DOI 10.34019/1980-8518.2023.v23.39287  
Violência sem véu: uma reflexão inspirada na  
experiência como Assistente Social  
Violence without veil: a reflection inspired by the experience as a Social  
Worker  
Alexandra Aparecida Leite Toffanetto Seabra Eiras*  
Joyce Queiroga Resende**  
Resumo: O presente artigo analisa o fenômeno  
da violência por meio das reflexões suscitadas  
no exercício profissional do Serviço Social, em  
nossa experiência como Assistente Social,  
trazendo elementos para entender as expressões  
da violência na sociedade brasileira e sua  
particularidade na totalidade da vida social, na  
sociedade capitalista. Utilizamos como  
referência teórica sobre o tema produções de  
Marilena Chaui, Octávio Ianni, Mione  
Apolinário Sales e José Fernando Silva.  
Abstract:  
This  
article  
analyzes  
the  
phenomenon of violence through the reflections  
raised in the professional practice of Social  
Work, in our experience as a Social Worker,  
bringing elements to understand the expressions  
of violence in Brazilian society and its  
particularity in the totality of social life, in  
capitalist society. We used productions by  
Marilena Chaui, Octávio Ianni, Mione  
Apolinário Sales and José Fernando Silva as a  
theoretical reference on the subject.  
Palavras-chaves: Violência; Serviço Social;  
Keywords: Violence; Social Work; Cotidian;  
Cotidiano; Capitalismo.  
Capitalism.  
Recebido em: 21/10/2022  
Aprovado em: 07/02/2023  
*
Assistente social, doutora em Serviço Social, professora titular na Faculdade de Serviço Social da Universidade  
Federal de Juiz de Fora. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4095-7950  
** Assistente social, mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Universidade Federal de Juiz  
de Fora.  
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 23, n.1, p. 103-121, jan./jun. 2023. ISSN 1980-8518  
Alexandra Aparecida Leite Toffanetto Seabra Eiras; Joyce Queiroga Resende  
Introdução  
Este artigo trata da violência, cuja expressão na realidade brasileira tem sido  
reconhecida por diferentes estudiosos e cuja visibilidade através das mídias e meios de  
comunicação social contribui para fixar determinados estereótipos em relação àqueles que a  
praticam, reforçando preconceitos sociais que dificultam a compreensão deste fenômeno em  
sua multidimensionalidade. Privilegiamos nesta reflexão sobre este tema, a leitura de produções  
teóricas elaboradas por Chaui, Ianni, Sales e Silva, com as quais estabelecemos um diálogo, a  
partir da experiência no exercício profissional do Serviço Social.  
Em nosso exercício profissional lidamos rotineiramente com as expressões da questão  
social1, dentre as quais se situa a violência. Nesse cotidiano, paradoxalmente, aqueles que  
sofrem a violência de modo mais duro, em seu dia a dia, dificilmente a percebem em sua  
profundidade. Via de regra eles incorporam e aceitam desempenhar o papel social que lhes é  
“destinado”, “trabalhador”, “pobre”, “subordinado”, “vítima”, “criminoso”, resignando-se à  
dura realidade.  
Por sua vez, as concepções ainda vigentes no imaginário social evidenciam a presença  
de conteúdos próprios do autoritarismo social (CHAUI, 2021) no cotidiano, tão característico  
da formação sócio-histórica brasileira, que reproduzem estigmas e preconceitos sobre quem  
pode ou não ser violento.  
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Entretanto, o que não ocorre com frequência é uma explicação capaz de revelar a  
processualidade histórica-econômica-sociocultural constituinte e constitutiva, presente nas  
expressões da violência, e este artigo visa contribuir nesta direção.  
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A esse respeito, em nossa cultura e no imaginário brasileiro, acostumamo-nos a lidar  
com a violência como algo individualizado. Como argumenta Chaui (2021), no Brasil,  
construímos o mito de uma sociedade pacífica e não violenta. E a autora destaca cinco  
mecanismos ideológicos sobre a violência presentes na cultura brasileira: a “exclusão”, a  
“distinção”, “o jurídico”, “o sociológico” e a “inversão do real”. Pela exclusão afirma-se que a  
sociedade brasileira não é violenta e quando ela ocorre é praticada por pessoas que não são  
desta nação. Pela distinção entre essencial e acidental, a violência não é reconhecida como  
inerente ao brasileiro, mas como ação episódica, acidental e sua prática não altera a nossa  
1 De acordo com Ianni (2004 b: p. 103) a questão social está presente na história da sociedade brasileira nas “várias  
repúblicas formadas desde a Abolição da Escravatura e fim da monarquia”. Ela se apresenta como “um elo básico  
da problemática nacional, dos impasses dos regimes políticos ou dilemas dos governantes. Reflete disparidades  
econômicas, políticas e culturais, envolvendo classes sociais, grupos raciais e formações regionais. Sempre põe  
em causa as relações entre amplos segmentos da sociedade civil e o poder estatal”. “As várias modalidades do  
poder estatal [autoritário ou democrático] defrontam-se com ela”.  
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Violência sem véu: uma reflexão inspirada na experiência como Assistente Social  
essência pacífica. No mecanismo jurídico, a violência é compreendida como restrita ao meio  
da delinquência e da criminalidade e legitima-se a ação policial na proteção dos “cidadãos de  
bem”. No mecanismo sociológico, a violência foi explicada como um momento na história de  
transição para a modernidade, com intensa migração para as cidades, causando,  
temporariamente, atos isolados de violência das “classes mais pobres”. E a inversão do real  
está posta na existência e disseminação de concepções que justificam a “dominação natural do  
homem” que protege a mulher, em sua “fragilidade feminina”, e/ou o paternalismo branco  
“civilizatório” em relação aos povos não brancos ("inferiores”); e a repressão e violência direta  
e indireta contra a população LGBTQIA+ diante dos “valores sagrados” e da preservação da  
“família”.  
Esse mito da sociedade não violenta tem sido interiorizado como forma de explicação,  
produzindo valores, ideias, comportamentos e práticas, manifestando-se, ainda, em ações  
concretas na realidade. A permanência desse mito propaga a ideia de que a violência existe,  
porém, de maneira factual localizada em determinados grupos que seriam, segundo Chaui, os  
“portadores da violência”, em suas palavras,  
A sociedade brasileira não percebe que as próprias explicações oferecidas são  
violentas porque está cega para o lugar efetivo da produção da violência, isto  
é, a estrutura da sociedade brasileira. Dessa maneira, as desigualdades  
econômicas, sociais e culturais, as exclusões econômicas, políticas e sociais,  
a corrupção como forma de funcionamento das instituições, o racismo, o  
machismo, a intolerância religiosa, sexual e política não são consideradas  
formas de violência, isto é, a sociedade brasileira não é percebida como  
estruturalmente violenta e a violência aparece como um fato esporádico da  
superfície. (CHAUI, 2021, p. 41).  
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Desse modo, quando realizamos a análise da violência no âmbito da totalidade da vida  
social, apreendemos nitidamente sua transversalidade no cotidiano de milhões de pessoas. E  
quando nos deparamos com as violências presentes na vida individual daqueles que procuram  
os serviços sociais, fica difícil negar a sua relação com os processos histórico-econômico-sócio-  
culturais e é quase impossível não nos indignarmos diante do que testemunhamos.  
No entanto, também nós, assistentes sociais, estamos imersas(os) no imaginário da  
sociedade pacífica, e ainda é necessário explicitar o fenômeno da violência em sua  
complexidade para compreendermos os processos com os quais nos deparamos,  
cotidianamente, em nosso exercício profissional.  
Assim, este texto foi elaborado como um exercício de reflexão, a partir de referências  
teóricas que questionam o fenômeno da violência e intentam analisá-la em sua complexidade e  
amplitude, evitando sua redução à dimensão individual.  
Neste artigo, apresentamos referências teóricas através do diálogo com Marilena Chaui  
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Alexandra Aparecida Leite Toffanetto Seabra Eiras; Joyce Queiroga Resende  
(2021) e Octávio Ianni (2004) para a compreensão da violência, a partir de análises suscitadas  
pela nossa experiência como assistente social, em diferentes contextos, e pela incorporação de  
produções em nossa área, como as de Sales (2007) e Silva (2007, 2008). Indicamos, ainda,  
algumas das condições postas pelo pertencimento à classe trabalhadora, no Brasil, na  
atualidade, que reproduzem processos de subordinação e dominação, estruturalmente  
associados ao fenômeno da violência. Evidenciamos, assim, essa dimensão da violência  
estrutural cuja apreensão torna-se necessária para o (a) assistente social em seu cotidiano  
profissional.  
Na redação deste artigo, descobrimos nuances e perspectivas, que a nosso ver, ao serem  
compartilhadas, contribuem para o trabalho dos(as) assistentes sociais, profissionais  
diariamente expostos(as) às diferentes formas de expressão da violência na sociedade  
capitalista.  
Sobre a violência  
Inspiradas, sobretudo, na leitura de Marilena Chaui (2021) e Octávio Ianni (2004)  
propomos algumas formulações que são transversais nesta reflexão sobre a violência.  
A primeira delas é que explicar o fenômeno da violência é algo complexo e exige uma  
perspectiva multidimensional, evitando o equívoco de reduzir o seu entendimento a um único  
condicionante. A sua elucidação está associada às noções de força e de poder em relação a  
outrem e à necessária compreensão da particularidade histórica, a qual evidencia nas relações  
sociais, o exercício do poder pela coerção e, pela submissão de indivíduos e de grupos aos  
interesses de uma classe dominante.  
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Na apreensão de sua particularidade histórica os processos econômicos e socioculturais  
destacados por Ianni (2004) evidenciam a dominação pela concentração da riqueza e  
configuração das classes sociais, que reproduzem o lugar e o papel social dos indivíduos, e a  
relação assimétrica de poder entre eles. Na definição de tais lugares e papéis sociais impõem-  
se diferenças de gênero, raça e etnia, construídas historicamente, e assimetrias entre homens e  
mulheres, brancos e não-brancos.  
Inspiradas em Chaui (2021), pensamos que essa dimensão assimétrica nas relações de  
poder é um aspecto central para compreender o fenômeno da violência, e distingue lugares de  
domínio e de subordinação, embora permanentemente em movimento, sendo alvo de disputa e  
contestação. Por sua vez, o aparato repressivo envolvido na manutenção do status quo e da  
ordem dominante, obstaculiza as possibilidades de alteração e regulamenta e/ou justifica os atos  
de violência propriamente ditos, praticados nas ações de dominação, como castigos físicos,  
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Violência sem véu: uma reflexão inspirada na experiência como Assistente Social  
punições, assassinatos e extermínio, conforme nos lembra o excelente texto de Sales (2007).  
Desse modo, no processo de colonização da América em sua particularidade histórica  
predominou a exploração econômica, a conquista de territórios e submissão de inúmeras  
pessoas que foram colocadas em situação de servidão, escravizadas e vitimadas pelo morticínio,  
vidas vilipendiadas e violentamente subordinadas ou anuladas pelo assassinato. Concordamos  
com Aimé Césaire (1978) que o processo de colonização foi constituído de atos de violência,  
crueldade e pilhagem, justificado pela racionalidade europeia de conquista e submissão de  
povos e terras.  
Esta violência presente desde os atos de colonização se expressa em suas múltiplas  
manifestações na história desses países, objetiva e subjetivamente. A “invenção do racismo”,  
na relação do homem branco com as diferentes etnias dos povos originários e africanos, trazidos  
para o continente americano, foi uma das formas de dominação violenta mais bem sucedidas,  
desde o século XV e que, infelizmente, permanece na contemporaneidade atravessando todas  
as nossas relações em sociedade. Essa violência está associada à destruição do que é diferente,  
do que é estranho a um padrão instituído como correto, belo ou moralmente aceito pela classe  
e interesses sociais dominantes, na idealização almejada de criar uma sociedade equilibrada e  
perfeita (IANNI, 2004). Na América Latina esses padrões foram historicamente instituídos a  
partir de uma perspectiva eurocêntrica consolidando formas de dominação e violência.  
Assim,  
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Sobre vários aspectos, a violência é um evento heurístico de excepcional  
significação, revela o visível e o invisível, o objetivo e o subjetivo, no que se  
refere ao social, econômico, político e cultural, compreendendo o individual  
e o coletivo, a biografia e a história. Desdobra-se pervasivamente pelos polos  
da sociedade e do indivíduo. (...) Nasce como técnica de poder, exercita-se  
também como modo de preservar, ampliar ou conquistar a propriedade,  
adquire desdobramentos psicológicos surpreendentes no que se refere aos  
agentes e as vítimas. Entra como elemento importante da cultura política com  
o qual se ordenam, modificam ou transformam as relações entre os donos do  
poder e os setores sociais subalternos, os governantes e a população, as elites  
e as massas. (IANNI, 2004, p. 169).  
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Nas sociedades capitalistas, a violência está intimamente relacionada à concentração  
dos meios de produção e do capital nas mãos de poucos possuidores e à distribuição desigual  
da riqueza socialmente produzida.  
A contradição entre capital e trabalho (MARX, 2017), entre as condições de vida do  
conjunto dos trabalhadores e daqueles que concentram a riqueza, pode gerar reivindicações,  
lutas, manifestações e movimentos sociais e, ainda, atos de desespero mediante uma realidade  
de exclusão e violação.  
Nestas sociedades, as marcas das desigualdades estão presentes na realidade cotidiana  
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Alexandra Aparecida Leite Toffanetto Seabra Eiras; Joyce Queiroga Resende  
da maioria da população, no conjunto de pessoas que vivem nas periferias urbanas, privadas de  
direitos fundamentais, como: trabalho, moradia, educação, saúde e acesso aos equipamentos  
culturais.  
Por sua vez, o sistema coercitivo do Estado é estrategicamente direcionado às pessoas  
que vivem nas periferias, discriminando-as como se fossem a causa e não como parte da  
violência da qual são alvos há muitos anos. Essas formas de violência, que são invisibilizadas  
e/ou individualizadas,  
(...) torna evidente, explícito e transparente o nexo essencial entre riqueza e  
pobreza, emprego e desemprego, prosperidade e miséria, a fluência e carência,  
lei e injustiça, ordem e desordem, monopólio da violência pelas elites  
governantes e classes dominantes simultaneamente à invenção da violência  
pelos grupos sociais e classes sociais subalternos, pelos humilhados e  
ofendidos, pelos famélicos da terra. (IANNI, 2004, p. 207).  
Nesse sentido, a realidade de “apartheid dos jovens pobres [...] não será uma  
prerrogativa brasileira ou latino-americana: ela se dá nos guetos étnicos americanos  
(hispânicos, negros, italianos, irlandeses, etc.)” e na Europa, “com destaque para França e  
Inglaterra, e seu crônico problema cultural-imigratório, ligado, por vezes, à condição de  
juventude operária” (SALES, 2007, p. 127).  
A diferença entre a violência legal e a ilegal, atribuída de forma recorrente aos pobres e  
trabalhadores, decorre muitas vezes do perigo político que essa classe oferece para o poder  
dominante, e à construção ideológica (o imaginário veiculado sobre quem pratica a violência)  
somam-se os recursos de coerção e manipulação pelo medo para garantia da ordem social.  
De acordo com Sales (2007) a visibilidade punitiva na contemporaneidade perpassa  
significativamente as mídias televisiva e impressa, e a indústria cultural, com a divulgação de  
situações e processos criminais que ganham grandes espaços nos noticiários, principalmente,  
para discorrer sobre a ineficiência do sistema judiciário em punir os chamamos “criminosos”.  
Assim, há o reforço de práticas punitivas e a ênfase em reformas penais, com forte apoio  
das camadas mais conservadoras da sociedade que clamam pela instituição e legalização da  
pena de morte, como uma forma de anular o crime com a execução do “meliante” e/ou bradam  
pela redução da idade penal, como acontece atualmente no Brasil.  
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Esse imaginário e essa estigmatização afeta, sobretudo, a juventude pobre associada,  
indiscriminadamente, à prática da violência, ensejando reclames de punição e indiferença à sua  
condição de vida e existência. Por isso, “tudo o que os jovens pobres questionam e produzem  
irreverentemente, aqui e alhures, e a tudo o que reagem é concebido, invariavelmente, como  
violência, mesmo se tratando de meras transgressões ou incivilidades” (SALES, 2007, p. 127).  
No Brasil, Chaui (2021) destaca o estigma das classes subalternas e da população  
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Violência sem véu: uma reflexão inspirada na experiência como Assistente Social  
identificada como “classe perigosa”. A autora afirma que as classes dominantes têm medo dos  
de baixo e receiam a perda de poder, de controle e privilégio, já as classes subalternas têm medo  
de sofrer violência, coerção e injustiça. Pelo medo de perder o poder da violência as classes  
dominantes afirmam que as classes populares são violentas e perigosas.  
A visibilidade negativa e a disciplina coercitiva sobre as classes subalternas contribuem  
para a fabricação dos sujeitos criminalizados. Criam-se imagens ilusórias sobre a realidade  
concreta, individualiza-se o olhar sobre determinados grupos sociais, traduzindo-os como seres  
criminosos ou potencialmente criminosos; reafirma-se o poder das leis punitivas, a obediência,  
submissão e a exclusão. Esses sujeitos tornam-se perversamente visíveis, objeto constante de  
vigilância, repressão e punição (SALES, 2007).  
Todavia, quem são esses sujeitos criminalizados? Conforme dados estatísticos e estudos  
existentes, sabemos que esses possuem classe, raça e gênero bem determinados. “Em 2019, os  
negros representaram 77% das vítimas de homicídios (...) as mulheres negras representaram  
66% do total de mulheres assassinadas no Brasil” (IBGE, p. 49, 2021). Já o Anuário Brasileiro  
de Segurança Pública do ano de 2022 reforça a informação de que a população que reside ou  
circula pelas periferias são as vítimas frequentes da letalidade da violência.  
Assim, a juventude negra, pobre e periférica é a que mais sofre os impactos de uma  
sociedade violenta e racista. São visibilizados pela mídia como adolescentes e jovens infratores,  
como geradores da violência na sociedade devido ao local onde nascem e/ou vivem, clivados  
como descendência da criminalidade, reforçando ideologias geneticistas; afirma-se também, os  
estereótipos de que são sujeitos desocupados, vivendo na vagabundagem por vontade própria e  
sem interesse em trabalho.  
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De acordo com Sales (2007), observamos que há uma dimensão de  
visibilidade/invisibilidade da violência no decorrer da história. Inspirada nas teorias de Foucault  
em “Vigiar e Punir” (1996), a autora evidencia a vigilância dos corpos de forma a criar pontes  
entre a razão e a violência, entre o saber e o poder, a visibilidade de verdades parciais a favor  
de uma universalidade de dominação dos indivíduos. A disciplina dos corpos vigiados, a  
disciplina imposta com base em uma política de medo e coerção articula-se a um tipo seletivo  
de liberdade e democracia, que, quando confrontadas com o cotidiano dessas pessoas, são  
referências formais e não reais.  
Essa legalização e normalização da violência fazem parte da despolitização do cotidiano  
e alienação em relação à realidade concreta, focando a explicação da sua complexidade em  
motivos parciais, reiteram-se práticas discursivas/teóricas organizadas de forma política,  
administrativa, burocrática e cultural por um poder dominante ou classe dominante que “molda”  
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o pensamento e ações de sujeitos sociais, visando controlar a vida das pessoas conforme a  
necessidade do sistema (SALES, 2007).  
Segundo Sales (2007, p. 175), as técnicas de dominação se “nutrem da força, da  
legitimidade e da autoridade do conhecimento e da racionalidade, sendo acionadas, segundo as  
táticas e objetivos do poder, argumentos teóricos, enunciados científicos e saberes muitas vezes  
alegados como inquestionáveis”.  
Assim, a prática institucionalizada da violência, como a criminalização de grupos e de  
movimentos sociais, por exemplo, se opõe à prática da democracia política, por não reconhecer  
o conjunto da população como sujeitos de direitos, que podem lutar por direitos e serem contra  
os privilégios de uma classe dominante, sendo o poder de dominação exercido através de  
opressão, força, intimidação e medo, inclusive pelo próprio Estado.  
Entretanto, a violência também precisa ser pensada a partir dos atos praticados pelos  
sujeitos. Desse modo, Chaui (2021) imprime o seguinte sentido à violência:  
Etimologicamente, "violência" vem do latim vis, força e significa: 1. Tudo o  
que age usando a força para ir contra a natureza de algum ser (é desnaturar);  
2. todo ato de força contra a espontaneidade, a vontade e a liberdade de alguém  
(é coagir, constranger, torturar, brutalizar); 3. todo ato de violação da natureza  
de alguém ou de alguma coisa valorizada positivamente por uma sociedade (é  
violar); 4. todo ato de transgressão contra aquelas coisas e ações de alguém ou  
uma sociedade definem como justas e como um direito (é espoliar ou a  
injustiça deliberada); 5. consequentemente, violência é um ato de brutalidade,  
sevícia e abuso físico e/ou psíquico contra alguém e caracteriza relações  
intersubjetivas e sociais definidas pela opressão e pela intimidação, pelo medo  
e pelo terror. A violência é a presença da ferocidade nas relações com o outro  
enquanto outro ou por ser um outro, sua manifestação mais evidente se  
encontra na prática do genocídio e na do apartheid. É o oposto da coragem e  
da valentia porque é o exercício da crueldade. (CHAUI, 2021, p. 35-36, grifos  
da autora).  
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A autora indica, ainda, a oposição entre violência e ética. A ética relaciona-se a um  
sujeito ético, enquanto ser racional, consciente, um ser livre que detêm conhecimento, domínio  
da linguagem e é responsável pelo que faz. Aqueles que praticam a violência deliberadamente  
tratam os seres como irracionais, passivos, inertes e insensíveis, como mera mercadoria e  
instrumento para uso de terceiros. Tratar os seres dessa forma, retirando sua humanidade,  
destituindo-os de liberdade, razão, vontade e responsabilidade, como “coisas”, isso é violentar.  
Chaui (2021) destaca que a ideologia neoliberal alargou o espaço privado em detrimento  
do espaço público, com a recusa de instâncias regulatórias das leis e dos direitos sociais,  
levando ao entendimento de que seres humanos são descartáveis em prol da maximização dos  
lucros. Redimensionando, com isso, as condições para o exercício da violência, ampliando as  
possibilidades de aumento do crime organizado com capacidade de deteriorar e corromper o  
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sistema judiciário e político, levando à impunidade de líderes governamentais, administradores  
públicos e demais representações públicas.  
A esse respeito, Ianni (2004, p. 142) afirma que no novo ciclo de globalização do  
capitalismo, desenvolvem-se as classes sociais e os “grupos sociais-mundiais", gestando-se  
“estruturas mundiais de poder nas quais predominam total ou amplamente os interesses das  
elites governantes e das classes dominantes mundiais”. A violência se expressa objetiva e  
subjetivamente no “(...) narcotráfico, sequestro e tráfico de órgãos, terrorismo niilista e  
terrorismo nazista, esquadrões da morte e lógica da destruição criativa, desemprego estrutural  
e lumpenização generalizada, terrorismo de Estado e geopolítica de guerra, racismos e  
fundamentalismo” (IANNI, 2004, p. 143). A violência causa danos físicos, sociais e  
psicológicos interferindo de forma significativa no desenvolvimento dos sujeitos sociais e/ou  
coletividades.  
Assim, o “capitalismo é um vasto, complexo e sempre expansivo processo político,  
econômico e sociocultural que leva consigo a vocação de produzir e reproduzir, criar e recriar,  
inovar e substituir, engendrar e destruir” (IANNI, 2004, p. 144). Nesse contexto, a violência  
pode levar não somente à morte do corpo, mas também do espírito.  
Na próxima seção dedicamo-nos a compreender alguns aspectos da violência no Brasil,  
na atualidade, na dimensão da totalidade social e nas condições postas pela sociedade  
capitalista.  
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A violência na totalidade da vida social  
A objetividade da sociedade capitalista, incluindo seus valores e o que é esperado da  
realização individual, articula-se subjetivamente com a perspectiva de obter trabalho e renda  
para usufruir do que é produzido coletivamente. Espera-se que cada indivíduo trabalhe e seja  
capaz de suprir suas necessidades pela renda auferida e que o trabalho realizado lhes confira  
dignidade, valorizando seu caráter.  
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Como lidar, então, com o desemprego e a impossibilidade de que todos alcancem  
simultaneamente um bom emprego? Como enfrentar a frustração de milhões de indivíduos que  
não logram êxito no mercado de trabalho, justamente, pela impossibilidade na realidade de que  
isso ocorra, de fato, para todos?  
No Brasil, a taxa de desocupação no trimestre de junho a agosto caiu a 8,9%, segundo  
dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, divulgados pelo Instituto  
Brasileiro de Geografia e Estatística, em 30/09/2022, o que representa 9,7 milhões de pessoas.  
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Alexandra Aparecida Leite Toffanetto Seabra Eiras; Joyce Queiroga Resende  
É o menor patamar desde o trimestre encerrado em julho de 2015, quando foi de 8,7%2.  
Esses dados foram comemorados positivamente. Contudo, quase dez milhões de  
pessoas estão “desocupadas”, ou seja, não auferem renda mediante uma ocupação formal ou  
informal no mercado de trabalho. Por sua vez, a renda per capta foi de R$1.353,00, em 2021,  
recuo de 6,9% em relação à 2020, menor valor em uma década3.  
Entretanto, para o mês de setembro de 2022, o DIEESE (Departamento Intersindical de  
Estatística e Estudos Socioeconômicos) calculou o valor do salário mínimo necessário para uma  
família de quatro pessoas, dois adultos e duas crianças, em R$6.306,97, para suprir as  
necessidades básicas, sobretudo as de alimentação4.  
No ano de 2022, o salário-mínimo nominal no Brasil é de R$1.212,00. Assim, mesmo  
que dois adultos trabalhem em um domicílio e tenham duas crianças, estes possuirão, de acordo  
com o cálculo do DIEESE, um terço do valor necessário para suprir suas necessidades básicas.  
Ou seja, em 2022, 38,22% do total da força de trabalho, 36.414 milhões de indivíduos com e  
sem carteira assinada e que recebem um salário-mínimo, não teriam como satisfazer suas  
necessidades básicas e nem as de seus filhos e/ou familiares5.  
Não é de se estranhar que a pauta da classe trabalhadora elaborada pela CONCLAT  
(Conferência Nacional da Classe Trabalhadora) em abril de 2022, tenha as seguintes  
reivindicações (2022)6: política de valorização do salário mínimo, programa de renda básica,  
políticas ativas de geração de trabalho e renda, marco regulatório de ampla proteção social,  
trabalhista e previdenciária, promover para mulheres, população negra, juventude, LGBTQIA+  
e pessoas com deficiência, políticas ativas de geração de trabalho e renda, proteção aos  
desempregados, eliminação da fome, combate da carestia e segurança alimentar, dentre outros.  
Em outros termos, defende-se:  
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O Trabalho Decente, nos termos da OIT (Organização Internacional do  
Trabalho), como princípio de trabalho produtivo e de qualidade, com proteção  
social, liberdade sindical, equidade, segurança, dignidade, direito de  
negociação coletiva, eliminação de todas as formas de discriminação e  
erradicação de todas as formas de trabalho forçado e do trabalho infantil.  
(CONCLAT, 2022, p. 10).  
Desemprego, pobreza e fome são vivenciados cotidianamente e pesam na vida de  
milhões de indivíduos, agora, neste exato momento em que redigimos este artigo.  
Contudo, no cotidiano, os meios de comunicação e as mídias sociais focalizam as  
2 Desemprego cai a 8,9%, atinge 9,7 milhões de pessoas e é o menor desde 2015 - 30/09/2022 - UOL Economia  
3 Renda per capita cai a R$ 1.353 e atinge menor valor em dez anos | Economia | O Globo  
4 DIEESE - análise cesta básica - Salário mínimo nominal e necessário - outubro/2022  
5 Trabalhadores que ganham até um salário mínimo chegam a 38% (uol.com.br)  
6 https://www.dieese.org.br/documentossindicais/2022/CONCLAT-pautas-centrais-sindicais-07-abril.html  
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 23, n.1, p. 103-121, jan./jun. 2023. ISSN 1980-8518  
Violência sem véu: uma reflexão inspirada na experiência como Assistente Social  
situações excepcionais, tanto para exaltar aqueles bem-sucedidos quanto para enfatizar que  
existem possibilidades em algumas áreas e novas oportunidades, mas nunca para mostrar o  
tamanho do problema, qual seja: não há possibilidades para todos! E a maioria está na “corda  
bamba”, equilibrando-se para continuar vivo e assistindo ao banquete do lado de fora da festa.  
Nesta sociedade em que a produção da riqueza alcança níveis inimagináveis (medida  
em trilhões de reais e de dólares), a pobreza e a fome são um fenômeno de extrema violência e  
condicionam a vida de inúmeras pessoas à instabilidade e à insegurança, bem como às situações  
vexatórias e indignas.  
Esta dimensão estrutural e condicionante é violenta e submete o conjunto dos  
trabalhadores às concepções dominantes e hegemônicas. É também o solo que opõe os  
trabalhadores entre si, na luta pela sobrevivência, seja na disputa pelas melhores condições de  
trabalho e renda, inclusive no nível da formação profissional e acadêmica.  
A ideologia meritocrática assenta-se nesta realidade de oportunidades restritas e advoga  
em prol da competitividade e da lógica de que o melhor vencerá. Contudo, as exigências  
crescentes colocam o “sarrafo” sempre mais alto e este mecanismo pode se virar contra aqueles  
que se acreditam vencedores. Além disso, em uma sociedade estruturalmente vinculada à  
competição ninguém se sente, de fato, seguro. A instabilidade instiga todos a temerem um ao  
outro e instiga à intolerância ao diferente e àqueles que podem constituir ameaça ao que foi  
“conquistado” até aqui.  
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Esse fenômeno é em si mesmo extremamente violento e se reproduz cotidianamente  
com particularidades na corporeidade de cada indivíduo. O gênero, a cor da pele e a  
sexualidade, atravessados pela condição de classe, intensificam os estigmas, criando uma escala  
de violações que tende a se manifestar na vida individual.  
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Expressões da violência observadas no cotidiano do Serviço Social  
O Brasil conserva traços de uma sociedade colonial escravista, com predomínio do  
espaço privado sobre o público e de uma hierarquia familiar patriarcal e machista, em que,  
simbolicamente, o homem branco, líder da família, “deve mandar e ser obedecido” pelos demais  
integrantes. O outro “inferior sem poder de mando”, não é reconhecido como sujeito autônomo  
eticamente, nem politicamente, tampouco como cidadão. Essa relação assume a forma de  
opressão, de mando e obediência, marcada pela tutela e clientelismo, normalizada  
historicamente, como signo de prestígio, privilégio e poder. Este campo cultural-simbólico  
expressa-se em um “autoritarismo social” (CHAUI, 2021) que se apresenta para nós, assistentes  
sociais, nas situações de vida das pessoas que buscam e utilizam os serviços sociais.  
Revista Libertas, Juiz de Fora, v. 23, n.1, p. 103-121, jan./jun. 2023. ISSN 1980-8518  
Alexandra Aparecida Leite Toffanetto Seabra Eiras; Joyce Queiroga Resende  
Se prestarmos atenção observaremos que as definições macroeconômicas que impactam  
nos negócios, seja na agricultura, pecuária, indústria ou serviços, são realizadas de modo  
fechado ao escrutínio da sociedade e ao conhecimento do amplo conjunto de indivíduos, que  
não participam dessas decisões, em tese, de caráter privado, e sob a lógica do mercado. Tais  
definições condicionam a vida de muitas pessoas, que se descobrem envolvidas em fluxos  
migratórios para manutenção das condições de vida e sobrevivência.  
Hoje em dia, a partir da atuação como Assistente Social, escutamos relatos quanto à  
necessidade de migração na busca de melhores condições de vida e trabalho. Porém, o que  
muitos encontram após longas e constantes mudanças é uma nova situação de dificuldade e  
precariedade. Relatam a dificuldade de conseguir um emprego, a falta de informações e  
orientação nos equipamentos públicos de cidadania, como por exemplo, a retirada de segunda  
via de documentos, não raras vezes perdidos durante a mudança; dificuldade de inserção nas  
escolas. Dificuldade de acesso a benefícios sociais, como exemplo, o Auxílio Brasil  
(anteriormente chamado Bolsa Família), um dos programas de transferência de renda da política  
deAssistência Social para pessoas e conjuntos familiares em situação de “vulnerabilidade social  
e econômica”.  
Nesse sentido, a divisão do espaço urbano entre centro e periferia, não expressa somente  
um aspecto geográfico, são demarcações de acesso ou não à infraestrutura urbana, aos serviços  
de saneamento básico, energia elétrica, água encanada e tratada, atendimento de qualidade da  
saúde, escolas, lazer etc.  
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A grande maioria da população usuária do Serviço Social situa-se nas regiões  
periféricas, território onde se investe menos em infraestrutura, serviços e equipamentos  
públicos.  
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Nas visitas domiciliares realizadas pelos assistentes sociais podemos presenciar de  
forma empírica o quanto a população se encontra em situação precarizada e insalubre, ao  
mesmo tempo em que nos encontramos limitados para viabilizarmos o acesso às políticas  
sociais, pois os aparatos existentes são insuficientes para suprir essas necessidades básicas.  
Conforme alerta Chaui  
uma sociedade é democrática quando institui algo mais profundo que é  
condição do próprio regime político, ou seja, quando institui direitos e que  
essa instituição é uma criação social, de tal maneira que a atividade  
democrática social se realiza como luta social e, politicamente, como um  
contrapoder social que determina, dirige, controla, limita e modifica a ação  
estatal e o poder dos governantes. (CHAUI, 2005, p. 352).  
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Violência sem véu: uma reflexão inspirada na experiência como Assistente Social  
A luta social é o mecanismo de contestação e de busca pela efetivação das referências  
jurídico-normativas dos “direitos socialmente conquistados”, mas, ela tem sido utilizada como  
estratégia frequente no cotidiano desses trabalhadores? Diante de realidades tão duras, como  
seria possível evitar a alienação de pessoas que tem ocupação tão imediata com a sobrevivência  
física? Indagamos até que ponto as lutas sociais têm sido desacreditadas pela população  
empobrecida, inclusive pela dificuldade de resultados concretos a partir delas, reforçando as  
“saídas” individuais?  
No campo simbólico-cultural que sustenta tais ideologias, Chaui (2021) destaca  
algumas concepções que reforçam o autoritarismo social. Dentre elas, a concepção do “núcleo  
tradicional familiar” que recusa a igualdade real, naturalizando a inferioridade de mulheres,  
trabalhadores, negros, indígenas, idosos, imigrantes ou estigmatizando como anormalidade a  
homossexualidade, em detrimento das desigualdades econômicas, sociais, raciais e de gênero,  
invisibilizando a violência contra essas pessoas e grupos.  
No cotidiano do trabalho com famílias, observamos a reprodução de discursos e  
posturas arraigadas nas pessoas, como a delegação de trabalhos domésticos e cuidados dos  
filhos às mulheres e a busca de “bom casamento”, com atribuição de fragilidade natural que  
engendra a proteção masculina; o homem (proprietário) como detentor da força e alicerce da  
família; a correção da desobediência (entendida como desvio do que é instituído socialmente  
como correto) por meio da violência física; a reprodução de falas homofóbicas, racistas,  
xenófobas, expressadas como opiniões/valores individuais e/ou religiosos.  
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Na concepção de “mando e obediência'' não há espaço para o princípio da igualdade  
jurídica e a luta contra a opressão social e econômica das classes subalternas não é aceita, sendo  
tratada com repressão e, desse modo, as leis são percebidas como inúteis no sentido de assegurar  
e proteger uma igualdade jurídica entre os diferentes sujeitos.  
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No cotidiano, ainda que os direitos sejam reconhecidos legalmente, não se encontra a  
sua efetivação para o conjunto da classe trabalhadora e subalterna.  
No que tange a saúde, ainda que o Sistema Único de Saúde (SUS) seja universal, sem  
necessidade de contribuição prévia, o que vivenciamos é a ausência de investimento na  
amplitude exigida e o consequente sucateamento na oferta dos serviços, que causa longas  
esperas por tratamentos, consultas, exames, além do fantasma da falta de vagas, nas internações  
de emergência.  
Na educação, sujeitos e famílias encontram obstáculos para o acesso a creches e escolas  
públicas de qualidade, pois não há vagas e/ou estrutura suficientes para atender a todos que  
necessitam, o Estado deixa de investir em educação pública de qualidade em prol da lógica de  
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