DOI 10.34019/1980-8518.2020.v20.30271
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Depois do vírus: onde você vai estar
quando isso passar?
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Felipe Abranches Demier
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RESUMO: O texto apresentado busca refletir sobre a nova conjuntura internacional imposta pela
pandemia da COVID-19, colocando o mundo inteiro em isolamento, em tempo de espera. Questiona
sobre o lugar em que cada um, individualmente e enquanto sujeitos coletivos, estará quando a pandemia
passar, qual sociedade iremos construir e como base em quais valores.
PALAVRAS-CHAVE: COVID-19; Corona vírus; Pandemia; Sociedade.
After the virus: where will you be when it over?
ABSTRACT: The text presented seeks to reflect on the new international situation imposed by the
COVID-19 pandemic, putting the whole world in isolation, in waiting time. Questions about the place
where each one, individually and as collective subjects, will be when the pandemic is over, which society
we will build and as a basis on which values.
KEYWORDS: COVID-19; Corona virus; Pandemic; Society.
Submetido em 17/04/2020
Aprovado em 05/05/2020
1
O conteúdo deste pequeno artigo ensaístico se encontra publicado de forma fragmentada em alguns textos em
minha coluna no Esquerda Online.
*
Possui graduação em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2004) e mestrado em História pela
Universidade Federal Fluminense (UFF) e doutorado na UFF (2012). No ano de 2013, realizou pós-doutorado na
Escola de Serviço Social da UFRJ, e, em 2014, pós-doutorado na Faculdade de Serviço Social da UERJ. Desde
2015, é professor do Departamento de Política Social (DPS) da Faculdade de Serviço Social (FSS) da UERJ.
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Mas as pessoas na sala de jantar
São ocupadas em nascer e morrer
(Caetano e Gil em “Panis et circenses”)
Todos tensos. O Brasil, e o mundo, em compasso de espera. A morte, e não o amor, é
quem está no ar. A humanidade hoje atende pelos nomes de angústia, medo e ansiedade. Alguns,
que não são poucos, atendem mesmo é pelo nome de pânico. Os piores filmes da tela quente,
as distopias mais assustadoras, ganharam a vida real e o jornal nacional. O livre-mercado e a
dita globalização atingiram seu ápice, e expuseram suas contradições a nu. não quem não
quer, ou melhor, quase ninguém pode realmente ver.
Aqueles que, outrora, prometiam paz e integração, hoje evidenciam que, de forma
epidêmica, só podem oferecer guerras e caos em proliferação, afinal, o mercado, o nosso Deus
mundano, não pode parar, e até no preço do álcool gel de se lucrar. Pensamos nos nossos
pais, nos nossos filhos, nos nossos amigos. Alguns, entretanto, pensam neles mesmos, pois
foi assim que foram educados nas últimas décadas pelos hobbesianos tardios dos telejornais,
que nos tomaram como meros consumidores, como ávidos empreendedores e imorais lobos, e
que agora nada têm a oferecer a nós todos, nem mesmo a reles promessa de dias melhores. Não
sequer uma mentira deles a nos confortar. Trump e Bolsonaro pedem pelos seus ao Deus
celestial, enquanto indiferentes se comportam face ao sofrimento dos que não dispõem de
capital, indiferentes em relação àqueles cuja categoria social não vai além de um reles mortal.
E, como mortais, muitos vão morrer mesmo. Sobretudo os mais velhos. Sobretudo os
aposentados. Sobretudo aqueles que trabalharam a vida inteira e agora não têm mais direito a
nada. Mas alguns poucos, claro, e normalmente claros, vão seguir acumulando. Vão seguir
lucrando. Impavidamente. Obscenamente. Mais do mesmo, que agora com milhares e
milhares de mortes, isso se tivermos sorte.
Em escala antes inimaginável, um vírus se prolifera pelos mesmos caminhos que foram
abertos para a livre circulação do capital e, justamente por isso, o capital não pode agora fechá-
los. A mão que faz a bomba faz o samba, disse algum bamba, mas, nesse caso, faz a bomba
mesmo. Os deuses da Bolsa estão todos mortos, mas seguem como cadáveres insepultos, como
zumbis pós-modernos, a nos perseguir. Para estancar a sangria, propõem mais sangue. Se eles
não têm pão, que comam brioche, disse, outrora, uma déspota em dissonância com seu povo.
Se eles não têm hospitais, não têm água potável, não têm sabão, não têm pão, não têm ovo, não
têm direitos, não têm licença-doença, não têm estabilidade no emprego, não têm nada, que
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morram, dizem os nossos déspotas neoliberais de hoje, para quem a terra é plana e menos vale
a vida que a grana.
a ciência, a pesquisa, a coletividade, o planejamento e um sistema de saúde público
e eficiente poderão nos salvar, e estes o farão se, ainda que temporariamente, se libertarem
das amarras do capital, da sua ganância e da sua vileza que hoje não mais erguem, mas apenas
destroem e infectam coisas belas. O mundo será outro depois dessa pandemia. E nós também
deveremos ser outros. O caminho dos justos não mais confundir-se-á com o caminho dos
ímpios. Estamos todos à prova. Disciplina é liberdade, e, claro, ter bondade é ter coragem, ainda
que as águas não andem por aqui lá muito limpas.
Vivos ou mortos, homens como Guedes já estão, para a história, absolutamente
enterrados. Já muitos de nós, contudo, vivos ou mortos por susto, bala, vício ou vírus,
poderemos, por meio da espécie, dogênero humano” de Feuerbach, viver para sempre, viver
sempre naqueles que virão depois de nós e que, mais dia menos dia, se lembrarão do nosso
exemplo, das nossa vidas, do que propusemos, dissemos e fizemos nesses dias sombrios, e
saberão que, uma hora ou outra, nessa vida real e de viés, terão que optar entre viver em um
mundo igualitário e fraterno ou se esfaquear para ter um copo d’água no inferno. Para passar
na prova da História, a humanidade terá que, mesmo que temporariamente, mesmo que apenas
até a próxima crise, mesmo que ao menos até a próxima mutação de um morcego asiático,
reprovar o capitalismo de modo enfático.
O privilégio de viver
A universalidade de um fenômeno, como a atual pandemia, ajuda a explicitar as
relações contraditórias entre as particularidades que constituem essa mesma universalidade.
Ainda que originariamente de natureza "biológica", a relação "coronavíus e corpo humano",
por se manifestar em uma totalidade concreta, a sociedade capitalista, adquire, ou melhor, é
"sobredeterminada" por, uma dimensão social. Tal dimensão é, em última análise, o estrutural
antagonismo material entre as classes sociais, que por sua vez se encontra condensado no
Estado capitalista, responsável pelas políticas públicas (sempre classistas) adotadas em meio à
crise. Também na luta contra o coronavírus se manifesta, e não poderia ser diferente, a luta de
classes.
Transportada, internacionalizada e propagada pelos setores burgueses e dios altos,
mais cosmopolitas e adoradores de aeroportos, a doença tende a se difundir inicialmente nos
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bairros mais abastados para, depois, vertiginosamente, se espalhar pelas regiões centrais e,
sobretudo, periféricas das grandes cidades, áreas estas habitadas e/ou frequentadas pelos
trabalhadores e setores populares em geral. E é justamente entre a classe trabalhadora, aquela
que não dispõe daquilo que Marx chamou certa vez de "o poder dos poderes" do nosso tempo,
o dinheiro, que os casos se tornarão mais volumosos, mais graves e, portanto, mais letais. Já os
grandes capitalistas, os homens de grande fortuna, conquanto se constituam também em seres
biologicamente humanos (apesar de em boa parte subjetivamente desumanizados e
desprovidos da virtude), possuem desproporcionalmente recursos, contatos e poderes que lhes
permitirão melhor se precaver e se tratar diante do caos viral que assola o país, e que torna o
caos social ainda mais caótico, para sermos pleonásticos. São eles os que têm, hoje mais do que
antes, o privilégio de viver.
Do outro lado, dos lados daqueles que vivem ou tentam viver da venda da sua força de
trabalho, é o medo, a angústia e a morte que se avizinham. Alguns trabalhadores, com contratos
formais tanto nas empresas privadas (como os operários da construção civil e os comerciários,
por exemplo), quanto no setor público (como os bancários e petroleiros, entre outros) estão
compulsoriamente indo ao trabalho, e sendo colocados em risco contra a sua vontade, contra a
sua vida. Já alguns trabalhadores precarizados ou informais temem que suas ausências possam
ocasionar suas demissões, enquanto outros destes sabem que se não trabalharem de dia não
terão o que comer à noite com suas famílias, e nem terão água, luz e gás em suas casas. Dentre
o conjunto da classe de trabalhadores, muitas mulheres, em função da paralisação das escolas
e creches, acabam tendo que ficar o dia inteiro no cuidado da prole, enquanto a juventude negra
tem que ao mesmo tempo se precaver perante o vírus biológico e seguir se protegendo do letal
vírus policial. Os trabalhadores mais empobrecidos, por sua vez, com menos acesso à saúde,
habitando lugares degradados e dormindo em moradias apinhadas e sem higiene adequada,
tornam-se ainda mais vulneráveis nesta pandemia, e é certamente entre eles que o vírus terá
maior proliferação e levará a mais mortes. Não obstante essas inúmeras particularidades no
interior da classe trabalhadora, marcada por sua heterogeneidade e complexidade, ela é um
sujeito social universal, posto que estruturado por oposição ao capital na vida material e
constituído subjetivamente por experiências comuns de luta contra ele. E é esta classe, como
um todo, a maior vítima potencial desta pandemia que começa a grassar no Brasil, favorecida
pelas posturas ultraneoliberais e neofascistas do governo Bolsonaro. Em uma palavra: existe
uma determinação classista na pandemia e, por isso, justamente por isso, é necessário travarmos
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uma luta, uma luta de classes, em meio a ela.
Faz-se necessário e urgente difundirmos nossas exigências e reivindicações, de modo
a pressionar o Estado capitalista para que aplique políticas públicas que atendam ao conjunto
da classe trabalhadora, o que significa, por óbvio, que tais políticas devem dar conta das
especificidades e particularidades dos diferentes estratos que a constituem. Em um momento
de crise aguda como este, o verdadeiro privilégio, o privilégio da vida, torna-se cada vez mais
um privilégio de classe, um privilégio do capital. De nada adianta agora uma retórica entre nós
que impute àqueles que podem trabalhar em casa uma condição de "privilegiado", nem atribuir
este labéu aos trabalhadores de certas empresas privadas, aos quais foi permitido fazer rodízio.
Igualmente infrutífero e divisionista é, corroborando a antiga e incontinente narrativa
neoliberal, taxar como "privilegiados" alguns servidores públicos que puderam suspender total
ou parcialmente suas atividades. É necessário lutarmos, todos e todas, para defender a saúde e
a vida do conjunto dos trabalhadores e trabalhadoras nesse momento, e isso deve ser feito com
a defesa de políticas que permitam tanto ao Sistema Único de Saúde (SUS) estar pronto para
recebê-los, como lhes proporcionem condições materiais para se alimentarem e viverem
dignamente. Fundamental também é exigirmos melhores condições e cuidados especiais para
aqueles que atuam nos serviços essenciais, em especial os trabalhadores e trabalhadoras da área
da Saúde.
O privilégio, convém lembrar, não está do lado de cá, e sim do lado de , do lado onde
o lucro vale mais que a vida. Os verdadeiros parasitas, os verdadeiros privilegiados, são eles,
são aqueles que desfrutam de modo exclusivo e egoísta daquilo que deveria ser de todos, mas
que no capitalismo ultraneoliberal e neofascista mostra-se cada vez mais como um privilégio,
o privilégio de viver.
O lado do bem
Na Segunda Guerra, a humanidade, com milhões de mortos e milhares de resistentes,
derrotou o fascismo, julgando tê-lo eliminado para todo o sempre. Décadas depois, no período
que se seguiu à crise de 2008, o mesmo fascismo, que muitos julgavam sepultado, foi conjurado
e trazido à vida carnal pelos adeptos do dogma neoliberal. Uma vez juntos, fascistas e
neoliberais arruinaram vidas, empilharam corpos e fizeram desprotegidas milhões e milhões de
pessoas que agora são alvo de uma pandemia a qual eles próprios, por meios variados, ajudam
a disseminar. Parafraseando Goethe e Marx, pode-se dizer que enquanto os fascistas sempre
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substituíram "a razão pela insensatez", os neoliberais, por sua vez, jogando vidas e vidas nas
"águas gélidas do cálculo egoísta", parecem transformar "a praga em benção", vendo no caos
viral uma inédita oportunidade de resolver, finalmente, a questão da previdência social.
A humanidade está novamente diante de um desafio histórico, e resta a ela, caso
queira dignamente se perpetuar, tratar de eliminar, de uma vez por todas, o espectro do fascismo,
o que só poderá ser feito se, conjuntamente ao esmagamento da extrema-direita e seus estultos
déspotas, também uma estaca política for cravada no peito dos neoliberais da nossa época.
Estes, sem pudores, recorreram àqueles, mostrando que em tempos de crise, e mais ainda de
pandemia, não pode ter lugar nem mesmo a sua liberal-democracia. Talvez engolindo sapos,
talvez o, ambos, neoliberais e fascistas, sabem para qual classe está destinada o caixão. Ainda
que velada, ainda que de máscara, a guerra está, por eles, declarada. Assim, para nós, a luta da
humanidade contra a pandemia será eficiente se for um momento da derradeira luta contra
os que vivem da mais-valia.
Caberá a nós lançar luz sobre o que será potencialmente claro. Caberá a nós direcionar
nossa dedicação contra as forças da escuridão. Assim, quem sabe, os véus cairão e nítidos os
campos ficarão, ainda que muitos, pois tempos destituídos de coração, não enxergarão.
Nesses dias tenebrosos que se aproximam, nessa longa noite que se inicia, nem todos os
confinados serão pardos, como na felina noite de Hegel. A luta de classes assumirá, sem mais
delongas e sem mais rebuços, a forma de um combate entre os que defendem a vida e os que
defendem os lucros, entre os que de fato defendem o povo e os que são indiferentes à sorte do
outro. Agora, para evitarmos que, mais dia menos dia, nos vejamos diante do juízo final,
teremos que tomar partido na até então "eterna luta do bem contra o mal". Agora, afinal, tratar-
se-á, talvez, do início da última e decisiva luta dos explorados contra o capital. Toda
neutralidade não será senão a cumplicidade com o mais forte, não será senão o tácito apoio ao
lado dos que têm cheiro de morte. os do outro lado, os que nunca tiveram nada a perder,
salvo seus grilhões, agora têm mais do que um mundo a ganhar, têm um mundo a salvar. Na
angústia e na penúria, no compulsório trabalho ou no lar isolado, na companhia de um amor ou
fisicamente sem ninguém, muitos estão, desde já, do lado do bem. "E você, de que lado está"?
O nosso apartamento social, a nossa obrigatória separação atual, produziu,
curiosamente, mais união, mais senso de coletividade e mais consciência política universal.
Salvar as vidas ou os lucros, este é o dilema que o país vive, e que muitos, antes absorvidos
pelo ramerrão da vida e politicamente inertes, decidiram responder. Há uma luta de ideias em
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curso, uma luta pelas consciências, uma luta de vida ou morte, e muitos nela tomam parte,
tomam partido, pois está ficando cada vez mais claro para os citadinos de todas as pólis que a
política de Estado sob o capitalismo contemporâneo pode levar não só à morte dos outros, não
a dos atuais escravos, mas também às nossas e a dos nossos amigos, parentes e queridos
cidadãos. As mortes que antes estavam, para muitos, apenas nas favelas, agora, sem delas
saírem, invadem ou ameaçam invadir também nossas janelas.
Muitos estão decidindo se engajar de forma mais efetiva, mais ativa, mais decisiva na
luta política. As campanhas de solidariedade são fundamentais, as vaquinhas online, essenciais,
as conversas com amigos e conhecidos, imprescindíveis no tempo presente. No entanto, está
cada vez mais evidente que a pandemia apenas agudizou nossa agonia, e que ela não vai cessar
enquanto houver neofascismo e neoliberalismo. Estes vieram ao mundo para lucrar e matar, e
colocaram em risco o próprio mundo. Nossa tarefa é, nada mais nada menos, a de salvá-lo.
Seguirmos depois da pandemia como antes, seguirmos nas nossas questões comezinhas no reino
de Abrantes, seguirmos com nossas ambições profissionais como se estas fossem vitais, será
apenas uma forma de deixá-lo morrer pelas mãos dos outros, e as lamentações críticas não
servirão senão para amainar a nossa culpa na hora de dormir. O mundo será outro depois da
pandemia, é certo, mas depende de nós que novo mundo ele será, se melhor ou ainda pior do
que o atual.
Causada por um vírus, a interrupção nas engrenagens da quina fez cair o véu da
naturalidade do seu funcionamento, mostrando que ela, a máquina, a sociabilidade burguesa, a
submissão da vida à acumulação capitalista, é movida à política, e que é pela política,
portanto, que ela pode ser parada. Se a política sempre esteve, como lembrou um dramaturgo
alemão de outrora, no preço do pão e do leite, agora ela está também no número de mortos que
uma mutação viral nas recônditas cavernas florestais pode causar nos grandes centros urbanos
do mundo. A rejeição da política nos levou, no Brasil e alhures, ao dramático momento atual, e
ela está cobrando um alto preço letal, calculado em caixões e em pás de cal. Não adianta
"votar certo", não basta "fazer a sua parte" sozinho. Manifestações e atuações coletivas são
indispensáveis. Uma ciência humanitária será fundamental, e uma teoria social crítica,
essencial. Uma arte coletiva que reflita as contradições de um mundo à beira do caos é e será,
sem dúvida, uma arma importante na luta pela sua salvação.
Contudo, as vidas e a dignidade de milhões não serão preservadas, queiramos ou não,
apenas por posts de esquerda, por votos corretos a cada dois anos, por peças de teatro
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comprometidas, pelo humor crítico, por grupos acadêmicos de estudos, por campanhas salariais
e por teses de doutorado marxistas, embora não as possam ser sem todos estes. Somente uma
organização política coletiva, capaz de sintetizar o melhor da produção cultural e científica
universal, tornando-as efetivamente um instrumento para ação de milhões de trabalhadores e
oprimidos pode proteger a humanidade dos seus próprios perigos, pode livrar-nos a todos dos
pecados do mundo, e dar-nos, um dia, a paz. Se hoje alguns poucos vivem para militar, depois
da pandemia, milhares terão que militar para que milhões possam viver. Onde você vai estar
quando isso passar?
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