Serviço Social e trabalho: mapeando o debate no âmbito do CBAS
Assim sendo, desde a construção das Diretrizes Curriculares, o debate sobre a questão
social vem se desenvolvendo entre os diversos segmentos da categoria profissional, sobretudo
inspirados nas contribuições marxianas, como o comprova, dentre outros, o estudo de Ivone
Silva (2016). Dessa forma, os textos publicizados nos anais do CBAS de 2019 abordando essa
temática contribuem, certamente, para o acúmulo que a profissão vem desenvolvendo, como
também para oferecer novas pistas e indicações para se pensar as novas expressões da questão
social na cena contemporânea, sobremaneira ante o avanço de uma revolução tecnológica com
características inéditas.
Nessa direção, algo nos chamou atenção, quando da análise dos resumos dos textos, a
saber: há uma ênfase na discussão sobre o pauperismo. Sem dúvidas, compreender tal
fenômeno é imprescindível para elucidar, corretamente, o significado da questão social.
Contudo, ao mesmo instante, pareceu-nos ocorrer uma menor ênfase no tocante ao aspecto
relacionado à dimensão da atuação política dos/as trabalhadores/as, de sua rebeldia ante a
degradação das condições de vida e existência dos sujeitos.
Ora, na esteira do que propõe Iamamoto, nosso entendimento se ancora na perspectiva
de que a questão social precisa ser apreendida como:
[...] o conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista
madura, que tem uma raiz comum: a produção social é cada vez mais coletiva,
o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a apropriação dos seus
frutos mantém-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade [...]
Questão social que, sendo desigualdade é também rebeldia, por envolver
sujeitos que vivenciam as desigualdades e a ela resistem e se opõem [...]
Assim, apreender a questão social é também captar as múltiplas formas de
pressão social, de invenção e de reinvenção da vida construídas no cotidiano.
(Iamamoto, 2001, p. 27-28).
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A
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I
G
O
Como se nota a partir da citação acima transcrita, a dimensão política da questão social
é fortemente evidenciada e, quando nos debruçamos sobre os artigos que analisamos no âmbito
do CBAS (2019), ela parece ter estado em “segundo plano”. Ainda que saibamos dos limites de
produzir uma apreciação apenas a partir da leitura dos resumos dos textos e mediante os
critérios de escolha já elencados na introdução deste artigo, essa análise é endossada por outras
experiências e vivências, sobretudo a partir das orientações de textos e trabalhos acadêmicos de
estudantes de graduação, momento no qual nos deparamos com a mesma problemática, a saber:
a definição da questão social apenas como pauperismo. Por isso, entendemos como legítimas e
necessárias maiores investigações nesse campo.
Outra tendência verificada neste eixo diz respeito ao estudo e análise de diversas
expressões da questão social na particularidade brasileira. Dentre a diversidade de recortes
teóricos estabelecidos pelos artigos que o dinamizam, merece destaque a recorrência ao tema
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 23, n. 2, p. 554-576, jul./dez. 2023. ISSN 1980-8518