamente ao esmagamento da extrema-direita e seus estultos
déspotas, também uma estaca política for cravada no peito dos neoliberais da nossa época.
Estes, sem pudores, recorreram àqueles, mostrando que em tempos de crise, e mais ainda de
pandemia, não pode ter lugar nem mesmo a sua liberal-democracia. Talvez engolindo sapos,
talvez não, ambos, neoliberais e fascistas, sabem para qual classe está destinada o caixão. Ainda
que velada, ainda que de máscara, a guerra está, por eles, declarada. Assim, para nós, a luta da
humanidade contra a pandemia só será eficiente se for um momento da derradeira luta contra
os que vivem da mais-valia.
Caberá a nós lançar luz sobre o que será potencialmente claro. Caberá a nós direcionar
nossa dedicação contra as forças da escuridão. Assim, quem sabe, os véus cairão e nítidos os
campos ficarão, ainda que muitos, pois já há tempos destituídos de coração, não enxergarão.
Nesses dias tenebrosos que se aproximam, nessa longa noite que se inicia, nem todos os
confinados serão pardos, como na felina noite de Hegel. A luta de classes assumirá, sem mais
delongas e sem mais rebuços, a forma de um combate entre os que defendem a vida e os que
defendem os lucros, entre os que de fato defendem o povo e os que são indiferentes à sorte do
outro. Agora, para evitarmos que, mais dia menos dia, nos vejamos diante do juízo final,
teremos que tomar partido na até então "eterna luta do bem contra o mal". Agora, afinal, tratar-
se-á, talvez, do início da última e decisiva luta dos explorados contra o capital. Toda
neutralidade não será senão a cumplicidade com o mais forte, não será senão o tácito apoio ao
lado dos que têm cheiro de morte. Já os do outro lado, os que nunca tiveram nada a perder,
salvo seus grilhões, agora têm mais do que um mundo a ganhar, têm um mundo a salvar. Na
angústia e na penúria, no compulsório trabalho ou no lar isolado, na companhia de um amor ou
fisicamente sem ninguém, muitos já estão, desde já, do lado do bem. "E você, de que lado está"?
O nosso apartamento social, a nossa obrigatória separação atual, produziu,
curiosamente, mais união, mais senso de coletividade e mais consciência política universal.
Salvar as vidas ou os lucros, este é o dilema que o país vive, e que muitos, antes absorvidos
pelo ramerrão da vida e politicamente inertes, decidiram responder. Há uma luta de ideias em