Expropriação em tempos de capitalismo: o trabalho reprodutivo e o impacto na vida das mulheres
mulheres, constituindo-se, assim, a divisão sexual do trabalho.
Nogueira (2006) vai analisar ainda que é na família que ocorrem as primeiras
manifestações da divisão social e sexual do trabalho. Onde ela irá afirmar, calcado em Marx e
Engels (1997), que a mulher e os(as) filhos(as), dentro do núcleo familiar, são encarados com
“escravos” do homem, esposo e pai, respectivamente.
Então, o espaço privado foi destinado às mulheres e, socialmente, isso passou a ser
visto com o algo naturalizado. Foi na família que as mulheres vivenciaram suas primeiras
formas de submissão. Na família monogâmica, constituída e oriunda junto às sociedades de
classes, couberam as mulheres o papel de procriação, cuidado com o lar e filhos(as). Ou seja,
“a divisão do trabalho na família havia sido a base para a distribuição da propriedade entre o
homem e a mulher” (ENGELS, 2012, p. 203-204).
Para compreender os ditames que perpassam a opressão feminina quanto a divisão
sexual do trabalho “a família [torna-se] uma importante chave para o entendimento histórico da
exploração e opressão sobre as mulheres” (CISNE, 2014, p. 81). É nela que se fixam as bases
tidas como naturais da submissão e precarização do trabalho da mulher.
Na verdade, o lugar da mulher sempre tinha sido em casa, mas durante a era
pré-industrial a própria economia centrava-se na casa e nas terras cultiváveis
ao seu redor. Enquanto os homens lavravam o solo (frequentemente com a
ajuda da esposa), as mulheres eram manufatoras, fazendo tecidos, roupas,
velas, sabão e praticamente tudo o que era necessário para a família. O lugar
das mulheres era mesmo em casa – mas não apenas porque elas pariam e
criavam as crianças ou porque atendiam às necessidades do marido. Elas eram
trabalhadoras produtivas no contexto da economia doméstica, e seu trabalho
não era menos respeitado do que o de seus companheiros. (DAVIS, 2016, p.
52).
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Assim, percebe-se que a família, mesmo diante dos inúmeros avanços políticos, sociais
acerca dessa instituição, continua como elemento importante para a reprodução do capital e das
bases para sua apropriação, ou como diz Cisne (2014, p. 84) “é um modo de circulação e de
consumação de bens e serviços baseados na exploração da mulher”.
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Ou seja, é nesse espaço que se torna evidente o processo de (in)visibilização do
trabalho realizado pelas mulheres, sendo este tido e tratado, historicamente como natural a elas.
O aspecto mais importante da família na manutenção do domínio do capital
sobre a sociedade é a perpetuação – e a internalização – do sistema de valores
profundamente iníquo, que não permite contestar a autoridade do capital [...].
(MÉSZÁROS, 2011, p. 271).
Ao longo das sociedades, as relações de gênero construídas foram determinando as
tarefas, deveres e profissões para homens e mulheres, determinando, portanto, a divisão sexual
do trabalho. As mulheres sempre trabalharam, porém, na maioria das sociedades, elas trabalham
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 23, n.1, p. 205-227, jan./jun. 2023. ISSN 1980-8518