
Ricardo Lara
Revista Libertas, Juiz de Fora, v.20, n.1, p. 53-69, jan. / jun. 2020 ISSN 1980-8518
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Introdução
As pandemias acompanham a humanidade desde sua origem. A história registra as mais
diversas doenças, epidemias e pandemias as quais em determinadas particularidades históricas
e situações afligiram tribos, comunidades, vilas, cidades e nações.
As doenças, com grande capacidade de disseminação e contágio, arrasaram até as mais
fortificadas cidades, como foi o caso da peste antonina que atingiu Roma em 165. A pandemia
que ocorreu no Império Romano se iniciou junto às tropas que estavam instaladas na Pártia, um
território romano localizado na Mesopotâmia. Por essas tropas, a doença chegou em Roma em
166 e foi a causa de até duas mil mortes por dia (HAYS, 2005). Os estudos indicam que
provavelmente tenha sido um surto de varíola. Estima-se que 5 milhões de pessoas morreram
como consequência da peste antonina.
Ao longo da história e da formação da sociedade moderna, podemos destacar algumas
doenças que se tornaram epidemias e em alguns casos pandemias. Numa ordem cronológica
podemos destacar: Peste de Atenas (430-427 a.C.); Peste antonina em Roma (166); Epidemia
de varíola no Japão (735-737); Peste Bubónica (1347-1353); Praga da China (1641); Epidemia
de febre amarela em Nova Orleans (1853); Pandemias de cólera (ao longo do século 19); Gripe
espanhola (1918-1919); Pandemia de AIDS (1980); Pandemia de SARS-1 (2002-2004); Gripe
Suína (2009); Epidemia de cólera no Haiti (2010); Ebola (2013-2016); Zica Vírus (2015);
Pandemia da Covid-19 (2020).
As pandemias destroem exércitos como foi o caso da gripe espanhola (1918/19) que
ocorreu durante a Primeira Grande Guerra Mundial (1914-1918), chegando a causar a morte de
aproximadamente 50 milhões de pessoas em todas as partes do planeta (BBC, 2020). A
experiência global da gripe espanhola estima ter matado 1 a 3% da humanidade. No círculo da
guerra, a gripe encontrou um lugar favorável nos acampamentos dos exércitos e nas trincheiras
do campo de batalha levando à morte muitos soldados. Isto se tornou um fator importante na
batalha dos impérios (DAVIS, 2020). Nos países da periferia a gripe espanhola teve
repercussões diferentes:
Raramente se aprecia que uma grande proporção da mortalidade global tenha
ocorrido no Punjab, Bombaim e outras partes da Índia Ocidental, onde as
exportações de cereais para a Grã-Bretanha e as práticas brutais de exportação
coincidiram com uma grande seca. A escassez de alimentos resultante levou
dezenas de pessoas pobres à beira da inanição. Eles se tornaram vítimas de
uma sinistra sinergia entre a desnutrição – que suprimiu sua resposta
imunológica à infecção e produziu uma inflamação bacteriana, bem como uma
pneumonia viral (DAVIS, 2020, p.7).