DOI 10.34019/1980-8518.2023.v23.41306  
Cooperação internacional em Serviço Social:  
uma revisão de literatura  
International cooperation in Social Work: a literature review  
Maria Lúcia Teixeira Garcia*  
Gary Spolander**  
Resumo: Inseridas em uma experiência de  
cooperação internacional, nos propomos, neste  
artigo, a partir de revisão de literatura, refletir  
sobre o tema cooperação internacional no  
Serviço Social. Para isso, realizamos  
levantamento utilizando dois descritores:  
cooperação internacional em pesquisa e Serviço  
Social e cooperação internacional em pesquisa  
em Serviço Social (em inglês e português) nas  
bases de dados Scopus, Periódicos Capes e  
Google Acadêmico. Foram selecionados 16  
artigos sem repetição. Exploramos as variáveis  
país de procedência, periódico utilizado e foco  
dos textos. Além disso, verificamos os relatórios  
de avaliação trienal (2004, 2007, 2010, 2013) e  
quadrienal da Capes (2017 e 2021). Os textos  
selecionados são majoritariamente em língua  
inglesa e com autores procedentes dos países  
centrais (Estados Unidos, Alemanha e Reino  
Unido – 39%). O Brasil respondeu por 10%. O  
artigo enfatizou a internacionalização como um  
processo que faz parte do Serviço Social.  
Entretanto, as relações assimétricas entre os  
países centrais e periféricos repercute sobre o  
fluxo desse processo, que engloba desde a  
delimitação do foco das pesquisas até as  
relações no interior das equipes, sendo mister  
adensarmos o debate no Brasil.  
Abstract: Inserted in an experience of  
international cooperation, we propose in this  
article, based on a literature review, to reflect on  
the theme of international cooperation in Social  
Work. We carried out a survey using 2  
descriptors: international cooperation in  
research and Social Work and international  
cooperation in research in Social Work (in  
English and Portuguese) in Scopus, Periódicos  
Capes and Google academic databases. 16  
articles without repetition were selected. We  
explored the variables country of origin, journal  
used and focus of the texts. In addition, we  
verified how Capes' triennial (2004, 2007,  
2010, 2013) and quadrennial (2017 and 2021)  
evaluation reports. The selected texts are mostly  
in English and with authors from central  
countries (United States, Germany and United  
Kingdom – 39%). Brazil accounted for 10%  
(with north-south partnership productions and 1  
by Brazilian authors). The article emphasized  
internationalization as a process that is part of  
Social Work. However, the asymmetrical  
relationships between the central and peripheral  
countries have an impact on the flow of this  
process, which ranges from the delimitation of  
the research focus to the relationships within the  
teams. It is essential that we deepen the debate  
in Brazil.  
Palavras-chaves: Internacionalização do  
Serviço Social; Pesquisa internacional; Serviço  
Social.  
Keywords: Internationalisation of Social Work;  
International research; Social Work.  
* Docente do Departamento de Serviço Social e do Programa de Pós-Graduação em Política Social da Universidade  
Federal do Espírito Santo (UFES). Doutora em Psicologia Social (USP) e Pós-doutora em Política Social (UFES).  
Bolsista em PQ do CNPq. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2672-9310  
** Doutor em Serviço Social. Professor do Departamento de Serviço Social da Robert Gordon University (Escócia).  
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 23, n.1, p. 49-69, jan./jun. 2023. ISSN 1980-8518  
Maria Lúcia Teixeira Garcia; Gary Spolander  
Recebido em: 28/03/2023  
Aprovado em: 04/06/2023  
Introdução  
“I think you travel to search and you come back home to find yourself there1.”  
(Chimamanda Ngozi Adichie)  
Com esta frase de Chimamanda, começamos este texto abordando a cooperação  
internacional. Como um tema atual e relevante, a cooperação internacional traz em si múltiplas  
dimensões. Primeiro, o processo de incentivo às pesquisas em cooperação internacional e o  
foco na estruturação de políticas de internacionalização nas instituições de ensino superior (IES)  
no Brasil são relativamente novos (CARVALHO; ARAÚJO, 2020). Por outro lado, a  
interlocução entre pesquisadores é constitutiva da própria natureza da Ciência e de seu processo  
de investigação, e isso não é recente2. A partilha das descobertas é condição para novas  
investigações. Em poucas palavras, a internacionalização pode ser vista como parte de um  
movimento próprio das atividades de ensino e pesquisa e, portanto, como uma tendência que se  
forma dentro do ambiente de investigação e formação em nível superior (LEHER, 2018).  
Esse processo segue um fluxo ao longo das últimas 40 décadas. Na Conferência Mundial  
sobre o Ensino Superior da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a  
Cultura (Unesco), em 1998, a cooperação é definida como via para promoção do avanço da  
educação superior em todo o mundo, por meio da constituição de redes e intercâmbio de  
experiências. Se a constatação de 1998 é da necessidade de avanço da educação superior, vemos  
em 2010 que as desigualdades entre os países permanecem, pois a proporção da população com  
15 ou mais anos que tem ensino superior completo é muito pequena (Mapa 1) – em muitos dos  
países periféricos, é menos de 1% (BARRO; LEE, 2021). Assim, as possibilidades de  
cooperação e as relações desiguais nesse processo são parte constitutiva do trabalho conjunto  
internacional.  
50  
D
o
S
S
I
ê
1 Tradução livre: Eu acho que você viaja para buscar algo e regressa a casa para se encontrar lá.  
2
Dados do Banco Mundial apontam que o número de pesquisadores envolvidos em atividades de pesquisa em  
todo o mundo aumentou em quase 1,5 vezes de 1996 (788 por 1 milhão) a 2015 (1.151 por 1 milhão) (BANCO  
MUNDIAL, 2018).  
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 23, n.1, p. 49-69, jan./jun. 2023. ISSN 1980-8518  
Cooperação internacional em Serviço Social: uma revisão de literatura  
Mapa 1 – Proporção da população com 15 ou mais anos com ensino superior completo em 2010.  
Fonte: Barro e Lee (2021).  
A despeito disso, a Unesco (1998) defendia que uma via para tornar o conhecimento  
acessível a todos se daria por meio da cooperação internacional – sem questionar o tipo de  
educação que se ofertava e o que a cooperação internacional difundiria. Enfatizava o fomento  
da cooperação Norte-Sul com vistas a se obter o financiamento necessário para fortalecer a  
educação superior nos países em desenvolvimento” (UNESCO, 1998). Ou seja, esse debate  
ocorre em um contexto marcado por crises financeiras cíclicas (NETTO, 2012) e por relações  
colonizadas.  
51  
Hobsbawn (1994) nos lembra que, no início da de 1990, o mundo capitalista viu-se com  
taxas de desemprego em massa, depressões cíclicas severas, contraposição cada vez maior entre  
ricos e pobres.  
D
o
S
S
I
À medida que a década de 1980 passava para a de 1990, foi ficando evidente  
que a crise mundial não era geral apenas no sentido econômico, mas também  
no político [...] Entre 1990 e 1993, poucas tentativas se fizeram de negar que  
mesmo o mundo capitalista desenvolvido estava em depressão. Ninguém  
afirmava a sério saber o que fazer a respeito, além de esperar que aquilo  
passasse (HOBSBAWN, 1994, p. 17-47).  
É mister lembrarmos que, em termos educacionais, as décadas de 1980 e 1990 foram  
marcadas pela eclosão de um movimento de reformas educacionais por todo o mundo,  
instaurando aquilo que Hargreaves, Earl e Ryan (2001) denominam de ‘nova ortodoxia oficial’,  
um movimento que é caracterizado pela padronização em torno de políticas de avaliação, de  
financiamento, de formação de professores e de currículo, e a visão de desenvolvimento  
preconizada por grandes organismos financeiros internacionais como o Banco Mundial  
(GARCIA; FERREIRA, 2013).  
ê
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 23, n.1, p. 49-69, jan./jun. 2023. ISSN 1980-8518  
Maria Lúcia Teixeira Garcia; Gary Spolander  
No Brasil, a década de 1990 traz a internacionalização das instituições de ensino  
superior (IES) como um componente da educação superior. A internacionalização, nos Boletins  
da Capes, aparece pela primeira vez em 1994 com a exigência de “nível internacional”, com  
referência à produção intelectual de um curso de conceito A. Naquela época, o “nível  
internacional” foi a forma encontrada para diferenciar os cursos de pós-graduação, tendo em  
vista que um grande número desses havia atingido o nível mais alto da escala de avaliação. E o  
termo “inserção internacional” aparece no volume 6, número 2, do InfoCAPES de 1998  
(CAPES, 1998). O termo aparece relacionado à discussão sobre a avaliação da produção  
intelectual, mais especificamente sobre a diferença entre o que é produção de nível  
internacional e o que é produção de circulação internacional. Era necessário, no discurso  
da agência, “[…] estabelecer parâmetros para medir a inserção internacional dos programas”  
(FIORIN, 1998, p. 35).  
A inserção da Capes do termo internacionalização como indicador (para diferenciar os  
programas de pós-graduação e o discurso da Unesco de cooperação como via de  
desenvolvimento) ocorre em um contexto de crise. Ao mesmo tempo, é mister entendermos que  
a cooperação internacional é um processo contraditório, que serve como  
[...] instrumento de conformismo científico-tecnológico, expressão  
contemporânea da sociabilidade humana, [que] ao mesmo tempo em que  
veicula ideologias reprodutoras das relações sociais dominantes, veicula  
também ideologias antagônicas e contraditórias [...] ao mesmo tempo  
reprodutora das relações sociais de produção capitalista e espaço de luta de  
classes, para superar estas relações (NEVES, 2002, p. 23-24, grifos nossos).  
52  
Ou seja, reafirmamos aqui nossa recusa a uma educação superior na legitimação do  
padrão de poder colonial (QUIJANO, 2005) e reconhecemos as assimetrias existentes na arena  
nacional e internacional. Assim, faz-se necessária a politização do debate sobre a educação  
superior, bem como reconhecer que esse debate sobre a internacionalização na pós-graduação  
é eivado de contradições, envolvendo múltiplos sujeitos e instituições situados em tempos e  
espaços distintos e desiguais. Embora haja um modus operandi global de gestão das políticas  
públicas, o poder de decisão está nas mãos de poucos que, no geral, habitam os países centrais.  
Em termos europeus, o processo de Bolonha3 (1999) e sua padronização do ensino  
superior trouxe a mobilidade de funcionários, estudantes e egressos como um de seus elementos  
centrais4, desenvolvendo a cooperação internacional entre indivíduos e instituições, como fator  
D
o
S
S
I
ê
3 O Processo de Bolonha tem seu marco inicial em 1998, quando ocorre um encontro de ministros da Educação de  
quatro países europeus (Alemanha, França, Itália e Reino Unido). E, em 1999, um novo encontro, então, com 29  
países, resulta na Declaração de Bolonha, com o objetivo explícito de construir um espaço europeu de ensino  
superior e conduzir a uma Europa da ciência e do conhecimento.  
4 Destacado pelos ministros responsáveis pelo ensino superior dos países participantes no Processo de Bolonha na  
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 23, n.1, p. 49-69, jan./jun. 2023. ISSN 1980-8518  
Cooperação internacional em Serviço Social: uma revisão de literatura  
que contribuiria para a qualidade do ensino superior e da pesquisa (PATRICIO; HARDEN,  
2010; WIELEWICKI; OLIVEIRA, 2010). Bolonha traz a premissa de criação de uma  
infraestrutura para um mercado global. Anos após, a Conferência Regional do Ensino Superior  
da América Latina e do Caribe (de 2008) e a II a Conferência Mundial de Educação Superior  
(CMES) (de 2009) estabeleceram que a internacionalização seria essencial para reduzir as  
diferenças entre os países. Mas precisamos questionar a internacionalização para que e para  
quem.  
[...] a geoeconomia política do conhecimento configura verdadeiros centros  
de atração, a partir dos quais o grosso da produção científica e tecnológica  
vem gravitando. Os EUA são a maior potência científica e tecnológica, o  
maior centro de atração de ‘cérebros’ e de captação de recursos por meio de  
taxas estudantis; a China é a principal potência emergente, assumiu a liderança  
em áreas tecnológicas sensíveis e implementou agressiva política de formação  
de novos cientistas nos principais centros e laboratórios do mundo para  
alcançar níveis ainda maiores de soberania tecnológica; a Alemanha, Grã-  
Bretanha e França seguem como potências científicas e tecnológicas em  
diversas áreas industriais estratégicas (LEHER; SANTOS, 2023, no prelo,  
grifos nossos).  
Ou seja, as diferenças entre os países em termos do desenvolvimento mascaram também  
outras dimensões: ao se privilegiar uma agenda de formação superior e de pesquisa em áreas  
de conhecimento relacionadas aos ramos produtivos preponderantes (como vemos no Brasil  
com a grande área vinculada ao agronegócio), reafirmam-se as desigualdades históricas entre  
as áreas de conhecimento (RIBEIRO et al., 2020).  
53  
Há, ainda, que considerarmos algumas outras questões. Por exemplo, entre 1990 e 2016,  
os pesquisadores do Reino Unido estiveram frequentemente envolvidos em pesquisas europeias  
de políticas sociais comparativas (que incluíam também o serviço social), com financiamento  
da União Europeia. Com a saída do Reino Unido da União Europeia, o aporte de financiamento  
cessou e isso impactou a manutenção de cooperações internacionais. Há ainda aspectos  
vinculados a cooperações de longa duração que requerem financiamento que transcendam um  
único ciclo de financiamento. Para o ensino superior e a pesquisa, as perdas foram além do  
recurso, colocaram o Reino Unido menos atrativo para pesquisadores e estudantes europeus,  
D
o
S
S
I
ê
além da perda de acadêmicos que estão deixando o Reino Unido (FAZACKERLEY, 2023).  
Por outro lado, as relações de solidariedade nacional e internacional ocuparão um lugar de  
destaque na agenda das universidades. São lutas complexas que reafirmam o compromisso das  
universidades públicas, gratuitas e laicas com o bem-viver dos povos (LEHER, 2008). Além disso,  
5ª Conferência Ministerial de Bolonha (2007).  
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 23, n.1, p. 49-69, jan./jun. 2023. ISSN 1980-8518  
Maria Lúcia Teixeira Garcia; Gary Spolander  
defendemos que a cooperação internacional também precisa ser pensada como um processo no qual  
as/os pesquisadoras/es se envolvem para serem melhores profissionais e seres humanos.  
Assim, como um tema da agenda de pesquisa, apresenta debates que oscilam entre  
aspectos relacionais (BAGSHAW; LEPP; ZORN, 2007), a importância da cooperação  
internacional e a organização internacional da categoria (KNIEPHOFF-KNEBEL; SEIBEL,  
2008), debates específicos (como no campo da saúde) (ABELL; RUTLEDGE, 2009), de  
questões geracionais (RØRSTAD; AKSNES; PIRO, 2021) e de gênero5 (AKSNES, PIRO,  
RØRSTAD, 2019), e, por fim, questões vinculadas à política de educação superior (GARCIA  
et al., 2021). Acrescentaríamos aqui a pressão das agências de fomento à pesquisa e pós-  
graduação para a internacionalização da ciência no Brasil, condição para a mudança na posição  
do país nos rankings internacionais de produção científica. E isto fica claro no relatório  
“Panorama da Ciência Brasileira 2015-2020” do Observatório em Ciência, Tecnologia e  
Inovação (OCTI) do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE, 2021). Esse relatório  
indicou que cerca de um terço da produção de artigos científicos de autores vinculados a  
instituições brasileiras é realizado por meio de colaboração internacional (Gráfico 1).  
Gráfico 1 – Distribuição percentual da participação de países na colaboração internacional dos artigos  
com a participação de, ao menos, um autor vinculado a uma instituição brasileira.  
54  
D
o
S
S
I
ê
Fonte: CGEE (2021).  
Outros dados indicaram que em 2021, em termos de cooperação educacional e  
5 Vabø (2012) constatou que a participação entre pesquisadores homens e mulheres se expressa de forma diferente  
nos Estados Unidos apenas 28% das acadêmicas do sexo feminino e 37% dos acadêmicos do sexo masculino (de  
todos os níveis) relatam colaborações de pesquisa com colegas internacionais; no Reino Unido, 69% dos  
acadêmicos masculinos e 53% das acadêmicas femininas relatam tal colaboração; na Alemanha, as proporções são  
de 52% para homens e 43% para mulheres acadêmicas.  
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 23, n.1, p. 49-69, jan./jun. 2023. ISSN 1980-8518  
Cooperação internacional em Serviço Social: uma revisão de literatura  
mobilidade de alunos brasileiros para instituições de ensino superior estrangeiras com apoio do  
governo brasileiro, aproximadamente 52% foram para França e Estados Unidos. E, em termos  
de atração de alunos/as estrangeiros/as, 30% eram de Cabo Verde, Benim ou Moçambique. Ou  
seja, os dados exemplificam barreiras como o idioma para alunos e docentes envolvidos em  
programas de intercâmbio ou econômicas (ou dependentes de financiamento estrangeiro)  
(ADEFILA et al., 2023[no prelo]).  
Em relação à mobilidade de professores brasileiros para o exterior em 2021, os destinos  
mais frequentes foram Estados Unidos, Alemanha, Espanha e França. Em termos de publicação  
de brasileiros em colaboração internacional, esta cresceu em média 7% ao ano na última década.  
Em 2021, os impactos das publicações colaborativas com Japão, China e Índia foram os maiores  
entre os 20 principais países parceiros do Brasil. Por outro lado, os dados revelaram uma  
estagnação relativa do impacto da produção científica do Brasil desde 2016 (COBRADI, 2022).  
E Luiz Davidovich (presidente da Academia Brasileira de Ciências) nos lembrava em 2022 que  
isso é resultado do descaso do governo federal com a ciência e que isto repercute sobre essa  
estagnação. Esse sistemático desfinanciamento da educação superior repercute sobre as fontes  
de recursos para apoio ao processo de internacionalização. Os recursos alocados para a  
internacionalização foram reduzidos significativamente pelo governo Bolsonaro – em 2021, o  
orçamento total da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior)  
foi 73,4% menor do que em 2015. Em um levantamento sobre mobilidade estudantil, Robles e  
Bhandari (2017) relataram falta de recursos financeiros para iniciativas internacionais. Assim,  
tomando o Brasil como exemplo, se por um lado as universidades brasileiras sofrem ano a ano  
com orçamento reduzido, por outro são pressionadas a aumentarem a pesquisa internacional e  
o intercâmbio de alunos e de docentes estrangeiros (TUMENAS, 2021). Esses aspectos  
comprometem o desenvolvimento da internacionalização nas IES brasileiras (ARINOLA et al.,  
2023 [no prelo]).  
55  
D
o
S
S
I
Partimos do pressuposto de que a cooperação se constitui em uma associação entre  
pesquisadoras/es em uma relação marcada por diálogo e tomada de decisões conjuntas,  
resultando em definição conjunta de projetos e a partilha de custos. Mas também entendemos  
que há múltiplas dimensões que perpassam os processos reais de internacionalização, inserindo-  
se em uma realidade prenhe de contradições que perpassam o processo que equipes de  
pesquisadores, no cumprimento da sua atividade de pesquisa e formação, enfrentam para  
construir e conduzir uma agenda de trabalho em comum com colegas de diversos países. Ou  
seja, vivenciamos experiências de trabalho acadêmico e internacionalização, contradições  
similares, porém não necessariamente idênticas (GARCIA et al., 2021).  
ê
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 23, n.1, p. 49-69, jan./jun. 2023. ISSN 1980-8518  
Maria Lúcia Teixeira Garcia; Gary Spolander  
Com essas questões em mente, e inseridas em uma experiência de cooperação internacional, nos  
propomos, neste artigo, a partir de revisão de literatura, refletir sobre o tema cooperação internacional  
no Serviço Social.  
Para tanto, realizamos levantamento utilizando dois descritores: cooperação internacional em  
pesquisa e Serviço Social e cooperação internacional em pesquisa em Serviço Social (em inglês e  
português), nas bases de dados Scopus, nos Periódicos Capes e no Google Acadêmico. Da base Scopus  
(textos em inglês) foram listados 46 artigos (sem repetição), e destes, 6 tratavam sobre o Serviço Social.  
Na base Periódicos Capes foram listados foram listados 3.687 artigos; destes, 7 (sem repetição) tratavam  
do tópico em tela. Por fim, no Google Acadêmico, identificamos 3 textos sem repetição. Como critérios  
de inclusão, selecionamos textos que tratassem de cooperação internacional envolvendo o Serviço  
Social. Foram selecionados 16 artigos sem repetição. Exploramos as seguintes variáveis: país de  
procedência, periódico utilizado e foco dos textos. Nossa pergunta de pesquisa foi: o que o Serviço  
Social ao redor do mundo escreve sobre cooperação científica no Serviço Social? Que tópicos são  
privilegiados nesse debate? Além disso,verificamos como os relatórios de avaliação dos programas de  
pós-graduação da área de Serviço Social na Capes (trienais 2004, 2007, 2010 e 2013; e quadrieais 2017  
e 2021) apresentam dados sobre a cooperação internacional na área.  
Este texto, além desta introdução, está dividido em duas seções. Primeiro vamos refletir  
sobre a cooperação internacional e o que as/os autores tratam do tema, para, na segunda seção,  
explorar o debate no Serviço Social. Também destacaremos nesta seção questões sobre  
cooperação internacional a partir de dados do Serviço Social no Brasil.  
56  
Cooperação internacional em Serviço Social: um fino equilíbrio desequilibrado  
Nosso ponto de partida nesta reflexão parte da vivência acumulada em cooperações  
Norte-Sul como também cooperações Sul-Sul. E, neste percurso, fomos constatando que  
sentíamos falta de textos que descrevessem os processos de cooperação. Isso foi parte dos textos  
que escremos sobre a temática (SPOLANDER et al., 2014; SPOLANDER; GARCIA;  
PENALVA, 2016; GARCIA et al., 2022a,b; GARCIA et al., 2021; GARCIA; FERREIRA,  
2023). Ou seja, vamos falar aqui como esse processo de pesquisa em cooperação internacional  
foi constituindo-se para nós, dialogando com os textos e com as lições que acumulamos.  
Relatos de cooperação em pesquisa em serviço social na Europa, como os de van Ewijk  
(2011), identificam questões que desafiam os processos de cooperação internacional, tais como:  
encontrar um equilíbrio entre dissenso e consenso no interior da equipe; garantir uma adequada  
implementação e valorização dos resultados da investigação; reconhecer, respeitar e lidar com  
os diferentes papéis dos investigadores (DEHERTOGH; DRIESSENS; DIERCKX, 2011).  
Outro aspecto também é o desenvolvimento de confiança entre os membros da equipe,  
D
o
S
S
I
ê
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 23, n.1, p. 49-69, jan./jun. 2023. ISSN 1980-8518  
Cooperação internacional em Serviço Social: uma revisão de literatura  
assumindo postura tolerante e respeitosa com os outros (opiniões e perspectivas) (ENVULADU  
et al., 2022). Os autores acrescentam que, muitas vezes, as parcerias não têm conhecimento  
prévio de todas as pessoas das equipes. Quando ingressamos nessa cooperação, não  
conhecíamos seus membros e o processo de estranhamento foi quase instantâneo. Esse  
estranhamento era de várias ordens: dificuldades de comunicação, divergências teóricas e  
direcionamentos definidos pela agência financiadora do projeto. Nossas dificuldades se  
encontravam com o relatado por Engelbrecht et al. (2014), que referem que, apesar dos  
benefícios, esse é um processo crivado por vários desafios, tais como: obstáculos ao  
financiamento e dificuldades de comunicação. Outro aspecto é o foco nos produtos da  
cooperação, e não no processo dessas cooperações internacionais de pesquisa. Além disso,  
formar uma equipe de pesquisa não garante os resultados de pesquisa desejados – o processo  
de gerenciamento da pesquisa é igualmente importante.  
Acrescentaríamos aqui outro aspecto pouco destacado nos artigos: as aventuras e  
desventuras vividas por pesquisadoras/es em longas viagens e períodos fora de casa e do  
trabalho em suas universidades (só quem se aventura sabe do que estamos falando). Ou seja, os  
artigos sobre pesquisa em cooperação internacional encobrem os desafios do processo,  
preferindo discutir os resultados. Há também questões de desigualdade em termos de poder. Por  
exemplo, pesquisadores africanos e brasileiros têm dificuldades para acessar o financiamento  
da pesquisa, ou há desigualdades no aporte de recursos entre as agências de fomento (vemos  
isso nos editais do CNPq e da União Europeia, por exemplo).  
57  
Em termos metodológicos, as pesquisas participativas e suas variantes requerem um  
esforço para compreender e desvendar profundamente desigualdades de poder enraizadas  
embutidas nas relações internas/externas (STOECKER, 1999). É também um processo que  
requer a construção coletiva do objeto de estudo a ser pesquisado. O tempo aqui é vital para o  
desenho metodológico; tempo que muitos pesquisadores não têm disponível. Essas assimetrias  
se expressam ainda por agendas muitas vezes determinadas pelas agências de financiamento e  
por relações verticalizadas no processo de tomada de decisão.  
D
o
S
S
I
ê
Formulações passo a passo aplicando princípios-chave, começando com uma  
compreensão do contexto, abrangendo o recrutamento e a utilização de apoio e demonstrando  
compromisso com o envolvimento sustentado e a disseminação de respostas programáticas  
culturalmente relevantes, é uma dinâmica que requer tempo e envolvimento das/os  
pesquisadoras/es, nem sempre possível considerando as condições de trabalho atuais as  
universidades.  
Shaw (2019, 2020), em sua experiência em uma rede de pesquisa internacional, reflete  
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 23, n.1, p. 49-69, jan./jun. 2023. ISSN 1980-8518  
Maria Lúcia Teixeira Garcia; Gary Spolander  
que a permanência desta se deu porque continha uma diversidade mutuamente crítica. Por outro  
lado, este mesmo autor chama a atenção das desigualdades nesse campo, entre elas, as restrições  
em termos nacionais. Cerca de 95 a 98 por cento das citações em periódicos dos EUA por  
estudiosos dos EUA são de outros estudos dos EUA (SHAW, 2014). Ou seja, a definição dos  
veículos de comunicação científica também expressam assimetrias nesse campo.  
Para esse autor, o Serviço Social precisa reconhecer que a pesquisa internacionalmente  
deve assumir diversas formas, e não se restringir a um modelo padrão qualquer, à medida que  
a pesquisa em um scopo internacional permite a investigadores e profissionais compartilhem  
conhecimentos e recursos.  
Por outro lado, o desafio de interpretar o Serviço Social a partir de uma perspectiva  
crítica e radical em um contexto internacional requer uma compreensão das diferenças presentes  
na profissão nos diferentes países (e suas tradições) (SPOLANDER et al., 2014). É mister  
também compreender a formação social, econômica e política e o estágio de desenvolvimento  
na dinâmica capitalista de cada país envolvido na cooperação.  
Assim, a seguir, debateremos a questão da cooperação internacional no Serviço Social.  
A cooperação internacional no Serviço Social de dentro para fora e de fora para  
dentro  
58  
A superação de fronteiras tem sido um elemento central no desenvolvimento do Serviço  
Social no mundo, desde seus primórdios no final do século XIX e início do século XX  
(KNIEPHOFF-KNEBEL; SEIBEL, 2008). Essas autoras destacam dois aspectos: o papel  
feminino nesse processo e a influência que teve no desenvolvimento de organizações sociais  
internacionais. Em termos de perfil das/os assistentes sociais, a questão de gênero se faz  
presente: nos Estados Unidos 83% dos assistentes sociais são sexo feminino (COUNCIL ON  
SOCIAL WORK EDUCATION, 2017); no Reino Unido, em torno de 84% (BASW, 2016); e  
no Brasil são um pouco mais de 92% (CFESS, 2022).  
D
o
S
S
I
ê
A coooperação é intrínseca ao Serviço Social (ABELL; RUTLEDGE, 2009) no  
processo de pesquisa e intervenção, “[...] compartilhando recursos, poder e autoridade”  
(GRAHAM; BARTER, 1999, p. 7).  
O crescimento da cooperação internacional no Serviço Social (DAS; ANAND, 2014;  
JONES; TRUELL, 2012; KREITZER et al., 2012; TAYLOR; SHARLAND, 2015) destaca a  
importância e os esforços que estão sendo feitos por pesquisadoras/es ao redor do mundo. Há  
ainda pressão derivada da Agenda Global (JONES; TRUELL, 2012). Para esses autores, a  
conjuntura marcada por  
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 23, n.1, p. 49-69, jan./jun. 2023. ISSN 1980-8518