Entrevista com Susana Cazzaniga
Revista Libertas, Juiz de Fora, v.
277
Na Argentina, a conturbada conjuntura que se delineia a partir dos anos 1960 ao golpe
civil-militar de 1976 é marcada por uma intensificação das lutas e do crescimento das
organizações das classes subalternas que vão impactar a configuração dos regimes políticos e,
por mediações acadêmicas e de militância política, os processos de tensionamento do Serviço
Social com seus aportes teórico-metodológicos e ético-políticos conservadores.
O crescimento das lutas de classe se relaciona não apenas com a “resistência Peronista”
(principal expressão política da classe trabalhadora, que cresce com a proscrição do Peronismo
desde o ano 1955), mas também com a radicalização de uma “nova” classe trabalhadora. Esta
dará vida a um novo e combatente movimento operário e sindical (com tendências classistas e
do Peronismo combativo), que protagonizará rebeliões populares de envergadura como o
Cordobazo e o Rosariazo, de 1969, que marcariam uma inédita aproximação das organizações
operárias com o movimento estudantil. Neste período, observa-se também a multiplicação de
uma miríade de organizações que vão encorpar a militância das classes subalternas sob os
influxos de uma nova esquerda que reivindica o guevarismo; o socialismo de libertação
nacional; o anti-imperialismo, etc. Dentre as principais organizações armadas devemos destacar
os Montoneros
1
, de filiação peronista, e PRT-ERP, de filiação marxista
2
. Especificamente no
interior do movimento Peronista e em função das relações contraditórias com o seu líder, Perón,
assiste-se a uma diversificação organizativa que atravessa a realidade partidária, o movimento
estudantil, os movimentos territoriais e os sindicais. A chamada “tendência revolucionaria do
movimento Peronista” compreendia desde os Montoneros ao conjunto de organizações como a
Juventude Universitária Peronista (JUP); a Juventude Trabalhadora Peronista (JTP); a União de
Estudantes Secundários (UES); a Agrupação Evita; o Movimento de Inquilinos Peronistas
(MIP), dentre outros.
A dinâmica desta configuração organizativa dos “de baixo” vai impactar profundamente
o Serviço Social argentino, cujo vínculo de seus segmentos profissionais, acadêmicos e
estudantis com as lutas sociais se estabelecerá pela via privilegiada da militância política e/ou
universitária, que trará mudanças significativas nos referenciais teórico-políticos, na formação
1
Outras organizações armadas, como as Forças Armadas Revolucionarias (FAR) e as Forças Armadas Peronistas
(FAP), confluirão com Montoneros em ’73.
2
O PRT (Partido Revolucionário dos Trabalhadores) será fundado em 1965, incorporando-se à IV Internacional.
Identificado com o processo revolucionário de Cuba, com influências indoamericanistas e antimperialistas,
incorpora um marxismo com uma perspectiva latino-americanista e uma forte herança guevarista. No seu processo
de desenvolvimento, observam-se mudanças prático-políticas (também em função das influencias maoístas,
trostskistas e leninistas), como a fundação, em 1970, do seu braço armado, o Exército Revolucionário do Povo
(ERP).