Mortes Violentas Intencionais dos/as negros/as brasileiros/as: ensaios sobre seus determinantes
“Guerra às drogas” e violência policial: Potências de Mortes Violentas Intencionais
dos/as negros/as
Em todo o Brasil os/as negros/as têm 2,8 mais chances de serem mortos/as por
intervenção policial, a veracidade dessa informação relaciona-se intimamente com justificativas
frágeis e inconsistentes da “guerra às drogas”, que, no fim e ao cabo, representam apenas
discursos covardes e medíocres para não assumir a real intencionalidade dessa “guerra” que é:
matar negros/as, fundamentada no racismo-classista. A “guerra às drogas” é uma caricatura
criada pelo Estado e pela polícia para justificar e validar as MVI’s dos/as negros/as.
Infelizmente são ações que, visando fundamentá-las e autenticá-las, estão produzindo efeitos
positivos, ao menos para os segmentos raciais condescendentes com essa realidade disfarçada
sobre o manto da política de proibição de drogas, que tem em argumentos de proteção à saúde
pública “validações”, seja pela propagação realizada pela mídia tradicional, pelas elites brancas
e racistas ou por demais apoiadores.
Foi partir dos anos 1960, que o discurso e as práticas repressivas em relação
às drogas assumem um caráter belicista. Em 1961, a Convenção Única sobre
Entorpecentes da ONU – defendida, patrocinada e sediada pelos Estados
Unidos e ratificada por cerca de cem países – lançou as bases legais da política
internacional de “guerra às drogas” vigente até os dias atuais. A adoção do
modelo bélico para o tratamento de determinadas Substâncias Psicoativas
(SPA) pode ser explicada por dois fatores principais. Em primeiro lugar, trata-
se do período da Guerra Fria, no qual a militarização das relações
internacionais e nacionais de cada Estado era interessante para justificar e
manter os gastos bilionários com armamentos por parte dos dois blocos
antagônicos, liderados pelos Estados Unidos e pela União Soviética. Em
segundo lugar, a década de 1960, no mundo ocidental, é a década dos
chamados movimentos de contracultura, da ascensão da luta operária, dos
movimentos pela independência na África e contra as ditaduras na América
Latina. (RYBKA et al, 2018, p. 102).
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No Brasil, essas deliberativas se convertem, atualmente, em uma política de “guerra
às drogas” voltada a matar negros/as. Isso porque a “guerra às drogas” no Brasil se converte no
extermínio e no encarceramento em massa da população jovem, pobre e negra – em sua maioria.
A conivência diante da violência letal atrelada ao enfrentamento do mercado de drogas ilícitas
se perpetua na evolução dos quantitativos de MVI’s dos/as negros/as decorrentes de
intervenções policiais, materializadas a partir de ocupações militares, nas Unidades Policiais
Pacificadoras (UPP’s), nas rajadas de tiros, nos carros anfíbios, na utilização de metralhadoras,
de lançadores de granadas, de jipes, de tanques e de outros instrumentos viabilizadores da
militarização das periferias brasileiras e das grandes chacinas, como a que ocorreu em 2014, no
complexo de periferias da Maré, na cidade do Rio de Janeiro, ou das ações militares rotuladas
pela mídia tradicional como onda de resposta aos ataques do Primeiro Comando da Capital
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 23, n.1, p. 122-140, jan./jun. 2023. ISSN 1980-8518